Resenha Sobre Raizes DE UM Paradigma Indiciario PDF

Title Resenha Sobre Raizes DE UM Paradigma Indiciario
Author Janaína Gomes
Course História Antiga e Medieval
Institution Universidade Estadual da Paraíba
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RESENHA SOBRE RAIZES DE UM PARADIGMA INDICIARIO...


Description

Resenha: GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: ______. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p. 143-179

Em vista da importância da obra de Carlo Ginzburg diante as áreas da história e ciências sociais, conquanto ao dispor seus textos como caminhos de novas abordagens teóricas no quadro epistemológico nas humanidades; adiante vamos a uma resenha objetiva de um dos seus principais textos: Sinais: raízes de um paradigma indiciário (1989), e os suscitar seus atenuantes apontamentos ali trabalhados. Todavia, Ginzburg (1989) procura demonstrar como por volta do final do século XIX, emergiu silenciosamente no âmbito das ciências humanas um novo modelo epistemológico; ou como também aponta, um novo paradigma. Assim, Ginzburg nos diz em seu texto, que sobre tal paradigma até então não se prestou suficiente atenção. Contudo, a análise desse paradigma – amplamente operante e ainda não teorizado explicitamente –, visa ajudar a sair dos incômodos da contraposição entre “racionaismo” e “irracionalismo”. Adiante, Ginzburg (1989) nos convida a adentrarmos no universo da história da arte, com destaque importante neste percorrido se expõe quando enfatiza que é indispensável distinguir os originais das cópias. E para tanto, é preciso não se basear em características mais vistosas, portanto mais facilmente imitáveis nos quadros. O que chama atenção de pronto nas formulações de Ginzburg (1989) é quando acentua que é necessário examinar os pormenores mais negligenciáveis, e menos influenciados pela característica da escola de formação do artista. Com isto, infere que o conhecedor (da arte) é comparável ao detetive que descobre o autor do crime baseado em indícios imperceptíveis para a maioria. Continua Ginzburg (1989) a apontar através do seguinte dito um passo da psicologia moderna, então ressalta que “a personalidade deve ser procurada onde o esforço pessoal é menos intenso”. No rastro do pensamento de Giovanni Morelli (18161891) e seu minucioso estudo da arte, Ginzburg (1989) também desponta ao sublinhar que muito antes de ouvir falar de psicanálise, venho saber do especialista russo, Ivan iermolieff (pseudônimo de Morelli) cujos primeiros ensaios foram publicados em alemão em 1874 e 1876, o qual havia provocado uma revolução nas galerias da Europa recolocando a discussão da atribuição de muitos quadros respectivos a cada pintor,

todavia ensinando a distinguir com segurança entre as imitações e os originais, e construindo novas individualidades artísticas a partir daquelas obras que haviam sido liberadas das suas atribuições anteriores. Por conseguinte, ao trazer à tona o tema da psicologia moderna, Ginzburg (1989) traz então ousada correlação entre o pensamento do jovem S. Freud (1856-1939) que é o próprio Freud a indicá-lo, em uma proposta interpretativa com um método centrado nos resíduos, sobre os dados marginais que podem ser considerados reveladores. Assim, os pormenores considerados sem importância ou triviais, forneciam a chave interpretativa para aceder “aos produtos mais elevados do espírito humano”. Para tanto, Ginzburg (1989) em sua proposta traz enfoque desta correlação que Freud era um medido, assim como Morelli havia se formado em medicina. Também aponta Ginzburg (1989) que o literato Arthur Conan Doyle (1859-1930) havia sido médico antes de dedicar-se a litaratura. Com isto, infere Ginzburg (1989) que nos três casos, entrevê-se o modelo da semiótica médica (grifo nosso), sendo a disciplina que permite diagnosticar as doenças inacessíveis à observação direta na base dos sintomas superficiais. Nisto enfatiza Ginzburg (1989), sendo o que caracteriza esse saber é a capacidade, a partir de dados aparentemente negligenciáveis, remontar a uma realidade complexa não experimental diretamente. Com isto, pode-se acrescentar que esses dados são sempre dispostos pelo observador de modo tal a dar lugar a uma seqüência narrativa (grifo nosso). Para reforço de sua proposta Ginzburg (1989) coloca em foco que por de trás desse paradigma indiciário (grifo nosso) ou divinatório, entrevê-se o gesto mais antigo da história intelectual do gênero humano que é o caçador agachado na lama, que escruta as pistas da pressa. Com efeito, ressalta Ginzburg (1989) que tudo isso explica porque a história nunca conseguiu se tornar uma ciência galileana. Haja vista que a história se manteve como uma ciência social suigeneris “irremediavelmente ligada ao concreto”. Nestes termos Ginzburg (1989) também ressalta que o historiador não pode deixar de se referir – explícita ou implicitamente – a uma série de fenômenos comparáveis a sua estratégia cognoscitiva, sendo que seus códigos expressivos permanecem “intrinsicamente individualizantes”, seja para o estudo de um grupo social ou uma sociedade inteira. Por fim, infere Ginzburg (1989) que o historiador é comparável ao médico, pois o conhecimento histórico é indireto, indiciário (grifo nosso) e conjectural.

Vale ressaltar outros apontamentos que segue dando corpo à idéia do paradigma indiciário(grifo nosso) de Ginzburg (1989) quando nos diz que quanto mais os traços individuais são considerados pertinentes, tanto mais se esvai a possibilidade de um conhecimento científico rigoroso. Haja vista que, a tendência para apagar os traços individuais de um objeto é diretamente proporcional à distância emocional do observador. Afirma também Ginzburg (1989) que houve tentativas de introduzir o método matemático nos estudos dos fatos humanos. Todavia, nas discussões sobre a “incerteza” da medicina, já estavam formulados os futuros nós epistemológicos das ciências humanas. Em uma perspectiva histórica, acentua Ginzburg (1989) que ao longo do século XVIII, ocorre uma “verdadeira ofensiva cultural da burguesia”, o qual se apropria de grande parte do saber – indiciário e não-indiciário – codificando e simultaneamente intensificando um gigantesco processo de aculturação. Iniciado pela Contra-Reforma o símbolo e instrumento central dessa ofensiva é aEnciclopédie. No percurso dos acontecimentos históricos, para um número sempre crescente de leitores, o acesso a determinadas experiências torna-se cada vez mais mediado pelas páginas dos livros. Sendo que o romance forneceu à burguesia, graças à literatura de imaginação o acesso a um novo e inesperado destino ao paradigma indiciário (grifo nosso). Em vista disso, Ginzburg (1989) busca trazer à tona uma remota origem provável doparadigma indiciário (grifo nosso) em uma coletânea de contos traduzida do persa para o italiano no século XVI, intitulado, Peregrinação dos três jovens filhos do rei Serendi, que remonta a fábula oriental dos irmãos que, interpretando uma série de indícios, conseguem descrever o aspecto de um animal que nunca viram. Por conseguinte, Ginzburg (1989) enfatiza a obra de François Marie Arouet – Voltaire (1694-1778) que no terceiro capítulo de Zadig (1747) em sua reelaboração, o camelo do original havia se transformado numa cadela e num cavalo, que Zadig conseguia descrever minuciosamente decifrando as pistas sobre o terreno. Então, acusado de furto e conduzido perante os juízes, Zadig justificava-se reconstituindo em voz alta o trabalho mental que lhe permitia traçar o retrato dos dois animais que nunca havia visto. Contudo, assegura Ginzburg (1989) que o nome Zadig tornara-se simbólico de tal modo que Thomas Huxley (1825-1895), no ciclo de conferências proferidas para a difusão das descobertas de Charles Darwin (1809-1882), definiu como “método Zadig” o procedimento que reunia a história, a arqueologia, a geologia, a astronomia física e a

paleontologia, no sentido da “capacidade de fazer profecias retrospectivas” (grifo nosso). Portanto, acentua Ginzburg (1989) que disciplinas como estas, profundamente permeadas pela diacronia, não podiam deixar de se voltar para o paradigma indiciário(grifo nosso), por seu turno, descartando o paradigma galileano. Haja vista, quando as causas não são produzíveis, só resta inferi-las a partir de efeitos. Segue as análises Ginzburg (1989) em outra rica metáfora do paradigma indiciário (grifo nosso) a ressaltar que poderíamos comparar os fios que compõem esta pesquisa aos fios de um tapete. Sendo chegado o ponto em que vemo-los a compor-se numa trama densa e homogênea; tendo em conta que a coerência do desenho que se forma é verificável percorrendo o tapete em várias direções. Para tanto, o tapete é o paradigma que chegamos a cada vez, conforme os contextos, indiciário ou semiótico. Aqui, Ginzburg (1989) faz crasear o que se trata de aspectos não-sinônimos do qual remetem a um modelo epistemológico comum, articulado em disciplinas diferentes, muitas vezes ligadas entre si pelo empréstimo de métodos ou termos chave. Retomando uma perspectiva de longa duração, Ginzburg (1989) ressalta que entre os séculos XVIII a XIX, com o surgimento das “ciências humanas”, a “constelação de disciplinas indiciárias modifica-se profundamente”; por outro lado, afirma-se o prestígio epistemológico e social da medicina. Conquanto, para ela se referia – explícita ou implicitamente – todas as “ciências humanas”. Por conseguinte, no século XIX, vemos desenhar-se uma alternativa que é o modelo anatômico e o modelo semiótico. Então nos diz Ginzburg (1989) que então a metáfora da “anatomia da sociedade”, usada numa passagem crucial por Karl Marx (1818-1883), exprime a aspiração a um conhecimento sistemático numa época que viu o desmoronamento do sistema filosófico hegeliano. Contudo, enfatiza Ginzburg (1989) que não obstante ao destino do marxismo, as ciências humanas acabaram por assumir sempre mais o paradigma indiciário da semiótica. Em vista disso, Ginzburg (1989) corrobora que o mesmo paradigma indiciário usado para elaborar formas de controle social, sutis e minuciosas, por outro lado, pode se converter num instrumento para dissolver as “névoas da ideologia” (grifo nosso) que obscurecem uma estrutura social. Enriquece também Ginzburg (1989) ao nos dizer que os neologismos de François Rabelais (1494-1553) são alguns entre os exemplos de como, esporadicamente, alguns indícios mínimos eram assumidos como elementos reveladores de fenômenos gerais, como para a visão de mundo de uma dada classe

social, de um escritor ou de toda uma sociedade. Por fim, Ginzburg (1989) indaga sobre quanto um paradigma indiciário pode ser rigoroso? Entretanto, este rigor não é só inatingível, mas também indesejável para as formas de saber ligadas à experiência cotidiana....


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