Preparação para o exame nacional de Português 12º ano - Frei Luís de Sousa PDF

Title Preparação para o exame nacional de Português 12º ano - Frei Luís de Sousa
Course Português
Institution Ensino Secundário (Portugal)
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Summary

Warning: TT: undefined function: 32 Warning: TT: undefined function: 32Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa1. Contextualização política e cultural (Liberalismo e Romantismo)A obra foi escrita em 1843, no período do Cabralismo (movimento que defendia a carta Constitucional abolida em 1836). Ligado ao ...


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Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa 1. Contextualização política e cultural (Liberalismo e Romantismo) A obra foi escrita em 1843, no período do Cabralismo (movimento que defendia a carta Constitucional abolida em 1836). Ligado ao contexto liberal, encontramos o Romantismo. Vejamos algumas características do movimento literário do Romantismo: - valoriza-se o indivíduo em si mesmo, a sensibilidade, o sentimento e a exaltação do eu interior, estando inerentes a inquietação e o desequilíbrio, assim como o sofrimento, a melancolia e a fatalidade; - privilegia-se a liberdade e o nacionalismo (os românticos às causas autonomistas e liberais); - enaltece-se a imaginação, a espontaneidade, o natural, o ser genial de cada indivíduo, a religião, o misticismo; - gosto pelo coloquialismo do discurso; - a paisagem romântica é tumultuosa, agreste, sombria, noturna (do tipo locus horrendus). 2.

As fontes de Frei Luís de Sousa

Entre 1835 e 1842, conhecem-se várias obras que têm como tema a vida “romanceada” de Manuel de Sousa Coutinho. - Luís de Sousa, romance de Ferdinand Denis (1835); - O Cativo de Fez , drama de Silva Abranches (1840); - o romance em prosa Manuel de Sousa Coutinho de Paulo Midosi (1842). O primeiro contacto com esta temática teve-o Garrett na mocidade, numas férias na Póvoa de Varzim, quando assistiu a uma comédia castelhana sobre Frei Luís de Sousa. Além destes textos, Garrett conhecia também a biografia de Frei Luís de Sousa da responsabilidade de Frei António da Encarnação e a Memória do Sr. Bispo de Viseu, D. Francisco Alexandre Lobo . 3.

A ação

“Nem amores, nem aventuras, nem paixões, nem carateres violentos de nenhum género. Com uma ação que se passa entre pai, mãe e filha, um frade, um escudeiro velho e um peregrino que entra em duas ou três cenas – tudo gente honesta e temente a Deus” (Memória…). A única ação, tal como a entendemos, é a de Manuel de Sousa incendiando o seu palácio. As restantes personagens entram e saem de cena contando os seus terrores, revelando saberes, trazendo o passado para o presente, assinalando o aumento de tensão e desordem. O ato I é composto por 12 cenas, das quais as duas primeiras constituem a exposição, ou seja, a introdução das personagens e suas ações no passado mais ou menos recente, fundamentais para a evolução da intriga. Há dois fios de intriga: - infelicidade e terror de D. Madalena devido à incerteza da morte do primeiro marido; - paralelo ao primeiro e com ele entrando em ação, um conflito entre patriotismo e submissão ao invasor. Há um conjunto de coincidências que se revelam fatais: - locais em que se passam ações: palácio de D. João de Portugal; - dias em que se passam ações: sexta-feira; regresso do Romeiro; aniversário da batalha de Alcácer Quibir; - circunstâncias em que se passam ações: ausência de Manuel de Sousa. 4. Estrutura externa Esta obra dramática e trágica é constituída por três atos: o primeiro e o terceiro com doze cenas e o segundo com quinze. 5. Estrutura Interna Exposição - Ato I, Cenas 1 a 2 - Apresentação (através das falas das personagens) dos antecedentes da ação que explicam as circunstâncias atuais), das personagens e das relações existentes entre elas. - Momento de apresentação do conflito e dos seus antecedentes. Conflito - Ato I, Cenas 3 a 12; Ato II; Ato III, Cenas 1 a 9 - Desenrolar gradual dos acontecimentos, com momentos de tensão e expectativa - desde o conhecimento de que os governadores espanhóis escolheram para o palácio de Manuel de Sousa Coutinho para se instalarem até ao reconhecimento do Romeiro (anagnórise) - que provocaram uma série de peripécias. - A evolução do conflito culmina com a anagnórise do Romeiro por Frei Jorge, na cena 15 do Ato II. Desenlace- Acto III, Cenas 10 a 12 - Desfecho motivado pelos acontecimentos anteriores- consumação da tragédia familiar com a morte de Maria e a separação forçada de seus pais, que morrem psicologicamente um para o outro bem como para o mundo. - A resolução do conflito começa a acontecer no Ato III e culmina com a catástrofe que acontece nas duas cenas finais do Ato III, com a morte física de Maria e com a morte para o mundo de D. Madalena e Manuel de Sousa Coutinho que se consagram a Deus.

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Exposição Ato I, cenas 1-2 * Preparação da ação - Anúncio de informações sobre as personagens e suas ações no tempo, fundamentais para a evolução da intriga.

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Estrutura interna - síntese Conflito Desenlace Ato I, cena 3* – Ato III, cena 9 Ato III, cenas 10 -12 Desenvolvimento da ação Apresentação da catástrofe - O conflito surge inicialmente ligado a uma só personagem, D. Madalena, e, depois, vai-se propagando. Podemos dizer que o último a participar nele é Manuel de Sousa Coutinho que só cede à angústia e ao desenlace no Ato III. O ponto culminante da tensão dramática dá-se com o reconhecimento do Romeiro e prolonga-se no início do Ato III, com a perceção do drama interior de um pai que vê a sua filha condenada a não ter nome, nem família.

- (o desfecho fatal) da ação, com a morte (física ou psicológica) dos heróis.

As pe personagens rsonagens (Retirado do livro: Preparação para o Exame Nacional Português 11º ano , Porto Editora) O título da peça poder-nos-á levar a concluir que a personagem principal seja Manuel de Sousa Coutinho, uma

vez que a realidade histórica nos refere que este cavaleiro da ordem militar de Malta, ao tomar hábito, mudou o nome para Frei Luís de Sousa. Manuel de Sousa Coutinho (1555-1632) teve uma vida acidentada em África e na Ásia, enquanto prestava serviço ao rei Filipe II de Espanha. De regresso a Portugal, casou com D. Madalena de Vilhena, viúva de D. João de Portugal, desaparecido na batalha de Alcácer Quibir, África. Após o falecimento da filha, deu entrada no convento dos Dominicanos em Benfica, tornando-se Frei Luís de Sousa. Foi então que desenvolveu alguns projetos literários como A Vida de D. Frei Bartolomeu dos

Mártires e A História de S. Domingos Particular do Reino e Conquistas do Reino. No entanto, e relativamente à definição da personagem principal da obra, as opiniões dividem-se, havendo quem opte por Madalena (a personagem que mais intervém ao logo da peça), Maria (a personagem cujo percurso é o mais avassalador e destrutivo) e até D. João (pela sua constante presença/ausência). Contudo, uma outra hipótese de personagem principal poderá ser a família, porque é à sua volta (pai, mãe, filha, criado) que se desenvolve a ação. Todas as personagens estão marcadas pelo destino e conduzidas, logo desde o início, para a catástrofe final. É esta família que, marcada pelo destino e pela fatalidade, enceta um percurso destrutivo que a leva à morte: Manuel e Madalena professam, Maria morre, Telmo fica só e D. João fica sem família, sem identidade, sem nome, sem referências. Madalena Madalena é o paradigma da mulher apaixonada: • casada em primeiras núpcias com D. João de Portugal (desaparecido em Alcácer Quibir) a quem respeitava como a um pai, casa, pela segunda vez, com Manuel de Sousa Coutinho, a quem ama perdidamente e de quem tem uma filha: Maria; • vive perseguida pelo remorso de ter começado a amar Manuel, ainda em vida de D. João (Ato ll, cena 10) e por um hipotético medo de que o seu primeiro marido, cuja morte nunca foi confirmada, regresse o que a torna frágil e vulnerável - "esse amor, que hoje está santificado e bendito no céu, porque Manuel de Sousa é meu marido, começou com um crime, porque eu amei-o assim que o vi... e quando o vi, hoje, hoje... foi em tal dia como hoje, D. João de Portugal ainda era vivo!" (Ato II, cena 10); • dominada pelas emoções que inibem a possibilidade de ser feliz, vive em permanente infelicidade e angústia; • vive aterrorizada com o "fantasma" do seu primeiro marido, mas, no momento em que o tem, físicamente, diante de si, e apesar das inúmeras coincidências, é incapaz de o reconhecer - "E quem vos mandou, homem?" (Ato ll, cena 14); • respeita Telmo, embora este alimente os seus terrores e as suas superstições - "Ficastes-me em lugar

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de pai; e eu... salvo numa coisa! - tenho sido para vós, tenho-vos obedecido como filha." (Ato I, cena 2); • dominada pelo destino e impotente contra o fatalismo; • fraca, influenciável e obsessivamente centrada na felicidade familiar; • o seu sentimento do amor à Pátria é praticamente inexistente, considerando a atitude dos governadores espanhóis como uma ofensa pessoal e não como um atentado à independência da Pátria - "Mas tu não sabes a violência, o constrangimento de alma, o terror com que eu penso em ter de entrar naquela casa" (Ato l, cena 8); • apesar do seu indubitável amor de mãe - preocupação permanente não só com a doença de Maria mas também com a sua precocidade e crenças - é nela mais forte o amor de mulher, o amor por Manuel de Sousa Coutinho - "em tudo o mais, sou mulher, e muito mulher, querido" (Ato I, cena 8). Madalena é, sobretudo, uma personagem romântica, pela sua sensibilidade e pela submissão total à paixão por Manuel. O monólogo inicial da peça coloca Madalena na esfera dos amores infelizes, funestos, em que os amantes se tornam vítimas do sentimento que os domina. Antes de ser mãe, Madalena é, essencialmente, uma mulher apaixonada - "em tudo o mais sou mulher, e muito mulher" [Ato I, cena 8). No entanto, ela é também produto da sociedade em que se insere, uma vez que a visão católica da indissolubilidade do matrimónio a torna uma personagem infeliz e atormentada pelo remorso, pela culpa, pelo pecado - "O pecado estavame no coração… "(Ato ll, cena 10). Maria Filha de Madalena e de Manuel de Sousa Coutinho, Maria evidencia características próprias de uma heroína romântica. Assim, Maria é: • precoce, madura e adulta para a idade (13 anos) - "É verdade, tem crescido de mais, e de repente, nestes dous meses últimos..." (Ato l, cena 2); • doente e débil - "e, além de tudo o mais, bem vês que não é uma criança... muito... muito forte." [Ato I, cena 2); • tísica – “A lançar sangue?... Se ela deitou o do coração! Não tem mais. Naquele corpo tão franzino, tão delgado, que mais sangue há de haver?" (Ato III, cena 1); • bondosa - "Um anjo como aquele... uma viveza, um espírito!... e então que coração!" (Ato I, cena 2); • culta - gosto pela leitura - '"Menina e moça me levaram de casa de meu pai' - é o princípio daquele livro tão bonito que minha mãe diz que não entende; entendo-o eu" (Ato ll, cena l); • visionária, dotada de um entendimento profético - "Pois não há profecias que o dizem? Há, e eu creio nelas" (Ato ll, cena l); "A verdade... é que eu sabia de um saber cá de dentro; ninguém mo tinha dito" (Ato II, cena 2); • pressente a desgraça - "Mas tenho cá uma coisa que me diz que aquela tristeza de minha mãe, aquele susto, aquele terror em que está [...] aquilo é pressentimento de desgraça grande..." (Ato n, cena i); • curiosa, perspicaz - "- Agora é que tu ias mentir de todo... Cala-te. Não sei para que são estes mistérios: cuidam que eu hei de ser sempre criança!" (Ato II, cena 1); • nacionalista - "Meu pai, que é tão bom português, que não pode sofrer estes castelhanos, e que até, às vezes, dizem que é de mais o que ele faz e o que ele fala..." (Ato I, cena 3); "0 meu nobre pai! [...] mostrai-Ihes quem sois e o que vale um português dos verdadeiros." (Ato I, cena 7); • sebastianista - "el-rei D. Sebastião, que não morreu e que há de vir, um dia de névoa muito cerrada... Que ele não morreu; não é assim, minha mãe?" (Ato I, cena 3). Maria, uma personagem marcada pelo "pecado", porque fruto do amor proibido entre Madalena e Manuel de Sousa Coutinho, é o símbolo do nacionalismo romântico (defesa da pátria, empolgamento face à atitude do pai de incendiar o palácio - Ato ll, cena 1) e também do sebastianismo dos finais do século XVI e inícios do século XVII. Um sebastianismo voltado para o passado, centrado num hipotético e mais que improvável regresso de D. Sebastião e que integrará, para sempre, o imaginário e a personalidade nacionais. Maria é a única personagem que morre, simbolizando a sua morte e bem ao jeito romântico: • a impossibilidade de viver sem o amor (dos pais neste caso) e sem o sonho; • o carácter irreconciliável entre o "eu" e a sociedade, de que as palavras finais "morro, morro... de vergonha" (Ato III, cena 12) são paradigmáticas.

Telmo Telmo, símbolo de Portugal do passado, é uma presença constante na ação dramática: • escudeiro, amigo e confidente, por quem Madalena sente respeito e carinho, vendo nele um pai, uma proteção;

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• nutre por Maria uma afeição especial superior ao amor que tem por D. João - "É que o amor destoutra filha, desta última filha, é maior, e venceu... venceu... apagou o outro... " (Ato III, cena 4); • personagem sebastianista, que sempre duvidou da morte do amo - cf. palavras de D. Madalena: "a que se apega esta vossa credulidade de sete... e hoje mais catorze... vinte e um anos?" (Ato I, cena 2); • alimenta os remorsos de Madalena - "Não lhe digo nada que não possa, que não deva saber uma donzela honesta e digna de melhor... de melhor [...] De nascer em melhor estado." (Ato l, cena 2) - e as fantasias de Maria "não vês que estás excitando com tudo isso a curiosidade daquela criança, aguçando-lhe o espírito [...]a imaginar, a descobrir.. ."(Ato I, cena 2); • o amor por Maria vence o seu antigo amor, desencadeando um verdadeiro conflito interior (cf. Ato III, cena 4): o escudeiro quase renega o seu amo, D. João, para salvar a honra de Maria - "Senhor, senhor, não tenteis a fidelidade do vosso servo! É que vós não sabeis... [...] Que há aqui um anjo... uma outra filha minha, senhor, que eu também criei..." (Ato III, cena 5); • comentador crítico do comportamento de D. Madalena, espécie de coro da tragédia grega (cf. Ato I, cena 2); • considerando inicialmente Manuel de Sousa Coutinho como um intruso, Telmo passa a admirá-lo como patriota que t u d o sacrificou - "Vosso pai, D. Maria, é um português às direitas [...] para dar um exemplo de liberdade, uma lição tremenda a estes nossos tiranos.. " (Ato ll, cena 1); • simboliza a presença constante do passado (e daí a sua dimensão sebastianista) que, ao regressar na figura de D. João, também o aniquila; • no fim, fica só e sem ninguém, sem a família à qual estava ligado por laços afetivos. Manuel de Sousa Coutinho Manuel caracteriza-se por ser: • fidalgo, bom português, casado com D. Madalena e pai de Maria; • cavaleiro de Malta; • patriota - "Mas fique-se aprendendo em Portugal como um homem de honra e coração, por mais poderosa que seja a tirania, sempre lhe pode resistir, em perdendo o amor a coisas tão vis e precárias como são esses haveres que duas faíscas destroem num momento..." (Ato l, cena 11); • homem íntegro e consciente das suas decisões - incêndio do palácio e tomada de hábito; • insensível às inquietações e desassossego da esposa - "Ora tu não eras acostumada a ter caprichos! [...] Em verdade nunca te vi assim; nunca pensei que tivesses a fraqueza de acreditar em agouros." (Ato I, cena 8). Manuel de Sousa Coutinho é, talvez, a personagem que maior evolução/transformação sofre ao longo da peça. No início, apresenta-se-nos como uma personagem racional, segura de si, corajosa, capaz de lutar pelos seus ideais; é nas palavras de Telmo "guapo cavalheiro, honrado fidalgo, bom português" [Ato I, cena 2). No entanto, e a partir do momento em que vê o seu retrato devorado pelas chamas que ele próprio ateou (Ato l, cena 9), os pressentimentos de que algo poderá ensombrar o futuro começam a ganhar forma. O destino de Manuel de Sousa Coutinho será idêntico ao do seu pai no sentido de que são eles próprios que "provocam" o destino e atraem a fatalidade e a morte. Este progressivo afastamento da racionalidade é também intuído por Frei Jorge, seu irmão, que afirma: "Até meu irmão o desconheço1. A todos parece que o coração lhes adivinha desgraça!..." (Ato ll, cena 9). O percurso descendente e doloroso de Manuel de Sousa Coutinho culmina com um grito de autocompaixão - "Mas eu em que mereci ser feito o homem mais infeliz da terra" (Ato III, cena 1) - e com o assumir da sua "morte" e da sua decisão inabalável: "Até ontem, a nossa desculpa, para com Deus e para com os homens, estava na boa fé e seguridade de nossas consciências. Essa acabou. Para nós já não há senão estas mortalhas [...] e a sepultura dum claustro" (Ato III, cena 8). Manuel de Sousa Coutinho é também o símbolo da luta pela liberdade, da não subjugação à tirania (e daí a sua atemporalidade) e de um certo nacionalismo e é através destes dois aspetos que ele se aproxima de Maria. Após a catástrofe, a sua principal preocupação é a filha: "Oh, minha filha, minha filha! [...] Desgraçada filha, que ficas órfã!... órfã de pai e de mãe... [...] e de família e de nome, que tudo perdeste hoje..." (Ato III, cena 1) e é o seu amor paterno que o faz voltar-se para Deus e oferecer-lhe a sua dignidade em troca da saúde de Maria: "Peço-te vida, meu Deus, [...] peço-te vida, vida, vida... para ela, vida para a minha filha!..." (Ato III, cena 1). D. João de Portugal D. João de Portugal:

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i • primeiro marido de D. Madalena, que a amava ".. com que amor a amava eu..." (Ato III, cena 5); • "espelho de cavalaria e gentileza, aquela flor dos bons..." - de acordo com Telmo (Ato l, cena 2); • "D. João de Portugal, um honrado fidalgo e um valente cavaleiro" - na perspetiva de Manuel de Sousa I Coutinho (Ato II, cena 2); • feito cativo em Alcácer Quibir e prisioneiro, em Jerusalém, durante vinte anos - cf. diálogo entre Madalena e o Romeiro (Ato lI, cena 14); • regressa ao fim de vinte e um anos de ausência, na figura do Romeiro. D. João de Portugal é a "ausência mais presente" ao longo de todo o texto. É um fantasma, uma entidade abstrata, apenas nomeada no Ato I, que só existe através das palavras de Telmo e de D. Madalena. Vai-se progressivamente materializando no Ato II, primeiro pelo retrato e depois pela presença física (Ato II, cena13). Esta personagem sofre, ao longo do texto, dois tipos de percurso: o primeiro, que se centra na sua concretização, enquanto figura real, o segundo, que se relaciona com a sua humanização. Com efeito, o primeiro contacto físico entre o espectador/leitor e D. João de Portugal revela-o como uma espécie de anjo vingador, encarregado de castigar o "pecado" e de repor a "ordem". No entanto, a partir da quinta cena do Ato III e ao saber, por Telmo, que D. Madalena o procurara, D. João humaniza-se, tenta remediar a situação que (in)voluntariamente desencadeou - "vai dizer-lhe que o peregrino era um impostor [...] que tudo isto foi vil e grosseiro embuste de inimigos de... dos inimigos desse homem que ela ama... E que sossegue, que seja feliz; Agora é preciso remediar o mal feito. Fui imprudente, fui injusto, fui duro e cruel. E para quê? D. João de Portugal morreu no dia em que sua mulher disse que ele morrera" (Ato III, cena 5). D. João de Portugal simboliza o Portugal do passado e, por isso mesmo, o seu carácter inviável, desmistificando o sebastianismo passadista e fechado de Telmo e Maria. Frei Jorge Frei Jorge é irmão de Manuel de Sousa Coutinho: • dominicano; • personagem que impõe uma certa racionalidade, tentando manter o equilíbrio no seio da família

angustiada e

desfeita - "Não é assim, meu irmão, não te cegues com a dor, não te faças mais infeliz do que és" (Ato III, cena 1); . assume o papel de coro da tragédia clássica. ATO I

7.

O espaço no Ato I

A ação decorre predominantemente num espaço interior. Deparamo-nos com uma sucessão de três espaços que se complementam, que acompanham o evoluir do conflito e que possuem em si elementos claramente premonitórios do desenlace trágico. No ato I, a ação produz-se num espaço interior, num palácio, numa câmara de habitação nobre, arejada e humanizada, uma divisão luminosa que constitui o centro de uma vida familiar estável. É um espaço íntimo e familiar. Destaca-se um objeto de considerável valor simbólico: um retrato de um cavaleiro da Ordem de Malta, Manuel de Sousa Coutinho que transmite a serenidade da sua personalidade. A destruição do quadro constituirá, em primeiro lugar, um prenúncio da morte para o mundo de Manuel de Sousa, um prenúncio da catástrofe final. Por outro, pode querer também significar que o homem é víti...


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