03 - Lopes, Carlos. A Pirâmide Invertida - historiografia africana feita por africanos. Actas do Colóquio Construção e ensino da história da África. Lisboa Linopazes, 1995 PDF

Title 03 - Lopes, Carlos. A Pirâmide Invertida - historiografia africana feita por africanos. Actas do Colóquio Construção e ensino da história da África. Lisboa Linopazes, 1995
Course História das Áfricas
Institution Universidade Federal de Ouro Preto
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Fichamento do texto A Pirâmide Invertida - historiografia africana feita por africanos....


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LOPES, Carlos. A Pirâmide Invertida – Historiografia Africana feita por Africanos INTRODUÇÃO O autor inicia o referido texto discorrendo sobre como a historiografia do continente Africano foi até aqui (o texto foi escrito em 1995) denominada por uma interpretação simplista e reducionista da complexidade efetiva que oferece. Nesse sentido, Carlos Lopes fará uma apresentação crítica dos argumentos avançados pelos três grandes momentos de interpretação da história da África, as três grandes historicidades. Entretanto, antes de adentrar nessa apresentação crítica, é necessário realizar uma pequena clarificação epistemológica. Desde sua génese, o “Africanismo” estabeleceu os parâmetros dos seus motivos e objetivos. Ao fazê-lo, acabou por confundir-se com o discurso Africano sobre o outrem, através de ideologias de alteridade como a negritude, personalidade negra, filosofia Africana, e outras, todas com uma influencia determinante no evoluir da historiografia Africana. Pensando essa questão, o autor ressalta que é importante não perder de vista o intuito e oportunidade dessa análise, ainda mais num momento em que os Historiadores estão cada vez mais próximos do poder (na África). Para o autor há uma interdependência entre a História e o domínio político e se faz necessário (e alguns autores já o fazem) uma releitura do que tem sido a evolução, quase darwinista, da historiografia Africana. “INFERIORIDADE AFRICANA” Nesse momento o autor vai tratar um pouco a questão da História da África, que durante muito tempo foi conhecida no Ocidente através do paradigma que Hegel descreveu, a inexistência do fato histórico antes da colonização. Este paradigma associa a presença europeia à dominação colonial, que de fato só pode ser factualmente demonstrada no ultimo quarto do século XIX. Confirma igualmente a marginalidade associada ao continente acerca de sua inserção na economia-mundo. Por mais que essas interpretações estejam ultrapassadas, no imaginário ocidental a África continua sendo vista por clichês que tem a sua origem nessa visão histórica. O autor vai falar sobre como o desconhecimento da História do continente está presente em qualquer significativa amostragem literária, tanto dentro quanto fora do continente e apensar de historiadores como Fernand Braudel tem pensado uma nova dinâmica de interpretação histórica pensando a presença do valor do trabalho e riqueza africanos, continua-se a imperar a marginalização da contribuição Africana. Carlos Lopes vai se indagar de onde surge a ideia de “inferioridade Africana”, remontando a bulas papais de 1452, que davam o direito aos Reis de Portugal de despojar e escravizar eternamente os Maometanos, pagãos e povos pretos em geral. A partir disso, surge a intervenção divina de que terra não cristianizada, ou que pertencia a não cristãos, era terra de ninguém. “No fundo, apenas mais uma aplicação da missão “Dominator Dominus” imposta a quem não era reconhecida existência política”. (pdf 2)

O autor vai tratar dos vários conhecimentos científicos, políticos, artísticos e culturais que floresceram na África, mas que foram e são desqualificados, com justificativas que associam tais saberes a portugueses, árabes, orientais, etc. Nesse sentido, em qualquer frente historiografia ainda está presente a luta desesperada pela reivindicação dos atos e do saber. A inferioridade Africana foi fortificada pela estrutura da colonização, com sua suposta dominação física, humana e espiritual. Esse ultimo aspecto é muito importante, tanto que os primeiros ecos protonacionalistas visam a reinvindicação da igualdade intelectual dos Africanos, regenerados em relação aos seus mentores europeus. Seguindo nesse sentido, o autor vai discorrer sobre como a estrutura colonial construiu dicotomias na sociedade Africana: tradicional versus moderno, oral versus escrito, direito consuetudinário versus administração. Esses dualismos estão muito presentes na interpretação corrente das sociedades Africanas. E a historiografia também vai sofrer com eles. O olhar sobre a África enche-se de simbolismo da inferioridade, com uma recusa da alteridade e a necessidade de civilizar o Africano, modelando-o ao que é considerado superior. A inerência da alteridade é recusada até no plano físico, sendo quase perceptível a interpretação de que o superior acabará por se impor ao inferior, até no plano da aparência física. Essa corrente da inferioridade continua a dominar uma larga parte da historiografia sobre África feita por não africanos. Para o autor é preciso desmistificar a Africanidade, reduzindo-a a um fenômeno, e retirando-lhe a carga mítica. “O argumento de Ki-Zerbo era, pois, o de afirmar que a África também tem uma História”. (pdf 3) “SUPERIORIDADE AFRICANA” A ideia e a vontade de balançar o pêndulo da História, o que o autor chama de corrente da pirâmide invertida. Trata-se da ideia de sobrevalorizar o argumento do também temos em vez de apenas temos História. A partir disso, o autor vai fazer algo que “perceptivelmente aparecerá como uma crítica” aos autores (Ki-Zerbo, A. Ajayi, B. Ogot, T. Obenga, Tamsir Niane e Cheick Anta Diop) desse pensamento, porém ele ressalta a importância que os mesmos tiveram para a abordagem da História Africana. O livro “História da África Negra”, de Ki-Zerbo, publicada nos anos 70, apresentava-se como a primeira tentativa individual Africana de escrever sobre toda a História da África subsaariana. Tentativa que foi bastante chocante para alguns por vários motivos, como o subtítulo da obra: “De ontem ao amanhã”. A historicidade proposta por Ki-Zerbo anunciava, pensava ele, um futuro novo para a alteridade continental. A heresia de fazer a História do amanhã passou a fazer parte do imaginário desta corrente. Os historiadores dessa corrente, na busca de uma historicidade reconhecida,

comparavam-se os feitos históricos Africanos ao que de melhor se considerava ter sido produzido por outras regiões no mundo. Ainda pensando essa corrente historiográfica, a mesma buscava escrever a História dos povos da África longe do binómio colonizador-colonizado, afastando-se da historiografia colonial, exceto quando esta fornecia argumentos favoráveis à superioridade Africana. É a História das interações e dos oprimidos, mas também de uma harmoniosa sociedade pré-colonial. Trata-se de uma História que vai se concentrar nas mudanças sociais, na contribuição Africana, na resistência ao colonialismo e no conceito de iniciativa local. O desafio da arqueologia que nos permitiria dar ou não razão à escola da pirâmide invertida continua intacto. O que se sabe hoje da arqueologia Africana continua a ser insuficiente para opinar noutros termos que especulativos sobre um número considerável de reinvindicações polémicas. E na ausência de evidencia continua aqui e ali presente esta historicidade vinda da inversão da pirâmide. O colossal esforço da “História Geral de África” (obra feita com apoio da UNESCO que se apresenta como “uma verdadeira História” do continente) acabou por simbolizar ao mesmo tempo a afirmação da pirâmide invertida e o nascimento dos novos Historiadores Africanos, libertos da necessidade de impor uma superioridade Africana. Em suma, o pêndulo da História ajustando-se mais uma vez. “Os Historiadores da pirâmide invertida conseguiram a vitória de promover a realização, com patrocínio da UNESCO, de uma História Geral da África, apresentada como “uma verdadeira História”, do continente, objetiva, honesta, rigorosa, antidogmática e, sobretudo, com uma visão endógene, confirmada pela presença importante de Africanos na sua elaboração.” P. 28 “O colossal esforço da “História Geral da África” acabou por simbolizar ao mesmo tempo a afirmação da pirâmide invertida e o nascimento dos novos Historiadores Africanos, libertos da necessidade de impor uma superioridade Africana. Em suma, o pêndulo da História ajustando-se uma vez mais”. P. 28 HISTORICIDADES IDEOLOGIZADAS

COMPLEXAS

FACE

A

HISTORIOGRAFIAS

“O produto historiográfico não tem nenhuma independência ou autonomia. Depende inteiramente do momento e ideologia que influenciam a sua concepção. O que dizemos hoje é revisão de anteriores visões, para ser necessariamente revisto amanhã”. (pdf 4) O autor coloca “o ainda poder buscar a complexidade das suas historicidades” como uma riqueza do continente Africano. Num tal cenário (sociedade atual) instalou-se de novo a dúvida no futuro, considerando incapaz de explicar o presente, quanto mais o passado. Por isso, para aqueles que acreditaram na premissa de Tocqueville (sempre que o passado não nos ajuda a perceber o futuro a mente humana fica demente) chegamos ao fim da História.

Para a historiografia Africana esses debates são importantes, porque parcialmente explicam a evolução das várias escolas de pensamento. Surge agora uma “nova escola” de Historiadores Africanos despojados das cargas emocionais dos seus predecessores e igualmente preocupados com a previsão. Alguns deles encontrando mesmo dificuldades acrescidas, como referidas, em serem apenas Historiadores. EMOÇÕES CONTROLADAS Como diz Hertog, o grito de Fukuyama sobre o fim da História tem de novo o fato de, embora não original, introduzir pela primeira vez a imprevisibilidade. Não se podendo muito bem prever o futuro, hesitando em descrever o passado recente e querendo quase apagar largas porções do passado remoto são indicações de desconforto que exigem uma reinterpretação histórica. Certamente no leste europeu, porque ajudar-nos-á a perceber a nossa própria História, dirão os Historiadores ocidentais. A lógica é igualmente aplicável para a História de África, dirão os novos Historiadores Africanos. E para o diabo a predição de Fukuyama....


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