Eventos públicos e privados e Autoconhecimento no behaviorismo radical PDF

Title Eventos públicos e privados e Autoconhecimento no behaviorismo radical
Author Nathalia Nates de Souza
Course Psicologia comportamental
Institution Universidade Estadual de Londrina
Pages 3
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Summary

Anotações da ministrada pela prof Dr. em psicologia experimental Silvia Cristiane Murari...


Description

A mente refutada pelo behaviorismo radical é a mente imaterial, que atua como um agente criador ou propulsor e que evoca comportamentos. Que não é publicamente observável e não é acessível a intervenção. O que é autoconhecimento: saber explicar seu próprio comportamento e as contingências que o determinam. As abordagens cognitivas e psicanalíticas promovem uma “interiorização” de processos comportamentais que ocorrem em um mundo externo, deslocando-os para o mundo interno. Logo, por conta dos acontecimentos internos, os comportamentos são explicados por inúmeros eventos mentais (sentimentos, expectativas e etc), sendo assim, ao buscar o autoconhecimento, uma pessoa deveria buscar dentro de si as explicações sobre seu próprio comportamento. Eventos privados: acessíveis apenas ao próprio sujeito, principalmente aquilo que se observa pela introspecção. É o único meio para estabelecer contato com os eventos sensoriais, situados dentro do próprio corpo. Eventos públicos: eventos passíveis de acesso a mais de uma pessoa. Interno: tanto aquilo que nos referimos a sensações, sentimentos e outros estados corporais diretamente introspeccionados, quanto eventos mentais hipotéticos, inferidos e não introspeccionados, como personalidade e crenças. Pode ser usado como sinônimo de privado, subjetivo ou não observável diretamente. Externo: pode ser considerado como um sinônimo de público e diretamente observável. O behaviorismo radical adota os termos público e privado por estes terem mais precisão de linguagem, pois evitam o dualismo implícito nos usos de interno e externo. Eventos públicos e privados são da mesma natureza, o que permite que entrem em uma relação funcional, a unica diferença entre ambos é sua acessibilidade: os eventos privados são observáveis diretamente apenas para o próprio sujeito, enquanto os públicos podem ser observados por outros. Segundo a autora , para Skinner compreender como se dá o conhecimento do mundo privado é sempre problemático, quer se trate do autoconhecimento ou do conhecimento do mundo privado do outro. O problema é acessar esse eventos experimentalmente, mas para isso, o autor propõe superar as limitações do método experimental e através da interpretação do comportamento verbal o mesmo propõe uma forma de se investigar os eventos privados. Essa forma de análise, reconhece Skinner (1945/1984, 1953/1998, 1957) é limitada, mas é completamente plausível quando se discute o acesso a eventos privados e o autoconhecimento. Premissas: sem uma comunidade verbal (grupo social que fale e compartilhe a mesma língua e uma cultura em comum) não é possível conhecer o mundo privado. Pois de início o mundo privado de cada um não é diferenciado do ambiente. Apenas com a participação da comunidade verbal é possível a cada indivíduo aprender a fazer discriminações a respeito do mundo privado e do mundo público. (Esse aprendizado

se dá desde a infância). A partir desse processo de discriminação Skinner (1957) divide os comportamentos verbais a partir de suas variáveis e estipula cinco tipos de comportamento: ecóico, textual, intraverbal, mando e tato. Para se discutir o acesso a eventos privados é necessário o entendimento do comportamento de tato, pois ele explica o acesso aos eventos privados. Pois o tato é um comportamento verbal que descreve, ou está sob controle de objetos e acontecimentos do meio físico. A comunidade verbal modela os tatos, de modo a selecionar aqueles que estão de acordo com a língua e cultura compartilhada pelos indivíduos. Isso são operantes discriminativos que descrevem o mundo. Quanto maior o repertório de tatos, maior a possibilidade de descrever o mundo. Nisso trilha-se um caminho para a descrição dos eventos privados. Mas na descrição dos eventos privados não há a possibilidade de modelação da descrição, pois a comunidade precisa ensinar a descrever ou nomear algo que ela mesma não sabe com clareza do que se trata. Dessa forma a comunidade verbal ensina a descrição de eventos privados ensinando alguns termos procedimentos aos seus indivíduos: o primeiro é quando o agente reforçador se baseia em acompanhantes públicos que ocorrem (estímulos) e que estão associados àquela condição que se deseja descrever. (ex: apontar para a presença de um hematoma quando alguém está sentindo dor, a descrição do “sentir dor” fica sobre controle dos estímulos privados, mas o reforço da discriminação estar certa fica contingente à presença do hematoma). Outro procedimento de descrição de eventos privados se dá em respostas colaterais públicas, no caso da sensação de dor, uma resposta colateral pública, incondicionada, pode ser o gemido ou uma expressão facial de dor, que passa a ser reforçada no que tange a descrição da dor. O terceiro procedimento se dá pelo uso de metáforas, onde ocorre uma transferência de estímulos de um objeto a outro por conta de uma propriedade comum a ambos. O último procedimento se refere ao comportamento de autotato, onde a comunidade verbal ensina o indivíduo a descrever seu próprio comportamento (público ou privado) e seus determinantes. (comportamento verbal que descreve comportamentos da própria pessoa). Esse procedimento envolve perguntas sobre o que a pessoa está fazendo, geralmente. Ao responder a resposta verbal do falante fica em partes sob o controle de autoestimulações do indivíduo.

A partir disso que molda-se então o conceito de consciente e inconsciente no behaviorismo radical: ser consciente de algo significa saber descrever comportamentos, sejam eles públicos ou privados, através do comportamento verbal (seja ele público ou privado) e ser inconsciente de algo, significa não possuir habilidades comportamentais verbais de descrever verbalmente (seja pública ou privadamente) eventos públicos e privados. Dessa forma, o desenvolvimento da descrição de eventos privados ocorre conforme as diferentes práticas de cada comunidade verbal. Como estas variam. também variam o tipo e a quantidade de autoconhecimento possível a cada um de seus membros.

Mesmo que esse tipo de conhecimento seja limitado, Skinner (1954/1984) entende que “ser consciente” ou autoconhecer-se é útil tanto para o indivíduo quanto para a comunidade verbal, uma vez que a partir das descrições de eventos privados, a comunidade verbal pode inferir antecedentes do comportamento atual e, ainda, prever a probabilidade de certos comportamentos futuros. Algo importante a se destacar, é que ao conectar o autoconhecimento com o conhecimento do ambiente, o indivíduo que conhece pode trilhar um caminho para o autocontrole, uma vez que aliar esses dois tipos de conhecimento facilita ao sujeito alterar variáveis ambientais que controlam seu próprio comportamento.

Dessa forma é possível destacar que o autoconhecimento, é de natureza social, uma vez que a comunidade constrói este conhecimento, ao invés de buscar algo que já se encontra no indivíduo. Como dito por Gongora e Abib: “As contingências sociais não ensinam um “jeito” para a pessoa encontrar dentro de si mesma, por exemplo, uma saudade e então passar a falar dela. Nesse caso (...) a comunidade ensina que, sob certas condições, quando se está longe de lugares e de pessoas familiares, determinadas estimulações corporais sentidas devem ser nomeadas como saudade"....


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