Psicanálise: Neurose e Psicose em Freud PDF

Title Psicanálise: Neurose e Psicose em Freud
Course Psicologia I
Institution Universidade Federal do Espírito Santo
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Artigo sobre os conceitos de Neurose e Psicose em Freud....


Description

PSICANÁLISE RESENHA DESCRITIVA: NEUROSE E PSICOSE Os primeiros textos de Freud descreviam a neurose e a psicose como mecanismos radicalmente distintos. No entanto, em Neurose e Psicose (1924), Freud afirma que tanto uma quanto a outra são o resultado da expressão do Id em se rebelar diante da realidade, e apresenta a diferença considerada básica entre estes dois processos psíquicos; “A neurose seria o resultado de um conflito entre o Eu e o Id, ao passo que a psicose seria o resultado de uma perturbação nas relações que o Eu mantém com o mundo externo” (p.95). Neste trabalho, irei abordar a formação, bem como a diferenciação, da neurose e da psicose nos processos psíquicos, tendo por base os escritos de Freud de 1924.

AS NEUROSES SÃO O RESULTADO DE UMA REPRESSÃO MALOGRADA Em A Perda da Realidade na Neurose e na Psicose (1924), Freud afirma que, “[...] como um dos traços que distinguem a neurose da psicose, que na primeira o Eu, em sua dependência da realidade, reprime uma parte do Id (da vida instintual), enquanto na psicose o mesmo Eu, a serviço do Id, retirase de uma parte da realidade. Para a neurose, então, o fator decisivo seria a influência preponderante da realidade, para a psicose, a influência do Id.” (p.215) Para Freud, as neuroses surgem pelo fato de o Eu rejeitar a realização de um impulso instintual do Id, de negar o objeto a que ele visa. O Eu, então, defende-se deste forte desejo inconfesso através do mecanismo da repressão. O desejo que é reprimido se rebela contra essa tentativa de sufocamento, criando de forma a se sobrepor ao Eu, um substituto que o representa; o sintoma. O Eu vê sua unidade ameaçada e prejudicada por esse intruso e sente-se fortemente impelido a lutar contra este sintoma, tal como se defendia originalmente do impulso instintual, e todo este processo psíquico resulta no surgimento do quadro neurótico. O ponto comum mais evidente entre ambos os mecanismos aqui descritos – neurose e psicose - é que há um afrouxamento da realidade tanto na psicose como na neurose. A diferenciação aparece no desfecho e na relação do sujeito com a realidade exterior. A psicose utilizará o delírio e a alucinação, já a neurose se valerá da fantasia No texto “As neuropsicoses de defesa ”, Freud descreve que os pacientes que analisou apresentavam boa saúde antes do adoecimento. Entretanto, em determinado momento “houve uma ocorrência de incompatibilidade em sua vida representativa” (1894, p.55). Isto é, seu Eu foi confrontado com uma experiência, representação ou sentimento que provocou um desejo aflitivo ou muito inconveniente que o indivíduo optou por esquecê-lo, deixar de lado ou esconder da

consciência (recalcar). No entanto, esta tentativa forçada de esquecer-se de um desejo/afeto tem um alto custo psíquico para o sujeito. O recalque, mecanismo de defesa relacionado por Freud às neuroses, não consegue eliminar a fonte pulsional que, constantemente, emite estímulos que chegam à consciência e reivindicam satisfação. O que este mecanismo faz é empurrar para o lado e nunca eliminar por definitivo determinado conteúdo indesejado pela consciência. O material recalcado está de certa forma presente também em sua ausência e, mesmo desalojado, se manifesta à distância. Ele pressiona pela volta à consciência tentando o retorno, já que sua manutenção afastada exige um esforço psíquico descomunal para mantê-lo fora de cena. O recalque é um estado que exige grande empenho de força para se manter, pois a pressão pelo regresso é constante. Este retorno aparecerá, segundo Freud, sob a forma de sintomas, dos atos falhos, dos chistes e dos sonhos. “No início da neurose, o Eu, a serviço da realidade, efetua a repressão de um impulso instintual. Mas isto não é ainda a neurose mesma. Ela consiste antes nos processos que trazem compensação para a parte prejudicada do Id, ou seja, na reação à repressão e no malogro dela. O afrouxamento da relação com a realidade é consequência deste segundo estágio na formação da neurose. (...) A perda da realidade afeta justamente a porção da realidade por cujas exigências produziu-se a repressão instintual.” (p.216) Embora Freud faça inúmeras distinções entre neurose e psicose, ressalta que o surgimento tanto de uma quanto da outra psicopatologia tem a mesma origem: a privação. Isto é, “a não-realização de algum daqueles desejos da infância, sempre indomáveis e tão profundamente enraizados na nossa organização psíquica, filogeneticamente predeterminada” (p. 97) que, em alguns casos, se manifestará na forma de sintoma através de alguma experiência traumática na vida adulta. Sendo assim, o desencadear para a neurose ou para uma psicose dependerá do posicionamento do Eu diante deste estado de privação. Se, diante de uma situação tensional originária de um conflito ele permanecerá fiel à realidade externa e tentando, de alguma forma, silenciar o Id (neurose); ou, se o Eu se deixa dominar pelo Id e desprende-se da realidade (psicose). Portanto, Freud concebe então que na neurose há uma preservação da realidade e na psicose, a perda da realidade estaria colocada de antemão. Na neurose, uma certa porção da realidade é evitada mediante a fuga, enquanto na psicose a realidade é remodelada. Na tentativa de expressar a diferença básica entre neurose e psicose, temos a formulação abaixo: EU > ID = NEUROSE REALIDADE < EU/ID = PSICOSE . A PSICOSE É A RECUSA DE CERTA REALIDADE EA CONSTRUÇÃO SUBSTITUTIVA DE OUTRA

Na psicose, há um enorme conflito no relacionamento entre o Eu e o mundo externo, o sujeito recusa o conhecimento da realidade externa, e assim, não a percebe. O Eu, na psicose, cria onipotente um novo mundo externo e interno. Esse novo mundo é erguido conforme os desejos do Id e, a razão para a demolição do mundo externo são os duros impedimentos que a realidade impõe à satisfação do desejo, pois o psicótico sente tais impedimentos como intoleráveis. Na psicose também há dois estágios: dos quais o segundo comporta o caráter de reparação. O segundo estágio da psicose visa também compensar a perda da realidade, mas não à custa de uma restrição do Id – como, na neurose, à custa da relação com o real -, e sim, por uma via mais autônoma, pela criação de uma nova realidade, que não desperte a mesma objeção que aquela abandonada. (p. 217) Portanto, tanto na neurose como na psicose o segundo estágio é conduzido pelas mesmas tendências, nos dois casos ele serve às aspirações de poder do Id, que não se deixa coagir pela realidade. A neurose e a psicose se originam da ausência de conformidade do Id com o mundo externo, da incapacidade do Id de se adequar ao real. Neurose e psicose se diferenciam muito mais na primeira reação, que as introduz no sintoma, do que na tentativa de reparação que se segue. Isto é, na psicose a fuga inicial é seguida de uma ativa fase de remodelação da realidade, já na neurose a obediência inicial é seguida de uma posterior tentativa de fuga. A neurose não necessariamente nega a realidade, apenas não quer percebê-la. Psicose, no entanto, nega-a e busca substituí-la. A diferença entre ambas, no entanto, é diminuída pelo fato de também na neurose haver tentativas de substituir a realidade indesejada por outra mais conforme aos desejos. Assim, tanto para a neurose como para a psicose há a considerar não apenas a questão da perda da realidade, mas também de uma substituição da realidade. (FREUD, 1924).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FREUD, Sigmund. (1894). As neuropsicoses de defesa. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ______. (1896). Observações adicionais sobre as neuropsicoses de defesa. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. . (1924). A perda da realidade na neurose e na psicose. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 2007. v. III. ______. (1924). Neurose e Psicose. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 2007. v. III. ______. (1915). O recalque. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 2007. v. I....


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