Lusíadas - Despedidas em Belém - Análise PDF

Title Lusíadas - Despedidas em Belém - Análise
Course Português
Institution Ensino Secundário (Portugal)
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Lusíadas - Despedidas em Belém - Análise...


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EB 2,3/S DE VALE DE CAMBRA FICHA INFORMATIVA DE PORTUGUÊS

DESPEDIDAS EM BELÉM -

Págs. 223 a 228

1. Lê este excerto de João de Barros onde surge a expressão “praia de lágrimas”: Praia de Lágrimas No qual acto foi tanta a lágrima de todos, que neste dia tomou aquela praia posse das muitas que nela se derramam na partida das armadas que cada ano vão a estas partes que Vasco da Gama ia descobrir: de onde com razão lhe podemos chamar praia de lágrimas para os que vão e terra de prazer aos que vêm. E quando veio ao desfraldar das velas, que os mareantes, segundo seu uso, deram aquele alegre princípio de caminho, dizendo “boa viagem!”, – todolos que estavam na vista deles com uma piedosa humanidade dobraram estas lágrimas e começaram de os encomendar a Deus, e lançar juízos segundo o que cada um sentia daquela partida. Os navegantes, dado que com o fervor da obra e alvoroço daquela empresa embarcaram contentes, também, passado o termo do desferir das velas, vendo ficar em terra seus parentes e amigos e lembrando-lhe que sua viagem estava posta em esperança, e não em tempo certo nem lugar sabido, assim os acompanhavam em lágrimas como em o pensamento das cousas que em tam novos casos se representam na memória dos homens. Assi que, uns olhando para a terra, e outros para o mar, e juntamente todos ocupados em lágrimas e pensamento daquela incerta viagem, tanto estiveram prontos nisso té que os navios se alongaram do porto. João de Barros, Ásia, Década I – Livro IV – Capítulo II ANÁLISE DA CENA DA DESPEDIDA “A construção desta cena é feita principalmente através da alternância de planos: desde o plano de conjunto inicial (“as gentes (...) por perdidos nos julgavam”) aos planos de pormenor (“as mulheres (...) os homens”) e mesmo aos grandes planos (“Qual vai dizendo (...) Qual em cabelo”). Termina com novo plano de conjunto, na estrofe 92, e com a narração do que se passava a bordo. A consternação era geral na cidade e a bordo: tinha-se a noção dos perigos, de que o caminho era “tão longo e duvidoso”, de que, muito provavelmente, os que partiam não iriam regressar. Deste clima de consternação davam conta as mulheres “cum choro piadoso” e os homens “com suspiros que arrancavam". Particularmente débeis eram, contudo, as mulheres: “Mães, Esposas, Irmãs, que o temeroso /Amor mais desconfia acrescentavam/A desesperação e frio medo/De já nos não tornar a ver tão cedo”. Surgem então, como a comprová-lo, dois grandes planos, com as palavras de uma Mãe e de uma Esposa, personagens colectivas, dadas em discurso directo. A mãe que nos fala na estrofe 90 é o símbolo da velhice que se abandona, em troca de uma morte mais que certa no mar. Daí que as suas palavras sejam de incompreensão e de perplexidade, dada pelas interrogações angustiadas que ficam no ar, sem resposta. (…) Repare-se nas sonoridades suaves em i (vogal doce), contrastando, depois, com a dureza das sonoridades em vogal aberta a. O mesmo discurso dorido, perplexo, interrogativo é a tónica das palavras da Esposa, na estrofe 91. (…) Como se vê, esta Esposa interroga, queixa-se e, de certo modo, censura e acusa. A adjectivação é extremamente expressiva: “doce e amado esposo”; o amor é reafirmado como “vão contentamento” (“engano de alma ledo e cego” se lhe chamara no episódio de Inês de Castro), “sem quem não quis amor que viver possa”, “afeição tão doce nossa” (veja-se a doçura destas aliterações em s). Aquele que parte não tem o direito de o fazer, pois aventura algo que lhe não é pertença privada, “essa vida que é “Quereis que com as velas leve o vento?” Trata-se de algumas das mais belas palavras de amor jamais escritas, sobretudo tendo em conta que se trata do amor conjugal, raramente tratado na nossa tradição lírica ocidental. Após estes dois grandes planos, retoma-se na estrofe 92 a visão de conjunto: frágeis são os que ficam, mães, esposas, irmãs, é certo, mas também os velhos e os meninos. A própria natureza se comove e se associa numa dor à escala cósmica. Aos que partem só resta uma saída: partir depressa, sem o “despedimento costumado”. Amélia Pinto Pais, Ensinar Os Lusíadas, 1.a ed., Areal Ed., 1997

Ler e Compreender 1.1. Seguindo o modelo das epopeias greco-latinas, a narração não começa no princípio da acção (a partida das naus de Lisboa e início da viagem), mas já a meio da acção (in medias res): “Já no largo Oceano navegavam,” [Canto I, est. 19].

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1.2. Vasco da Gama, que é um narrador participante e subjectivo (atente-se no emprego do pronome pessoal me, no último verso da est. 84: “Estão para seguir-me a toda a parte.”). Os alunos deverão recordar que Vasco da Gama continua a sua narração ao rei de Melinde, a quem se dirige directamente na estrofe 87: “Certifico-te, ó Rei,…”

1.3. e 1.4. Este excerto d’Os Lusíadas narra-nos a partida dos marinheiros da praia do Restelo e a despedida dos seus familiares e amigos. Dividimo-lo em três partes: a) Introdução [est. 84-86]: Localizada a acção no espaço-tempo, observamos o alvoroço geral dos últimos preparativos para o embarque da “gente marítima e a de Marte” (marinheiros e soldados). Prontas as naus, os nautas reúnem-se em oração na ermida de Nossa Senhora de Belém. b) Desenvolvimento [est. 87-92]: Descreve-se a “procissão solene” do Gama e seus companheiros desde o “santo templo” (ermida) até aos batéis, pelo meio da “gente da cidade”, homens e mulheres, velhos e meninos, com relevo especial para as mães e as esposas. Tanto os que partiam como os que ficavam se entristeciam e a despedida assume grande emotividade. “Porque me deixas, mísera e mesquinha? Porque de mi te vas, ó filho caro,” [est. 90, vv. 5-6] c) Conclusão [est. 93] Refere-se ao embarque que, por vontade do Gama, se fez sem as despedidas habituais para diminuir o sofrimento, tanto dos que partiam como dos que ficavam. 2.1. No porto de Lisboa (“E já no porto da ínclita Ulisseia” ), as naus estão preparadas; no templo de Belém, que está edificado à beira da água (“ Partimo-nos assi do santo templo / Que nas praias do mar está assentado,”), os homens prepararam as almas para a morte (rezaram). 3.1. Rezaram, implorando a Deus que os guiasse e que favorecesse o início da viagem. 3.2. “Aparelhámos a alma pera a morte, Que sempre aos nautas ante os olhos anda.” [est. 86, vv. 3-4] 4.1. a) Os que ficam: – “Saudosos na vista e descontentes.” [est. 88, v. 4] – “As mulheres cum choro piadoso, Os homens com suspiros que arrancavam. Mães, Esposas, Irmãs, que o temeroso Amor mais desconfia, acrecentavam A desesperação e frio medo” [est. 89, vv. 3-7] – “Os velhos e os mininos os seguiam,” [est. 92, v. 3] – “A branca areia as lágrimas banhavam,” [est. 92, v. 7] b) Os que partem: – “Cum alvoroço nobre e cum desejo” [est. 84, v. 2] – “e não refreia / Temor nenhum o juvenil despejo” [est. 84, vv. 5-6] – “Nós outros, sem a vista alevantarmos” [est. 93, v. 1]

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Bom estudo!! Professora: Maria Regina Aidos

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