Adaptação da explicação de Maurício Marsola da República de Platão PDF

Title Adaptação da explicação de Maurício Marsola da República de Platão
Author Margarida Santos
Course História das Ideias Políticas e Sociais
Institution Universidade do Minho
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Adaptação da explicação de Maurício Marsola da República de Platão...


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Margarida Santos

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Adaptação da explicação da República de Platão, de Maurício Marsola A República é o segundo diálogo mais extenso de Platão. É considerado um diálogo político e trata uma complexidade de temas que se misturam ao longo do diálogo (político, educação, etc). Este diálogo é construído por Platão na forma de uma narrativa indireta, na qual Sócrates narra o que tinha acontecido no dia anterior.

Livro I Sócrates desce ao Pireu, para as festividades de uma deusa. Quando Sócrates estava de saída, é convidado por um amigo, para ir a casa de Céfalo. Na casa de Céfalo, Sócrates começa o diálogo. É importante tomar nota que Céfalo é um estrangeiro idoso, bem estabelecido em Atenas, já numa fase final da sua vida. Sócrates, então, conversa com Céfalo acerca dos bens e dos males da velhice. Céfalo afirma que está muito bem, que essa fase da vida é muito boa, porque ficamos livre das paixões, e podemos dedicar-nos ao estudo, à filosofia. O facto de ele ter ganho dinheiro ao longo da vida e de estar bem estabelecido faz com que tenha possibilidades de reparar as injustiças que cometeu ao longo da vida, oferecendo sacrifícios aos deuses. Sócrates, então, pergunta se o que faz uma vida boa é o facto de ter ganhado muito dinheiro. O que faz uma vida feliz é ter ganhado muito dinheiro, tornando daí a vida justa, ou a vida justa antecede qualquer outra forma, e a justiça é a finalidade última da vida? Justiça aqui aparece como uma espécie de síntese de todas as virtudes, ter vivido de uma maneira adequada, virtuosa. É aqui que surge a ideia de justiça. É necessário, então, definir esta conceito. Definições de justiça: ▪ Céfalo: A justiça é dar a cada um aquilo que lhe pertence. Refutação de Sócrates: É justo devolvermos uma arma a uma pessoa que não dispõe totalmente das suas faculdades, sabendo que essa pessoa fará mal a outra pessoa ou a ele próprio? 1

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Céfalo responde que não. Conclusão: A justiça não é necessariamente, em todos os casos, dar a cada um aquilo que lhe é próprio. Se temos este tipo de problema, esta definição não é satisfatória. ▪ Polemarco: Fazer bem aos amigos e mal aos inimigos. Refutação de Sócrates: Fazer o mal nunca é compatível com a ideia de justiça. A ideia de justiça é positiva e, portanto, prejudicar, ser nocivo, é incompatível com essa ideia. ▪ Trasímaco (sofista) – 1º posição: A justiça é a conveniência do mais forte. A justiça é uma produção, a justiça não tem nenhuma relação com um bem, mas sim com uma conveniência, uma utilidade. Refutação de Sócrates: Dá exemplo de um homem fisicamente muito forte – um lutador de Pancrácio. Reza a lenda que este lutador devorava um boi por dia. Então, Sócrates concluí que, se a justiça é a conveniência do mais forte, nós seríamos justos ao devorar um boi por dia. Trasímaco – 2º posição: A justiça não é apenas a conveniência do mais forte, mas a máxima injustiça, ou seja, a máxima conveniência é ser injusto, mas parecer justo. Porque a vida do injusto vale mais a pena do que a vida do justo. O injusto é sempre bem-sucedido. Em todas as artes, em todas as atividades humanas, o que as pessoas procuram é a utilidade. O médico cuida do paciente porque quer ganhar dinheiro, não porque se preocupa com a saúde. Assim como o pastor que cuida das ovelhas só para as tosquiar. Refutação de Sócrates: Cada arte tem uma finalidade própria. A medicina visa a saúde e o pastoreio visa as ovelhas. O bem é justamente

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a realização de uma finalidade que já está implícita na própria noção de arte. Livro II O livro começa com uma discussão entre Gláucon e Adimanto e Sócrates. Gláucon surge com a sua definição de justiça, fazendo uma apologia da injustiça. Os injustos são sempre melhor bem-sucedidos que os justos. Na verdade, por natureza, o ser humano não é justo. O ser humano tem tendência para agir pela própria conveniência e utilidade. Só somos justos ou virtuosos por medo de sermos coagidos, punidos. Para comprovar a sua tese Gláucon narra aquele que é o primeiro mito da República – o Anel de Giges. Giges era um pastor que, enquanto estava a pastar, houve um terramoto. À sua frente formou-se uma fenda. Dentro da fenda estava um cavalo e um homem morto. Esse homem tinha um anel. Giges pegou no anel e foi-se embora. Mais tarde, apercebeu-se que o anel lhe dava o poder da invisibilidade. Estando invisível, consegue uma maneira de seduzir a mulher dum tirano, matando e assumindo o poder do tirano, acabando por se tornar o maior tirano da região. Gláucon chega à conclusão de que se todos tivéssemos o poder de Giges, todos agiríamos da mesma maneira. Sócrates responde a Gláucon defendendo que é necessário ler em letras grandes para depois entender as letras pequenas. Ou seja, para tentar definir o que é a justiça na alma do indivíduo, seria necessário ampliar o espectro e tentar definir a justiça num plano mais amplo – no plano da cidade. Sócrates convide os seus interlocutores a idealizar uma cidade. Características da cidade: ▪ Três classes sociais: artesãos e comerciantes; guerreiros (protegem a cidade); e guardiões (classe governante); ▪ Pilares da cidade: ginástica e música – musiqué - artes das musas: canto, harmonia e sobretudo poesia. É através da poesia que as crianças de Atenas aprendiam a ler, aprendendo os mais diversos mitos. Crítica à poesia: A poesia tal como é ensinada aos jovens em Atenas não pode ser a base educacional da cidade ideal. Os deuses são apresentados como modelos para os jovens, só que estes modelos são 3

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ambíguos. Ora eles são deuses, ora agem de maneira completamente passional (traem, vingam, etc). Livro III e IV Continuam com a formulação da cidade ideal, até se definir justiça. No livro IV chega-se à conclusão de que a justiça é a harmonia entre as partes da cidade, cada qual cumprindo a sua função. A função é dada pela aptidão de cada cidadão ao exercer as suas tarefas na cidade. Mas não há, ao mesmo tempo, desigualdade social. Assim também vai acontecer na alma do indivíduo. Tal como acontece na cidade, a alma humana também está dividida em três partes: parte racional, parte apetitiva, e o ímpeto (parte impetuosa). A justiça na alma é justamente a harmonia entre as três partes – uma alma harmoniosa. Realiza-se a ideia de que a razão realiza uma função de comando, coordenação e educação das outras partes, sobretudo da parte que diz respeito ao desejo.

Livro V Os interlocutores afirmam que ficaram muitas coisas por resolver na cidade ideal. Assim, aparecem três grandes dificuldades – três ondas: ▪ Comunhão de bens entre aqueles que governam a cidade. Os governantes não devem ter nem propriedade privada nem família. ▪ Igualdade entre os homens e mulheres, no que diz respeito à ação governativa e à guerra. Chegam à conclusão de que as mulheres podem realizar estas funções. ▪ A cidade não será justa enquanto os reis não forem filósofos ou os filósofos não forem reis. Aqueles que governam devem ter uma educação

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adequada para a função. Só a educação filosófica capacitará o governante a comtemplar a ideia de bem.

Livros VI e VII Começa uma digressão filosófica que vai tratar do objeto do saber do filósofo. Três comparações feitas – três símiles da República: ▪ 1º - Símile da linha (Teoria do Conhecimento Verdadeiro): Sócrates pede para que se imagine uma linha dividida em duas partes. Essa linha representa dois planos da realidade: o Plano sensível, plano da mudança e dos seres que, na medida em que mudam, não têm uma realidade autêntica, não têm uma identidade, mas apenas participam da sua identidade verdadeira, que está no outro plano. o Plano inteligível – é preciso percorrer pelos vários níveis do ser e do conhecimento para se chegar ao máximo conhecimento que é a ideia do bem. Ao pegarmos numa coisa bela, com uma aparência bela, como um quadro de uma paisagem, temos o conhecimento da imagem. Depois, passamos para o conhecimento da paisagem. Podemos descrever a paisagem como bela. Isto corresponde a uma descrição, que é uma opinião. Agora, passando pelo raciocínio chegamos à tentativa da definição do que é o belo. Agora o belo já não é a imagem da paisagem, mas sim aquilo que faz com que a paisagem e o quadro da paisagem sejam coisas belas.

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▪ 2º - Símile do sol: Sócrates afirma que não pode definir o bem, apenas pode falar do filho do bem – o sol. O sol que, para o mundo sensível, é aquilo que o bem é para o mundo inteligível. O sol no mundo sensível é fonte de nutrição, crescimento e de manutenção da vida. No mundo inteligível o bem é aquilo que dá unidade e inteligibilidade às ideias. Esta símile serve de introdução à alegoria da caverna. ▪ 3º - Alegoria da caverna: Imaginando que estão pessoas amarradas dentro duma caverna, voltadas para a parede da caverna, sem conseguir mexer o pescoço. Na parede da caverna são projetadas imagens, através da luz duma figueira. Eles tomam as sombras como realidade. Sócrates afirma que essa é a nossa condição. Só que um prisioneiro consegue, de algum modo, se libertar e sair da caverna, vendo pela primeira vez os objetos tal como eles realmente são, iluminados pela luz do sol. Este é o critério do saber, que se adquire pelo exercício da dialética. Estamos restritos ao plano da opinião, mas podemos alcançar o saber.

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De seguida, discute-se o percurso que deve ser feito no currículo do filósofo, começa-se pela matemática e passa-se por outras ciências até se chegar à dialética. O dialético vai ser formado, e comtemplar a ideia de bem, vai governar a cidade. O filósofo não vai receber nada por governar, vai governar por dever, por retribuição à educação que a cidade lhe proporcionou. Livro VIII e IX Este livro faz uma tipologia das formas de governo. A própria cidade ideal, mesmo que se realize, acabará por se degenerar. Isto é uma característica do mundo sensível, segundo Platão. Tudo o que nasce, se degenera. A cada forma de governo corresponde um tipo humano: ▪ Timocracia – homem timocrático: governo militar, marcado pela disciplina. Contudo, a disciplina reverte-se contra si mesma. Os governantes vão começar a acumular riqueza. Porque justamente aquilo que é reprimido e ultra disciplinado retornará na forma de outra paixão – a paixão da ambição. ▪ Oligarquia – homem oligárquico: Tipo de governo que nasce da timocracia. É o governo dos ricos. A oligarquia gere um abismo entre ricos e pobres, uma violência comum, degenerando-se numa democracia. 7

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▪ Democracia – homem democrático: A democracia é entendida como o reino da liberdade absoluta e há uma grande inversão de valores. O caos instaura-se e alguém aparece como o salvador da pátria. Ele é eleito e avançamos para uma tirania. ▪ Tirania – homem tirânico: O tirano é dominado pelas suas próprias paixões, portanto, antes de mais nada ele é tirano de si, por isso também tiraniza os outros. Pode fazer o que quer e realizar todos os seus desejos. É aquele que faz acordado o que os outros só têm coragem de fazer sonhando.

Sócrates entende que, agora, é necessária uma grande pesquisa sobre os desejos. A vida boa vai ser definida como um misto de prazer e reflexão. O filósofo fez a experiência de todos os prazeres que o tirano fez, só que fez uma experiência a mais, a do prazer da reflexão, que é mais elevado do que o ser humano é cabaz. Livro X A República encerra com o Mito de Er. Er foi um soldado que foi dado como morto, e quando ia ser cremado voltou à vida. Depois prossegue a contar o que viu no além: o destino das almas de todas as pessoas, e sobretudo o destino da vida do tirano e do filósofo. A cena mais marcante é aquela em que a necessidade faz um grande discurso para as almas que vão escolher as suas vidas. Jogando os destinos das pessoas, ela faz o seguinte discurso: “A virtude não tem senhor. A responsabilidade é de quem escolhe. E o deus é isento de culpa.”. Mas elas escolhem conforme a sua tendência, conforme a sua virtude. Por isso é que a virtude não tem senhor. A questão de Trasímaco retorna, e a resposta é dada neste contexto mítico: O primado da vida boa é a virtude.

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Referências Bibliográficas: Marsola, M., 2017. A REPÚBLICA DE PLATÃO. [online] Youtube.com. Available at:

[Accessed 11 March 2021].

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