Resumo do livro História do medo no Ocidente 1300 – 1800 de Jean Delumeau PDF

Title Resumo do livro História do medo no Ocidente 1300 – 1800 de Jean Delumeau
Author Andressa Oliveira
Course História moderna
Institution Universidade Federal de Rondônia
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Resumo do livro História do medo no ocidente: 1300-1800 : uma cidade sitiada, de Jean Delumeau, 1978....


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Professor: Marco Teixeira Aluna: Andressa dos Santos de Oliveira Disciplina: História Moderna

3° Período de História

Resumo do livro: História do medo no Ocidente 1300 – 1800 de Jean Delumeau.

Primeira Parte OS MEDOS DA MAIORIA

1 - Onipresença do medo. “Mar variável onde todo temor abunda” O mar era o lugar do medo por excelência, da antiguidade ao século XIX, da Bretanha a Rússia, eram comuns os provérbios que aconselhavam a não se aproximar do mar, exemplo: “Louvai o mar, mas conservai-nos na margem”. Na época eram incontáveis os males trazidos pelo mar: a peste negra, invasões normandas e sarracenas, mais tarde as invasões dos berberes, fazendo com que o surgimento de lendas fosse cada vez mais apavorando a sociedade. Acreditavam que o mar era orlado de recifes inumanos ou de pântanos insalubres e lançava nas regiões costeiras um vento que podia ate mesmo interferir na cultura de um povo, e as tempestades não eram vistas como uma coisa natural, mas sim, como trabalhos de feiticeiros e demônios. No final da idade média, o homem do ocidente continua prevenido contra o mar não apenas pela sabedoria dos provérbios, mas também por duas advertências paralelas: uma expressa pelo discurso poético, a outra pelos relatos de viagens, especialmente os dos peregrinos a Jerusalém. O mar era representado pelo domínio de satã e das potências infernais e na sensibilidade coletiva ele representava as piores imagens de aflição, sendo elas: à morte, à noite e o abismo. O distante e o próximo; o novo e o antigo. Cada nação na época da Renascença tentou impressionar seus concorrentes difundindo relatos terrificantes sobre as viagens marítimas.Acreditavam em seres monstruosos, em animais fantásticos e aterrorizantes, principalmente enquanto eram feitas as viagens marítimas. Podemos entender que tudo que pertencia a um universo diferente causava medo, era o famoso medo do desconhecido.

Hoje e amanhã; malefícios e adivinhação. O homem de outros tempos, sobretudo no universo rural, vivia cercado por um meio hostil onde apontava a todo instante a ameaça de malefícios. Um deles merece uma atenção particular: O nó da agulheta. Um feiticeiro podia, acreditava-se, tornar esposos impotentes ou estéreis, dando um nó num cordão durante a cerimônia de casamento e ao mesmo tempo pronunciando formulas mágicas, e às vezes também lançando uma moeda por trás do ombro. Acreditavam que os feiticeiros podiam impedir a ereção do membro necessário à união fecunda, e o nó da agulheta consistia em lesar a zona genital, era visto como uma espécie de nó castrador. A razão de tudo isso acontecer, era explicada pelo fato de Deus permitir o ato por ser pecado. O recuo da idade no casamento aliado a uma repressão mais severa da heterossexualidade fora do casamento e antes dele pelas duas reformas religiosas, a católica e a protestante, teriam provocado um redobramento da masturbação e, consequentemente em segundo grau, certa impotência no momento de casar-se. A má nutrição, uma masturbação aumentada e bloqueios psíquicos resultantes de uma culpa reforçada teriam conjugado seus efeitos para reforçar no ocidente do começo da idade moderna o temor da ligadura da agulheta.

2 – O passado e as trevas. Os fantasmas O passado não estava realmente morto e podia irromper a qualquer momento, ameaçador, no interior do presente. Na mentalidade, muitas vezes a vida e a morte não apareciam separadas por um corte nítido. Os mortos encontravam-se, ao menos durante certo tempo, entre esses seres leves meio materiais, meio espirituais com que mesmo a elite da época povoava. Os fantasmas eram vistos de maneiras distintas: uns eram inofensivos, enquanto outros tinham formas de cavalos fogosos, que maltratavam, expulsavam e até mesmo matavam. Existiam duas maneiras diferentes de acreditar nas aparições dos mortos. Uma “horizontal”, naturalista, antiga e popular, colocava implicitamente “a sobrevivência do duplo” que consistia em dizer que: o defunto, corpo e alma, continuava a viver certo tempo e a voltar aos lugares de sua existência terrestre. A outra concepção, vertical e transcendental, foi a dos teólogos, oficiais ou oficiosos, que tentaram explicar os fantasmas pelo jogo de forças espirituais.

O medo da noite Fantasmas, tempestades, lobos e malefícios, tinham por muitas vezes a noite por cúmplice. Esta, em muitos medos de outrora, entrava como componente considerável. Era o lugar onde os inimigos do homem tramavam sua perda, no físico e no moral. A bíblia já expressara essa desconfiança em relação às trevas comum a tantas civilizações e definira simbolicamente o destino de cada um de nós em termos de luz e de escuridão, isto é, d vida e de morte. O temor de ver o sol desaparecer para sempre no horizonte perseguiu a humanidade: como provam, entre muitas outras, as crenças religiosas dos mexicanos antes da chegada dos espanhóis. O medo na escuridão é aquele que experimentavam os primeiros homens quando à noite se encontravam expostos aos ataques dos animais ferozes sem poder adivinhar sua aproximação nas trevas. Assim, precisavam afastar por meio de fogueiras esses “perigos objetivos”. Esses medos que voltavam todas as noites sem duvida sensibilizaram a humanidade e ensinaram-na a temer a armadilha da noite. Todos os dias, o nascer do dia era saudado. O medo da noite da civilização vinha acompanhado de uma desconfiança geral em relação à lua. Acreditavam que ela podia produzir a loucura, e que em conjunto com outros planetas trazia a peste.

3 – Tipologias dos comportamentos coletivos em tempo de peste. Presença da peste ¹ Destacavam-se a intervalos mais ou menos próximos, episódios de pânico coletivo, especialmente quando uma epidemia abatia-se sobre uma cidade ou uma região. Mais frequentemente, na Europa, tratou-se da peste, sobretudo durante os quatros séculos que correm de 1348 a 1720. Entretanto, no decurso desse longo período, outros contágios dizimaram também as populações ocidentais. Mal enraizado, implacavelmente recorrente, a peste, em razão de seus reaparecimentos repetidos, não podia deixar de criar nas populações um estado de nervosismo e medo. Imagens de pesadelo A peste estava associada a fome e a guerra. Era vista como uma praga, comparadas as que atingiram o Egito. É ao mesmo tempo identificada como uma nuvem devoradora vinda do estrangeiro e que se desloca de país em país, da costa para o interior e de uma extremidade a outra de uma cidade, semeando a morte à sua passagem. É ainda descrita como um dos cavaleiros do apocalipse, como um novo dilúvio, como um inimigo formidável, e, sobretudo como um incêndio frequentemente anunciado no céu pelo rasto de fogo de um cometa. Contudo para os homens da igreja e para os artistas que trabalhavam graças ás suas encomendas, a peste era também e, sobretudo uma chuva de flechas abatendo-se de

súdito sobre os homens pela vontade de Deus encolerizado. Clero e fiéis, vendo a peste e aqueles que a seguiram ao longo dos séculos como punições divinas, assimilaram naturalmente os ataques do mal aos golpes mortais de flechas lançadas do alto. Em resumo, se não se fugira a tempo, rico ou pobre, jovem ou velho, estava-se ao alcance da flecha do horrível arqueiro. Imaginada pelos meios eclesiásticos leitores do apocalipse e sensíveis ao aspecto punitivo das epidemias, a comparação entre o ataque da peste e o das flechas que se abatem de improviso sobre as vítimas teve por resultado a promoção de são Sebastião na piedade popular. Atuou aqui uma das leis que domina o universo do magismo, a lei de contraste que muitas vezes não é senão um caso particular da lei de similaridade. A peste era então, mesmo para os sobreviventes, um traumatismo psíquico profundo. Uma ruptura inumana Quando aparece o perigo do contágio, de inicio procura-se não vê-lo. As crônicas relativas ás pestes ressaltam a frequente negligência das autoridades em tomar as medidas que a iminência do perigo impunha, sendo verdade contudo que, uma vez desencadeado o mecanismo de defesa, os meios de proteção foram aperfeiçoando-se no decorrer dos séculos. Por certo, encontram-se em tal atitude justificativas razoáveis: pretendia-se não assustar a população, e sobretudo poder e tudo não interromper as relações econômicas com o exterior. Quando uma ameaça de contágio delimitava-se no horizonte e uma cidade, as coisas, no estágio do poder de decisão, passavam-se geralmente da seguinte maneira: as autoridades mandavam examinar por médicos os casos suspeitos. Muitas vezes esses médicos faziam um diagnóstico tranquilizador, antecipando-se assim o desejo do corpo municipal; mas se suas conclusões eram pessimista, outros médicos cirurgiões eram nomeados para um contra inquérito, que não deixava de dissipar as primeiras inquietações. As soluções sensatas era fugir. Sabia-se que a medicina era importante e que um par de botas constituía o mais seguro dos remédios. Os ricos, é claro, eram os primeiros a fugir, criando assim a apreensão coletiva. Era então o espetáculo das filas junto aos órgãos que liberavam os salvo-condutos e os certificados de saúde, e também a obstrução das ruas repletas de coches e de carroças. Os ricos não eram os únicos a sair da cidade ameaçada pela contaminação, pobres também fugiam. A cidade sitiada pela doença, posta em quarentena, se necessário cercada pela tropa, confrontada com angustia cotidiana e obrigada a um estilo de existência em ruptura com aquele a que se habituara. Por precaução, também se matavam os animais: porcos, cães e gatos. Cortados do resto do mundo, os habitantes afastavam-se uns dos outros no próprio interior da cidade maldita, temendo contaminar-se mutuamente.

Estoicismo e desregramentos; desalento e loucura A medicina de outrora considerava que o abatimento moral e o medo predispõem a receber o contagio. Múltiplas obras eruditas publicadas no século XIV ao XVIII convergem sobre esse ponto. Elas diziam que a peste seria evitada melhor se não cedermos ao pavor, se nos armamos de bom humor e de uma forte dose de serenidade estoica. Frequentemente, em compensação, eram as bebedeiras e desregramentos inspirados pelo desejo frenético de aproveitar os últimos momentos de vida. Era o Carpe Diem vivido com uma intensidade exacerbada pela iminência quase certa de um horrível trespasse. Também essa sede de viver intensamente era provocada pelo fato do medo tomar conta das pessoas por não saberem quanto tempo ainda lhes restavam. Covardes ou heróis? Para compreender a psicologia de uma população atormentada por uma epidemia, é preciso ainda destacar um elemento essencial: no decorrer de tal provação se produzia forçosamente uma dissolução do homem mediano. Não se podia ser covarde ou heroico, sem possibilidade de acantonar-se entre os dois. O universo do meio termo e dos meios tintas que é comumente o nosso, via-se bruscamente abolido. Os mais religiosos dos homens de igreja, aqueles que ainda permaneciam, assim como os habitantes que tinham ficado no lugar, por não terem podido partir, eram naturalmente amargos em relação aos ausentes voluntários. Além disso, tentavam acreditar ou fazer crer que a morte não poupava mais os fugitivos do que os outros. A covardia de uns acrescentava-se a imoralidade cínica de outros, quase certos da impunidade, já que o aparelho repressivo desmoronara. De quem é a culpa? Por mais chocada que estivesse uma população atingida pela peste procurava explicar-se o ataque de que era vítima. Encontrar as causas de um mal é recriar um quadro tranquilizador, reconstituir-se uma coerência da qual sairá logicamente a indicação dos remédios. Três explicações eram formuladas outrora para dar conta das pestes: uma pelos eruditos, a outra pela multidão anônima, a terceira ao mesmo tempo pela multidão e pela igreja. A primeira atribuía a epidemia a uma corrupção do ar, ela própria provocada seja por fenômenos celestes (aparição de cometas, conjunção de planetas etc.) seja por diferentes emanações pútridas, ou então por ambos. A segunda era uma acusação: semeadores de contágio espalhavam voluntariamente a doença; era preciso procurá-los e puni-los. A terceira assegurava que Deus, irritado com os pecados de uma população inteira, decidira vingar-se; portanto, convinha apaziguá-lo fazendo penitência. De origens diferentes, esses três esquemas explicativos não deixavam de interferir nos espíritos.

A opinião comum procurava, portanto encontrar o Maximo de causas possíveis para tão grande desgraça. Já que na cidade atacada por uma epidemia podia temer qualquer um e qualquer coisa, já que o mal permanecia misterioso, sem ceder diante da medicina e das medidas de profilaxia, qualquer defesa parecia boa. 4 – Medo e sedições (I). Objetivos, limites e métodos da investigação Muitas vezes menos mortais do que as epidemias, porem mais frequentes, as sedições de toda natureza marcavam com súbitas violências os tempos fortes de uma inquietude coletiva que, entre as explosões, permanecia silenciosa, até mesmo subterrânea. Uma investigação histórica sobre o papel do medo nas sedições de outrora encontra forçosamente o debate biológico que opõe, a respeito da agressividade humana, aqueles que a creem inata aqueles que a consideram adquirida. O sentimento de insegurança As analises de fatos recentes ou atuais esclarecem retroativamente as violências milenaristas que se sucederam na Europa ocidental do século XII a meados do século XVI, e ate mais além. As estruturas nascentes de uma economia mais aberta do que a da era feudal já rejeitam infelizes que não estão integrados nem a cidade que cresce nem ao universo rural, portanto pessoas sem estatutos, disponíveis para todos os sonhos, todas as violências, todas as desforras que profetas lhes propõem. Medos mais preciosos O sentimento de insegurança, ao menos nas formas que acabamos de descrever, muitas vezes era mais vivido do que claramente consciente. Em compensação, certos medos mais preciosos, e que nem sempre eram imaginários, frequentemente anunciavam as revoltas. Os medos legítimos da sociedade foram reforçados por temores suscitados pela imaginação coletiva. O temor de morrer de fome Morrer de fome era uma grande preocupação de outrora, uma apreensão que se incorporava às estações, ao escoamento dos meses, ate mesmo dos dias. Em tempo de crise, provocava pânico e desembocava em loucas acusações contra os pretensos açambarcadores. A alimentação na Europa de outros tempos era desequilibrada por excesso de farináceos, insuficiente em vitaminas e proteínas, e marcada pela alternância sobre a frugalidade e a comilança, não chegando esta ultima que era rara a exorcizar em uma grande parte da população a obsessão e penúria.

O fisco: um espantalho Os acontecimentos de 1789 não devem levar a uma generalização excessiva. Penúrias e sedições não estão forçosamente ligadas. tomemos como exemplo o caso da Inglaterra nos séculos XVI e XVII. Bom número de períodos que tiveram colheitas particularmente más – como os anos 1594-1598 – não foram ali marcados por nenhuma revolta popular. Em tal clima de efervescência e uma vez superado certo limiar de excitação, contava menos o imposto temido de que uma secular mitologia anti fiscal, menos a realidade do recolhimento do que a imagem terrível que dele se fazia.

5 – Medo e sedições (II). Os rumores A imaginação coletiva trabalhava sobre toda espécie de rumores. As vésperas da sublevação conhecida na Inglaterra do século XVI sob o nome de peregrinação de graças, boatos inquietantes e maldosos circulavam de aldeia em aldeia: os visitadores dos mosteiros que o rei mandava fechar eram, dizia-se, homens corrompidos que se enriqueciam com despojos dos conventos. Impossível, ao menos tratando-se da civilização pré industrial, separar rumores e sedições, quaisquer que tenham sido as dimensões cronológicas e geográficas destas. As autoridades não dispunham nem de meios de informação (jornais, rádio, televisão), graças aos quais se podem tentar acalmar uma inquietação coletiva por meio de uma espécie de clinica do rumor, nem de meios policiais suficientes para impedir os ajuntamentos e a autoexcitação da multidão. As mulheres e os padres nas sedições; o iconoclasmo Os trágicos acontecimentos do verão de 1792 a insistir no papel das mulheres nas rebeliões e crimes de multidão de outrora. Com efeito, lendo as entrelinhas os relatos de todas as tendências redigidos pelos contemporâneos dos massacres se setembro, adivinham-se as palavras inquietas das esposas e das e das mães, em casa ou na rua, à aproximação dos exércitos inimigos: paris desguarnecida pela partida dos homens válidos vai ser abandonada aos traidores internos. Não há sedições, nas quais não se vejam monges franciscanos, capuchinhas, carmelitas, dominicanos fazer as noções mais atrozes e dar os primeiros golpes nos massacres. Os recentes estudos sobre os miseráveis e os vagabundos revelasm com efeito a presença frequente dos padres, especialmente dos curas da paróquia, nas revoltas que atravessam a frança do século XVII.

O medo da subversão Frequentemente as rebeliões acabavam depressa e muitas revoltas eram vencidas. Para os sediciosos desarmados, chegava então o momento da recaída no medo. temia-se a repressão que podia efetivamente se revelar terrível, foi assim em 1525 após a derrota dos camponeses alemães e, em 1567, quando o duque de Alba tornou-se governador dos países baixos. Ou ainda, após o fracasso de um movimento antifiscal, podia-se temer, não sem razão, um retorno inflexível dos gabeleiros e um novo endurecimento do aparelho do estado. Muitos testemunhos atestam o medo dos mendigos sentido na Europa a partir do tempo da peste negra por todos os aqueles, ricos e menos ricos, que tinham o suficiente para viver e não se sentiam ameaçados pelo deslocamento e, portanto, pela dessocialização.

Segunda Parte A CULTURA DIRIGENTE DO MEDO

6 – “A espera de Deus”. As explosões periódicas de medo suscitadas pelas pestes até meados do século XVIII, as frequentes revoltas amplamente provocadas ora pelo temor dos soldados ou dos salteadores, ora pela ameaça da fome ou do fisco escandiram, como vimos, uma longa historia europeia alongada do final do século XIII aos começos da era industrial. É preciso, todavia, individualizar no interior desse meio milênio uma sequencia de maior angústia de 1348 a 1660, no decorrer da qual as desgraças se acumularam particularmente na Europa, aí despertando um abalo duradouro dos espíritos. É importante estabelecer uma distinção metodológica entre duas interpretações diferentes dos textos proféticos relativos às ultimas etapas da historia humana, insistindo uma na promessa de mil anos de felicidade, a outra no juízo final. Múltiplos indícios permitem datar da segunda metade do século XIV essa ascensão da angústia escatológica. Sua difusão a esse nível da diacronia se explica pela coincidência ou pela rápida sucessão das desgraças. A extraordinária importância atribuída na época ao tema do juízo final e aos cataclismos que deviam precedê-lo explica-se por uma teologia do Deus terrível, reforçada pelas desgraças em cadeia que se abateram sobre o ocidente a partir da peste negra. A ideia de que a divindade pune os homens culpados é sem duvida tão velha quanto a civilização. Na segunda metade do século XVI e na primeira metade do XVII, parece que o temor do anticristo e das catástrofes que deviam acompanhar seu reino, anteriormente

difundido por toda a cristandade, permaneceu mais forte em terra protestante do que em país católico.

7 – Satã. A emergência da modernidade em nossa Europa ocidental foi acompanhada de um inacreditável medo do diabo. A renascença herdava seguramente conceitos e imagens demoníacas que se haviam definido e multiplicado no decorrer da idade média. Mas conferiu-lhes uma coerência, um relevo e uma difusão jamais atingidos anteriormente. Satã pouco parecia na arte cristã primitiva, e os afrescos das catacumbas tinhamno ignorado. O medo desmedido do demônio por toda a parte presente, autor da loucura e ordenador dos paraísos artificiais, esteve associado na mentalidade comum à espera do fim do mundo. A imprensa teve larga parte de responsabilidade na difusão do medo do diabo e da atração mórbida pelo satanismo, sendo assim, foi no começo da idade moderna e não na idade media que o inferno, seus habitante...


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