Análise da obra a cachoeira de Paulo Afonso PDF

Title Análise da obra a cachoeira de Paulo Afonso
Course Literatura Brasileira moderna
Institution Universidade Federal do Pará
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Summary

A obra A cachoeira de Paulo Afonso (1876), do poeta baiano Antônio Frederico de Castro Alves, surgiu em um período em que o movimento abolicionista ganhava força entre os intelectuais. ...


Description

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE LETRAS E COMUNICAÇÃO FACULDADE DE LETRAS

ANÁLISE DA OBRA A CACHOEIRA DE PAULO AFONSO

Belém - PA 2017

ANÁLISE DA OBRA A CACHOEIRA DE PAULO AFONSO Análise apresentada à Faculdade de Letras da Universidade Federal do Pará, para fins de obtenção do conceito referente à disciplina literatura brasileira moderna. Orientadora: Prof.ª Furtado.

Belém 2017

Dr.ª

Marli Tereza

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Universidade Federal do Pará Faculdade de Letras Literatura Brasileira Moderna Prof.ª Dr.ª Marli Tereza Furtado. A obra A cachoeira de Paulo Afonso (1876), do poeta baiano Antônio Frederico de Castro Alves, surgiu em um período em que o movimento abolicionista ganhava força entre os intelectuais. A Independência do Brasil, em 1822, serviu de estimulo à nação, para a redefinição dos traços constitutivos do país, fazendo parte da sua identidade nacional. Assim, Castro Alves desenvolve em suas produções lírico-dramáticas críticas a respeito da sociedade da época, abordando problemas sociais da nação, e uma visão da condição de escravo enquanto sujeito. Além disso, sua visão de amor passa a ser mais concreta em comparação a outros poetas do Romantismo. A obra consta de 33 poemas, obedecendo a uma ordem cronológica para cada acontecimento, interligados uns aos outros por uma narrativa. Os temas giram em torno da escravidão, o sentimento lírico-amoroso e a natureza. Nos poemas que abordam a natureza, há uma espécie de personificação, dando vida a elementos como sombra, árvores, tarde. Um exemplo disto seria o primeiro poema “Tarde” que abre a narrativa diante de uma deslumbrante paisagem e no terceiro “Baile na flor”, onde Castro Alves exibe rara beleza, ao comparar a floresta com um baile no qual os convidados são silvos e fadas, flores e insetos ao som de uma animada ‘‘orquestra de grilos nas flores”, explorando a riqueza exuberante, ‘‘mágica’’, intocada e cheia de vida da fauna e flora brasileira: "Ali as bromélias nas flores doiradas Há silfos e fadas, que fazem seu lar... E, em lindos cardumes, Sutis vaga-lumes Acendem os lumes Para o baile na flor." Em ‘‘A queimada’’ há cenas que captam tanto a realidade física, geográfica, quanto a social, pois nelas há sempre a presença de tipos regionais facilmente reconhecíveis: o tropeiro, o vaqueiro, o violeiro, a mulata, por exemplo, os quais se juntam aos elementos da natureza, num painel variado e grandioso. O poeta, por

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sua vez, não se limita a enumerar tais elementos. A cena é frequentemente captada em movimento, não só em relação aos elementos que a conformam, mas também no que diz respeito ao próprio poeta. Este se figura percorrendo os campos descritos, comumente a cavalo, e chega, inclusive, em determinado momento, a ser testemunha de uma tragédia tropical, como no caso do incêndio descrito no poema. No poema ‘‘Lucas’’ o nome dado ao escravo negro revela a forma como o eulírico valoriza o negro como homem, que passa a ter uma identidade. O poema valoriza a beleza negra de Lucas, destacando traços de seu rosto, suas mãos, seu vigor físico, bem como seu canto. A natureza é apresentada como o lugar de trabalho do escravo lenhador e como uma espécie de mãe de Lucas, tão vigoroso quanto a floresta: ‘‘Um belo escravo da terra Cheio de viço e valor... Era o filho das florestas! Era o escravo lenhador ! Que bela testa espaçosa, Que olhar franco e triunfante! E sob o chapéu de couro Que cabeleira abundante! De marchetada jibóia Pende-lhe a rasto o facão... E assim... erguendo o machado Na larga e robusta mão...’’ Um escravo, lenhador, que sai de um incêndio como uma estátua de bronze, cantando baixinho para si mesmo uma cantiga criada por ele próprio. Em relação ao tema mulher, o poema “Maria” retrata a maneira que o autor encara a figura feminina no romantismo. A escrava, mulher negra e mulata, é uma figura que desperta desejo de luxuria, carregada de sensualidade como no trecho em que o autor a chama de "morena flor do sertão" e no parte retirada do poema abaixo: ‘‘A grama um beijo te furta Por baixo da saia curta, Que a perna te esconde em vão... Mimosa flor das escravas! O bando das rolas bravas

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Voou com medo de ti!... Levas hoje algum segredo... Pois te voltaste com medo Ao grito do bem-te-vi! Serão amores deveras? Ah! Quem dessas primaveras Pudesse a flor apanhar! E contigo, ao tom d'aragem,’’ Porém, Castro Alves mistura essa imagem de escrava à condição de mulher violada duplamente, por ser mulher e por ser escrava, provocando nos leitores sentimentos de compaixão. Em questão de ambientação de espaços temos o poema ‘‘Senzala’’ em que o eu-lírico tenta retratar, em belos versos, a casinha onde a escrava Maria vivia, tão pequena, bela e singela, e onde os passarinhos brincavam, bem como em ‘‘Nos campos’’, ‘‘No monte’’ e ‘‘Na fonte’’ onde os próprios títulos demonstram transgressão e mudança de ambiente ao qual vai se tratar o poema. No tema lírico-amoroso, a obra gira em torno do casal de escravos Lucas e Maria, e estes lutam pela dignidade, liberdade e pela moral da personagem feminina, que foi violada. Ligando-se ao tema escravo, têm-se o discurso de Lucas em “Desespero”, quando Maria implora para que ele esqueça a vingança, e ele a responde dizendo que então ela nunca soube o que era ser escrava de verdade, que são injustiçados desde o berço. Assim, dando voz a Lucas, Castro Alves mostra que o papel do negro nunca foi de inércia, e que ele se constitui enquanto sujeito, assim como Maria, que é violada e se preocupa com o seu valor moral. Em ‘‘Adeus’’ o tema amoroso mostra que o eu-lírico critica o fato de Maria, sua amada, ter lhe dito adeus, pois sem ela ele não consegue viver, morreria de tanta dor, que se continua no poema ‘‘Mudo e quedo’’ ao mostrar a desgraça de um amor passado e a dor sombria que deixa marcas permanentes para quem fica - uma das características do romantismo brasileiro. Por fim em ‘‘A loucura divina’’ mostra um diálogo entre duas pessoas discutindo o que seriam os sons que ouviam, sendo que Maria, mal sabia que era a morte que a chamava sob a forma do som da cachoeira. Este poema revela que para Lucas e Maria, a morte é libertação, como fim trágico para o casal de heróis da literatura brasileira que ‘’À beira do abismo e do infinito’’ cobre os amantes por meio das águas do rio num último suspiro e beijo de amor que os eterniza.

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Ao que se trata da composição dos poemas, notamos o constante uso de figuras personificadas, metafóricas – como em “jiboia’’ relacionado ao perverso senhor que desflora Maria em ‘‘No monte’’- hiperbólicas e antitéticas. Encontramos sonoridade rítmica diversificada presente na obra, como em “Maria” e “A tarde”. “Mimosa flor das escravas! O bando das rolas bravas Voou com medo de ti!... Levas hoje algum segredo... Pois te voltaste com medo Ao grito do bem-te-vi!”

“Era a hora em que a tarde se debruça Lá

da

crista

das

serras

mais

remotas... E d'araponga o canto, que soluça, Acorda os ecos nas sombrias grotas;” (A tarde)

(Maria)

Castro Alves estabelece uma sonoridade contínua, nitidamente perceptível em alguns de seus poemas. “Segredo e medo”, “escravas e bravas”, “debruça e soluça”, todas estas rimas fazem parte de um recurso para a história progredir de maneira agradável ao leitor. Há também variados tamanhos para os poemas, tanto mais curtos como em “À beira do abismo e do infinito” contendo 1 estrofe e 6 versos, “O baile na flor” possuindo 1 estrofe de 22 versos, “Anjo” com 3 estrofes e 12 versos e ‘‘Tirana’’ com 5 estrofes e 20 versos; quanto maiores como em “O diálogo dos ecos” com 13 estrofes de ao todo 71 versos, “Mudo e quedo” de 12 estrofes e 57 versos e “O segredo” possuindo14 estrofes e 91 versos. Percebemos a clara referência ao uso de personagens como em ‘‘Lucas’’ e ‘‘Maria’’, bem como algumas características do romantismo já estabelecidas anteriormente. A partir disso, depreendemos segundo a intertextualização crítica com o artigo Poesia e identidade em Castro Alves de Valter Gomes Dias Júnior que, toda essa análise bem como compreensão e reflexão acerca dos 33 servirão a nós como apoio afirmativo da poesia em seu sentido formal. Ou seja, como ela era concebida na época de Castro Alves, especialmente a dramática, utilizada como estrutura dos poemas abolicionistas. Nesse sentido, podemos afirmar que, todos os referidos

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títulos convergem para a ideia de que o ponto de partida da ação dramática é o conflito. Valter Júnior afirma que esse estilo de poesia se estrutura por meio de um processo dialético em que temos a escravidão como tese, a indignação contra esse sistema como antítese e a abolição da escravatura como síntese, constituindo-se assim uma hipótese na no elaborar de tais poemas. Isso dá ao escravo a subjetividade negada como pessoa, Castro Alves nos sensibiliza ao explorar esses recursos estéticos e nos “educa”, como o teatro e sua plateia.

Referência Bibliográfica: Dias Júnior, Valter Gomes. Poesia e identidade em Castro Alves / Valter Gomes Dias Júnior. João Pessoa, 2013. 217f.

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CASTRO ALVES. A Cachoeira de Paulo Afonso. Disponível em: . Acesso em: 2 dez. 2017....


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