Resumo Texto - Alberto da Costa e Silva. “Ifé” e os “Os reinos de Iorubo”. In. A Enxada e a lança A África antes dos portugueses. RJ Nova Fronteira, 1996. P. 449-466 e 549-570 PDF

Title Resumo Texto - Alberto da Costa e Silva. “Ifé” e os “Os reinos de Iorubo”. In. A Enxada e a lança A África antes dos portugueses. RJ Nova Fronteira, 1996. P. 449-466 e 549-570
Author Anna Teixa
Course História da África
Institution Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
Pages 10
File Size 108.7 KB
File Type PDF
Total Downloads 48
Total Views 126

Summary

Resumo do texto - Alberto da Costa e Silva. “Ifé” e os “Os reinos de Iorubo”. In. A Enxada e a lança A África antes dos portugueses. RJ Nova Fronteira, 1996. P. 449-466 e 549-570...


Description

Resumo Texto - Alberto da Costa e Silva. “Ifé” e os “Os reinos de Iorubo”. In. A Enxada e a lança: A África antes dos portugueses. RJ: Nova Fronteira, 1996. P. 449-466 e 549-570.

A formação de Ifé, segundo Alberto da Costa e Silva, Ifé é um dos reinos do império Ioruba. As suas origens, mergulhadas na mitologia Ioruba , não nos fornecem, do ponto de vista cronológico, um ponto inicial preciso. Os Yorubas vieram do Nordeste, talvez do Alto Nilo , por vagas sucessivas, entre o século VI e o século XI, com paragens, em particular na região do Kanem. Ifé provavelmente foi habitada no século VI, data mais antiga fornecida até agora pelo método do radiocarbono , existe materiais recolhidos de escavações na cidade. Ela foi o centro de dispersão, sendo reconhecida por todos os Yorubas como a fonte mística do poder e da legitimidade: o lugar de onde partia a consagração espiritual (sendo o Oni, chefe de Ifé, o grande pontífice) e para onde retornavam os restos mortais e as insígnias de todos os reis. Ifé era considerada uma cidade sagrada para os Yorubas. Um grupo de aksumitas, meroítas e nobas liderados por olunwi, fugidos dos exércitos judeus, migrou para o sudoeste africano, vindo se instalar em okeorá. Okeorá era governada pelo rei (oba) owerê. Este carregava o título de obatalá, pois era descendente do patriarca adjalá (o 1º obatalá – rei do pano branco). Okeorá era, a esta altura, uma cidade decadente, guardando a remota lembrança do seu apogeu no comércio dos produtos da forja de ferro, nos idos de 450 ac. Olunwi, com o passar dos anos, mostrou-se um rei sábio e generoso. Evitou guerras, desenvolveu Ifé e a fez crescer a custa de inúmeros acordos de paz que incorporavam aldeias e tribos, além de ajustes comerciais que deram pujança à cidade, fazendo-a prosperar. Por tudo isso, o oni de ifé passou a ser respeitosamente chamado de odudua (a cabaça da vida, de onde se desenvolve a existência e o destino). Anos se passaram até que okeorá entrou em colapso devido à seca. Com isso, Olunwi e Obatalá resolveram levar seu povo em busca de uma nova terra.

Olunwi prestou reverência ao rei, jurou-lhe obediência e presenteou-lhe com bens, gado e outras riquezas, selando assim seu pacto. Subiram do sudoeste em direção ao sul. Após longa peregrinação, travessias e perigos, resolveram se estabelecer em um local aprazível, em formato de vale, circundado por belos morros, revestidos das florestas equatoriais, de onde brotava água em abundância, justamente por quedar-se na confluência dos rios Níger e benué. Era também um local estratégico, pois não ficava na rota das lutas tribais, nem era próximo demais dos belicosos igbôs, estes mais a leste do Níger. Depois de tantas dificuldades, obatalá teria escolhido o nome da terra onde ergueriam sua nova morada: ilê nfé (a morada permanente), donde veio a contração: ilê ifé, ou simplesmente Ifé. Com a morte de owerê, Olunwi foi escolhido pelo conselho para sucedê-lo no comando de Ifé, mas não aceitou o título de obatalá, sendo apenas conhecido como oni (dono). Olunwi, com o passar dos anos, mostrou-se um rei sábio e generoso. Evitou guerras, desenvolveu ifé e a fez crescer a custa de inúmeros acordos de paz que incorporavam aldeias e tribos, além de ajustes comerciais que deram pujança à cidade, fazendo-a prosperar. Por tudo isso, o oni de ifé passou a ser respeitosamente chamado de odudua (a cabaça da vida, de onde se desenvolve a existência e o destino). Em razão da saga pela busca da nova terra, Ifé ganhou a aura de “terra prometida”, “cidade sagrada”. E assim foi perpetuada sua fama. Na versão de costa e silva, ifé significaria “o que é vasto, o que se alarga.” Ifé seria habitada desde o século VI, conforme conclusão de arqueólogos, mediante testes feitos com radiocarbono em materiais de escavações do local.

O comércio

A posição geográfica de Ifé teria favorecido seu desenvolvimento. O reino de Ifé torna-se um importante entreposto dos produtos da savana, da floresta e do litoral, face à sua privilegiada logística. Além da indústria do ferro, a de contas de pedra e de vidro, constituíam fáceis artigos de exportação. Era igualmente forte a comercialização de inhames, peixe seco, sal, dendê, obis (noz de cola), pimentas, gomas, madeiras, ouro, marfim e objetos de arte em ouro, cobre, terracota e bronze, principalmente. Sendo certo que a venda de escravos também rendia grandes lucros, talvez o comércio mais rentável. Vale dizer que no centro de ifé, desde sua construção, estrategicamente olunwi reservou espaço e fez erguer um grande mercado, a exemplo de sua experiência e de sua origem aksumita. Era costume que todo o comércio rendesse taxas ao rei local. Assim, o mercado ativo e variado seria garantia de riqueza perene ao oba e ao seu povo. Evidentemente que a influência cultural dos aksumitas e meroítas que migraram para okeorá e posteriormente fundaram ifé, foi determinante para o sucesso do planejamento da nova terra. Estes povos eram acostumados às grandes e belas cidades e ao comércio extremamente desenvolvido, como aksum, meroé, meca, adulis e aden.

Estrutura de poder Ifé foi a primeira cidade-estado a adotar a monarquia divina. Vale dizer que a cultura africana tem como bases três pilares: a temporalidade, a oralidade e a ancestralidade, conforme márcio de jagun (“ori – a cabeça como divindade”, ed.ori, 1ª edição, 2011). Feitos mágicos, místicos e religiosos, tornaram mitos diversos reis, rainhas e guerreiros africanos. Obatalá é um dos mais famosos destes exemplos. Adjalá, o grande rei de okeorá, era famoso por suas curas milagrosas. Ao final da vida, alquebrado pela idade e pelo estado de saúde precário devido a torturas que teria sofrido no ataque de tribos inimigas, teve seu corpo todo deformado.

Razão pela qual passou a usar um pano branco a lhe cobrir, quando atendia seus súditos doentes. Assim, passou a ser chamado de obalata (o rei do pano branco). Seu poder divino e sua bondade extrema, o fizeram ser reconhecido como um eborá, uma divindade, ainda em vida. Em razão disto, todos os seus descendentes tiveram orgulho de ostentar sua alcunha de obatalá. Por esses princípios, cada vilarejo dividia-se em várias linhagens, cujos chefes eram escolhidos pela idade e pelo parentesco com o grande ancestral. Os mais velhos da tribo ficavam encarregados das funções religiosas, políticas e judiciárias, enquanto as questões sociais cabiam aos outros grupos mais jovens. O líder (oni), representava a unidade do povoado. O vinculo social era o sangue. Tal princípio era comum entre os povos africanos. “um indivíduo pertencia a uma família – ebi, em iorubano – e só por causa dela, a um estado. Este era visto como uma versão ampliada da família, e o rei, como um pai.”, segundo costa e silva (a enxada e a lança, nova fronteira, 3ª ed., 2006, pág. 483). Este pressuposto fazia com que laços de parentesco, ainda que distantes, garantissem a união de reinos, pelo vínculo da ancestralidade comum. Tanto assim, que o hábito existente fazia os reis utilizarem o mesmo nome do ancestral como verdadeiro título a lhes assegurar a supremacia e o poder. Os obatalás, por exemplo, desde a remota okeorá, já constituíam uma dinastia de cerca de mil anos. Assim, por toda aquela região, deixou vasta descendência. E como foi justamente owerê, o último obatalá direto, um dos fundadores de ifé, foi mais fácil aglutinar em torno da poderosa cidade muitos reinos administrados por parentes de linha sucessória vertical e colateral. Em volta de ifé, existia uma enorme muralha concêntrica, com cerca de cinco metros de altura, por dois de largura, não só para proteger a cidade, como também para dar abrigo às populações agrícolas nos vilarejos periféricos, quando atacados. Simbolicamente, todos ficavam sob a égide do grande oni, que os defenderia seja pelo aspecto pragmático militar, seja pelos poderes mágicos imateriais.

O místico e o poder As proezas dos grandes obas e onis deram notoriedade a seus nomes e fez com que fossem geradas lendas que os imortalizaram. Nomes como Obatalá e Odudua, são até hoje mencionados em lendas (itãns), através das quais, pelas metáforas ficcionais, contam a história de seus povos e civilizações. Ifé teve tamanha importância na formação cultural e política do povo iorubá, que algumas lendas se referem à constituição desta cidade, como a própria criação do mundo. De acordo com as lendas iorubás até hoje propaladas, Ifé seria o umbigo do universo, a fonte de todas as coisas, o lugar de onde os homens se espalharam sobre a terra. Existe um mito de que oludamaré (o deus supremo) encarregou Obatalá de criar o mundo, e este se embebedou pelo caminho e não fez a tarefa ordenada. Odudua vendo isso, pede a oludamaré a missão que era de Obatalá. Nisso Odudua fica sendo o senhor da criação, enquanto a Obatalá é conferida a tarefa posterior de criar os seres. O itãn ainda fala que em certo momento, os filhos e os netos de odudua saíram terra afora para fundar outros reinos, como ketu, owo, ila, benim, popó, save, ijebu, ondo, ilexá, ode, ekiti, akure, ake, e ainda assumir alguns, como irê e oyó. Pierre Verger e Robert Smith, consideram plausíveis estas possibilidades, posto que todos estes reinos passariam no futuro a compor o grande iorubo, consolidando a cultura iorubá, seus costumes, sua religiosidade e seu idioma. Costa e silva, em sua obra, tenta separar o místico da realidade, fazendo observações de que odudua e obatalá, não vieram do céu e sim eram líderes de distintas comunidades. O autor de a enxada e a lança (pág. 480), admite em suas observações, a migração de okeorá para ilê ifé: “e se veio do oriente, este ficaria bem próximo de ifé, em oke ora, o monte ora, a poucos quilômetros a nordeste daquela cidade. As lendas dizem que foi no monte ora que odudua e seus companheiros tiveram a

primeira morada na terra. E dali saíram para dar combate aos ibôs ou ubôs, ou aborígenes, que seriam semelhantes à gente de odudua e dela falariam a mesma língua. Certas tradições asseguram, aliás, que os líderes dos ubôs, como obatalá e oreluere, chegaram a ifé com odudua.” Embora já existisse tal princípio, foi inegavelmente na gestão de odudua que se consolidou o regime da chefia centralizada e dinástica. Ifé, por ter sido fundada por lendários reis como Obatalá e Odudua, e ainda por estar no centro de outros reinos administrados por descendentes destes, passou a ser uma referência religiosa de toda a região tida como o centro espiritual dos iorubás, Ifé talvez tenha, durante muito tempo, recebido tributo e homenagem de vários outros estados cujas dinastias reclamavam a descendência de Odudua e mantinham possivelmente certa forma de vassalagem em relação ao oni.”, relata costa e silva. E arremata o mesmo autor em sua obra: “…, Ifé teria crescido de um santuário, concentrando-se no seu rei, ou oni, o templo e o palácio.” Costa e silva chega a citar ifé como a “Roma dos iorubanos”

Religião Os orixás são ancestrais divinizados africanos que correspondem a pontos de força da Natureza e os seus arquétipos. Estão relacionados às manifestações dessas forças. As características de cada Orixá aproxima-os dos seres humanos, pois eles manifestam-se através de emoções como nós. Sentem raiva, ciúmes, amam em excesso, são passionais. Cada orixá tem ainda o seu sistema simbólico particular, composto de cores, comidas, cantigas, rezas, ambientes, oferendas, espaços físicos e até horários. Como resultado do sincretismo que se deu durante o período da escravatura, cada orixá foi também associado a um santo católico, devido à imposição do catolicismo aos negros. Para manterem os seus Orixás vivos, viram-se obrigados a disfarçá-los na roupagem dos santos católicos, aos quais cultuavam apenas aparentemente. Na África cada orixá estava ligado a uma cidade ou a uma nação inteira; tratava-se de uma série de cultos regionais ou nacionais. Em Yoruba com o centro em Ile-Ife, existem centenas de Orixás. Os Orixás diferem regionalmente em seu

significado, suas dimensões e suas relações, que são preservados em histórias (Oriki, Patakis). A realização das cerimônias de adoração ao Òrìsá (yoruba) é assegurada pelos sacerdotes designados para tal em sua tribo ou cidade. Desde 2005, o Bosque sagrado da orixá Osun é um Patrimônio Mundial da UNESCO e o oráculo Ifá do Orixá Orunmila uma Obra Prima da humanidade

A arte Ifé Os seus artistas criaram uma obra escultórica única, que se conta entre as esteticamente mais prodigiosas e tecnicamente mais aprimoradas do continente africano. Técnica e visualmente, as obras da antiga Ifé contam-se entre as mais importantes do mundo. Incluem cabeças de tamanho natural e figuras humanas em terracota e bronze vasos d cobre quase puro – uma façanha que, segundo os peritos, gregos, romanos e chineses nunca conseguiram levar a cabo -, esculturas de quartzo e granito, peças em cobre , pedra cristal, e também miniaturas de deliciosas representações de animais domésticos selvagens em terracota e pedra, exemplares dos monumentos menires de granito expressivas caricaturas de anciãos, figurações de doenças atrozes, monstruosas configurações imaginárias e vívidas figuras de animais. Trata-se de objetos de grande força visual complexidade icônica e variedades de formas, que revelam a extraordinária mestria criativa e técnica dos artistas e o gosto dos mecenas e cidadãos de Ifé. A sofisticação alia-se à audácia tecnológica e notável qualidade estética e o resultado é uma visão do bilhantismo da civilização Ifé, que possibilita a compreensão de preocupações culturais e da profunda importâcia da arte como testemunho histórico. Os fatores “dinastia” e “divindade” ajudaram a modelar excepcionais obras escultóricas, incomparáveis com outras expressões africanas, recriando, de algum modo, os diferentes âmbitos da cultura Ifé. Como o político e o religioso.

Situada no Sudoeste da Nigéria, Ifé teve seu apogeu entre os séculos XII e XV, quando foi a capital da região. Na atualidade, a cidade de Ifé continua a ser o coração espiritual dos Yoruba. Aliás, de acordo com uma das múltiplas versões da tradição, esta cidade foi o palco escolhido pelos deuses para descerem e criarem o mundo. Independentemente das inspirações, o certo é que quando se deram a conhecer as primeiras mostras da atividade Ifé, o etnógrafo alemão Leo Frobenius adiantou que a única explicação possível para tal semelhança com o realismo idealista do classicismo grego patente nas figuras era uma eventual colônia grega na mítica Atlântica que tivesse levado a arte clássica às selvas da Nigéria. Os especialistas afirmam que foi a partir do ano 1000 que se desenvolveu verdadeiramente a arte escultórica que deu fama a Ifé elevando-a aos píncaros das artes africanas. A arte Ifé é dotada de beleza e qualidade equiparada às obras clássicas gregas e as renascentistas italianas. Seus artistas expressam com requinte de detalhes seus reis, deuses, animais e também o cotidiano dos habitantes, inclusive com destaque às expressões pessoais e faciais: pessoas saudáveis, com doenças, com espanto, etc. Tais peças, feitas de latão, cobre, terracota, barro e bronze, demonstram não apenas o domínio sobre o metal, mas a capacidade artística de seus autores. As esculturas Ifé são concisas, serenas, equilibradas e elaboradas de modo impecável. Em paralelo, há que se destacar a arte ifé classificada como contemporânea, face ao seu estilo peculiar. Eram representações estilizadas de cabeças e feições humanas. Como o curso da história da áfrica, pouco se sabe sobre o surgimento e o desaparecimento da arte Ifé. Alguns historiadores preconceituosos chegam a atribuir a arte Ifé a algum artista romano, a um renascentista italiano, ou português que teria aparecido por aquelas bandas, como se negros africanos não tivessem capacidade para tal.

Em mais uma lenda para justificar o desaparecimento total da arte ifé, contase que os artistas que conspiraram com alguns cortesãos para esconder a morte de um oni muito querido, fizeram uma escultura com a imagem do falecido rei e a colocaram no trono. O príncipe descobriu a farsa e mandou decapitar todos artistas. O autor até acredita na possibilidade desta história. Outra versão antropológica propõe a hipótese de que os artistas foram mortos por inimigos que queriam pôr fim a Ifé e à memória de seu povo. O que apenas seria possível evitando que os famosos escultores sobrevivessem e continuassem a perpetuar a história, a crença e o povo de Ifé, através de sua arte.

O declínio Ifé entra em declínio manufatureiro e de entreposto mercantil, tarefas que passam a ser exercidas por oyó a partir do século XVI. Se antes oyó garantiu a unidade política e os interesses econômicos do reino de ifé, fornecendo-lhe ferro e mão de obra, agora era o motivo principal de sua derrocada. Com a chegada dos portugueses, o comércio com o sul teria novo impulso, graças às relações destes com as cidades do benim e de ijebu. Com a decadência de Ifé, até mesmo a supremacia do oni passou a ser abertamente contestada, face aos interesses político-econômicos de alguns obas de cidades vizinhas que ascendiam em importância. Para justificar a não submissão destes líderes descontes ao rei de ifé, desenvolveram-se algumas tradições a dizer que os obas descontentes não eram filhos, nem descendentes diretos de odudua, mas de um escravo deste. Estas teorias oportunistas não vingaram. Por assim ser, mesmo perdendo sua importância econômica, Ifé manteve seu predomínio como urbe sagrada e centro político-cultural da região. Até os dias de hoje, ilê ifé é a meca do culto aos orixás. O oni de ifé figura como principal liderança entre todos os reis do Iorubo, sendo considerado o pai de todos eles....


Similar Free PDFs