Aula 1 - As principais características da modernidade a razão como origem do conhecimento PDF

Title Aula 1 - As principais características da modernidade a razão como origem do conhecimento
Course Filosofia
Institution Universidade de Itaúna
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O pensamento filosófico moderno: do século XIV ao século XVI As principais características da modernidade: a razão como origem do conhecimento. Lúcio Aparecido Moreira Como vimos anteriormente, o pensamento medieval consagrou uma forma de pensar e agir na Europa Ocidental, que foi disseminada pelo restante do mundo. Este formato seguiu, pari passu, as orientações daqueles que respondiam pelo parâmetro daquilo que era considerado verdadeiro e correto para aquela época. Portanto, baseou-se na verdade contida naquele tempo e espaço, ou seja, numa época que prevalecia como verdade aceita o que era estabelecido pela razão e pela teologia. Essas, combinadas, resultaram na visão de mundo teocêntrica. Esse Teocentrismo (do grego θεóς, theos, "Deus"; e κέντρον, kentron, "centro") é a filosofia ou doutrina que considera Deus o fundamento de toda a ordem no mundo. Sua base filosófica está alicerçada na Filosofia de Agostinho de Hipona (o Neoplatonismo) e na Filosofia de Tomás de Aquino (o Neoaristotelismo, também conhecido como tomismo). Nesta visão, o significado e o valor das ações feitas às pessoas e tudo mais são atribuídas a Deus. Portanto, a Idade Média pode ser denominada teocêntrica porque todas as suas ideias giravam em torno de Deus. Para clarear melhor, acompanhe o esquema abaixo:

Explicação: Na Idade Média, todos os acontecimentos eram justificados através da Visão de Mundo Teocêntrica. Tudo que acontecia envolvendo o homem e

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o meio, o homem e a natureza, o homem e o cosmo, o homem e o universo era fundamentado em Deus. Ou seja, existe um Ser superior que ordena e governa tudo neste mundo. Para que isso acontecesse, na prática, era necessário alguém que intermediasse. Coube à Igreja essa tarefa de mediar este Verticalismo Medieval. Após a virada do primeiro milênio, muitas questões emergiram questionando a forma teocêntrica de explicar as coisas. Suscitaram se não existiriam outras maneiras para explicar os fenômenos. Ademais, não podemos nos esquecer do dinamismo da vida social, de suas metamorfoses que necessitam de formas diferentes e distintas em seu tempo e espaço. Agregadas às demandas socia is havia, também, as políticas e as econômicas. Todas necessitavam de novas formas explicacionais. Além disso, o modelo de ciência defendido pelo pensamento medieval não atendia às aspirações dos novos cientistas emergentes. Daí surgiu um dilema: como solucionar essas demandas? Muitos intelectuais debruçaram-se sobre essa questão central. Fato é que a forma teocêntrica não atendia mais. Um desses intelectuais foi Francesco Petrarca (1304-1374), filólogo e escritor, considerado como o "pai do Humanismo".1 Tornou-se, juntamente com Dante Alighieri e Giovanni Boccaccio, um dos mais famosos intelectuais do universo humanista, participando ativamente da primeira fase da renascença italiana. Em seus estudos, Petrarca, na busca por respostas, afirmou que a Idade Média foi um período obscuro, numa clara demonstração de que o referido período obscureceu a razão humana. Assim, aos poucos, o longo período de cerca de dez séculos passou a ser considerado mero tempo intermediário, uma Idade Média isolada, grosseira, onde nada de útil havia acontecido, que separou o áureo renascimento da gloriosa antiguidade. É claro que muitos analistas exageram ao transformá-la num verdadeiro preconceito para com a Idade Média, sendo essa cercada por estigmas; virando, para esses, sinônimo de escuridão: a Idade das Trevas. Diferentemente dessa postura preconceituosa, aos olhos dos estudiosos da Filosofia, percebem-se claramente as contribuições da Filosofia medieval. Tais estigmas perduraram por bastante tempo. Porém, graças ao trabalho de vários historiadores e filósofos, sobremodo a partir do século XIX, hoje podemos abordar a

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Bishop, Morris (1961). Petrarch. J. H. Plumb (Ed.), Renaissance Profiles, pp. 1 –17. Nova Iorque: Harper & Row. ISBN 0-06-131162-6 .

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Idade Média com uma perspectiva mais interessante. Ressalte-se, a nova abordagem não quer dizer proselitismo medieval. Não há uma “defesa da Idade Média”. Apenas , vale enfatizar que bem mais existiu ali, além do obscurantismo. Por exemplo, foi nessa época que boa parte da Filosofia, como a de Aristóteles, foi encontrada e recuperada. Porém, essa não mais atendia aos anseios do novo tempo: a modernidade. Afinal, o que se entende por modernidade? A primeira questão que vale a pena tratarmos é que se tornou comum escutarmos ou nos referirmos à nossa realidade como moderna. O termo já é tão naturalizado em nossa língua que passou a ter o mesmo contexto de contemporâneo – como o que coexiste em um mesmo período de tempo. Mas, você entende o que é ou a que nos referimos quando tratamos de modernidade? Para tentar responder, recorrere mos à periodização histórica . De acordo com a visão clássica e tradicional, a divisão da história da humanidade é feita em quatro grandes períodos, também chamados de Idades. São eles:

Fonte: https://www.todamateria.com.br/divisao-da-historia/ De acordo com o quadro demonstrativo acima, a modernidade é o período que tem início em 1453 e vai até o ano de 1789, data da Revolução Francesa . Porém, necessitamos analisar mais criticamente a periodização acima. Ao analisar a obra Crítica da Modernidade, de Touraine, Fagúndez afirma que este:

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Tem como preocupação central a construção do grande projeto histórico da modernidade, destacando os seus aspectos positivos e negativos. Houve, sem dúvida, um grande avanço. A humanidade passou de uma sociedade tradicional, alicerçada na fé absurda e na tradição, para uma sociedade regida pela racionalidade. A importância da análise reside no fato de que ainda as sociedades ocidentais se organizam à luz da racionalidade .2

Esse foi o viés que Petrarca empreendeu em seus estudos, afirmando que deveria retornar aos clássicos, já que a sociedade moderna necessitava de toda experiência histórica para se consolidar. Por isso uma característica da modernidade foi o classicismo, entendido como: doutrina ou tendência (estética, literária, artística, teatral, filosófica etc.) que se funda no respeito da tradição clássica e que tem como características os ideais da Antiguidade greco-latina e, ainda, a noção das proporções, o gosto das composições equilibradas, a busca da harmonia das formas e a idealização da realidade. (Dicionário Houaiss)

Portanto, os intelectuais do referido período releram os clássicos présocráticos e socráticos, buscando a inspiração para as mudanças necessárias. Deram, como os gregos o fizeram, uma centralização no homem, como sendo dotado e capaz de responder racionalmente às demandas de seu tempo. Daí, surge uma outra característica da modernidade, o humanismo, que significa: conjunto de doutrinas fundamentadas de maneira precípua nos interesses, potencialidades e faculdades do ser humano, sublinhando sua capacidade para a criação e transformação da realidade natural e social, e seu livrearbítrio diante de pretensos poderes transcendentes, ou de condicionamentos naturais e históricos; vasta formação cultural que abrange o conhecimento das obras clássicas e o saber científico”. Dicionário Houaiss)

A modernidade torna-se centrada no homem. Esse visto como dotado de potência para solucionar os grandes desafios da época com aquilo que possuía de mais virtuoso, a RAZÃO. Daí, ser o racionalismo, mais uma característica do período moderno, entendido como: qualquer doutrina que privilegia a razão como meio de conhecimento e explicação da realidade; conjunto de teorias filosóficas (eleatismo, platonismo, cartesianismo etc.) fundamentadas na suposição de que a investigação da verdade, conduzida pelo pensamento puro, ultrapassa em grande medida os dados imediatos oferecidos pelos sentidos e pela experiência”. (Dicionário Houaiss)

2 FAGÚNDEZ. Paulo Roney Ávila. O significado da modernidade. Disponível em >http://tjsc25.tjsc.jus.br/academia/arquivos/significado_modernidade_paulo_fagundez.pdf< Acesso em 18 de fev. de 2018.

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Uma das características do medievo foi considerar a unidade do homem, ou seja, que todos fazemos parte da humanidade como uma grande coletividade, proveniente do mesmo ser: Deus. Assim, existe um Criador e toda a humanidade é criatura, formando uma grande irmandade. Essa tese, porém, foi criticada, propondo, ao contrário, o individualismo, outra característica da modernidade. Essa constitui como “doutrina moral, econômica ou política que valoriza a autonomia individual na busca da liberdade e satisfação das inclinações naturais”. (Dicionário Houaiss) Outra dimensão inserida na modernidade foi o materialismo, entendido como sendo a “doutrina que identifica, na matéria e em seu movimento, a realidade fundamental do universo, com a capacidade de explicação para todos os fenômenos naturais, sociais e mentais”. (Dicionário Houaiss) O homem moderno, além disso, se sentia mais atraído pelas novidades de seu tempo. Novidades que lhe proporcionaria maior satisfação. Diferentemente da ideia teocêntrica em que o homem deveria valorizar as coisas celestiais – de origem divina – o homem moderno buscou mais as coisas do mundo material, principalmente aquelas que lhe proporcionasse mais e maior prazer. Daí, temos outra característica da modernidade, o Hedonismo, que significa: cada uma das doutrinas que concordam na determinação do prazer como o bem supremo, finalidade e fundamento da vida moral, embora se afastem no momento de explicitar o conteúdo e as características da plena fruição, assim como os meios para obtê-la. (Dicionário Houaiss)

A partir de então, o homem buscaria, contrariamente aos preceitos medievais, a valorização dos prazeres terrenos. Prazeres que deveriam ser vividos aqui já neste mundo. Prazeres de toda natureza, por exemplo, o prazer pela busca do novo: de conhecer. Por isso, podemos inserir o conhecimento entre os desejos do homem-novo, que buscava intensamente conhecer acerca das coisas. Lembrando aqui que o conhecimento, durante séculos, ficou reservado a um grupo: o clero. Após esse período, outros que pertenciam a grupos diversos, passaram a buscar o conhecimento como caminho para transformar-se e transformar tudo ao seu redor. Foi dentro desse contexto, que surgiu a Laicização da Cultura, que significa “tornar laico, subtrair à influência religiosa; dar caráter, estatuto laico, não confessional a (instituição governamental, administrativa); laicificar”. (Dicionário Houaiss) Apresentadas algumas características da modernidade podemos afirmar que ela está totalmente explicada? É claro que não. Vale aqui ressaltar que não se pode considerar que há uma modernidade simples. Ela é complexa, constitui-se, em

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verdade, numa busca permanente de significado da própria existência humana. Trata-se de uma busca que não terminou. Daí, falar-se em pós-modernidade como sua continuidade. Modernidade, que foi a inauguração de um grande projeto de homem individualmente responsável pela sua vida, pelo destino da sua humanidade. Isso posto, a nova visão de mundo cunhada na modernidade: a Visão Antropocêntrica. Observe o esquema ilustrativo abaixo:

Explicação: Na Idade Moderna, portanto, todos os acontecimentos eram justificados através da Visão de Mundo Antropocêntrica. Tudo que acontecia envolvendo o homem e o meio, o homem e a natureza, o homem e o cosmo, o homem e o universo deveria ser explicado pelo próprio homem. Ou seja, o homem era dotado de inteligência/razão capaz de explicar absolutamente todos os fenômenos existentes, inclusive os transcendentais. Por isso, abandona-se o verticalismo medieval, passando a vigorar, a partir da modernidade, o Horizontalismo Moderno.

Leitura Complementar SILVA, Raul Cardoso Gomes da. A corrupção política e o hedonismo moderno. Disponível em: > http://www.catolicadefortaleza.edu.br/wpcontent/uploads/2017/05/Raul-Cardoso-Hedonismo.pdf< Acesso em 19 de fev. de 2018....


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