Histórias Cruzadas - Resenha PDF

Title Histórias Cruzadas - Resenha
Author Beatriz Voigt
Course Cultura Brasileira
Institution Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
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Summary

Resenha sobre o filme "Histórias Cruzadas" de Tate Taylor...


Description

Beatriz Voigt - Cultura Brasileira

O filme The Help, baseado no livro homônimo de Kathryn Stockett e dirigido por Tate Taylor, é uma obra impressionantemente crítica e sensível, repleta de atrizes fortes na pele de personagens singulares e relevantes. É passado nos anos 60, em Jackson, Mississippi: Estado retrógrado marcado por desumanidade, brutalidade e homicídios frequentes em volta da questão racial, existente desde a escravidão. O contexto é do movimento dos direitos civis e o longa realmente respira esse ar revolucionário. Trata-se da criação de um livro que contém histórias reais de empregadas (escravas) negras que largaram suas vidas para trabalhar para a elite branca, expondo todo seu sofrimento cotidiano mas também situações engraçadas, alívios cômicos. Um fato chocante mostrado é a igualdade entre negros e brancos ser proibida, não só socialmente como juridicamente, naquela época no Mississippi. A segregação é evidente em entradas para lugares públicos, banheiros, escolas, cultos religiosos, ônibus, táxis “só para brancos” etc. Eugenia “Skeeter” Phelan (Emma Stone) é uma mulher culta, branca, sulista. É independente, fala o que pensa e sabe se posicionar perante um homem nojento e arrogante. É a principal entre as protagonistas, pois vai contra a corrente e busca, de certa forma, mudar aquela realidade. Após se formar na faculdade, volta para Jackson querendo se tornar escritora. Consegue um emprego em uma redação jornalística, na coluna sobre limpeza e tarefas de casa voltada para mulheres, é claro. Ela pede a permissão de Elizabeth Leefolt (Ahna  O'Reilly) para conversar com “sua” Aibileen (Viola Davis) para ajudá-la com o artigo. A demissão de Constantine (a empregada que a criou), enquanto ela estava fora de casa, também é um ponto que mexe com Eugenia. Ao longo da trama, descobre que ela é demitida por sua mãe, Charlotte, em um evento que reunia velhas senhoras racistas. Depois disso, envelhecendo e adoecendo, morre com o coração partido. É desagradável a ideia da doméstica ser considerada apenas propriedade e diante de todo esse comportamento violento de sua terra natal, decide escrever um livro no ponto de vista das auxiliares das casas da alta sociedade e inclui a sua história.

Aibileen Clark é a primeira a conceder uma entrevista a Skeeter. Nesse sentido, deixam de falar dos afazeres caseiros para focar no que realmente importa. Ela diz que já trabalhou para 17 famílias brancas. Enquanto isso, seu filho foi criado por outra pessoa. Muito jovem, ele foi assassinado a sangue frio por brancos e esse é um dos motivos que estimulam a denúncia da personagem de Davis. No filme, ela cuida de Mae Mobley (Emma  Henry) que é rejeitada pela mãe, Elizabeth. Clark consegue ser sua figura materna verdadeira, sempre a lembrando que é gentil, inteligente e importante. A antagonista Hilly Holbrook (Bryce Dallas Howard) se destaca por conseguir criar um personagem asqueroso e horroroso. Ela coordena um evento beneficente para ajudar crianças africanas famintas enquanto maltrata as afrodescendentes em sua própria casa. Representa toda a intolerância, a contradição e a hipocrisia da sociedade. Inicialmente, quem trabalha para ela é Minny Jackson, a melhor cozinheira da cidade. Em um momento, há a situação em que Minny precisa ir ao banheiro mas não pode ir para o lado de fora da casa (onde fica o “seu” sanitário), pois está ocorrendo um tornado. Então, utiliza o toalete de dentro e é demitida por isso. Como vingança, prepara uma torta com fezes para a ex-patroa comer: “eat my sheet!” - essa é uma das melhores cenas. A mãe de Hilly, Senhora Walters, presencia esse instante e começa a gargalhar e, por isso, é colocada em um asilo pela própria filha. Segundo Walters, Holbrook foi estragada pelo pai racista e ela também se vinga ao fazer um lance para a filha ganhar a torta de Minny na sua festa solidária. Jackson, logo, consegue trabalhar apenas para Celia Foote, a única que não conversa com Hilly e, por causa disso, é rejeitada pelas outras donas de casa. Foote é uma mulher a frente de seu tempo e muito amigável. Mostra não ter nenhuma discriminação e ajuda sua nova empregada com seu marido descontrolado e violento, Leroy, e até almoçam juntas na cozinha - uma coisa impensável naquele contexto. Minny descobre que Skeeter e Aibileen estão escrevendo juntas e decide ajudar. Reclama que ganham menos que o salário mínimo, não têm previdência social, nem férias remuneradas. Após tantos acontecimentos horríveis com os negros, mais auxiliares decidem apoia também, contando suas histórias.

Assim, as escritoras conseguem concluir e publicar, com muito sucesso, o livro “The Help”. Ele começa por um sussurro e se torna um grito para a mudança.Vai comovendo e fazendo refletir todas as pessoas que o leem. É interessante pontuar que a presença masculina no filme é mínima, porém mesmo assim é possível sentir a forte e cruel atmosfera patriarcal. O machismo está presente na violência doméstica que Minny sofre; no fato de Skeeter conseguir um emprego ser uma coisa mais negativa do que positiva para suas amigas da alta sociedade; na questão das mães não reconhecerem a beleza e as conquistas das filhas; na pressa das mulheres em casarem e terem filhos, o que Aibileen diz sobre a depressão pós parto muito comum “quando bebês começam a ter seus próprios bebês”; na pressão sobre Skeeter em arranjar um homem logo. Nesse último ponto, há também a homofobia da mãe de Skeeter que, preocupada que ela seja lésbica, oferece um “chá especial” para “curar” a sua “doença”. E quando a filha vai se encontrar com seu pretendente, ela aconselha a “não se sentar como índio”, como se fosse sinal de maus modos e má educação. Torna-se evidente, então, diversos preconceitos da sociedade além do racismo. O longa é narrado pelo ponto de vista de Aibileen mas também tem a visão de Skeeter, as duas constroem a história juntas. Há equilíbrio na quantidade de artistas brancos e negros: tanto atrizes protagonistas como cantores selecionados para a trilha sonora. Pode-se perceber, portanto, uma mensagem de igualdade. Porém, a cena final, em que Clark é demitida injustamente por Hilly, mostra que a sociedade ainda é violentamente preconceituosa e precisa mudar....


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