Análise do filme Carandiru PDF

Title Análise do filme Carandiru
Course Sociologia e antropologia
Institution Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
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Summary

A superlotação dos presídios brasileiros é uma das imagens mais marcantes que o filme Carandiru passa pra população extramuros e gera um consenso de que tal fato é um problema grave a ser resolvido. Diante de tal situação a indagação de Luiz A. Paixão (1991), sobre recuperar ou punir atinge o âmago ...


Description

Rafael Junio Xavier Análise do filme Carandiru a partir das aulas. A superlotação dos presídios brasileiros é uma das imagens mais marcantes que o filme Carandiru passa pra população extramuros e gera um consenso de que tal fato é um problema grave a ser resolvido. Diante de tal situação a indagação de Luiz A. Paixão (1991), sobre recuperar ou punir atinge o âmago do sistema penitenciário, pois, qual seria a finalidade do encarceramento em massa? O que vimos no filme Carandiru é que o sistema prisional ocupa-se, quase, exclusivamente em punir sua clientela, seja pela própria superlotação ou das relações, muitas vezes perversas, que se formam dentro da penitenciária, sejam elas entre os próprios presos ou entre os agentes e os presos. A perda da liberdade, os abusos sexuais, a violência física e psicológica, as condições insalubres de vida, são alguns pontos que marcam a constante punição sofrida pela sociedade dos cativos. A cena em que um dos internos se nega a praticar sexo consensual e afirma ser portador do vírus HIV e por esse motivo é estuprado explicita essa atmosfera de constantes abusos sexuais. O próprio assassinato ou suicídio do estuprador por enforcamento marca tal espaço como sendo permeado por uma constante ameaça e violência. Edmundo Campos Coelho (2005), destaca que umas das gritantes contradições das prisões é querer ressocializar um indivíduo retirando-o do meio social mais amplo e ao mesmo tempo desejando que se torne menos violento colocando-o num ambiente de extrema violência, como relatado acima. A prisão é formada com base em diversas regras e procedimentos que deveriam ser seguidas por todos, mas a prisão não é organizada somente por estas formalidades, apesar das tentativas, pois assim como pode ser visto no filme, os presos dispõe das próprias regras de convivência. Renan Springer de Freitas (1985) fala em uma “normalidade” que é a aceitação de certas regras acordadas previamente entre os presos e os carcereiros. Renan identifica três principais características de negociações nas prisões, que são os limites hierárquicos e de moralidade, níveis de tolerância para transgressões e níveis de interdependência. No filme todos estes aspectos ficam evidentes, um dos diversos exemplo é como a própria direção da penitenciária entende algumas dessas regras dos presos e tenta resolver os conflitos respeitando elas, pois, como também ficou evidenciado no filme, a própria direção já tinha a noção de que a cadeia são dos presos e ela só não virava porque os detentos não queriam que ela virasse. Ainda nas regras tácitas criadas entre os presos, José Ricardo Ramalho (2002) fala sobre o juiz de xadrez, este é um preso que atua como mediar de conflitos e até mesmo determinando algumas ações de outros presos. No filme, há duas cenas que exemplifica o

papel deste preso, primeiro quando há a tentativa de vingança de um preso que encontrou o assassino do seu pai na prisão e no segundo caso quando um preso que vendia drogas, sentindo-se lesado, por não ter recebido um valor referente a venda de seu produto de um outro preso, pede permissão ao juiz de xadrez para matá-lo, este o aconselha a esperar um pouco mais e cobrar sua dívida, caso não receba, está autorizado a executar seu devedor. Outro ponto destacado por Ramalho (2002) é o fazer parte da massa do crime, isto é, ser alguém com carreira na vida do crime ou simplesmente está preso por um crime cometido esporadicamente. A cena em que o médico Dráuzio Varella pergunta a um detento porque ele está preso, um outro preso, já conhecido deste, responde, fazendo referência ao interrogado “Deusdete não é do crime”, na tentativa de afirmar que foi somente um deslize, portanto, não tinha carreira no crime, segundo Ramalho (2002), nem todos “pertencem à massa”. A constante violência sofrida pelos detentos também destacada por Ramalho (2002) é a cela solitária, isto é, um lugar exclusivo pra punição. O filme demonstra isto quando um dos presos é colocado na solitária, um quarto pequeno, sem luz e pouco arejado, um local que degrada a pessoa física e psicologicamente, o que é demonstrado em sua saída, onde mal conseguia andar, ou seja, o papel vai além de isolar um preso dos demais detentos, é o extremo das privações de quase todos os direitos que um preso tem. O filme tenta mostrar o lado humano dos presos e como a prisão, como mostrado pelo filme e comprovado pelo estudo de diversos autores que a penitenciaria, através das suas diversas faces, consegue desumanizar totalmente aqueles ali presentes com um clima de medo e violência constantes, que chega no seu ápice com a entrada da polícia para “controlar a rebelião” que acaba resultando em um massacre....


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