A evolucao da historiografia da Africa PDF

Title A evolucao da historiografia da Africa
Author Victor Samir
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A evolução da historiografia da África 1 CAPÍTULO 1 A evolução da historiografia da África J. D. Fage Os primeiros trabalhos sobre a história da África são tão antigos quanto o início da história escrita. Os historiadores do velho mundo mediterrânico e os da civilização islâmica medieval tomaram com...


Description

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A evolução da historiografia da África

CAPÍTULO 1

A evolução da historiografia da África J. D. Fage

Os primeiros trabalhos sobre a história da África são tão antigos quanto o início da história escrita. Os historiadores do velho mundo mediterrânico e os da civilização islâmica medieval tomaram como quadro de referência o conjunto do mundo conhecido, que compreendia uma considerável porção da África. A África ao norte do Saara era parte integrante dessas duas civilizações e seu passado constituía um dos centros de interesse dos historiadores, do mesmo modo que o passado da Europa meridional ou o do Oriente Próximo. A história do norte da África continuou a ser parte essencial dos estudos históricos até a expansão do Império Otomano, no século XVI. Após a expedição de Napoleão Bonaparte ao Egito em 1798, o norte da África tornou-se novamente um campo de estudos que os historiadores não podiam negligenciar. Com a expansão do poder colonial europeu nessa parte da África – após a conquista de Argel pelos franceses em 1830 e a ocupação do Egito pelos britânicos em 1882 – um ponto de vista europeu colonialista passou a dominar os trabalhos sobre a história da porção norte da África. No entanto, a partir de 1930, o movimento modernizador no Islã, o desenvolvimento da instrução de estilo europeu nas colônias da África do Norte e o nascimento dos movimentos nacionalistas norte-africanos começaram a combinar-se para dar origem a escolas autóctones de história que produziam obras não apenas em árabe, mas também em francês e inglês, restabelecendo assim o equilíbrio nos estudos históricos dessa região do continente.

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Metodologia e pré-história da África

Assim sendo, o presente capítulo preocupar-se-á sobretudo com a historiografia da África ocidental, central, oriental e meridional. Ainda que nem os historiadores clássicos nem os historiadores islâmicos medievais tenham considerado a África tropical como destituída de interesse, seus horizontes estavam limitados pela escassez de contatos que podiam estabelecer com ela, seja através do Saara em direção à “Etiópia” ou o Bilad-al-Suden, seja ao longo da costa do mar Vermelho e do oceano Índico, até os limites que a navegação de monções permitia atingir. As informações fornecidas pelos antigos autores no que se refere mais particularmente à África ocidental eram raras e esporádicas. Heródoto, Manetão, Plínio, o Velho, Estrabão e alguns outros descrevem apenas umas poucas viagens através do Saara, ou breves incursões marítimas ao longo da costa Atlântica, sendo a autenticidade de alguns desses relatos objeto de animadas discussões entre especialistas. As informações clássicas a respeito do mar Vermelho e do oceano Índico têm um fundamento mais sólido, pois é certo que os mercadores mediterrânicos, ou ao menos os alexandrinos, comerciavam nessas costas. O Périplo do Mar da Eritreia (mais ou menos no ano +100) e as obras de Cláudio Ptolomeu (por volta do ano +150, embora a versão que chegou até nós pareça referir-se sobretudo ao ano +400, aproximadamente) e de Cosmas Indicopleustes (+647) constituem ainda as principais fontes da história antiga da África oriental. Os autores árabes eram mais bem informados, uma vez que em sua época a utilização do camelo pelos povos do Saara havia facilitado o estabelecimento de um comércio regular com a África ocidental e a instalação de negociantes norte-africanos nas principais cidades do Sudão ocidental. Por outro lado, o comércio com a parte ocidental do oceano Índico tinha se desenvolvido a tal ponto que um número considerável de mercadores da Arábia e do Oriente Próximo se instalara ao longo da costa oriental da África. Assim, as obras de homens como al-Mas’udi (que morreu por volta de +950), al-Bakri (1029-1094), al-Idrisi (1154), Yakut (cerca de 1200), Abu’l-Fida (1273-1331), al’Umari (1301-1349), Ibn Battuta (1304-1369) e Hassan Ibn Mohammad al-Wuzza’n (conhecido na Europa pelo nome de Leão, o Africano, 1494-1552 aproximadamente) são de grande importância para a reconstrução da história da África, em particular a do Sudão ocidental e central, durante o período compreendido entre os séculos IX e XV. No entanto, por mais úteis que sejam essas obras para os historiadores modernos, pairam dúvidas de que possamos incluir algum desses autores ou de seus predecessores clássicos entre os principais historiadores da África. O essencial da contribuição de cada um deles consiste numa descrição das regiões da África a partir das informações que puderam recolher na época em que

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escreveram. Não existe nenhum estudo sistemático sobre as mudanças ocorridas ao longo do tempo e que constituem o verdadeiro objetivo do historiador. Aliás, tal descrição nem chega a ser realmente sincrônica, pois se é verdade que uma parte das informações pode ser contemporânea, outras delas, embora pudessem ainda ser consideradas verdadeiras na época em que o autor vivia, muitas vezes poderiam ser provenientes de relatos mais antigos. Além disso, essas obras apresentam o inconveniente de que, em geral, não há nenhum meio de avaliar a autoridade da informação, de saber, por exemplo, se o autor a obteve por sua observação pessoal ou a partir da observação direta de um contemporâneo, ou se ele simplesmente relata rumores correntes na época ou a opinião de autores antigos. Leão, o Africano, constitui um exemplo interessante desse problema. Assim como Ibn Battuta, ele próprio viajou pela África, mas, ao contrário deste, não se pode afirmar com certeza que todas as informações que ele nos fornece tenham provindo de suas observações pessoais. Talvez fosse útil relembrar aqui que o termo “história” não deixa de ser ambíguo. Atualmente, pode ser definido como “um relato metódico dos acontecimentos de um determinado período”, mas pode também ter o sentido mais antigo de “descrição sistemática de fenômenos naturais”. É essencialmente nessa acepção que ele é empregado no título em inglês da obra de Leão, o Africano (Leo Africanus, A Geographical History of Africa; em francês, Description de l’ Afrique), significado que só permanece hoje na ultrapassada expressão “história natural” (que, aliás, era o título da obra de Plínio). Entre os primeiros historiadores da África, porém, encontra-se um muito importante, um grande historiador no sentido amplo do termo: referimo-nos a Ibn Khaldun (1332-1406) que, se fosse mais conhecido pelos especialistas ocidentais, poderia legitimamente roubar de Heródoto o título de “pai da história”. Ibn Khaldun era um norte-africano nascido em Túnis. Uma parte de sua obra é consagrada à África1 e às suas relações com os outros povos do Mediterrâneo e do Oriente Próximo. Da compreensão dessas relações ele induziu uma concepção que faz da história um fenômeno cíclico, no qual os nômades das estepes e dos desertos conquistam as terras aráveis dos povos sedentários e aí estabelecem vastos reinos, que, depois de cerca de três gerações, perdem sua vitalidade e se tornam vítimas de novas invasões de nômades. Trata-se, sem dúvida, de um bom modelo para grande parte da história do 1

As principais explicações sobre a África encontram-se na mais importante obra desse autor, a Muqqadima (tradução francesa de Vincent MONTEIL), e no fragmento de sua história traduzido por DE SLANE sob o título Histoire des Berbères.

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Metodologia e pré-história da África

norte da África e um importante historiador, Marc Bloch2, utilizou-o para sua brilhante explicação da história da Europa no início da Idade Média. Ora, Ibn Khaldun distingue-se de seus contemporâneos não somente por ter concebido uma filosofia da história, mas também – e talvez principalmente – por não ter, como os demais, atribuído o mesmo peso e o mesmo valor a todo fragmento de informação que pudesse encontrar sobre o passado; acreditava que era preciso aproximar-se da verdade passo a passo, através da crítica e da comparação. Ibn Khaldun é, realmente, um historiador muito moderno e é a ele que devemos o que se pode considerar quase como história da África tropical, em sentido moderno. Na qualidade de norte-africano e também pelo fato de ter trabalhado, a despeito da novidade de sua filosofia e de seu método, no quadro das antigas tradições mediterrâneas e islâmicas, ele não deixou de se preocupar com o que ocorria no outro lado do Saara. Assim, um dos capítulos de sua obra3 é uma história do Império do Mali, que na época em que ele viveu atingia seu auge. Esse capítulo é parcialmente fundamentado na tradição oral da época e, por esta razão, permanece até hoje como uma das bases essenciais da história desse grande Estado africano. Nenhum Estado vasto e poderoso como o Mali, nem mesmo os Estados de menor importância como os primeiros reinados haussa ou as cidades independentes da costa oriental da África, podiam manter sua identidade ou sua integridade sem uma tradição reconhecida relativa à sua fundação e ao seu desenvolvimento. Quando o Islã atravessou o Saara e se expandiu ao longo da costa oriental trazendo consigo a escrita árabe, os negros africanos passaram a utilizar textos escritos ao lado dos documentos orais de que já dispunham para conservar sua história. Os mais elaborados dentre esses primeiros exemplos de obras de história atualmente conhecidos são provavelmente o Ta’rikh al-Sudan e o Ta’rikh el-Fattash, ambos escritos em Tombuctu, principalmente no século XVII4. Nos dois casos, os autores fazem um relato dos acontecimentos de sua época e do período imediatamente anterior, com muitos detalhes e sem omitir a análise e a interpretação. Mas antecedendo esses relatos críticos há também uma evocação das tradições orais relativas a períodos mais antigos. Dessa forma, o

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Ver sobretudo BLOCH, M. 1939, p. 91.

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Na tradução de M. G. DE SLANE, intitulada Histoire des Berbères (1925-1956), este capítulo figura no volume 2, p. 105-16.

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O Ta’rikh al-Sudan foi traduzido para o francês e comentado por O. HOUDAS (1900); o Ta’rikh el-Fattash, por O. HOUDAS e M. DELAFOSSE (1913).

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resultado não é somente uma história do Império Songhai, de sua conquista e dominação pelos marroquinos, mas também uma tentativa de determinar o que era importante na história pregressa da região, sobretudo nos antigos impérios de Gana e do Mali. Em função disso, é importante distinguir os Ta’rikh de Tombuctu de outras obras históricas escritas em árabe pelos africanos, tais como as conhecidas pelos nomes de Crônica de Kano e Crônica de Kilwa5. Estes últimos nos oferecem somente anotações diretas, por escrito, de tradições que até então eram, sem dúvida alguma, transmitidas oralmente. Embora uma versão da Crônica de Kilwa pareça ter sido utilizada pelo historiador português de Barros no século XVI, não há nada que prove que a Crônica de Kano tenha existido antes do início do século XIX. É interessante notar que as crônicas dessa natureza escritas em árabe não se limitam necessariamente às regiões da África que foram inteiramente islamizadas. Assim, o centro da atual Gana produziu sua Crônica de Gonja (Kitab al-Ghunja) no século XVIII e as recentes pesquisas de especialistas como Ivor Wilks revelaram centenas de exemplos de manuscritos árabes provenientes dessa região e de regiões vizinhas6. Por outro lado, é preciso não esquecer que uma parte da África tropical – a atual Etiópia – possuía sua própria língua semítica, inicialmente o gueze e mais tarde o amárico, na qual uma tradição literária foi preservada e desenvolvida durante quase 2 mil anos. Sem dúvida nenhuma, essa tradição produziu obras históricas já no século XIV, das quais um exemplo é a História das Guerras, de Amda Syôn7. As obras históricas escritas em outras línguas africanas como o haussa e o swahili, distintas das escritas em árabe clássico importado mas utilizando sua escrita, só apareceram no século XIX. No século XV os europeus começaram a entrar em contato com as regiões costeiras da África tropical, fato que desencadeou a produção de obras literárias que constituem preciosas fontes de estudo para os historiadores modernos. Quatro regiões da África tropical foram objeto de particular atenção: a costa da Guiné na África ocidental; a região do Baixo Zaire e de Angola; o vale do Zambeze e as terras altas vizinhas; e, por fim, a Etiópia. Nessas regiões, durante os séculos XVI e XVII, houve uma considerável penetração em direção ao interior. Mas, como no caso dos escritores antigos, clássicos, ou árabes, o 5

Pode-se encontrar uma tradução inglesa da Crônica de Kano em H. R. PALMER, 1928, vol. 3, p. 92-132, e da Crônica de Kilwa em G. S. P. FREEMAN-GRENVILLE, 1962, p. 34-49.

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Sobre a Crônica de Gonja e a coleção de manuscritos árabes na atual Gana, ver Nehemin LEVTZION, 1968, p. 27-32 sobretudo; Ivor WILKS, 1963, p. 409-17; e Thomas HODGKIN, 1966, p. 442-60.

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Existem várias traduções dessa obra, sobretudo uma (em francês) de J. PERRUCHON no Journal Asiatique, 1889.

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Metodologia e pré-história da África

resultado não foi sempre, e em geral não de forma imediata, a produção de obras de história da África. A costa da Guiné foi a primeira região da África tropical descoberta pelos europeus; ela foi o tema de toda uma série de obras a partir de 1460, aproximadamente (Cadamosto), até o início do século XVIII (Barbot e Bosman). Uma boa parte desse material é de grande valor histórico, porque fornece testemunhos diretos e datados, graças aos quais podem-se situar várias outras relações de caráter histórico. Há também nessas obras abundante material histórico (entendido como não-contemporâneo), sobretudo em Dapper (1688), que, ao contrário da maioria dos demais autores, não era um observador direto, mas apenas um compilador de relatos alheios. Porém, o objetivo essencial de todos esses autores era mais descrever a situação contemporânea do que fazer história. E é somente agora, depois que uma boa parte da história da África ocidental foi reconstituída, que podemos avaliar corretamente muitas das afirmações que eles fizeram8. Nas outras regiões que despertaram o interesse dos europeus nos séculos XVI e XVII a situação era um pouco diferente. Isso talvez se deva ao fato de terem sido o campo de atividade dos primeiros esforços missionários, ao passo que o principal motor das atividades europeias na Guiné foi sempre o comércio. Enquanto os africanos forneciam as mercadorias que os europeus desejavam comprar, como era em geral o caso da Guiné, os negociantes não se sentiam impelidos a mudar a sociedade africana; eles se contentavam em observá-la. Os missionários, ao contrário, sentiam-se obrigados a tentar alterar o que encontravam e, nessas condições, um certo grau de conhecimento da história da África poderia ser-lhes útil. Na Etiópia, as bases já existiam. Podia-se aprender o gueez e aperfeiçoar seu estudo, bem como utilizar as crônicas e outros escritos nessa língua. Obras históricas sobre a Etiópia foram elaboradas por dois eminentes pioneiros entre os missionários, Pedro Paez (morto em 1622) e Manoel de Almeida (1569-1646), e uma história completa foi escrita por um dos primeiros orientalistas da Europa, Hiob Ludolf (1634-1704)9. No baixo vale do Congo e em Angola, assim como no vale do Zambeze e em suas imediações, os interesses comerciais eram provavelmente mais fortes que os 8

The Voyages of Cadamosto, comentadas por G. R. CRONE, 1937; John BARBOT, 1732; William BOSMAN, edição comentada, 1967.

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Em C. BECCARI, Rerum Aethiopicarum Scriptores Occidentales lnediti (Roma, 1905-1917), a obra de Paez se encontra nos volumes 2 e 3 e a de Almeida, nos volumes 5 e 7; existe uma tradução parcial em inglês da obra de ALMEIDA em C. F. BECKINGHAM e G. W. B. HUNTINGFORD, Some Records of Ethiopia, 1593-1646 (1954). A Historia Aethiopica de LUDOLF foi publicada em Frankfurt, em 1681.

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da evangelização. Ocorre porém que, em seu conjunto, a sociedade africana tradicional não estava disposta a fornecer aos europeus o que eles desejavam, a não ser que sofresse pressões consideráveis. O resultado é que ela foi obrigada a mudar de modo tão drástico que mesmo os ensaios descritivos dificilmente podiam deixar de ser em parte históricos. De fato, importantes elementos de história podem ser encontrados em livros de autores como Pigafetta e Lopez (1591) e Cavazzi (1687). Em 1681, Cadornega publica uma História das Guerras Angolanas10. A partir do século XVIII, parece que a África tropical recebeu dos historiadores europeus a atenção que merecia. Era possível, por exemplo, utilizar como fontes históricas os autores mais antigos, sobretudo os descritivos – como Leão, o Africano, e Dapper –, de maneira que as histórias e geografias universais da época, como The Universal History, publicada na Inglaterra entre 1736 e 1765, podiam consagrar um número apreciável de páginas à África11. Houve também ensaios monográficos, como é o caso da História de Angola, de Silva Correin (cerca de 1792), da Some Historical account of Guinea, de Benezet (1772) e das duas histórias do Daomé: Memórias do Reino de Bossa Ahadée, de Norris (1789) e History of Dahomey, de Dalzel ( 1793). Mas uma advertência se faz necessária aqui. O livro de Silva Correin só foi publicado neste século12. E a razão pela qual as três obras mencionadas acima foram publicadas naquela época deve-se ao fato de que, no fim do século XVIII, começava a acirrar-se a controvérsia em torno do tráfico de escravos, que tinha sido o principal elemento das relações entre a Europa e a África tropical havia pelo menos 150 anos. Dalzel e Norris, ambos recorrendo à sua experiência no comércio de escravos no Daomé, assim como Benezet, desempenharam o papel de historiadores, mas seus trabalhos tinham como objetivo fornecer argumentos a favor ou contra a abolição do tráfico negreiro. Se não fosse por isso, não se tem como certo que esses livros tivessem encontrado compradores, pois nessa época a principal tendência da cultura europeia começava a considerar de forma cada vez mais desfavorável as sociedades não-europeias e a declarar que elas não possuíam uma história digna de ser estudada. Essa mentalidade resultava sobretudo da convergência

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CADORNEGA, A. de Oliveira. Historia General das Guerras Angolanas. Comentada por M. DELGADO e A. CUNHA (Lisboa, 1940-1942).

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A edição in-folio da Universal History compreende 23 volumes, dos quais 16 são consagrados à história moderna, contendo estes últimos dois volumes sobre a África.

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Lisboa, 1937.

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Metodologia e pré-história da África

de correntes de pensamento oriundas do Renascimento, do Iluminismo e da crescente revolução científica e industrial. O resultado foi que, baseando-se no que era considerado uma herança greco-romana única, os intelectuais europeus convenceram-se de que os objetivos, os conhecimentos, o poder e a riqueza de sua sociedade eram tão preponderantes que a civilização europeia deveria prevalecer sobre todas as demais. Consequentemente, sua história constituía a chave de todo conhecimento, e a história das outras sociedades não tinha nenhuma importância. Esta atitude era adotada sobretudo em relação à África. De fato, nessa época os europeus só conheciam a África e os africanos sob o ângulo do comércio de escravos, num momento em que o próprio tráfico era causador de um caos social cada vez mais grave em numerosas partes do continente. Hegel (1770-1831) definiu explicitamente essa posição em sua Filosofia da História, que contém afirmações como as que seguem: “A África não é um continente histórico; ela não demonstra nem mudança nem desenvolvimento”. Os povos negros “são incapazes de se desenvolver e de receber uma educação. Eles sempre foram tal como os vemos hoje”. É interessante notar que, já em 1793, o responsável pela publicação do livro de Dalzel julgara necessário justificar o surgimento de uma história do Daomé. Assumindo claramente a mesma posição de Hegel, ele de...


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