Title | TRATADO DE SAÚDE COLETIVA |
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Author | Saionara Santana |
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TRATADO DE SAÚDE COLETIVA GASTÃO WAGNER DE SOUSA CAMPOS MARIA CECÍLIA DE SOUZA MINAYO MARCO AKERMAN MARCOS DRUMOND JÚNIOR YARA MARIA DE CARVALHO O R G A N IZ A D O R ES SUMÁRIO PÁC. NOTA EDI T O R IA L.................................................................. ........ Parte I ABRIND O O CAMP...
TRATADO DE SAÚDE COLETIVA
GASTÃO WAGNER DE SOUSA CAMPOS MARIA CECÍLIA DE SOUZA MINAYO MARCO AKERMAN MARCOS DRUMOND JÚNIOR YARA MARIA DE CARVALHO O R G A N IZ A D O R ES
SUMÁRIO
PÁC. NOTA EDI T O R IA L.................................................................. ........ Parte I ABRIND O O CAMPO i ' SAÚDE COLETIVA: UMA HISTÓRIA RECENTE DE UM PASSADO RE MOTO . . . . . . . . . . Everardo Duarte Nunes
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2. CLÍNICA E SAÚDE COLETIVA COMPARTILHADAS: TEORIA PA1DÉIA E REFORMULAÇÃO AMPLIADA DO TRABALHO EM SAÚDE . Gastão Wagner de Sousa Campos
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3. SAÚDE E AMBIENTE: UMA RELAÇÃO NECESSÁRIA . Maria Cecília de Souza Minayo 4. SAÚD EE DESENVOLVIMENTO:QUECONEXÔES? . Marco Akerman Liane Beatriz Righi Dário Frederico Pasche Dam ilaTrufelli Paula Ribeiro Lopes
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5. FORMAÇÃO E EDUCAÇÃO EM SAÚDE: APRENDIZADOS COM A SAÚDE C O LETIV A ....................................................................137 Yara Maria de Carvalho Ricardo Burg Ceccim 6. ESTOU ME FORMANDO (OU EU M E FORM EI) E QUERO TRABA LHAR. Q U E OPORTUNIDADES O SISTEMA DE SAÚDE ME OFERE CE NA SAÚDE COLETIVA? ONDE POSSO ATUAR E QUE COMPE TÊNCIAS PRECISO D E S E N V O L V E R ?.......................................171 Marco Akerman Laura Feuerwerker
su m á rio
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Pane li CIÊNCIAS SOCIAIS E SAÚDE 7. C O N T R IB U IÇ Õ ES DA ANTROPOLOGIA PARA PENSAR A SAÚDE
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M aria C ecília de Souza M in ayo
S ) o ESTUDO DAS POLÍTICAS DE SAÚDE: IMPLICAÇÕES E FATOS Amélia Cohn
9. SOBRE A ECONOMIA DA SAÚDE: CAMPOS DE AVANÇO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A GESTÃO DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL Áquilas Mendes Rosa María Marques 10) SOCIOLOGIA DA SAÚDE: HISTÓRIA ETEMAS Everardo Duarte Nunes
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Parte III EPIDEMIOLOGIA E SAÚDE COLETIVA i It) CONTRIBUIÇÃO DA EPIDEMIOLOGIA..................................... Zélia Roquayrol 12. RISCO, VULNERABILIDADE E PRÁTICAS DE PREVENÇÃO E PRO MOÇÃO DA SAÚDE .............................................. losé Ricardo de Carvalho Mesquita Ayres Gabriela Junqueira Calazans Haraldo César Saletti Filho Ivan França-Júnior 13. EPIDEMIOLOGIA EM SERVIÇOS DE SAÚDE . Marcos Drumond Jr. T$) DESIGUALDADES SOCIAIS E SAÚDE Rita Barradas Barata
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15. VIGILÂNCIA COMO PRÁTICA DE SAÚDE PÚBLICA . Eliseu Alves Waldman
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Parte IV POLÍTICA, GESTÃO E ATENÇÃO EM SAÚDE É | ) O SISTEMA ÚNICO DE S A Ú D E .............................. Cipriano Maia de Vasconcelos Dário Frederico Pasche 17. SISTEMAS COMPARADOS DE SAÚDE . Eleonor Minho Conil
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s u m á r io 08. SAÚDE MENTAL E SAÚDE COLETIVA Antonio Lancelti Paulo Amarante
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19. PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DE DOENÇAS Mareia Faria Westphal
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20. CO-CONSTRUÇÃO DE AUTONOMIA; O SUJEITO EM QUESTÃO . Rosana T. Onocko Campos Castão Wagner de Sousa Campos
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21. VIGILÂNCIASANITÃRIA NO BRASIL Gonzalo Vecina Neto Maria Cristina da Costa Marques Ana Maria Figueiredo
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22. AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS E SERVIÇOS Juarez Pereira Furtado
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23. COMUNICAÇÃO E PARTICIPAÇÃO EM SAÚDE Brani Rosemberg
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24. PLANEJAMENTO EM SAÚDE PARA NÃO ESPECIALISTAS Jairnilson Silva Paim
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25. ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA Luiz Odorico Monteiro de Andrade Ivana Cristina de Holanda Cunha Bueno Roberto Cláudio Bezerra
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26. A GESTÃO DA ATENÇÃO NA SAÚDE: ELEMENTOS PARA SE PENSAR A MUDANÇA DA ORGANIZAÇÃO NA SAÚDE.
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Sergio Resende Carvalho Gustavo Tenório Cunha SOBRE OS AUTORES
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Nota Editorial Tratado de Saúde Coletiva: demarcando e ampliando horizontes
Prezados Estudantes de Graduação e Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Residentes e Profissionais da Saúde, Este tratado é uma primeira tentativa de realizar um sonho de estu diosos e professores das diversas áreas de Ciências da Saúde de poder indicar uma obra de referência em Saúde Coletiva/Saúde Pública, des tinada a vocês. Não raro, docentes das Ciências da Saúde queixam-se de que, para lhes ensinar sobre Saúde Coletiva/Saúde Pública sempre tiveram de adaptar os textos para adotá-los nos cursos de formação. Geralmente os dedicados professores garimpam artigos ou capítulos de livros — que em seguida são xerocopiados — para outros fins, nun ca pensados e orientados para vocês, jovens em busca de elementos e estímulos para aprofundar seus conhecimentos sobre o campo da saú de. Por isso, decidimos enfrentar o desafio de organizar um Tratado que expressasse a diversidade e a complexidade do campo e da carreira que vocês abraçaram. É esse o investimento desse livro: oferecer elementos informativos e compreensivos sobre Saúde Coletiva/Saúde Pública, com o cuidado e a acuidade dos livros de formação em saúde. O campo da Saúde Coletiva no Brasil acumula uma rica produção científica representada por uma gama variada de publicações em arti gos, livros, brochuras, teses, dissertações, entre outras formas de veiculação de conhecimento. Entretanto, nossa proposta ê de lhes apresen tar, de forma suave, esse acervo da área, sistematizando o estado desse conhecim ento específico e contemplando as catorze profissões que conformam as ciências de saúde: biologia, biomedicina, ciências farmai)
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nota editorial
céuticas, educação física, enfermagem, fisioterapia, fonoaudiologia, medicina, medicina veterinária, nutrição, odontologia, psicologia, ser viço social e terapia ocupacional. Este sonho que ora se toma realidade, foi primeiro concebido pela professora Maria Cecília de Souza Minayo — que tem dois textos nesse Tratado — e durante muitos anos, desde 1994-1996, quando foi presi dente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), vinha ten tando entusiasmar colegas com a proposta e buscando instituições para financiá-la. Finalmente, mais de dez anos depois das primeiras tentati vas, os editores da I lucitec toparam o desafio e evidenciam nesta obra, parafraseando Fernando Pessoa, que tudo vale a pena quando o sonho não i pequeno. Sanitaristas e pesquisadores de renome se reuniram, e apresenta ram essa proposta inicial que, disponibilizada no mercado editorial e com a contribuição de vocês, oportunamente, poderá ser ampliada. Vá rios meses foram necessários para que pudéssemos sistematizar, organi zar e desenvolver esse projeto que inclui autores espalhados pelos qua tro cantos do País. Vocês poderão constatar que muito do entusiasmo e do rigor evidente dos estudiosos que escreveram e assinam esta obra dizem respeito, primeiramente, a seus compromissos com os temas que estudam. Mas observará também que suas posturas e intencional idades vão mais além: têm que ver com a vontade de contribuir para que vocês sejam cada vez mais bem informados, críticos e comprometidos com a transformação da realidade de saúde de nosso País. A obra está organizada da seguinte forma: agrega quatro partes, com seus respectivos subtemas: I) A b r i n d o o C a m p o — 1. Saúde Co letiva: uma história recente de um passado remoto, 2. Clínica e Saúde Coletiva compartilhadas: teoria Paidéia e reformulação ampliada do trabalho em saúde, 3. Saúde e Ambiente: uma relação necessária, 4. Saúde e Desenvolvimento: que conexões?, 5. Formação e Educação em Saúde, aprendizados com a Saúde Coletiva, 6. Estou me formando (ou eu me formei) e quero trabalhar que oportunidades o sistema de saú de me oferece na Saúde Coletiva? Onde posso atuar e que competên cias preciso desenvolver?; II) Ciências So ciais e Saúde — 7. Contri buição da Antropologia para pensar a saúde, 8. O estudo das Políticas de Saúde: implicações e fatos, 9. Sobre a Economia da Saúde: campos de avanço e sua contribuição para a gestão da Saúde Pública no Brasil, 10. Sociologia da Saúde: história e temas; III) Epidem iolocia e Saúde C o l e t i v a — I I . Contribuição da Epidemiologia, 12. Risco, Vulnerabili dade e Práticas de prevenção e promoção da saúde, 13. Epidemiologia
nota editorial
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em Serviços de Saúde, 14. Desigualdades sociais e saúde, 15. Vigilância como prática de Saúde Pública; IV) P o l í t i c a , G e s t ã o e A t e n ç à o e m S a ú d e , 16. O Sistema Único de Saúde, 17. Sistemas comparados de saúde, 18. Saúde Mental e Saúde Coletiva, 19 Promoção da Saúde e Prevenção de Doenças, 20. Co-construção de autonomia: o sujeito em questão, 21. Vigilância Sanitária no Brasil, 22. Avaliação de Programas e Serviços, 23. Comunicação e Participação em Saúde, 24. Planejamento em saúde para não especialistas, 25. Atenção Primária à saúde e estraté gia Saúde da Família, 26. A gestão da atenção na saúde: elementos para se pensar a mudança da organização na saúde. E no final de quase todos os capítulos há comentários dos autores a respeito das princi pais referências, as consideradas "básicas" utilizadas nos textos, com intuito de enfatizar a base dos argumentos e fundamentos das idéias. Por isso tudo, é um trabalho coletivo que se diferencia do compêndio convencional. Não pretendemos esgotar a discussão relativa aos temas aqui tra tados e esses temas não constituem a totalidade dos assuntos que a Saúde Coletiva recobre. Nem seria possível, a curto prazo, reunir todos os colegas que fazem e são referências no campo. Por isso, o presente projeto não tem fim programado porque pressupõe permanente revi são e atualização. Esse é o sentido de um Tratado de Saúde Coletiva, uma vez que traduz um campo dinâmico, complexo, plural e exigente, porque vivo! Cabe a vocês, privilegiados interlocutores de nosso empreendi mento, a leitura, a crítica e a grandeza de transformar em conhecimento pessoal e social os subsídios que lhes oferecemos. Que o entusiasmo acompanhe a leitura de vocês que estão diante de um campo que care ce de ações responsáveis e comprometidas com a vida de todos nós. —
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Parte I ABRINDO O CAMPO
SAÚDE COLETIVA: UMA HISTÓRIA RECENTE DE UM PASSADO REMOTO Everardo Duarte Nunes
R E F l e x à o s o b r e a S a ú d e C o l e t i v a como um campo de conheci mentos e práticas tem estado presente em muitos trabalhos ao longo dos anos que medeiam a sua institucionalização no final dos anos 1970 e sua trajetória até os dias atuais. Não faremos uma revisão detalhada desses estudos, mas muitos deles permearão esta apresentação, que pretende não somente resgatar a história, como, também, trabalhar conceituai mente as principais dimensões que configuram este campo. Com o sabemos, a compreensão conceituai somente se estabelece à medida que se verifica a sua construção como uma realidade histórico-social. À história recente da Saúde Coletiva subjaz um passado que ultra passa as fronteiras nacionais e que necessita ser explicitado a fim de se compreender o projeto nacional que redundou na criação da Saúde Coletiva, tendo como cenário geral as mudanças trazidas com a instala ção de uma sociedade capitalista. Assim, faremos uma incursão às origens da medicina social/saúde pública; traçaremos um panorama da Saúde Coletiva no Brasil, com pletando com a sua conceituação.
ANTECEDENTES Foucault (1979, p. 80) registra, em seu trabalho sobre as origens da medicina social, a sua procedência vinculada à polícia médica, na Alemanha, à medicina urbana, na França e à medicina da força de tra balho na Inglaterra. Essas três formas ilustram a tese defendida pelo autor de que "com o capitalismo não se deu a passagem de uma medi cina coletiva para uma medicina privada, mas justamente o contrário; que o capitalismo, desenvolvendo-se em fins do século XVIII e início 19
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everardo duarte nunes
do século XIX, socializou um primeiro objeto que foi o corpo enquan to força de produção, força de trabalho". Para Foucault, o investimento do capitalismo foi no biológico, no somático, no corporal, mas o corpo que trabalha, do operário, somen te seria levantado como problema na segunda metade do século XIX. justamente a partir dos anos 40 do século XIX é que se criam as condi ções para a emergência da medicina social. Às vésperas de um movimentqjèvolucionáriq que se estenderia por toda a Europa, muitos médicos, filósofos e pensadores assumiram o caráter social da medici na e.da doença. "A ciência médica é intrínseca e essencialmente uma 1 ciência social e, até que isto não seja reconhecido na prática, não seremos capazes de desfrutar seus benefícios e teremos que nos contentar ( com um vazio e uma mistificação", ou "se a medicina existe realmente , para realizar suas grandes tarefas, deve intervir na vida polítjça e social; deve apontar para os obstáculos que impedem o funcionamento nor mal do processo vital e efetuar o seu afastamento". São as idéias de 1 Neumann e Virchow, voltadas para as reformas de saúde (Rosen, 1963, ) pp. 35, 36). Essa foi uma época propícia para o levantamento de muitas ques tões, como o fim da política da tradição, das monarquias, a regra da sucessão das dinastias como direito divino e para situar inúmeros pro blemas, como o das precárias condições da classe operária, conforme escrito por Engels (1975), em brilhante trabalho. Data desse momento a fixação de alguns princípios básicos que se tornariam parte integrante do discurso sanitarista: 1) a saúde das pes soas como um assunto de interesse societário e a obrigação da socieda- de de proteger e assegurar a saúde de seus membros; 2) que as condi- í ções sociais e econômicas têm um impacto crucial sobre a saúde e doença e estas devem ser estudadas cientificamente; 3) que as medidas a serem tomadas para a proteção da saúde são tanto sociais como médicas. Sem dúvida, este ideário centralizado na corporação médica, como pregava Cuérin, ou marcado pelas relações entre o homem e suas con dições de vida, como dizia Virchow, impulsionaram a formulação da medicina social da metade do século XIX. Tanto assim que Cuérin, afir mava em 1848: "Tínhamos tido já ocasião de indicar as numerosas rela ções que existem entre a medicina e os assuntos públicos j. . .). Apesar destas abordagens parciais e não coordenadas que tínhamos tentado incluir sob rubricas tais como polícia médica, saúde pública, e medici na legal, com o tempo estas panes separadas vieram a se juntar em um lodo organizado e atingir seu mais alto potencial sob a designação de
saúde coletiva: história recente, passado antigo
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medicina social, que melhor expressa seus propósitos. . (Cuérin, __ 1848, p. 183). Dentre as principais idéias desse médico e reformador social, destacam-se as que viam a prática médica como um todo, tanto assim que. a jriedicijia iociaLlraenglobar desde a fisiologia social até a terapia social, passando pela patologia social e higiene social. Todas essas vozes que na Europa defendiam a saúde como ques tão política e social viram-se sufocadas com a derrota das Revoluções de 1848. Bloom (2002, p. 15) comenta sobre essa situação, afirmando que a ideologia do movimento da reforma médica e "Sua ampla con-> cepção da reforma da saúde como ciência social foi transformada em um programa mais limitado de reforma sanitária e a importância dos | fatores sociais em saúde rolou ladeira abaixo enquanto a ênfase biomédica esmagadoramente ganhou domínio a partir da revolução cientifica I causada pelas descobertas bacteriológicas de Robert Koch". O renasci- j mento da medicina social, especialmente na Alemanha, iria ocorrer so mente no início do século XX, assim como aconteceu em outros países..; Muitas análises sociais, demográficas e políticas percorreram a his tória da saúde pública e percebe-se que, desde as suas origens, ela este ve estreitamente vinculada às políticas de saúde que se desenvolveram tanto nos países europeus, como nas Américas, e trouxeram em seus conteúdos as especificidades de cada contexto histórico e suas circuns tâncias. As primeiras análises mais gerais tratando da medicina social na América Latina datam dos anos 1980 e 1990 (Nunes, 1985, 1986; Fran co, Nunes, Breilh & Laurell, 1991), cõm forte ênfase nas possibilida des trazidas pelas ciências-sociais na compreensão do processo saúdedoença; assim como das. relações CQm_Q_campo da epidemiologia, da organização social da saúde e das relações saúde e trabalho. Mais recen temente, Waitzkin, Iriart, Esuada_&Uinadiid_UQÜl).-tiaçaraDLLum pa norama geral da medicina social em diversos países latino-americanos. Em relação ao Brasil, a sua história tem sido contada por muitos' autores. Um dos primeiros trabalhos foi publicado por Machado e co laboradores (1978), marco das pesquisas que, na perspectiva arqueo lógica de Foucault, reconstitui a construção da medicina social e da psiquiatria no Brasil. A este trabalho viria juntar-se o de Luz (1979), fundamental para a compreensão das instituições médicas no Brasil como estratégia de poder. Outros estudos de historiadores e sociólo gos são fundamentais para a compreensão da trajetória da saúde pú blica brasileira, destacando-se os de Castro-Santos (1985,1987),Tellaroli (1996), Hochman (1998), Chalhoub (1996) e muitos outros.
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everardo duarte nunes
PARA ENTENDER A SAÚDE COLETIVA A contextuaiização acima procurou dar conta de uma história ge- ' ral que está presente quando se pensa a saúde no plano coletivo, social / e público. Em realidade, a sua abordagem neste trabalho garante-nos \ que para se estudar as origens e o desenvolvimento do campo da saú- / de, em especial em suas dimensões sociais, é imprescindível que o tema seja tomado em suas múltiplas relações. No caso específico do Brasil, toma-se essencial entender que as trajetórias de um pensamento social I resultou em diferentes aproximações em diferentes momentos. Estas aproximações retomam asorjgens da saúde coletiva no proI jeto preventivista, que na segunda metade dos anos 50 do século XX foi I amplamente discutido, com o apoio da Organização Pan-Americana j da Saúde. Ele se associa à crítica de uma determinada medicina que, na I teoria e na prática, estava em crise. A crítica dirigia-se ao modelo biomédico, vinculado muito mais ao projeto pedagógico, e não de forma direta às práticas médicas. Tanto assim que o saldo deste momento é a criação dos departamentos de medicina preventiva e social nas escolas ! médicas e de disciplinas que ampliam a perspectiva clínica, como a rèpidem iologia, as ciências da conduta, a administração de serviços de I saúde, a bioestatística. Instala-se a preocupação com uma perspectiva biopsicossocial do indivíduo e a extensão da atuação pedagógica para l fora do hospital, criando trabalhos comunitários. Este projeto alternativo era resultado das transformações que se seguiram ao término da Segunda Grande Guerra (1939-1945) e que nos anos 1950 e 1960 preconizava que o desenvolvimento dos países do chamado terceiro mundo passava necessariamente por um progra ma de substituição de importações, que possibilitaria o surgimento de um setor industrial, produtor de manufaturados, permitindo a acu mulação de capital. Ampliava-se a participação...