Title | A Farsa de Inês Pereira - resumo |
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Author | Diana Dias |
Course | portugues |
Institution | Universidade do Porto |
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Este documento contém um resumo bastante bom sobre a Farsa de Inês Pereira por Gil Vicente. É adequado ao décimo ano....
A Farsa de Inês Pereira NÃO TE APRESSES INÊS (VV. 1 - 72) Inês, solteira, preguiçosa e revoltada, deseja casar com um homem que lhe permita abandonar as canseiras domésticas de uma vida em casa, que lhe parece limitada, aborrecida e, por isso, sente-se saturada, revoltada e triste. Quer um casamento para sair daquela vida, pois não quer trabalhar. Ela reflete sobre o estatuto de mulher solteira que sai só para ir à Igreja, daí acreditar que a sua vida só pode ser melhor se casar. Nota sobre o lamento de Inês: 1. 2. 3. 4.
trabalho – desempenhar tarefas domésticas; isolamento; tédio; falta de liberdade – não poder sair sozinha
«que sempre está num lugar?» v. 13 «que eu possa durar viva?» v. 16 «em poder de desfiados?» v. 18
as interrogações retóricas promovem a reflexão da personagem sobre a
a interrogação evidência a crítica da mãe em relação ao comportamento da filha. A mãe é a «E nasceu-te algum unheiro / ou cuidas que é dia santo?» vv. 42 – 43 voz da prudência e da experiência de vida. Já a Inês deseja algo que a liberta daquela vida.
«que ante da Páscoa vêm os Ramos.» «maior é o ano qu’ o mês.»
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os provérbios constituem conselhos para que a Inês não se precipite se quer arranjar um bom casamento
OU SEJA SAPO OU SAPINHO, OU MARIDO OU MARIDINHO (VV. 73 - 257) Lianor Vaz – alcoviteira Chega Lianor Vaz que refere estar pálida quando, na verdade, está corada. (vv. 74 – 75) Surge uma analepse entre os versos 77 – 166, onde a alcoviteira narra o seu encontro com um frade devasso que a queria conhecer, perseguindo-a e violentando-a, na sequência surgem as hipóteses e visões do casamento para Inês. Durante a narração do acontecimento, é tecida uma crítica aos membros dissolutos do clérigo que desrespeitam o voto de castidade. É, assim, satirizado um frade sensual capaz de um discurso sedutor e de usar os poderes da Igreja para reduzir Lianor. A Mãe estranha Lianor não apresentar ferimentos tendo sido o ataque “tão violento”. Lianor contrapõe que tinha as unhas e os cabelos cortados e que teria sido ajudada por um almocreve (homem que conduz bestas de carga), além disso, ela estava rouca e, por isso, não gritara. A mãe de Inês diz a Lianor que esta se devia ter defendido. Contudo, a vítima contra-argumenta, dizendo que tinha medo de ser excomungada e que o seu temperamento meigo não lhe permitiu. Lianor anuncia que arranjou um marido para Inês, no entanto, esta mostra-se caprichosa perante o casamento, pois o seu marido ideal tem de ser bem falante, sedutor, ajuizado, esperto, discreto e tocador de viola, ainda que seja pobre. Inês recebe uma carta onde é escrito que o pretendente parece preocupar-se com a felicidade de Inês; mostra-se respeitador, carinhoso e apaixonado. Contudo, o vocabulário simples que utiliza demonstra que é uma pessoa simples. Inês afirma que o pretendente deve ser rústico, ironizando com os seus modos. Lianor afirma que é importante casar independentemente do gosto, sendo o dinheiro um aspeto importante a ter em conta na escolha de um marido. conselho para que Inês não se precipite se «Mata o cavalo de sela, / e bom é o asno que me leva.» (vv 236 – 237) quer arranjar um bom casamento «Mais quero eu quem m’ adore, / que quem faça com que chore.» (vv. 240 – 241)
é melhor encontrar alguém que nos trate bem do que o contrário
Os provérbios são um recurso utilizado pelas duas mulheres mais velhas para contrapor a experiência de vida à imaturidade e impulsividade de Inês. Estes funcionam como argumentos de autoridade, destinados a fundamentar as afirmações das personagens. Ainda assim, Inês mostra relutância perante a carta, sendo este o primeiro indício de rejeição. Nota Geral: neste excerto, encontram-se referências a um quotidiano marcado pelas preocupações materiais do casamento num tempo em que a mulher dependia do marido. Além disso, está perante a alcoviteira, como intermediária de negócios amorosos no momento em que as relações entre os jovens eram muito vigiadas.
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EU NÃO ME CASAREI SENÃO COM UM HOMEM DISCRETO (VV. 258 – 480) Pêro Marques – jovem camponês rico que quer casar com Inês. É ingénuo, trabalhador, honesto e bocal, desajeitado e humilde, desconhecedor das regras sociais, caindo, por isso, no ridículo. Acaba por se perder no caminho até casa de Inês. Transformado numa caricatura. Mãe – funciona como um tipo representativo de todo um grupo com as mesmas preocupações. Ela considera importante casar com alguém que garanta segurança económica. Vidal e Latão – judeus bajuladores, interesseiros e oportunistas. As suas falas provocam o cómico de situação e destacam a vontade interesseira de atingir os seus objetivos. Inês recusa-se a casar com alguém que, embora rico, não apresente qualidades que lhe agradam. Os judeus nunca deixam de dizer a verdade, mas a astúcia e a habilidade permitem-lhes dar a impressão contrária à realidade. Usam, também, uma linguagem adaptada aos seus objetivos. A Mãe torna a salientar a falta de juízo de Inês. Latão e Vidal referem ainda que tiveram muita dificuldade em arranjar um pretendente que preenchesse os requisitos de Inês. Acabam por fazer referência ao escudeiro Brás da Mata. vv. 262 – 266 cómico de linguagem: a linguagem de Pêro está carregada de termos ou expressões provincianas. «E que val aqui uma destas?» (v. 273)
«porém, meu é mor gado. / De morgado é o vosso estado?» (vv. 283 – 284)
- não conhece a cadeira nem sabe como se sentar; - desconhece a cultura de cortesia; - cómico de caráter; - a caricatura faz-se recorrendo ao exagero na caracterização da personagem, sugerindo uma ação ridícula; - Pêro é provinciano e desajeitado.
- Pêro refere-se a uma grande quantidade de gado que possui; - a Mãe entende que ele é herdeiro de uma grande fortuna.
vv. 298 – 301 cómico de carácter: Pêro mostra-se trapalhão e um pretendente provinciano. Como presente para Inês, traz produtos rurais (peras) que, entretanto, perdera. vv. 304 – 307 cómico de caráter: confusão de objeto junto das peras. «Fresco vinha aí o presente / com folhinhas borrifadas.» (vv. 314 – 315)
ironia de Inês que troça do seu presente rústico tão contrário aos seus desejos.
vv. 316 – 321 cómico de linguagem: Pêro não percebe a ironia de Inês, respondendo de forma sincera, mostrando ingenuidade e incapacidade de mentir. Quando fica a sós com a jovem, quer ir embora para não prejudicar a sua reputação. aparte (vv. 328 – 331) destaca-se o caráter antiquado da personagem (Pêro), diferente de todos os homens do seu tempo.
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vv 340 – 342 Inês utiliza a ironia para recusar o seu pretendente de forma desdenhosa vv. 343 – 353 cómico de linguagem: o lavrador Pêro utiliza uma linguagem adequada à sua condição. Expressa-se de forma rústica, singela e direta. Contudo, num momento de nervosismo, a sua linguagem torna-se confusa. vv. 410 – 411 cómico de linguagem: repetição da frase pela ordem invertida. v. 418 cómico de linguagem: uso de calão. vv. 420 – 421 cómico de linguagem: repetição como se a voz fosse um eco. vv. 426 – 428 cómico de linguagem: hesitações sobre quem deve falar. «per sentido» (v. 440) duplo sentido: 1º: pretende um casamento razoável; 2º: pretende casar atraída pelo som da viola. vv. 444 – 449 duplo sentido: 1º: fala bem ou dá ordens; 2º: toca bem um instrumento musical ou apodera-se de tudo. vv. 472 – 480 cómico de situação: falam do escudeiro Brás da Mata.
PODE SER MAIOR RIQUEZA QUE UM HOMEM AVISADO? (VV. 481 – 752) 4
Escudeiro: educado, galanteador, bem-falante. Através da personagem do Escudeiro critica-se a ruína da baixa nobreza decorrente da centralização da nobreza, provindas da expansão, na corte. Este representa a baixa nobreza pelintra, que não abdica de ter criadagem apesar de não possuir poder económico para se sustentar, querendo apenas manter as aparências. O escudeiro Brás da Mata aparenta ser rico e elegante. Considera Inês um bom partido para melhorar a sua condição de vida. Luzia e Fernando: personagens que vieram animar o casamento de Inês com o Escudeiro. Moço: de nome Fernando, personagem crítica. O Escudeiro prepara o Moço para o encontro com Inês, fazendo-lhe recomendações sobre a postura a adotar e sobre a necessidade de esconder a sua verdadeira situação financeira, demonstrando o seu verdadeiro caráter (vv. 508 – 533). Brás da Mata usa uma linguagem cheia de artifícios e um vocabulário cativante e falso, é uma linguagem de sedução, que lhe permite esconder as suas verdadeiras intenções (vv. 534 – 556). Com isto, a Mãe, sendo uma mulher sensata, prevê um mau desfecho para as fantasias da filha (vv. 656 – 664). Por fim, Inês casa-se com o escudeiro (vv. 679 – 692). O casamento seria marcado pela desilusão, frustração e solidão. Além disso, evidencia a falta de liberdade e a falta de dinheiro. Perante a teimosia de Inês, a Mãe acaba por se render às suas loucuras, fazendo a festa do casamento, dando-lhe a sua casa para viver com o marido e desejando-lhes felicidades (vv. 739 – 743). Quando a Mãe sai de cena, é simbolizado o seu abandono tutelar, deixando Inês entregue ao marido, chefe de família (vv. 739 – 753). apartes (vv. 512 – 513, 516 e 532 – 533) instrumento predileto do moço para cumprir a sua função de personagem crítica (parecida com a desempenhada pelo coro trágico grego) em relação à verdadeira situação financeira do escudeiro. aparte (vv. 557 – 560) dá-nos conta de que a Inês está a ficar encantada com o Escudeiro. aparte (vv. 583 – 587) põe em destaque a pobreza extrema do Escudeiro e funciona como consciência crítica que permite ao público avaliar melhor a personagem que ele acompanha. vv. 586 – 587 a ironia do Moço coloca em destaque as dificuldades financeiras do Escudeiro. vv. 601 – 604 cómico de linguagem: o Moço desmascara a situação financeira em que vivem e a fome que passa. «de casar com parvoíce» (v. 617) metonímia: refere-se um homem parvo ou portador de defeitos. vv. 638 – 655 duplo sentido: 1º: o seu braço é valente pela força; 2º: refere-se à habilidade de pegar no que lhe pertence. vv. 694 – 701 ritual judaico «que amado sejais no céu.» (v. 752) indícios da viuvez de Inês.
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QUEM BEM TEM E MAL ESCOLHE... (VV. 753 – 912) Escudeiro: autoritário, agressivo, dá conta de que pretende ir combater para o Norte de África. 6
O Escudeiro repreende Inês de forma agressiva ao ouvi-la cantar, e ela responde-lhe de forma submissa (vv. 752 – 761). Este refere ainda que Inês será trancada dentro de casa a lavrar, acabando por ter uma vida pior do que a que tinha em solteira, da qual se queixava por falta de liberdade (vv. 765 – 779) Quando a donzela lhe pergunta o porquê de tal coisa, o marido responde-lhe que ela é que tinha procurado descrição (vv. 780 – 788). Apesar de ir para a guerra, o Escudeiro quer manter Inês em cativeiro, o que revela a sua maldade (vv. 802 – 806). Como Inês conhece o dito popular que diz que os homens que maltratam as mulheres são cobardes e incapazes de um ato de valentia, esta preconiza que o marido seja incapaz de qualquer ato heroico na guerra em Marrocos, onde se encontra, e que venha a ser assassinado pelo inimigo, deixando-a novamente livre (vv. 834 – 862). O Escudeiro morre. O Moço lamenta a triste e desonrosa morte do seu amo (v. 894). Apesar de passar dificuldades tinha uma cumplicidade com ele que o fazia acreditar que ainda lhe daria uma vida melhor, mantendo-selhe fiel. Inês fica contente com a morte do Escudeiro (vv. 898 – 912) e quer um casamento diferente, agora (vv. 908 – 910). vv. 814 – 817 fórmulas religiosas: evidenciam a forte presença da religião no quotidiano das personagens. vv. 827 – 828 a ironia de Inês alerta para as condições miseráveis em que vivem.
EXPERIÊNCIA DÁ LIÇÃO... (913 – 983) Com a morte do Escudeiro, Inês finge estar triste (vv. 914; 926 – 928) e refere que já não quer casar com alguém como o Escudeiro (vv. 935 – 936).
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Lianor Vaz entra em cena e diz-lhe que se Inês tivesse engravidado do Escudeiro poderia ter ficado com todos os seus bens. Contudo, é irónico, uma vez que o ex-marido não tinha nada (v. 917). A alcoviteira incentiva Inês a um novo casamento (v. 923), desta vez com o Pêro. Após o imediato casamento, Pêro promete dedicar-se a Inês, revelando continuar a ser uma criatura bem intencionada, ingénua e simples (vv. 966 – 970) e concedendo-lhe a liberdade que ela deseja (vv. 974 – 975). Além disso, revela ainda muita confiança na mulher (vv. 979 – 983). vv. 944 – 948 asno: simboliza a ignorância, a humildade e o ridículo; cavalo: representa a vitória sobre o mundo material; lebre: símbolo da inocência, fertilidade e abundância; leão: representa o poder, a nobreza, a majestade e a liderança; lavrador: simboliza o trabalho árduo, a dedicação e a prosperidade; Nero: representa a tirania. vv. 944 – 946 depois da primeira experiência, os provérbios revelam a necessidade de escolha de um marido calmo e manso para que Inês possa fazer o que quer.
EM TUDO É BOA A CONCRUSÃO (984 – 1115) Ermitão: membro do clero que “perseguira” Inês, quando ela era criança. Agora, ele volta e pede-lhe para lhe corresponder, já que não o tinha feito mo passado.
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Apesar um Ermitão À porta de casa de Inês e do Pêro, que afirma já conhecer Inês e lamenta-se-lhe (vv. 996 – 1015), sempre com uma linguagem de duplo sentido: sedutora e de carácter religioso (vv. 1035 – 1046). Inês afirma compreender as intenções do Ermitão, e mostra-se disponível para lhe corresponder, pois gostou da sua abordagem (vv. 1055 – 1063). Assim, esta pede a Pêro, mostrando-se leviana, que a leve à romaria para visitar o Ermitão. Dá-lhe então duas ordens: contar uma história e descalçar-se para atravessar o rio com ela às costas, carregando-a até à ermida (vv. 1075 – 1085). vv. 1016 – 1018 duplo sentido: carácter religioso e malícia, insinuando o seu interesse por Inês. vv. 1100 – 1101 cómico de situação: trata-se de um marido enganado que acompanha Inês, ouvindo uma cantiga carregada de ironia e de alusões às intenções de adultério por parte de Inês, associado ao cómico de linguagem. vv. 1102 – 1105 cómico de carácter vv. 1109 – 1112 cómico de carácter v. 1115 cómico de carácter Nota geral: Inês vai às costas do marido com uma lousa em cada mão, lembrando as palas que se colocam aos burros para que vejam apenas o que está à frente.
CRÍTICA GERAL DA FARSA: corrupção, materialismo, ausência de verdadeiros valores humanos, membros do clero que não têm vocação e quebrem o voto de castidade, vida mundana e assédio de mulheres.
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