Anotações da aula sobre geografia agrária e consciencia negra PDF

Title Anotações da aula sobre geografia agrária e consciencia negra
Course Geografia Ágrária
Institution Universidade Federal do Pampa
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Summary

Anotações da aula de Geografia Ágrária com a participação dos doutorando em Geografia Josy Dayanny e Lucas, o enfoque foi dado na relação com a posse da terra e a lei de terras de 1850 com a negação de inclusão social das populações negras e pobres no Brasil e o debate sobre o Dia da Consciência Neg...


Description

Diário de Inquietações 20/11/2020 O tema “Questão Agrária e Dia da Consciência Negra na aula de Geografia Agrária do dia 20 de novembro me possibilitou entender algumas características próprias (através da ótica étnico-racial) da marginalização e negação da inclusão social da maior parcela da população desse país. As exposições de Josy, Lucas e da professora Maria Geralda ao meu ponto de vista foram muito produtivas e conscientizadoras da relação da questão agrária com o Dia da Consciência Negra. Foi através da impossibilidade de acesso à propriedade privada e da negação de sua posse pelo direito ancestral que a população negra, afrodescendente, feminina, quilombola e indígena se encontra em situação de vulnerabilidade social nos dias de hoje. No documentário “As guerras de palmares”, transpondo seu enfoque histórico e pensando em uma leitura geográfica, assim como Josy propôs com as categorias de migração, trabalho e diferenciação dos processos escravistas na África e no Brasil, penso em uma análise da espacialização dos quilombos enquanto refúgio de pessoas escravizadas no Brasil (diferente do significado de quilombo em Angola) no passado e no presente como forma de entender seu surgimento e suas relações econômicos, educacionais e políticas internamente e com o restante da sociedade no hoje. As comunidades quilombolas restantes no Brasil se encontram onde? Como se organizam? Elas têm posse das terras em que vivem pelo direito ancestral? E principalmente, por que ainda existem? São perguntas retóricas a mim mesmo... Sei da existência de uma comunidade quilombola na zona rural do município de Silvânia, não conheço nada sobre como se sucedem os acontecimentos em seu interior, mas nas relações com a comunidade externa não quilombola, sempre notei que na narrativa popular são entendidos como um povo obscuro, “macumbeiro”, pobre socioeconomicamente pela baixa capacidade mental e por ai vai... Isso tem vários nomes; preconceito, racismo institucional e velado, discriminação, subalternização e outros. Muito do racismo contra quilombolas e qualquer pessoa de pele negra tem origem no entendimento de que são originários da África, e esse é um debate geográfico. Então, o continente africano é entendido como inferior aos demais, assim como Carl Ritter propôs, de forma determinista, que os fatos naturais de cada continente geram ou não seu desenvolvimento, os elementos físicos eram entendidos

como expressão de uma finalidade divina e isso justificava o entendimento de que a África sempre seria pobre e a Europa seria rica, podendo até mesmo explorar as demais localidades do globo porque era dotada de recursos “divinos” no aspecto social, como embarcações que realizassem viagem marinhas (CAPEL, 1983). Esse é então, o uso da religião, mesmo que sem a forma de doutrina, como artifício na geração do racismo. Resgatando o entendimento da África como inferior aos demais continentes, indico também que essa é uma questão de quem conta a história, existe uma falta de alcance e atenção à compreensão dos saberes ancestrais e da própria ciência feita por africanos. A África é constituída por grande variedade linguística, cultural e de riquezas naturais que são todas exploradas e apropriadas por países do chamado primeiro mundo e por religiões como o protestantismo cristão que incorpora elementos de religiões de matriz africana e ainda assim continua a estereotipar as diferentes religiões advindas desse continente (CUNHA, 2014). Faço essa fala sobre a África porque compactuo com a ideia de Lucas de que é preciso estudar a África nas escolas. Falando em educação básica e indo em direção a outra fala de Lucas sobre o dia 20 de novembro não ser um dia comemorativo, apelo que o dia da consciência negra precisa deixar de ser tratado com misticismo e superficialidade na educação básica, muitas vezes são nesses momentos em que se reforçam estereótipos que contribuem para a exclusão social desses grupos, e a educação como formadora de cidadãos atuantes não apenas no futuro, mas imediatamente após o ato de serem educados, é muito potente para a obliteração do racismo e abertura para a possibilidade de uma reforma agrária que reconheça a dívida histórica e geográfica (no sentido de acesso a terra) aos povos negros e pobres no todo. Não poderia deixar de falar do caso do assassinato de um homem negro em uma unidade do Carrefour em Porto Alegre. Entendo que esse é um reflexo da impunidade neste país quando se trata de grandes nomes do aspecto monetário, pois não é a primeira vez que ocorre tal ato nesta empresa ou desta linhagem em outras ocasiões, como é o exemplo da violência policial também. As leis no Brasil como se sabe, são muitas, mas os interesses financeiros e políticos se sobressaem. Por isso o Carrefour, a Syngenta, a Vale, os bancos e os políticos não pagam pela corrupção, pelos crimes ambientais, pela sonegação de impostos e pela compactação ao racismo que fazem.

A fala do presidente Bolsonaro sobre o caso só reforça sua monstruosidade e a predileção ao conservadorismo do capital, ao condenar a revolta e não o racismo ele exemplifica mais uma vez a culpabilização da vítima e não a responsabilização do agressor. Apoio o quebra-quebra que está acontecendo nas unidades do Carrefour e qualquer outra instituição/empresa que desrespeite e não cumpra seu papel social corretamente para a população, porque o pobre não fala com o rico através de diplomacia e sim da revolta. A história prova que foram através das revoltas populares que as revoluções foram feitas, e, quando certas pessoas querem passar a ideia de que o único instrumento eficaz de manifestação da desaprovação da sociedade sobre determinado acontecimento é ilegítimo fica evidente a intenção de não punir os culpados como se deve. Não podemos mais cair em ideias fantasiosos. Paz entre nós e guerra aos senhores. Referências CAPEL, Horacio et al. Filosofía y ciencia en la geografía contemporânea: Finalismo y determinismo em Ritter. Barcelona: Barcanova, p. 57-64, 1983. Acesso em 20 nov 2020. Disponível em: https://pt.slideshare.net/Demetrio33/horacio-capel-filosofia-y-ciencia-en-lageografia-contemporanea CUNHA, Luiz Antônio. A laicidade em disputa: religião, moral e civismo na educação brasileira. Revista Teias, v. 15, n. 36, p. 21, 2014. Acesso em 21 nov 2020. Disponível em https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistateias/article/view/24381...


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