Resumo Filme Porta a Porta a política em dois tempos PDF

Title Resumo Filme Porta a Porta a política em dois tempos
Author Juliana Kaomy
Course Sociologia
Institution Universidade Católica Dom Bosco
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Resumo Filme Porta a Porta a política em dois tempos...


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1. Introdução

1.1. Explicação do trabalho

O grupo realizou, por meio deste relatório, uma análise geral do documentário de Marcelo Brennand, Porta a Porta: a política em dois tempos. Após uma breve introdução ao conteúdo do documentário, exploramos os mecanismos que fazem a máquina política funcionar do jeito que ela funciona no interior brasileiro a partir do estudo das eleições municipais de 2008, na cidade de Gravatá. De modo a complementar a análise feita, o grupo relacionou o caso estudado com os materiais didáticos disponibilizados ao longo do curso de Ciência Política, ministrado pelo professor George Avelino, além de uma pesquisa externa.

1.2. Síntese do filme

O filme documenta o cenário anterior e posterior às eleições para prefeito e vereador em 2008 na cidade de Gravatá, um pequeno município de Pernambuco que conta com cerca de 80 mil habitantes e cerca de 50 mil eleitores. O diretor, Marcelo Brennand, acompanhou os 90 dias que antecederam as eleições e retornou um ano após as eleições. O que começou como o acompanhamento individual de Fernando Resende, um dos 117 candidatos ao cargo de vereador, e sua procura pelos 1300 votos necessários para conquistar uma das dez vagas disponíveis, rapidamente evoluiu, transformando-se em uma dossiê sobre a relação particular que a cidade tinha com o processo eleitoral, na qual o Brennand acompanhou o dia-a-dia de diversas partes envolvidas. Candidatos, cabos eleitorais, membros da militância e eleitores ilustraram a crua realidade por trás das cores, músicas e festividades que inundam a cidade, onde a preferência ideológica por trás do voto dos cabos é rara, e predomina a participação por fins financeiros, pouco importando de forma ideológica, a quem se elege no final da corrida.

2. Análise Geral

2.1. Pontos importantes do filme

Gravatá 2008: a realidade por trás do ano de eleição

A pobre cidade do interior pernambucano parece estar mais viva do que nunca. Vestindo as cores de seus respectivos partidos, a militância celebra energeticamente o fim do processo eleitoral. Candidatos são levantados pelas massas, e as multidões se agrupam dentro de suas respectivas cores: a festa é azul de um lado, e vermelha do outro. Nem esperam a contagem dos votos: o fervor religioso que toma conta da cidade de forma espetacular já toma as ruas horas antes da contagem. Afinal, estão celebrando o fim de uma jornada de alta estabilidade econômica para a cidade. Para os 80.000 habitantes de Gravatá, os noventa dias de propaganda política são a única recompensa tangível que eles de fato receberão durante os quatro anos de mandato desses novos vereadores e prefeitos. A população gravataense é extremamente refém e dependente da prefeitura. Dos 80.000 habitantes, 1200 sustentam a família exercendo cargos públicos, tornando à prefeitura a maior empregadora do município. Os gravataenses, aceitando a inaptidão dos servidores para transformarem a vida deles de forma significativa, veem na eleição uma oportunidade de conseguir aumentar seus recursos financeiros através da militância ou da possibilidade de trabalhar futuramente na prefeitura. Durante o documentário ficou claro a extensa falta de trabalho para os moradores da cidade, que em sua maioria trabalha informalmente como feirantes e vendedores improvisados. Um dos militantes entrevistados relatou que vendia picolé na rua e ganhava cerca de 40 reais semanais durante a maioria do ano, porém em épocas de campanha, militantes recebiam de 50-100 reais para erguer uma bandeira e distribuir “santinhos”, no caso dele, recebendo 70 reais semanais. Outro exemplo do desespero por renda é o de uma senhora que vestia a camisa de outro partido (camisa azul do PSDB, supostamente indicando apoio a Ozano Brito), mas se encontrou com Bruno Martiniano (candidato a prefeito de Gravatá que a equipe de filmagem estava acompanhando, e oposição de Ozano) e pediu para que ele a contratasse para trabalhar como militante. Estes exemplos retratam a realidade do interior nordestino, em que nota-se que a

população comumente não se importa com a ideologia ou as propostas de certo candidato, mas sim buscam obter renda, devido a falta de empregos formais na região. Em determinada cena do documentário, percebe-se que um eleitor pede a Martiniano que traga uma fábrica à cidade. A prática de trazer fábricas de grandes indústrias a cidades pequenas e carentes como Gravatá é algo que prefeitos sempre visam fazer em prol da população, pois oferecem incentivos fiscais às fábricas, além de mão de obra relativamente mais barata do que no sudeste e sul do país, e além disso ainda fornece empregos sustentáveis e contínuos a uma boa parte da população.

2.2. O significado por trás do título

O título do documentário, porta a porta, refere-se ao método adotado pelos cabos eleitorais nas pequenas cidades para formar a militância para determinado candidato e consequentemente obter votos para o mesmo. Como foi demonstrado no vídeo, o cabo eleitoral apresenta a pessoa do candidato e suas propostas para o eleitor, e no caso da cidade de gravatá, e igualmente em diversas cidades humildes e pequenas, a televisão e as redes sociais possuíam pouca força para disseminar propaganda até mesmo em eleições recentes como a de 2008. sendo assim, os cabos eleitorais batem de porta em porta dos moradores do distrito eleitoral, apresentando as propostas do candidato e a trajetória do mesmo, além de distribuir santinhos, panfletos e bandeiras, tudo isso a fim de obter votos ao candidato. Além disso, o documentário relata o uso de carros com caixas de som propagando certos candidatos, reproduzindo jingles e slogans destes. Por fim, os candidatos também organizavam encontros com suas militâncias e cidadãos, em praças públicas para fomentar os ânimos de seus votantes para que atraíssem ainda mais eleitores. No caso de gravatá, a cidade que possuía o prefeito psdbista, Joaquim Neto, e que as eleições estavam sendo disputadas entre Ozano Brito do PSDB, e Bruno Martiniano fazendo oposição, realizaram tais encontros com suas militâncias, tentando fortalecê-las com o apoio e presença de figuras importantes como Aécio Neves (então governador de Minas Gerais) e Humberto Costa (ex ministro da saúde do governo Lula, respectivamente. Ademais, o subtítulo do documentário: A política em 2 tempos, se refere ao quesito retratado envolvendo a vida dos cidadãos durante período de eleição, e após o período de eleição. Torna-se perceptível a enorme diferença, principalmente na questão de renda, entre os dois tempos. Durante o tempo de eleição, praticamente todo o foco do cotidiano dos cidadãos é

voltado às eleições. O documentário relata que praticamente tudo que se fala engloba as eleições, o que é perceptível em vários níveis, sendo de conversas pacíficas com familiares até brigas entre dois cidadãos por apoiar determinado candidato. Reiterando o fato de que a prefeitura é a maior empregadora do município, apoiar certo candidato pode trazer benefícios no caso da vitória do candidato, como algum emprego em seu gabinete e afins.. O período de eleição torna-se um período para dar apoio às pessoas em qual o cidadão acredita que lhe trará maior chance de emprego formal caso eleito, dado que no período pós eleições, os que não se beneficiam, retornam a vida de empregos informais com a renda mensal incerta. Cabe ressaltar também que durante período de eleições muitos aproveitam para acumular mais renda através dos empregos que advém do processo de campanha dos candidatos, como cabos eleitorais e carregadores de bandeiras. Apesar de tudo isso, os que não obtém algum conforto financeiro frequentemente são obrigados a largar suas famílias e vão a São Paulo tentar uma vida melhor.

2.3. Dados sobre o período (pesquisa extra)

De acordo com dados pesquisados coletados sobre Gravatá, o IDH teve um aumento significativo de 2000 para 2010. Além disso, índices como a educação, renda e saúde também melhoraram bastante. Sendo assim, é possível analisar que o governo de Joaquim Neto e os dois primeiros anos do governo de Ozano melhoraram os índices da Gravata. Não foi possível a coleta de mais dados posteriores a 2010. Bruno Martiniano, oposição de Ozano, acabou sendo eleito nas eleições de 2012, mas foi afastado pelo TJPE, após serem descobertos os vários atos de corrupção e improbidade

administrativa que reinaram durante seu mandato. A notícia em questão dificilmente surpreendeu a comunidade gravataense. Acostumada com a insignificância que a esfera pública ocupa durante os quatro anos de mandato, eles sabiam que o único momento no qual eles poderiam se beneficiar da máquina pública se limitaria à corrida eleitoral. Os numerosos casos de corrupção do prefeito Martiniano apenas solidificam a já estabelecida lógica por trás do eleitor gravataense. Outro ponto importante que foi constatado pelo grupo foi que Fernando Resende foi reeleito em 2012 para vereador e em 2016 concorreu a vice-prefeito, perdendo para o antigo prefeito, que foi eleito pelo terceira vez, Joaquim Neto de Andrade Silva.

2.4. Relação do filme com textos de suporte tanto de classe quanto externos No texto da Pitkin (Representation and Democracy; Uneasy Alliance) a autora em um momento, próximo do final do texto destaca três principais obstáculos para a democracia atualmente, onde o primeiro tem muita familiaridade com a proposta do filme. Para explicá-lo, o autor diz que o primeiro obstáculo diz respeito ao poder privado e os problemas públicos. Para possibilitar participação ativa de um indivíduo, principalmente em um cenário local, Pitkin considera necessário que os políticos passem uma “experiência real” ao cidadão, dando a ele um gosto de mudança em algo que realmente afeta na vida deles. A relação entre eleitores e a corrida eleitoral municipal de Gravatá dialoga diretamente com o obstáculo descrito acima. O esforço dos políticos locais para envolver o cidadão comum na sua luta através de práticas tais como a militância assalariada - muitas vezes - garantem ao cidadão uma estabilidade que supera aquela gerada pela sua própria renda. Outro exemplo demonstrando tentativas de superar o obstáculo no caso Gravatá são as várias promessas de conserto de portas, ou a garantia dos medicamentos demandados pelos eleitores, em troca do favoritismo na hora do voto ao oferecer aos eleitores a sensação de mudança mesmo antes de eleito, um ato que, apesar de sua ilegalidade, é visto pelo corpo eleitoral de Gravatá como uma época única para receber benefícios da máquina pública. No texto de Avelino, Biderman & Silva (A Concentração Eleitoral no Brasil, 1994-2014), os autores analisam pontualmente municípios e zonas eleitorais como conjecturas sobre o uso do espaço geográfico. Os autores discorrem sobre a dissemelhança entre os tipos de voto nas diferentes zonas geográficas e utilizam exemplos que se aplicam à realidade da cidade de Gravatá, onde se passa o documentário. O exemplo utilizado diz respeito aos votos locais, que

são geralmente mais conservadores e relacionados à pobreza e baixos níveis de urbanização e aos votos nacionais, mais urbanos e ideológicos, que deveriam representar os eleitores em escala mais ampla. A cidade de Gravatá é um pequeno município no interior de Pernambuco em que os eleitores escolhem seus candidatos por interesses pessoais, como ofertas de trabalho feitas aos eleitores pelos candidatos, promessas de melhorias em suas casas e propostas completamente deturpadas para convencer pessoas que não têm o mínimo embasamento político. Os candidatos de Gravatá, para cada casa que eles visitam, fazem diferentes promessas que irão agradar e convencer cada pessoa em particular, assim compilando o maior número de votantes para que os mesmos sejam eleitos. Além disso, em estudo do cientista político, Rodolfo Teixeira, elaborado e publicado em 2008 pelo G1, portal online da Globo, explicou que a prática de compra de votos ainda é muito frequente, principalmente em cidades do interior e pequenas de estados do norte e nordeste. Nestas cidades de interior, os votos são comprados geralmente por 50 reais a 150 reais, ou em forma de cestas básicas, atendimentos médicos e materiais de construção, enquanto em cidades maiores, essas práticas também são comuns apesar de serem mais requintadas, vindo em forma de compra de cargos. A captação ilícita de sufrágio, conhecido popularmente como compra de votos, é classificado como crime tanto para o comprador quanto o vendedor de votos, de acordo com o artigo 299 do código eleitoral, que pode ser punido com até 4 anos de encarceramento além do pagamento de uma multa. contudo, Teixeira cita que "O eleitor precisa ter melhor condição de vida. A partir daí, tem condição de pensar em como vai utilizar o voto. (...) A gente percebe que o voto historicamente sempre foi moeda de troca, faz parte da nossa história. Não vai ser fácil desatar essa amarra, preciso primeiro mudar as condições socioeconômicas.", tornando-se assim, perceptível a dificuldade para combater tal prática ilícita, como foi retratado no documentário....


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