Ensaio Os Templários PDF

Title Ensaio Os Templários
Author Sérgio Coelho
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Summary

Prancha Os Templários non nobis domine non nobis sed nomini tuo da gloriam Abordagem táctica A Ordem Monástico-Militar dos Pobres Cavaleiros do Santo Sepulcro e do Templo de Salomão, ou na sua forma universalmente reconhecida - Cavaleiros Templários - surgiu a partir da necessidade da proteção dos r...


Description

Prancha Os Templários non nobis domine non nobis sed nomini tuo da gloriam Abordagem táctica A Ordem Monástico-Militar dos Pobres Cavaleiros do Santo Sepulcro e do Templo de Salomão, ou na sua forma universalmente reconhecida - Cavaleiros Templários - surgiu a partir da necessidade da proteção dos recém-criados Estados Latinos na Terra Santa após a Primeira Cruzada (1095-99). Foram a primeira experiência efetiva de monges-guerreiros, baseados na forma mais comum de combater na Europa Ocidental e nos modelos trasladados para os Estados Latinos de Jerusálem, a cavalaria pesada. Era herdeira da tradição tardo romana dos clibanárii e dos catafractii. Esta por sua vez era uma mistura de modelos orientais bizantinos e sassânidas, a que se juntaram as levas das milícias foederatii góticas e o que restava dos antigos exércitos romanos. Na realidade a constituição da Ordem de Cavalaria Templária representou um choque frente à sociedade feudal pós carolíngia e pós otoniana, em que uma ordem religiosa abandona o hábito de burel, tem a escusa papal para poder derramar sangue e vai envergar o tipíco elmo com nasal, herdeiro do Spangenhelm, a cota de malha longa (lorigão), a espada, a lance couchée e a maça de armas ou o machado de guerra. É um novo corpo militar, de élite e de choque que alinha ao lado das grandes chevauchées feudais, desde a Península Ibérica, passando pelos ducados e condados franceses e chegando aos Estados Alemães. A sua função, como já referido, era a proteção efetiva dos Estados Latinos da Terra Santa, juntamente com os outros contingentes enviados da Europa Ocidental através do apelo à Cruzada e à devolução da Cidade Santa de Jerusálem às mãos da Cristandade, com o benefício de uma lealdade absoluta a Cristo e pouco dados a alianças de conveniência com os inimigos da Fé, mouros e sarracenos, ou com quem a tal se permitia como os Venezianos. Também era regra dos Templários não dar nem esperar misericórdia, pois deles era o Reino dos Céus e a sua ascenção era propiciada por uma morte em guerra santa. Como combatiam estes Templários? Na verdade não diferiam dos métodos usados pelos outros cavaleiros agrupados em densas hostes ou mesnadas. No entanto a Idade Média, entre a Europa e o Médio Oriente, não é um elenco sucessivo de batalhas campais, em grande escala. Sucedemse os cercos, os golpes de mão ou os assaltos a território inimigo para pilhagem e saque e tal arte de guerra tanto era praticada pelos seguidores de Cristo como de Alá. Apesar da sua vocação de força de cavalaria pesada, à façon Normande, os Templários mostraram-se exímios em levantar 1

cercos em toda a regra, com minagens, fossos, torres de cerco e artilharia neurobalística como onagros, balistas ou trabuquetes. Mas o que a História reteve foram as memórias cronificadas das grandes batalhas dos Templários na Síria e na Palestina, por vezes com resultados desastrosos como a Batalha de Hattin, em 1176, frente a Saladino. Quando se abria o dia da batalha, alinhavam-se as filas sucessivas de cavalaria, tendo à retaguarda os peões e homens de armas de infantaria e aos flancos os arqueiros. Na prática a hoste necessitava de ter o caminho livre para o arranque da carga, o que não implicava o uso dos arqueiros para flagelar o adversário e provocálo para iniciar o combate, ou então como defesa a ataques de cavalaria ligeira, como era a sarracena, sobretudo quando empregavam arqueiros montados, temíveis e rápidos. A nível tático, os sarracenos tentavam sempre ter a iniciativa de confrontar a cavalaria inimiga, no caso os Templários, e desgastá-la o mais possível para lhe tentar quebrar a força do choque, usando precisamente os meios mais ligeiros e mais rápidos como os arqueiros montados e obrigando a hoste a um posicionamento estático, fixando-a no terreno, sob o calor tórrido, com pouca água e provisões como frequentemente sucedeu. Tal daria tempo a que os sarracenos manobrassem de forma a receber o impacto da cavalaria franca, flanqueando-a e fechando a hoste numa tenaz por vezes letal. Isto prova que as doutrinas de uso de tropas de cavalaria pesada, incluindo os Irmãos Templários, não seriam as mais adequadas para o cenário de guerra do deserto, onde o que mais conta é a ligeireza e a mobilidade. Tal não implica que todo o mundo muçulmano não tivesse cavalaria pesada ou couraçada pois o mundo muçulmano turcomano e persa recorria ainda aos seus clibanários como força de choque, sobretudo e simetricamente com os seus adversários do Império Bizantino. Mas, se os fatores se conjugassem para que uma hoste medieval europeia pudesse lançar uma carga, esta seria devastadora. Começaria pelo alinhamento dos cavaleiros em várias fileiras de extensão diversa, que ao sinal dos condestáveis, arrancariam primeiramente a trote, com pendões e estandarte em alto, elmos baixados e lanças pousadas, ou seja, fixas sob o braço. Do trote acelerariam gradualmente até ao galope e ao contacto com o inimigo. Quebradas as lanças, o cavaleiro Templário ou de outra qualquer natureza passaria para as armas de bater como a acha de armas ou a maça. Ao contrário do que se pensa a espada não era uma arma de uso imediato, pois para além de serem das partes mais caras do atavio do cavaleiro, a sua manutenção era morosa, sobretudo no ensebamento e na afiar da folha da lâmina. O uso da espada contra alvos mais protegidos rapidamente transformava uma peça mortal de corte num pedaço de ferro rombo e a certa altura ineficaz, sendo que o machado e a maço mais efetivas contra um escudo ou um elmo. No eventual sucesso da batalha e depois da carga de cavalaria, as tropas de infantaria avançariam para rematar os feridos, capturar prisioneiros e reféns e ocupar o campo de batalha. Isto poderia ser o quadro descritivo de uma carga de Cavaleiros Templários 2

no cenário do Médio Oriente, dentro da arte da guerra da época. Mas os Templários não se esgotariam como uma força militar expedicionária na Palestina. As Origens As investigações e estudos historiográficos apontam a que a origem dos Cavaleiros Templários foi possível graças a Bernardo de Claraval, influente monge cisterciense francês. A origem dos Cavaleiros da Ordem Templária foi contemporânea e influenciadora da criação de outras ordens militares, cruzando as suas vocações entre a cruz e a espada. A Primeira Cruzada (1095-99) encontrou seu auge com a conquista de Jerusalém, no ano de 1099. Este feito militar foi levado cabo por quase toda a nobreza feudal da Europa Ocidental. Esta Cruzada tinha nomes que ficariam a História sob diferentes retratos como Godofredo de Bulhão e Tancredo de Hauteville, seguidos pelos seus cavaleiros normandos, bretões, francos, alemães, italianos, sicilianos e mesmo nórdicos da Frísia recém-cristianizada (RUNCIMAN, 2003, p.108). Esta fora apenas uma das muitas cruzadas, fruto de um movimento que penduraria até o século XIV, entretanto, de forma muito menos religiosa e muito mais política do que as Cruzadas do século XII. Com a conquista de Jerusalém, formaram-se os Estados Latinos, sendo eles: o Condado de Edessa, do conde Balduino I, o Principado de Antioquia de Boemundo, e o Reino Latino de Jerusalém, que não possuía um rei e sim um regente, Godofredo de Bulhão (BARTLETT, 1996, pp.162-163). Segundo Jean Flori (2006, pp.22-23), o recém-fundado Reino Latino de Jerusalém padecia de fortes problemas defensivos, pois muitos dos Cruzados, depois dos saques e por se desobrigarem pela sua função cumprida após o apelo à Cruzada, regressavam à Europa, por não encontrarem terras e a oferta de riquezas. Assim, o Reino Latino de Jerusalém e os demais Estados Latinos viram-se desprotegidos frente a um mundo islâmico, que por sua vez pregava a Jihad, a guerra santa contra os cristãos. Após a conquista de Jerusálem, segundo Alain Demurger (2002, p.31), teria permanecido um pequeno contingente de aproximadamente 30 cavaleiros, recrutados a soldo para defenderem o Santo Sepulcro, a cidade e seus bens e dependências, um número irrisório perante a ameaça que se configurava fora das muralhas da Cidade Santa. Também não era de esperar qualquer apoio por parte do Império Bizantino, tanto pelas dissensões entre as igrejas ocidental e oriental e também porque os Gregos de Constantinopla se viam já a braços com problemas para segurar os territórios do seu já exíguo Império, ameaçado por Turcos, tribos do Cáucaso, da Pérsia e da Arábia. Segundo a crônica de Alberto de Aix, teria sido entre aqueles que ficaram para guardar o Santo Sepulcro, que foram recrutados os primeiros templários. Por volta do ano de 1119, dois nobres cavaleiros , Hugo de Payns e Godofredo, conde de Champagne e Saint-Omer, adotaram votos de pobreza, obediência e castidade diante do patriarca 3

de Jerusalém e juraram defender os cristãos que se dirigissem à cidade e os locais santos (DEMURGER, 2007, p.31). No entanto e no sentido de possuírem um certo grau de autonomia, precisavam então ter reconhecido a sua independência em relação às Ordens do Santo Sepulcro e do Hospital - criada em 1113. A relação com estas Ordens mostrou-se conflituosa com um início pouco promissor para os novos Cavaleiros Templários. Em Jerusalém, neste período, a Ordem do Santo Sepulcro era responsável pelas práticas do ritualismo litúrgico. Por sua vez a Ordem do Hospital trabalharia no campo da assistência aos doentes e peregrinos, sobrando dessa maneira um espaço para uma entidade que tomasse a responsabilidade das ações militares. Perante esta oportunidade, os cavaleiros, desejosos de evocar o Templo, apresentaram-se diante de Balduíno II, Rei de Jerusalém e propuseram-lhe a possibilidade da criação de uma Ordem independente na cidade que recrutaria cavaleiros a fim de defender a Terra Santa e as suas vias de peregrinação (BORDONOVE, 1975, p.23). A proposta foi rapidamente aceite por Balduíno, pois este não tinha forças militares suficientes, cedendo aos cavaleiros da nova ordem, uma sala em seu palácio, a antiga mesquita de Al-Aqsa e, segundo a lenda, antigo Templo de Salomão. O mito estava criado, Templários haviam surgido (DEMURGER, 2007, p.34). Em 1120 os Templários eram já uma realidade na Terra Santa, mas não na Europa. Faltava-lhes ainda o precioso reconhecimento do Papa, o que fazia com que o Cavaleiros do Templo ainda atraíssem um número reduzido de homens e não conseguissem angariar vultosas doações, como já sucedia com os irmãos do Hospital. Segundo Philippe Contamine (1980, p.170), Hugo de Payns intenta o auxílio de seu primo, o monge Bernardo de Claraval, um influente monge cisterciense que espalhava a sua influência por todo Reino Francoe parte da Europa Ocidental e estava disposto a colaborar teologicamente em relação aos então prototemplários: se eram eles os milicianos de cristo, ou seja, monges regulares tais como beneditinos, como poderiam empregar, sem pecar, a prática militar, incluindo o inevitável derramamento de sangue? Em 1128, o Papa Honório II convocou o Concílio de Troyes, tendo como um dos objetivos o solucionar a questão destes cavaleiros, entre outros assuntos de ordem teológica. Bernardo de Claraval foi eleito secretário do concílio que contava com a presença de Hugo de Payns e os outros cavaleiros. Para legitimar a existência efetiva dos monges cavaleiros, Bernardo de Claraval consegue não só o reconhecimento da Ordem dos Cavaleiros Templários, mas a divulgação de seu Elogio da Nova Cavalaria. Os Cavaleiros Templários, agora reconhecidos, passaram a receber doações e encontravam-se apenas subordinados ao papa, o que lhes dava uma extensa autonomia para recrutar novos cavaleiros na própria Europa e também possuírem seus próprios domínios, tendo como pendão e símbolo o seu manto branco e sua cruz pateada vermelha. Em 4

pouco tempo, ultrapassando as fases iniciais de um limitado raio de ação no Médio Oriente, passam a desenvolver múltiplas atividades em solo Europeu e diversificando aquilo que de início era só a profissão de Fé e Armas. Os Templários passaram a acumular riquezas, que por sua vez baseavam-se em diversas atividades econômicas como o empréstimo de dinheiro a juros e os serviços bancários em geral. Por todo o lado surgiam os seus castelos na Europa, com belos exemplos na Península Ibérica e envolveram-se no processo da Reconquista com vultosas doações dos reis desta região (BORDONOVE, 1975). A sua organização diferenciava-se da linha cisterciense como aponta Demuger (2007, p.156) já que estes se organizavam entre abadias e priorados enquanto que os templários adotaram uma divisão administrativa a três níveis: o Centro (em Jerusalém), as Províncias (Portugal, Provença, Flandres, etc.) e as Comendas locais, cidades e abadias (DEMUGER, 2007, pp.156-157). Na Segunda Cruzada (1147-1149), liderada por Luís V, Rei da França e Conrado III, do Sacro Império Romano Germânica e aclamada em Roma por São Bernardo de Claraval, os Templários não só passaram a legitimar suas ações monásticomilitares na Terra Santa, como assistiram ao surgimento de outras Ordens como as Ibéricas e os famosos Cavaleiros Teutônicos. No entanto foi neste período que os Cavaleiros Templários mais mostraram a sua força e imagem perante as demais Ordens, disseminando o seu poder e influência pelo Oriente Médio e Europa. (BARBER, 1995, p. 39). Referências - BARBER, Malcolm. The New Knighthood: A History of the Order of the Temple. New York: Cambridge University Press, 1995. - BARTHÉLEMY, Dominique. A Cavalaria: Da Germânia antiga à França do século XII. Campinas-SP: Unicamp, 2007. - BARTLETT, W.G. História Ilustrada da Cruzadas. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996. - CONTAMINE, Philippe. La Guerre au MoyenAge. Paris: Presses Universitaires de France, 1980. - DEMURGER, Alain. Os Templários: Uma cavalaria cristã na Idade Média. Rio de Janeiro: Difel, 2007. - _______. Os Cavaleiros de Cristo: Templários, Teutônicos, Hospitalários e outras Ordens Militares na Idade Média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. - FLORI, Jean. Jerusalém e as Cruzadas. In: LE GOFF, Jacques & SCHMITT, Jean-Claude. Dicionário Temático do Ocidente Medieval, v. 02. São Paulo: EDUSC, 2002: pp.7-24.

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