Os lusíadas - trabalho escrito PDF

Title Os lusíadas - trabalho escrito
Course Literatura Portuguesa Clássica
Institution Universidade Federal do Pará
Pages 25
File Size 1.8 MB
File Type PDF
Total Downloads 43
Total Views 142

Summary

Trabalho sobre a única epopéia portuguesa e uma das mais célebres obras na língua, que consolidou de certa forma o português moderno e elevou o idioma ao patamar de língua cultural....


Description

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE LETRAS E COMUNICAÇÃO FACULDADE DE LETRAS

ANÁLISE SOBRE OS LUSÍADAS

Belém - PA 2018

ANÁLISE SOBRE OS LUSÍADAS

Análise apresentada à Faculdade de Letras da Universidade Federal do Pará, para fins de obtenção do conceito referente à disciplina Literatura Portuguesa Clássica. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Germana Maria Araujo Sales.

Belém 2018

3

Universidade Federal do Pará Faculdade de Letras Literatura Portuguesa Clássica Prof.ª Dr.ª Germana Maria Araujo Sales. INTRODUÇÃO Falar de os Lusíadas em um primeiro momento pode até parecer fácil, no entanto, como explicar a sua magnitude e excelência apenas com palavras? As mais belas orações e frases seriam incapazes de expressar a grandeza desta obra. A sua imensidade logo começa por se tratar da única epopéia portuguesa e uma das mais célebres obras na língua, e por ter consolidado de certa forma o português moderno e elevado o idioma ao patamar de língua cultural. Entretanto, a sua excelência não para por aí, Camões consegue com maestria narrar a descoberta do caminho marítimo para a Índia e ao mesmo tempo exaltar a história de um povo de maneira louvável em 10 cantos, 1.102 estrofes e 8.816 versos, em oitavas decassílabas e esquema rímico fixo (AB AB AB CC). Os Lusíadas são sem dúvida, uma obra de grande beleza literária, uma vez que no decorrer dos versos percebemos o desencadeamento de ações que induzem a leitura (apesar de não ser tão fácil o entendimento). As aventuras, as paixões, as adversidades, a história de um povo é contada de forma tão poética e com fervor que fazem de Os Lusíadas um “clássico dos clássicos”, pois representa o período em que foi escrito com magnífica perfeição. Dessa maneira, este trabalho tem como objetivo apresentar uma análise do Canto X, que será divida por assuntos e estâncias, a fim de deixar mais concisa a abordagem. Além disso, demonstraremos o ensaio sobre a obra os Lusíadas, intitulado: Camões e as fórmulas lapidares em Os Lusíadas, de Castelar de Carvalho. Após o ensaio exibiremos as fontes primárias encontradas no Grêmio Literário Português e os periódicos localizados na Hemeroteca digital. Por fim, evidenciaremos as adaptações identificadas d’os Lusíadas.

ANÁLISE DO CANTO DÉCIMO Primeiramente cabe evidenciar os aspectos estruturais do canto décimo, ele apresenta 156 estrofes e 1, 248 versos. Além de apresentar o mesmo esquema rimático dos outros cantos. Quanto a análise, evidenciaremos os assuntos presentes no canto por meio das estâncias. Assim temos:

4

Assunto Tethys e as ninfas oferecem um banquete aos marinheiros

Estância 1–4

Uma ninfa, cantando, enumera os feitos futuros dos portugueses (penúltima profecia)

5-7

Interrupção do Poeta e nova invocação (4ª) Calíope

8-9

A Ninfa prossegue, ocupando-se dos heróis e governantes da Índia

10-73

Tethys conduz o Gama ao alto de um monte, onde lhe mostra uma miniatura do Universo (Maquina do Mundo) • O sumo Deus

75-90

Tethys descobre no orbe terrestre, os lugares onde os portugueses hão de praticar altos feitos.

91-141

Episódio São Tomé

108-119

Tethys despede os Portugueses-que embarcam para à Pátria

142-143

85

Chegada a Portugal

144

Lamentações, Exortações a D. Sebastião e Vatícios de Futuras Glórias

145-156

Tabela 1: Nas estâncias de um a quatro, inicia-se com os navegantes na Ilha dos Amores, depois Tethys e as ninfas oferecem um banquete aos marinheiros pelo esforço, valentia e amor à pátria: 2. Quando as fermosas Ninfas, cos amantes Pela mão, já conformes e contentes, Subiam pera os paços radiantes E de metais ornados reluzentes, Mandados da Rainha, que abundantes Mesas d' altos manjares excelentes Lhe tinha aparelhados, que a fraqueza Restaurem da cansada natureza. (CAMÕES, canto X, estância II) Nas estâncias de cinco a sete, uma ninfa, cantando, enumera os feitos futuros dos portugueses no Oriente, outra forma de recompensar pela bravura dos navegantes.

6. Cantava a bela Ninfa, e cos acentos, Que pelos altos paços vão soando, Em consonância igual, os instumentos Suaves vêm a um tempo conformando. Um súbito silêncio enfreia os ventos

5

E faz ir docemente murmurando As águas, e nas casas naturais Adormecer os brutos animais. (CAMÕES, canto X, estância VI) Nas estâncias de oito a nove, temos a invocação do poeta a musa Calíope − uma das noves musas, que têm por missão a inspiração dos seres humanos para que estes se tornem criativos na arte e na ciência. Matéria é de coturno, e não de soco, A que a Ninfa aprendeu no imenso lago; Qual Iopas não soube, ou Demodoco, Entre os Feaces um, outro em Cartago. Aqui, minha Calíope, te invoco Neste trabalho extremo, por que em pago Me tornes do que escrevo, e em vão pretendo O gosto de escrever, que vou perdendo. (CAMÕES, canto X, estância VIII) Em seguida, da estância dez a setenta e cinco Tethys prossegue com o seu discurso, proferindo as ações futuras dos heróis e navegantes portugueses. Narrando as conquistas e os caminhos que estão por vir: 39. ”Mas oh, que luz tamanha que abrir sinto (Dizia a Ninfa, e a voz alevantava) Lá no mar de Melinde, em sangue tinto Das cidades de Lamo, de Oja e Brava, Pelo Cunha também, que nunca extinto Será seu nome em todo o mar que lava As ilhas do Austro, e praias que se chamam De São Lourenço, e em todo o Sul se afamam!” (CAMÕES, canto X, estância XXXIX)

6

Posteriormente, Tethys conduz Vasco da Gama a um Monte espesso, passando por um caminho árduo que possivelmente simbolize o processo do conhecimento para atingir o saber: 76.” Faz-te mercê, barão, a Sapiência Suprema de,cos olhos corporais, Veres o que não pode a vã ciência Dos errados e míseros mortais. Sigue-me firme e forte, com prudência, Por este monte espesso, tu cos mais." Assi lhe diz, e o guia por um mato Árduo, difícil, duro a humano trato.” (CAMÕES, canto X, estância LXXVI) A partir da estância oitenta, Thetys mostra a Maquina do Mundo a Vasco da Gama. E, com isso, explicando o pequeno modelo do universo e a sua composição. Como a parte etérea que é composta por elementos sagrados e celestiais e a parte Elemental que é formada pelos quatro elementos (terra, agua, fogo e ar): 80.” Vês aqui a grande máquina do Mundo, Etérea e elemental, que fabricada Assi[m] foi do Saber, alto e profundo, Que é sem princípio e meta limitada. Quem cerca em derredor este rotundo Globo e sua superfície tão limada, É Deus: mas o que é Deus, ninguém o entende, Que a tanto o engenho humano não se estende.” (CAMÕES, canto X, estância LXXX)

7

Após mostrar a Maquina do Mundo, é possível perceber que o universo era formado por onze esferas (orbes) e que o universo segue o modelo ptolomaico ou Ptolomeu, que é o sistema no qual a terra é o centro do universo. Além disso, a esfera externa denominada "Empíreo" era imóvel e etérea e nela estavam as almas que tinham ascendido ao Paraíso: 81. “Este orbe que, primeiro, vai cercando os outros mais pequenos que em si tem, que está com luz tão clara radiando que a vista cega e a mente vil também, Empíreo se nomeia, onde logrando puras almas estão daquele Bem tamanho, que ele só se entende e alcança, de quem não há no mundo semelhança." (CAMÕES, canto X, estância LXXXI)

8

Nas estancia oitenta e cinco é apresentado o Móbil Primeiro- a 10ª esfera, que rodava rapidamente (à razão de uma rotação por dia) e arrastava todas as outras que, assim, eram por ela movidas a diferentes velocidades de rotação. Também, é possível perceber a ideia de que a participação de outros agentes que atuam no mundo são apenas instrumentos (“causas segundas”) de Deus, que é quem tudo dispõe primária e absolutamente (Causa Primeira): 85. “Enfim q segundas Causas obra e tornando a Obras da Mã Deba[i]xo d Almas divin Outro corre, Que não se e (CAMÕES,

Na estancia oitenta e seis é a apresentação da Nona esfera que apresenta um movimento lento e sem deslocamento próprio, mas arrastado pelo movimento alheio (do Móbil Primeiro); enquanto que Febo, seria a alusão ao Sol que completa duzentos ciclos (isto é, em duzentos anos), o Cristalino roda apenas um grau: 86. “Com este rapto e grande movimento Vão todos os que dentro tem no seio; Por obra deste, o Sol, andando a tento, O dia e noite faz, com curso alheio. Nona Esfera: o Cristalino ou Secundum Mobile Deba[i]xo deste leve, anda outro lento, Tão lento e so[b]jugado a duro freio, Que, enquanto Febo, de luz nunca escasso, Duzentos cursos faz, dá ele um passo.” (CAMÕES, canto X, estância LXXXVI) Das estâncias noventa e um a cento e quarenta e um, Tethys - esposa do Oceano e uma das divindades primitivas, que personifica a fecundidade "feminina" do mar - a partir do orbe terrestre, mostra os lugares onde os portugueses hão de praticar altos feitos. Ela começa com o nome do lugar para em seguida fazer a descrição do espaço, povo, hábitos e costumes dos mesmos; e assim se repete até a estância 141, com exceção do episódio de São Tomé que é

9

narrado das estâncias cento e oito a cento e dezenove – mas que será devidamente explicado, em breve. Tethys não só mostra os territórios das grandes ações portuguesas como as vezes cita o nome do português que praticará tal ato grandioso, como a bravura do comandante português de Ormuz, Dom Filipe de Meneses que venceu os persas de Lara. Com relação às regiões, a esposa do Oceano menciona a Europa, África , Benomotapa (um império africano que abrangia a região onde atualmente se situa Manica e Sofala), as nascentes do Nilo, Abissínia, Nobá, Cabo Guardafui, O mar vermelho, o extremo Suez (um porto no mar vermelho), o monte Sinai, Toro, Gidá, Bab-el-Mandeb, Ádem, Arzira, as três Arábias, o estreito de Ormuz, cabo Fartaque, Dófar, Roçalgate, cabo Moçandão, ilha Barém, os rios Tigre e Eufrates, a Pérsia, a ilha Gerum, dentre muitos outros lugares. Um ponto interessante que observamos e que já tinha sido mencionado por Castelar de Carvalho em seu ensaio, é a presença do religioso e das informações autobiográficas narradas por Camões em sua obra e agora, demonstraremos especificamente no canto X: 98. Vês o extremo Suez, que antigamente Dizem que foi dos Héroas a cidade (Outros dizem que Arsínoe), e ao presente Tem das frotas do Egipto a potestade. Olha as águas nas quais abriu patente Estrada o grão Mousés na antiga idade. Ásia começa aqui, que se apresenta Em terras grande, em reinos opulenta. (CAMÕES, canto X, estância XCVIII)

99. Olha o monte Sinai, que se ennobrece Co sepulcro de Santa Caterina; Olha Toro e Gidá, que lhe falece Água das fontes, doce e cristalina; Olha as portas do Estreito, que fenece No reino da seca Ádem, que confina Com a serra d’Arzira, pedra viva, Onde chuva dos céus se não deriva. (CAMÕES, canto X, estância XCIX) Nestas duas estâncias, notamos as referências religiosas nítidas quando Camões fala sobre o extremo Suez que é um porto do mar vermelho que nos remete a uma figura bíblica que no decorrer da estância é confirmada, Moisés, remetendo-nos ao episódio bíblico da

10

abertura deste mar. A outra menção se faz a partir dos termos Sinai e Santa Caterina, o primeiro ao remeter ao monte em que Moisés recebe as tábuas sagradas de Deus e o segundo à padroeira de Goa, na Índia que colocou o cristianismo como religião oficial do império romano. Sobre as informações autobiográficas narradas por Camões neste canto, temos como exemplo a referência que ele faz a si próprio, quando sofreu um naufrágio no rio Mecom que quase lhe custou a vida e o manuscrito dos “Lusíadas”. 128. Este receberá, plácido e brando, No seu regaço os Cantos que molhados Vêm do naufrágio triste e miserando, Dos procelosos baxos escapados, Das fomes, dos perigos grandes, quando Será o injusto mando executado Naquele cuja Lira sonorosa Será mais afamada que ditosa. (CAMÕES, canto X, estância CXXVIII) Agora, como dito anteriormente, daremos atenção ao episódio de São Tomé – narrado entre as estâncias cento e oito e cento e dezenove – o qual Camões descreve como um apóstolo sagrado, por ter ao seu lado Jesus. [...] Tem as relíquias santas e benditas Do corpo de Tomé, barão sagrado, Que a Jesu Cristo teve a mão no lado. (CAMÕES, canto X, estância CVIII) Após isso, é mostrado a nós que Tomé está na Índia, com a missão de catequisar e difundir a fé cristã, mas que a maior parte da população de lá já era idólatra. Tomé operava grandes milagres ali, curava doentes e até trazia a vida novamente aos mortos. Com o passar de seus feitos grandiosos, Tomé conquistou multidões de pessoas que começaram a crer no Cristo que ele tanto defendia, com quem aprendera. Com o alvoroço da população, logo os brâmanes - sacerdotes e membros da mais alta classe ou casta dos hindus – começaram a vêlo como ameaça a sua religião e status. 112. Sabia bem que se com fé formada Mandar a um monte surdo que se mova, Que obedecerá logo à voz sagrada, Que assi lho ensinou Cristo, e ele o prova. A gente ficou disto alvoraçada; Os Brâmenes o têm por cousa nova; Vendo os milagres, vendo a santidade, Hão medo de perder autoridade. (CAMÕES, canto X, estância CXII) Invadidos pela inveja, os sacerdotes tentam de todas as formas fazer com que Tomé fosse desacreditado ou até morto. Um deles mata o próprio filho para colocar a culpa no santo apóstolo, que por sua vez, recorre a Deus pedindo um milagre, e este o faz. O filho do

11

sacerdote então acorda, pela graça de Jesus, agradece a Tomé e conta que seu pai era o verdadeiro assassino. Depois desse grandioso acontecimento a população novamente cai aos pés de Tomé, cantam louvores ao Deus dele e até o rei se banha na água santa. Os brâmanes então, cheios de ódio e ambição, decidem tirar a vida de Tomé – de uma vez por todas. Fica claro nesta parte do canto que o próprio Jesus diz que se algo acometesse Tomé, seu corpo seria erguido aos céus. Então, em certo dia os sacerdotes hindus, meio a uma pregação, simulam na multidão um grande tumulto com pedras ao ar, em que uma delas atinge Tomé. Um desses brâmanes, aproveitando-se da situação, a fim de acabar com tudo mais rápido, perfura com uma lança o peito do santo apóstolo. Camões nesse momento da narração, diz que os rios Ganges e Hindo choraram junto a toda terra que Tomé pisou e pede ao apóstolo que interceda em nome e privilégio dos portugueses. 118. Choraram-te, Tomé, o Gange e o Indo; Chorou-te toda a terra que pisaste; Mais te choram as almas que vestindo Se iam da santa Fé que lhe ensinaste. Mas os Anjos do Céu, cantando e rindo, Te recebem na glória que ganhaste. Pedimos-te que a Deus ajuda peças Com que os teus Lusitanos favoreças. (CAMÕES, canto X, estância CXVIII)

Nas estâncias de 142 a144, Tethys se despede depois de concedido o conhecimento dos feitos futuros dos portugueses, e assim partem da Ilha dos Amores, embarcando para a pátria amada Portugal, com os ventos favoráveis. Ao chegarem, são recebidos com glórias e títulos. 143. Podeis-vos embarcar, que tendes vento E mar tranquilo, pera a pátria amada." Assi lhe disse; e logo movimento Fazem da Ilha alegre e namorada. Levam refresco e nobre mantimento; Levam a companhia desejada Das Ninfas, que hão-de ter eternamente, Por mais tempo que o Sol o mundo aquente. (CAMÕES, canto X, estância CXLIII) Na estância 145, Camões confessa o seu desalento devido a constatação de que o país vive em crise de valores, e que seu público é inculto e ignorante. Sua voz é enrouquecida – “não do canto, mas de ver que venho cantar a gente surda e endurecida”. Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho Destemperada e a voz enrouquecida, E não do canto, mas de ver que venho Cantar a gente surda e endurecida.

12

O favor com que mais se acende o engenho Não no dá a pátria, não, que está metida No gosto da cobiça e na rudeza Düa austera, apagada e vil tristeza. (CAMÕES, canto X, estância CXLV) Nas estâncias 146 a 153, o poeta dá conselhos ao Rei D. Sebatião, dizendo que este é rei de vassalos excelentes. Em seguida, fala do heroismo português e de sua obediência e fidelidade, mesmo de longe. Assim, Camões apela para que o Rei recompense seus súditos apoiando os mais experientes e estimando os religiosos que lutam para propagar a fé cristã. O poeta também pede ao Rei que não deixe que Alemães, Galos, Ítalos e Ingleses subjuguem os portugueses. Por vos servir, a tudo aparelhados; De vós tão longe, sempre obedientes; A quaisquer vossos ásperos mandados, Sem dar reposta, prontos e contentes. Só com saber que são de vós olhados, Demónios infernais, negros e ardentes, Cometerão convosco, e não duvido Que vencedor vos façam, não vencido. (CAMÕES, canto X, estância CXLVIII). Em seguida, nas estâncias 154 a 156, Camões concentra o seu discurso em si, dizendo que apesar de ser indigno da atenção do rei, o servirá quer através de cantos quer através de armas. Pera servir-vos, braço às armas feito, Pera cantar-vos, mente às Musas dada; Só me falece ser a vós aceito, De quem virtude deve ser prezada. Se me isto o Céu concede, e o vosso peito Dina empresa tomar de ser cantada, Como a pres[s]aga mente vaticina Olhando a vossa inclinação divina. (CAMÕES, canto X, estância CLV)

ENSAIO SOBRE A OBRA OS LUSÍADAS, INTITULADO: CAMÕES E AS FÓRMULAS LAPIDARES EM OS LUSÍADAS, DE CASTELAR DE CARVALHO O ensaio abordado pelo grupo foi o do professor e doutor, membro da Academia Brasileira de Filologia, Castelar de Carvalho intitulado ‘‘Camões e as fórmulas lapidares em

13

os lusíadas’’. A partir da leitura do estudo acima referido, notamos que o autor o introduz por meio de um apanhado geral dos Lusíadas, bem como sua data de publicação em 1572, o número de versos que a obra contém como um todo que são 8816 e sua distribuição em dez cantos e 1102 estrofes em oitava rima. Ainda em sua parte introdutória, Castelar de Carvalho atribui o papel de herói ao povo lusitano com a ideia do que ele chama de ‘‘herói coletivo’’; o assunto tema do desfecho na narrativa, por sua vez, é conferido à viagem de Vasco da Gama às Índias datando de 1497 a 1499 – sendo através da exaltação de seus combatentes e heróis que Camões celebra os trunfos do passado português, bem como a história de formação dessa nação. O autor também fala sobre um dualismo coexistente entre a motivação cristianizadora e a presença do maravilhoso pagão no poema, aparentemente contraditório, mas que é próprio da literatura renascentista. No desenvolver do ensaio, Carvalho remonta ao título de seu texto explicando tratar-se dos temas mais recorrentes no suceder da obra de Camões, tão recorrentes que seriam como fórmulas lapidares em os lusíadas. Tais temas referem-se ao uso constante da metalinguagem, reflexões filosóficas, lirismo, patriotismo, religiosidade e informações autobiográficas. Em relação a metalinguagem, Castelar de Carvalho afirma que Camões faz uso constante de observações sobre o seu processo de criação poética e valorização da linguagem literária, como nos exemplos do canto V estância 97 e canto I estância 33: É não se ver prezado o verso e rima, Porque quem não sabe arte não na estima. (V, 97)

E na língua, na qual quando [Vênus] imagina, Com pouca corrupção crê que é a latina. (I, 33) Em relação às reflexões filosóficas o autor fala que Camões deixa transparecer seu lado crítico, revelando descrença nos dirigentes da nação, no povo português e até mesmo nos religiosos, como nos exemplos abaixo, dos cantos X e III: Que o bom religioso verdadeiro Glória vã não pretende nem dinheiro. (X, 150)

Que um fraco rei faz fraca a forte gente. (III, 138) Sobre o lirismo ‘‘Camões não seria Camões se não falasse do amor’’, referindo-se tanto ao espiritualizado, como o de Inês de Castro, quanto ao sensual, das ninfas da ilha dos amores. Abaixo, exemplos da forma lírica que o autor demonstra na obra, especificamente no canto X, estância 32: Não somente [o amor] dá vida aos mal feridos,

14

Mas põe em vida os inda não nascidos. (IX, 32) A respeito do tema Patriotismo, Carval...


Similar Free PDFs