Análise do filme Experimento de Stamford PDF

Title Análise do filme Experimento de Stamford
Course PSICOLOGIA SOCIAL
Institution Universidade Estadual do Ceará
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Análise do filme Experimento de Stamford e suas relações com a psicologia das massas....


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ANÁLISE DO FILME O EXPERIMENTO DE APRISIONAMENTO DE STANFORD Disciplina: Psicologia Social O filme O Experimento de Aprisionamento de Stanford (ou The Stanford Prison Experiment, no título original em inglês) de 2015, dirigido por Kyle Patrick Alvarez, é uma adaptação cinematográfica de um experimento real conduzido pelo psicólogo e professor da Universidade de Stanford, Dr. Philip Zimbardo, no ano de 1971, que consistia em simular uma prisão dentro do ambiente universitário, para isso, Zimbardo recrutou 24 voluntários dispostos a participar do experimento pelo período inicial de duas semanas, esses voluntários foram divididos igualmente em dois grupos, o dos prisioneiros e o dos guardas. Ambos os grupos possuíam caracterização completa e própria que os distinguia, os prisioneiros passaram a vestir uma espécie de manta e uma touca que simulava o cabelo raspado dos prisioneiros reais, além de passarem a responder por um número de identificação e não mais por seus nomes, já os guardas dispunham de farda e cassetete. Inicialmente, foram dadas instruções aos guardas de que não utilizassem violência física, mas que fizessem o necessário para deixar os prisioneiros desconfortáveis, com tédio, acuados, e que mostrassem o poder do sistema sobre eles, o que se sucedeu, porém, acabou fugindo desse roteiro original. Antes de partir para uma análise mais minuciosa do filme e do experimento, vale ressaltar que nenhum dos voluntários apresentava qualquer traço psicótico ou pervertido, muito pelo contrário, um dos requisitos para escolha dos voluntários era justamente não apresentar qualquer distúrbio psicológico, porém, o que se constatou após o começo da experiência foi uma sequência de atos que não pareciam condizer com a conduta apresentada pelos indivíduos selecionados para o experimento. A partir dessa constatação, fica fácil traçarmos um paralelo com uma ideia inicial apresentada por Le Bon e reforçado por Freud em seu livro Psicologia das Massas e Análise do Eu, o conceito de alma coletiva, segundo os autores, essa alma coletiva seria formada a partir de um agrupamento de pessoas em uma massa, e fazer parte dessa alma faz com que o sujeito sinta, pense e aja de maneira diferente da usual, ou seja, o sujeito dentro de uma massa apresenta comportamentos que, em outro contexto, nunca seriam realizados pelo mesmo. No caso do filme, também fica claro o processo de extrapolação negativa da

conduta ética do grupo formado pelos guardas, que passam a agir com violência e autoritarismo contra os prisioneiros, impondo regras questionáveis e punindo aqueles que a desobedeciam jogando-os em uma sala minúscula que simulava uma solitária de presídios convencionais, inclusive, no final do filme, onde são reproduzidos os relatos dos voluntários, o guarda que se mostrou mais autoritário e violento e que, inicialmente, influenciou os demais a seguirem esse tipo de conduta, relata que o seu próprio comportamento o assustou, além do fato de ninguém ter feito nada para detê-lo. Como dito, é possível perceber que a maioria dos atos mais autoritários e violentos dos guardas partem de um voluntário em especifico, e apesar de os outros chegarem muitas vezes a hesitar, acabam cedendo e se deixando contagiar pela truculência e violência do companheiro de grupo. Freud e Le Bon já previam isso quando afirmam que o indivíduo inserido em uma massa se torna altamente suscetível a ser contagiado por sentimentos e atos, logo, apesar de muitas vezes esses indivíduos hesitarem em cometer atos tidos como errados pela conduta ética individual deles, eles acabam soterrando seus próprios princípios morais em prol da massa. O heterogêneo é engolido pelo homogêneo. McDougall afirma que, na massa, boa parte da individualidade e senso de responsabilidade do indivíduo com relação a seus atos é dissolvido, o indivíduo tende a agir de acordo com a massa, como que num efeito manada, passando por cima do seu próprio conceito de certo e errado. Além disso, ainda partindo dessa análise específica do grupo dos guardas, também é possível identificar outra característica das massas apontada pelos autores, o sentimento de poder ilimitado, invencível, esses voluntários, que não apresentavam qualquer conduta socialmente inaceitável, passam a se utilizar de violência, autoritarismo e truculência, a partir do momento que são reunidos nessa massa que se percebe em posição de autoridade em relação a outra. Da mesma maneira, podemos tomar o grupo dos prisioneiros para analisar algumas características das massas presentes na obra de Freud; o grupo dos prisioneiros, inicialmente, se mostra como um grupo desorganizado, sem uma figura de líder, e assume para si uma posição de oprimida em contraponto a posição de autoridade dos guardas, isso pode ser atribuído, dentre outras coisas, ao instinto gregário do ser humano, que faz com que o homem busque se manter inserido em um grupo, quando em um grupo não organizado, como era o caso dos prisioneiros,

os indivíduos tendem a ter pouca ou nenhuma autonomia e iniciativa, agindo de forma condizente aos outros integrantes da massa, porém, num dado momento do filme, o prisioneiro 8612 (interpretado magistralmente pelo ator Ezra Miller) passa a ter uma conduta que vai de encontro a de seus companheiros, passando a questionar a autoridade dos guardas e os seus métodos violentos, ele começa a adquirir um certo prestígio dentro do grupo de prisioneiros, e a emergir como um líder dessa massa, a partir do momento que surge um processo de identificação dos indivíduos para com ele. Para a psicanálise, esse processo se dá a partir de uma identificação inicial de características e ideais em comum com as dos indivíduos, nesse caso, fica claro que o prisioneiro 8612 surge como um porta-bandeira da insatisfação e do incomodo dos membros do seu grupo, dada essa identificação inicial dos indivíduos com ele, e um crescente prestígio, que ele vai adquirindo por meio de suas ações de rebeldia e de enfretamento aos guardas - prestígio esse do tipo pessoal segundo Le Bon, vale ressaltar - os sujeitos passam a enxergá-lo como um líder e a introjetá-lo como figura de ideal do seu Eu, passando a agir de acordo com seus atos. Isso é facilmente notado quando outros prisioneiros, antes passivos aos abusos dos guardas, passam a se rebelar contra eles, chegando, inclusive, a ensaiar uma rebelião. Após todos esses acontecimentos em apenas 6 dias, o professor Zimbardo percebeu que estava perdendo o controle do seu experimento e resolveu dá-lo por encerrado 8 dias antes do previsto. Desde isso, ele criou a teoria chamada efeito Lúcifer, que seria esse fenômeno capaz de transformar pessoas ditas normais e boas pela sociedade em sujeitos transgressores, violentos e, por vezes, sádicos. Porém, como vimos, esse fenômeno já havia sido discutido muito antes por outros autores como Le Bon, McDougall, dentre outros, que se encontram em Freud, que através da sua obra Psicologia das Massas e Análise do Eu, vai trazer uma releitura e aprofundamento psicanalítico a esses estudos anteriores, discutindo essa questão enigmática das diferenças de comportamento do ser humano quando inserido em um grupo, trazendo a luz de conceitos como a identificação, tida como essencial na escolha de um líder e no relacionamento entre os indivíduos do grupo, além do conceito de ligação libidinal, tido por Freud como o fator primordial para manter um grupo unido, dentre outras abordagens psicanalíticas. Por fim, o experimento de aprisionamento de Stanford mostra o quanto o comportamento humano é mutável e

imprevisível, e o quanto nosso conceito de certo e errado, de bom e mau, que muitas vezes tende ao binarismo, possui diversas outras vertentes e variáveis que extrapolam essas duas caixinhas na qual tentamos a todo custo encaixá-los.

REFERÊNCIAS FILMOW. Ficha técnica completa - O Experimento de Aprisionamento de Stanford. Disponível em: Acesso em: 19 de setembro de 2017 FREUD, Sigmund. Psicologia das massas e análise do eu e outros textos (1920-1923). São Paulo: Companhia das Letras, 2011. 352 p....


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