Resenha Crítica sobre Desenvolvimento Social durante a Adolescência PDF

Title Resenha Crítica sobre Desenvolvimento Social durante a Adolescência
Course PSIC. DESENVOLVIMENTO II : ADOLESCENCIA
Institution Universidade Estadual do Ceará
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Resumo sobre o Desenvolvimento Social durante a Adolescência...


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ANÁLISE CRÍTICA DOS CONTEXTOS EM QUE OCORRE O DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL DO ADOLECENTE Disciplina: Psicologia do Desenvolvimento II - Adolescência Ao contrário do que se costuma pensar, apesar de ocorrerem mudanças relevantes nos contextos sociais em que o adolescente está inserido - família, os iguais e escola - a adolescência não necessariamente significa uma etapa de alterações radicais no desenvolvimento social do jovem. Os contextos citados tanto são modificados pelas novas habilidades e capacidades adquiridas pelo adolescente como influenciam no seu desenvolvimento de forma que se torna imprescindível analisá-los. A FAMÍLIA Em relação ao contexto familiar, existe a perspectiva (psicanalítica) que considera a adolescência como um período de relações problemáticas marcadas pela explosão de conflitos, rebelião e separação emocional em relação aos pais, visão que contribuiu para a associação entre adolescência e rebeldia propagada pela sociedade. No entanto, esse enfoque tem sido substituído por um mais realista o qual defende que essa etapa não necessariamente significa a existência de conflitos graves entre pais e filhos adolescentes, apesar de haverem diversas mudanças nas relações estabelecidas entre esses sujeitos. Assim, diferentemente do que se pensa, a maioria dos estudos atuais têm sugerido que ocorrem, no início da adolescência, perturbações temporais nas relações familiares em que os jovens se mostram mais assertivos e passam mais tempo em contextos extrafamiliares, mas que no decorrer desse período os conflitos produzidos tendem a diminuir e as relações se normalizarem, aumentando apenas a intensidade afetiva com que os jovens experimentam os problemas familiares. Mudanças cognitivas - que afetam a forma que os adolescentes pensam sobre si mesmos, os outros e as coisas - bem como alterações causadas pelo maior gasto de tempo com os iguais, como o aumento do desejo de independência (frequentemente maior do que os pais estão dispostos a conceder), são algumas das razões que justificam as alterações nas relações familiares na adolescência precoce. A capacidade de diferenciar o real do hipotético, adquirida nesse período, irá permitir que o adolescente crie alternativas para o funcionamento da família como também elabore argumentos mais sólidos e convincentes nas discussões com os

pais, sendo outro motivo para o aparecimento de conflitos nessa etapa. Contudo, passado esse primeiro momento de choque entre os pais e as mudanças físicas e psicológicas sofridas pelo adolescente, esses tendem a flexibilizar sua postura e permitir que o jovem vá adquirindo maior influência no contexto familiar, o que acarreta uma diminuição dos conflitos na adolescência média e tardia. O problema está quando os pais não se adaptam às mudanças experimentadas pelos filhos após a puberdade. Há diferentes perspectivas acerca da desvinculação afetiva em relação aos pais, com alguns autores considerando-a essencial para a formação do adolescente e outros sugerindo que uma alta autonomia emocional interfere na consolidação da identidade e na formação de uma autoestima positiva (teoria do apego), mas todos parecem concordar que há um processo de individuação imprescindível na adolescência. Entretanto, quando os pais se mostram muito autoritários, permissivos ou indiferentes, esse processo de busca pela autonomia é prejudicado, tendendo a acontecer de forma menos saudável. O melhor meio de favorecer o desenvolvimento e autonomia nessa etapa é a combinação entre comunicação, afeto, controle não-coercitivo e supervisão de forma que haja uma flexibilidade na conduta educativa dos pais. Filhos de pais democráticas demonstrarão um desenvolvimento mais saudável, uma melhor atitude e rendimento escolar assim como menos problemas de conduta. Além disso, as pesquisas defendem que adolescentes que vivem em famílias - independentemente de serem intactas, reconstruídas ou monoparentais - em que as relações se dão de forma harmônica, demonstram menos problemas de conduta e socioemocionais. No caso de pais divorciados em que há a chegada de um novo companheiro sentimental para um ou ambos os pais, é preferível que o controle seja realizado pelo progenitor biológico. OS IGUAIS No decorrer do processo de busca da autonomia, o contexto com os iguais vai ganhando importância e estabilidade até que passa a ser o mais influente. Essas relações tendem a ser estabelecidas com pessoas do mesmo sexo e ajudam no desenvolvimento

da

autoestima,

bem

como

da

inteligência

e

da

moral

independentes. O apoio emocional comum nessas relações horizontais pode tanto ajudar nas inconstâncias próprias desse período quanto favorecer a melhor compreensão e empatia pelos demais. Aqueles que estabeleceram relações de

apego seguro com seus pais costumam demonstrar confiança, segurança e a afetividade nas amizades, diferentemente daqueles em que o vínculo foi inseguro ou seguro ambivalente, uma vez que as relações que os adolescentes estabelecem com os iguais é muito influenciada pelas relações estabelecidas com os pais durante a primeira infância. Ademais, as adolescentes costumam entrar em grupos em que seus membros possuem uma origem social e alguns valores parecidos com os seus e de seus familiares. As amizades também proporcionam tanto apoio instrumental para a resolução de determinados problemas práticos como também informação sobre determinados temas, como questões amorosas, sexuais e acadêmicas. Ainda, a informação que os jovens trocam um sobre o outro vai ser essencial para a construção da identidade e aperfeiçoamento do autoconceito no adolescente. Contudo, apesar do aumento das relações extrafamiliares, é comum que no início da adolescência o jovem experimente momentos de solidão. Apesar da maioria deles acabar superando essa fase de transição sem maiores problemas, alguns jovens - como aqueles que não possuem habilidades sociais - terão mais dificuldade de estabelecer relações com os iguais. O aumento do tempo gasto no contexto extrafamiliar também pode acarretar consequências negativas, uma vez que os adolescentes acabam ficando mais suscetíveis à pressão dos demais justamente em um período em que a autoafirmação e a autonomia em relação aos pais ganha importância. Entretanto, pesquisas firmam que ao longo da adolescência os jovens vão se tornando cada vez mais capazes de resistir à pressão do grupo devido a aquisição de uma identidade mais sólida e de pensamentos mais autônomos. Além disso, vale ressaltar que não necessariamente todos os adolescentes se mostram igualmente conformistas bem como não são todos os seus amigos que possuem a mesma capacidade de influência. Os amigos íntimos e aqueles considerados populares são os que mais terão capacidade de influir no comportamento do adolescente. Em relação ao início das relações de casal, o aumento do impulso sexual, vinculado à imitação de comportamentos adultos, vai favorecer que os jovens comecem a se aproximar do outro com interesse de estabelecimento nesse tipo de relação.

Pesquisas

afirmam

que

atualmente há

uma

maior

liberdade

e

permissividade na conduta sexual entre adolescentes e que há uma tendência de se iniciar relações sexuais cada vez mais cedo. Juntando isso com o uso não

generalizado de contraceptivos, falta de informação, ausência de uma educação sexual nas escolas, fábula pessoal, entre outros, causou um aumento do número de gravidez durante a adolescência em diversos países, como a Espanha. ESCOLA Com o fim do ensino fundamental e o início do ensino médio, devido às diversas mudanças físicas, psíquicas e sociais que estão envolvidos os adolescentes, é comum que ocorra uma diminuição do rendimento escolar junto com uma menor motivação para as tarefas acadêmicas. Sendo assim, é necessário que a escola se ajuste às novas necessidades do adolescente, o que muitas pesquisas apontam não está acontecendo. Os professores costumam a adotar uma postura mais controladora e autoritária (em um período em que o jovem está buscando maior autonomia), o currículo escolar é em muitos casos demasiadamente estruturado, oferecendo pouca possibilidade de escolha e decisão ao adolescente sobre sua própria aprendizagem, aumento da pressão e da competitividade, o que acaba favorecendo para a diminuição da motivação do aluno em relação a escola e serão responsáveis - junto com diversos outros fatores - pelo fracasso escolar comum em vários países. Após fazer uma síntese com as principais ideias abordadas no texto, trago como mais significativo o seguinte trecho: (...) os pais democráticos, que combinam a comunicação e o afeto com o controle não-coercitivo da conduta e as exigências de uma conduta responsável na relação com seus filhos, são os que mais favorecerão a adaptação de seus filhos, que demonstrarão um desenvolvimento mais saudável, uma melhor atitude e rendimentos acadêmicos e menos problemas de conduta. (pág. 355)

O trecho traz resumido as principais ideias trazidas no texto que dizem respeito a uma educação efetiva e saudável no contexto familiar de forma que haja um equilíbrio entre as necessidades do adolescente e o controle dos pais. Primeiro, cita a comunicação. A troca de pontos de vista e informação, discussões, apoio e receptividade em relação ao que é trazido pelo adolescente, por exemplo, são imprevisíveis para a formação da identidade do jovem e para o fortalecimento das relações entre pais e filhos, principalmente no que diz respeito à confiança. Ainda em relação a comunicação, quando os pais se mostram pouco receptivos e abertos

para as opiniões trazidas pelo adolescente - e pela criança - pode dificultar o engajamento do jovem em comportamentos assertivos, nos quais ele expressa diretamente suas necessidades e emoções sem ser hostil ao interlocutor. Assim, o comportamento assertivo é importante para não somente expressar sentimentos, mas também para concordar ou não com outras opiniões, lidar bem críticas, resistir à pressão dos grupos e recusar ou aceitar fazer algo, tudo isso sem violar os direitos do outro. Esses dois últimos exemplos de assertividade são, na minha opinião, os mais importantes, principalmente na infância e adolescência, uma vez que não somente irá tornar o jovem menos suscetível a se engajar em comportamentos antisociais por meio da pressão dos demais como também pode servir como uma prevenção a problemas como o abuso sexual infantil. Já a questão do afeto está no fato que pais afetuosos tendem a ter filhos que reproduzem esse afeto recebido não só com os próprios pais mas também em todas as relações que estabelecem no contexto extrafamiliar, tendendo a se envolver com pessoas igualmente afetuosas. Isso, unido com a assertividade, proporciona diminuição do estresse, da ansiedade, das inseguranças e proporcionam relacionamentos mais saudáveis. A questão do controle e supervisão é de igual importância. Os adolescentes precisam, apesar dos riscos, explorar e ter experiências para construírem sua identidade de uma forma não-doutrinada e alienada. No entanto, é costume pensar que o controle é necessariamente uma coisa ruim, e por isso alguns pais acabam se tornando muito permissivos ou indiferentes em relação aos seus filhos por pensarem que se ser autoritário é “errado” então ser permissivo/indiferente é o “certo” (não acredito que há um certo e errado, mas um certo e errado PRA QUEM). No entanto, essas posturas podem trazer consequências negativas para o desenvolvimento do adolescente tanto quanto a adoção de uma postura autoritária, tornando essencial a adoção de um controle (que não é sinônimo de comportamento autoritário) e de uma supervisão equilibrados e flexíveis com modificações no grau e natureza desse controle

que

acompanhem

as

necessidades

evolutivas

do

adolescente.

Evidentemente, esse controle vai ser bastante facilitado se estiver vinculado com a comunicação e o afeto. Um trecho que me trouxe dúvida foi “Autores como Anna Freud e Peter Blos consideraram que o distanciamento, e até mesmo hostilidade, em relação aos pais é algo natural e desejável quando os filhos chegam à puberdade porque favorece o

estabelecimento de vínculos extrafamiliares de caráter heterossexual e a superação dos desejos sexuais de caráter incestuoso” (pág. 353). Por que “caráter heterossexual”? O que o autor quis dizer com isso? Já um trecho que entrei em desacordo foi “As pesquisas existentes sobre esse aspecto (Noller, 1994) indicam que tanto os meninos como as meninas mostram mais comunicação e intimidade com suas mães do que com seus pais, provavelmente porque elas passam mais tempo em casa e estão mais disponíveis (...)” (pág. 352). O motivo é porque atualmente as mulheres têm ganhado cada vez mais espaço no mercado de trabalho, tornando comum a existência de mães que trabalham fora de casa. A pesquisa é de 1994, e o texto, de 2009, então acredito que muita coisa mudou desde então. Apesar de acreditar que ainda sim possa haver uma preferência maior pela figura materna quando se trata da comunicação e intimidade, discordo que um dos motivos para isso continue sendo porque elas passam mais tempo em casa e estão mais disponíveis. Existem pesquisas mais atualizadas que falam sobre esse aspecto? E em relação a casais homoafetivos, existe alguma pesquisa que aborde essa questão da comunicação/intimidade entre pais/mães e filhos adolescentes? Aproveitando essa deixa, começo o comentário pessoal afirmando que apesar do texto já fazer um apontamento aparecido na página 355 - a inclusão das famílias diferentes da tradicional pai, mãe e filho(s) nos estudos e pesquisas ainda é muito baixa. Em relação a famílias compostas de casais homoafetivos isso chega a ser compreensível se levarmos em conta que, no Brasil, a adoção por casais do mesmo sexo só foi legalizada em 2010. No entanto, o índice de mães solteiras no país sempre foi consideravelmente alto (de acordo com dados de 2015, das 67 milhões das mães brasileiras 31% são solteiras).o que torna uma análise que envolva - de forma mais profunda - apenas a família pai-mãe-filhos e suas influências no desenvolvimento psicossocial do adolescente, na minha opinião, incompatível com a realidade. Além disso, não só esse texto como também os outros trazidos pela disciplina pouco abordam ou não abordam o desenvolvimento social e psicológico dos jovens LGBT, o que poderia ser incluído no cronograma na disciplina em forma de debate, ou, se existir, com a escolha de um texto que aborde essa questão, abrindo um espaço para esse tema.

Ademais, não somente são poucos os estudos que levam em conta culturas que não são a ocidental, como dentro dos próprios estudos ocidentais grandes parte da produção é feita com base em pesquisas levantadas nos Estados Unidos e/ou na Europa. Apesar de o Brasil fazer parte de uma cultura ocidental e, portanto, muitas coisas serem compatíveis, o país tem um “modo de funcionar” e pensar determinadas coisas de modo diferente do estadunidense ou europeu. Índices levantados nessas regiões são diferentes dos índices brasileiros, algo que é valorizado lá, pode não ser valorizado aqui e vice-versa. Se o sujeito influencia e é influenciado pelo meio em que está inserido, eu, como futura psicóloga, tenho que aprofundar meus conhecimentos nos contextos dos meus futuros pacientes/clientes, portanto, os contextos brasileiros (apesar de também considerar importante entrar em contato com a realidade de outras culturas/regiões). No entanto, o texto desse trabalho em específico me pareceu bastante ciente dessas questões levantadas. Além disso, me possibilitou uma visão bem diferente do “adolescente rebelde” que eu vinha trazendo, o que é interessante se levar em conta que, ao parar pra analisar minha adolescência, a relação que eu estabeleci com meus pais durante esse período não foi realmente muito conflituosa (o que o texto afirma ser, ao contrário do que se pensa, o comum). Ao questionar meus pais, ambos disseram que tanto eu como meu irmão fomos, no geral, “adolescentes tranquilos”. Ou seja, mesmo eu não me encaixando na generalização “adolescente é rebeldia e conflitos com os pais”, essa caracterização construída em torno do adolescente foi repassada e absorvida por mim sem um pensamento crítico, o que me fez parar pra refletir sobre senso comum e constructos, principalmente ligados à figura do adolescente. Além do que já foi dito, os maiores aprendizados e reflexões foram em cima do que foi explanado com base no trecho que achei mais significativo. Questões elaboradas com base no texto: 1. Explique cada tipo de estilo disciplinar (democrático, autoritário, permissivo e indiferente) adotado pelos pais durante a adolescência dos filhos. 2. Como a adoção de um estilo educativo democrático pode contribuir para tornar o adolescente menos suscetível a pressão dos iguais? 3. O que, na sua opinião, as escolas brasileiras poderiam fazer para se ajustar às novas demandas que vão surgir na adolescência?

REFERÊNCIAS OLIVA, A. Desenvolvimento social durante a adolescência. IN: COLL, C; MARCHES, A; PALÁCIOS, J. Desenvolvimento psicológico e educação - Psicologia Evolutiva. Vol. 1. Porto Alegre: Artmed, 2009....


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