Title | Resenha sobre o filme \"12 Anos de Escravidão\" |
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Author | Rodrigo Miranda Cabelli |
Course | Política E Comunicação |
Institution | Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro |
Pages | 2 |
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Resenha crítica sobre os elementos comunicativos do filme "12 Anos de Escravidão"...
Baseado em fatos reais, o filme conta a história de Solomon Northup, norteamericano negro, livre e letrado, alguns anos antes da abolição da escravatura, nos Estados Unidos dos anos 1841. A trama segue engajada no seu cotidiano com a família até o ponto em que ele é levado, ilegalmente, ao sul para ser escravizado por doze anos – número que faz jus ao título do filme e, consequentemente, ao livro que é usado de pano de fundo. A maneira que o diretor, Steve McQueen, encontrou para tecer as intrigas e construir a trama é fantástica, pois demonstra uma sutileza e intensidade equilibrada em cada cena vista em mais de duas horas de filme. Ao final, até mesmo nós aplaudimos conforme os créditos iam rolando na televisão. Northup é retratado como vítima e interpretado como um homem que coloca de lado seu orgulho para sobreviver até que reencontre sua liberdade e família, as quais lhe foram roubadas tão abruptamente. Fisgando-nos a atenção e comovendo cada telespectador com os momentos mais diversificados – dos mais contidos e fragilizados aos mais explosivos e impactantes – o filme elucida lamentos e configura uma narrativa impecável. Prova disso é a não banalização da violência em 12 Anos de Escravidão, mostrada
sempre
que
necessária,
principalmente
com
Patsey,
uma
personagem com participação pequena, mas sofrida e repleta de sensibilidade. As marcas deixadas em seu corpo, e nos dos outros escravos, vão muito além do que meras cicatrizes, ferem sua integridade e faz com que deixem de acreditar na justiça, perdendo as esperanças de um futuro melhor. Tanto na ficção quanto na realidade, os negros eram tratados como propriedades e comprados a fim de que trabalhassem, não para ler ou escrever. As pessoas viam o sofrimento alheio, mas não interferiam em nada para ajudar. O filme realiza uma crítica muito interessante nesse ponto, sendo inovador ao mostrar não o lado dos colonizadores, mas sim do sofrimento dos escravos na busca pela liberdade. Assim, é retratado um ponto de vista muito enriquecedor para a sociedade moderna, ainda com resquícios de pensamento escravocrata. O perfil psicológico do fazendeiro desestabilizado, Edward Epps, demonstra muito bem essa ideologia preconceituosa. Para ele, o tratamento de escravos como animais é normal, pois estes são meros produtos. Entretanto, ao ver sua
lavoura castigada por pragas, o mesmo questiona o que “fez de errado para Deus”, causando uma grande dicotomia entre integridade e ambição, que repercute nos dias atuais. Nesse ponto, podemos fazer uma analogia bem interessante com o filme Histórias Cruzadas (2011), que em contrapartida à 12 Anos de Escravidão mostra o olhar dos brancos na questão racial. A trama se passa em meados do século passado, e demonstra a luta de empregadas negras contra os maus tratos de suas patroas. O filme conta a história de Skitter, uma garota branca que decide retratar em um livro o cotidiano dessas domésticas. Nesse contexto, a jovem sofre duras críticas da alta classe, por ter um pensamento que não é de sua época. A partir dessa ideia, podemos perceber que a visão sobre a questão étnica vem se alterando constantemente. Um filme como o de Steve McQueen não poderia existir na época retratada por Histórias Cruzadas e o pensamento de Skitter se encaixaria perfeitamente na sociedade atual, o que demonstra uma forte mudança de pensamento em um curto espaço de tempo. Isso quer dizer que o passado, de certa forma, se transforma, pois mudamos o seu sentido. Se antes a narrativa de ser escravo era vista como algo desagradável e vergonhosa, hoje é vista como motivo de orgulho e superação. As leis mudam, e as pessoas também deveriam, evoluindo de acordo com o seu contexto. Retrata-se a ficção assim, portanto, como forma de evitar que a história real se repita. Algo que, mesmo séculos depois, segue tão atual e tenuemente, polarizando eixos e etnias, segregando opiniões e configurando intrigas nas nossas vidas....