Estudo de caso Emmy Von. N PDF

Title Estudo de caso Emmy Von. N
Course psicanálise
Institution Universidade do Estado da Bahia
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Estudo de caso Emmy Von. N...


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Luana Pchevuzinske

RELATÓRIO SOBRE O CASO SRA. EMMY VON N., FANNY MOSER (POR FREUD)

Docente Marlene Miranda

Salvador 2018

RESUMO

O presente trabalho foi realizado para a conclusão da matéria de Psicanálise, ministrado pela professora Marlene Miranda, referente ao curso de Psicologia na instituição de ensino Unifacs. Esta revisão tem como finalidade o estudo cuidadoso do caso de Sra. Emmy Von N., paciente de Freud a partir de 1889, com atenção no desenvolvimento do caso e paralelamente às técnicas aprimoradas e desenvolvidas por Freud para lidar com o caso. Mediante a leitura é possível analisar os processos no decorrer do relato e a formulação do diagnóstico feita por Freud, encontrada no livro Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud: Estudos sobre a Histeria, datado em 1983-1985.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 2. DESENVOLVIMENTO DO CASO 3. DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS 4. REFERÊNCIA

1. INTRODUÇÃO

O caso da Sra. Emmy Von N., cujo nome verdadeiro era Fanny Moser trata-se do relato de sessões que perduraram por três anos, tendo seu início marcado pela sua ida à Viena em busca de ajuda com o Dr. Josef Breuer. Após duas semanas fora encaminhada para receber cuidados do Dr. Freud, onde relatou suas queixas acerca da depressão, insônia, dores em lugares variados do corpo e uma série de tiques. Ela era a décima terceira de quatorze filhos, dos quais somente 4 sobreviveram. A paciente recebeu uma educação cuidadosa e relata a disciplina exacerbada da mãe. Se casara aos 23 anos com Heinrich Moser, sendo 42 anos mais nova. Heinrich foi um industrialista que havia acumulado fortuna vendendo relógios suíços na Rússia e no resto da Ásia, além de fundador de uma empresa ferroviária. Segundo a paciente, o casamento fora muito feliz, mesmo com a desaprovação por parte da família dele. Após um infarto fulminante que acabou por matar o marido, ao qual Sra. Emmy presenciou sem poder ajudar, pois estava acamada, foi acusada de mata-lo por envenenamento para se apossar da herança. Este episódio acabou por marca-la profundamente e a partir de então acontece o desencadeamento intenso dos demais sintomas histéricos. Freud decidiu por encaminhá-la do hotel que estava hospedada para um sanatório em Viena, onde começaram o tratamento em maio de 1889 com visitas diárias pela manhã, tarde e noite.

2. DESENVOLVIMENTO DO CASO

Quando foi a Vienna em busca da ajuda do Dr. Breuer, Sra. Emmy tinha cerca de 40 anos. Fora encaminhada por Breuer para Freud e teve sua primeira sessão no dia primeiro de maio de 1889. A Sra. Emmy tinha duas filhas, que nessa época tinham 16 e 14 anos. Elas já apresentavam distúrbios nervosos e a paciente insistia em atribuir a culpa para si. Desde a morte do marido Sra. Emmy tivera muitas recaídas na saúde, vivendo praticamente constantemente enferma. Já havia passado por outras tentativas terapêuticas, incluindo banhos elétricos e massagens, mas todos os seus esforços foram praticamente em vão.

Quando foi sugerido por Freud que se separasse das filhas para ir ao sanatório (sem a privação de visitas), concordou sem maiores empecílios. Freud relata que, mediante o diálogo, a paciente tinha nível de instrução alto, interesse e conhecimento em diversas áreas e assuntos, mostrando assim um bom funcionamento de algumas partes do cérebro, como vem a afirmar posteriormente na discussão do caso. Na primeira sessão foi percebido por Freud que a paciente gaguejava e aparentava uma agitação incessante, além de movimentos convulsivos ou tiques no rosto e pescoço, além de se interromper em sua fala emitindo um estalido com a boca. Notou também que a cada três minutos, em média, a paciente repetia a frase “Fique quieto! – Não diga nada! – Não me toque!”, o que Freud considerou uma espécie de estado alucinatório e que com essa frase ela procurava afastar algum material intromissivo de seus pensamentos. Após o lapso a paciente voltava ao assunto normalmente, sem explicar ou pedir desculpas pelo comportamento. Um ponto crucial deste caso se faz pela facilidade em que a paciente podia ser induzida ao sonambulismo e a hipnose: “Bastou eu levantar um dedo diante dela e ordenar-lhe que dormisse para que se reclinasse com uma expressão atordoada e confusa”, sendo este o caso em que Freud utiliza pela primeira vez hipnose no tratamento da histeria, apesar de deixar claro em seus relatos que não dominava absolutamente a técnica. Com sugestões Freud conseguiu que a qualidade do sono da Sra. Emmy melhorasse. Ela ficava altamente concentrada e de olhos fechados enquanto ouvia sugestões e aos poucos, seus músculos tendiam a relaxar. Freud propôs um tratamento com banhos quentes, massagens durante o dia (feitas por ele mesmo) e sugestão hipnótica. Com isso, a paciente apresentou melhora rápida. Há relatos de histórias assustadoras contadas pela paciente sobre animais e enquanto relatava, torcia as mãos e repetia sua fórmula “Fique quieto! – Não diga nada! – Não me toque!”, além de gaguejar. Durante a hipnose Freud tentou eliminar o que ele chamou de alucinações, visto que quando foi procurar tais histórias, suas versões originais não falavam sobre animais. Após esse episódio, sentiu dores no pescoço. Quando questionada, sob hipnose, sobre o motivo de se assustar tão facilmente, a paciente respondeu que isso se relacionava com lembranças de sua infância, quando seu irmão atirara animais mortos nela, gerando seu primeiro desmaio, que foi repreendido pela tia. Além disso relatou logo em seguida sobre o susto que levara ao ver a irmã no caixão, aos 7 anos e mais tarde, quando seu irmão lhe pregara peças vestido de fantasma com um lençol. Depois aos 9, ao ver sua tia no caixão e seu queixo caiu repentinamente. Freud frisa o fato de a paciente ter relatado os acontecimentos um após o outro, sem pausa, como se já estivessem relacionados em sua memória. A

partir de então, compreendeu melhor seu medo por animais e delírios com cadáveres. Com o processo a qualidade do sono da Sra. Emmy passou a melhorar, na maioria das noites, mas as dores no corpo tendiam a mudar de lugar com o passar da terapia. Sentia fortes dores gástricas, falta de apetite, câimbra no pescoço, falta de sensibilidade nas pernas e piora, muitas vezes, no quadro dos tiques. Suas dores apareciam e se transportavam para outras partes do corpo de acordo com influências no seu dia, como passar muito tempo com as filhas (gerou dores gástricas intensas), fazendo com que a visita fosse limitada e com isso ela se culpabilizava pelo suposto desleixo na criação das meninas. Quando soube que a governanta mostrara para suas filhas imagens de índios vestidos com peles de animais, estremeceu, apresentando novamente os estalidos com a boca. Sob hipnose, quando questionada sobre a repulsa que a cena lhe causava, Sra. Emmy respondeu que isso a fez lembrar da morte do irmão, aos 19 anos. Freud também a questionou acerca da origem da gagueira e do estalido, ela respondeu que vinha gaguejando a 5 anos, desde que sua filha mais nova estivera doente e tendo muita dificuldade para dormir, quando ela desejou ficar absolutamente quieta para não perturbar o sono da menina. Freud sugeriu que essa lembrança tivesse sua importância reduzida, afinal a filha foi curada. Além disso a paciente afirmou que os sintomas surgiam quando ela ficava apreensiva ou assustada por algum motivo. O próprio Freud realizava as massagens, e notou que a paciente usava deste tempo para compartilhar relatos enriquecedores, como diz “É como se tivesse adotado meu método e se valesse de nossa conversa, aparentemente sem constrangimento e guiada pelo acaso, como um complemento de sua hipnose”. Por meio de sugestões, tentou afastar os medos da paciente. Primeiramente de uma forma generalizada, mas ao notar a ineficiência do método, se ocupou de sugerir a eliminação dos medos um a um, de acordo com os relatos que iam sendo trazidos. Os relatos do que havia assustado Sra. Emmy variavam de memórias de sua juventude a idade adulta, como a de uma prima sendo levada para um asilo de loucos sem conseguir falar nem pedir socorro, quando ela tinha 15 anos; Seu medo de sucumbir a loucura por se recordar das histórias horríveis sobre espancamento em hospícios que a empregada lhe contava; Memórias de sua mãe estendida no chão duas vezes, uma quando teve derrame e a outra quando morreu, com o rosto contorcido; Quando seu irmão ficara doente e sob efeito de morfina, a agarrava e ainda quando sua filha se agarrou em seu pescoço e ela teve a sensação de que estava sufocando, e assim continuava sua narrativa, dia após dia, sob hipnose. O evento mais traumático de sua vida adulta foi quando os parentes do marido a acusaram de tê-lo matado envenenado, a envolvendo em processos legais e

contratando agentes e jornalistas para a difamar. Isso gerou nela profunda desconfiança e ódio de todos que lhe eram estranhos.

Freud seguiu com sugestões para tentar afastar camadas mais superficiais de lembranças torturantes, mas sem obter um resultado duradouro. A paciente parecia ser bastante autodepreciativa e continuava atribuindo para si a culpa de acontecimentos ruins acerca de suas filhas, principalmente, que começavam a apresentar sintomas semelhantes aos dela. Com a ineficiência da hipnose a longo prazo, Freud tentou cuidar de suas dores musculares e sensibilidade da perna direita, que de tempos em tempos ficava debilitada. Dessa forma o método hipnótico só gerou resultados à medida que o usou para fixar máximas em sua mente, para prevenir recaídas. Algum tempo depois Dr. Breuer teve notícias de que seu estado de saúde se manteve bem por alguns meses, mas voltou a piorar depois de uma tentativa de terapia com choques psíquicos e após permitir que a filha fosse tratada com um médico que acabou por piorar o estado de saúde dela, se culpando por isso. Novamente apresentou depressão, perda de sono, apetite e só conseguiu alguma recuperação depois de uma amiga tê-la sequestrado do sanatório e a levado para sua casa. O contato entre Sra. Emmy e Freud foi ficando gradualmente escasso, inclusive porque ela desenvolveu medo de viajar de trem. Soube então por correspondências que havia voltado a um estado ruim de saúde depois do quadro da filha ter piorado.

3. DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS

É comprovado o caráter hereditário da neuropatia da paciente, que teve vários familiares internados, inclusive. Mas o relato afirma não ser provável que somente o fator da predisposição desencadeasse a histeria como um todo. Diante de todo o material fornecido pela paciente, Freud chega a conclusão de que a frase “Fique quieto! – Não diga nada! – Não me toque!” provinha de que formas animais apareciam para ela quando se encontrava em mau estado, movendo-se e a atacando se alguém fizesse algum movimento. “Não diga nada” vinha de um evento no qual ela sentiu muito medo do cavalo de sua carruagem perder o controle totalmente, quando um raio atingiu uma árvore na sua frente e sua filha começou a gritar. E por fim o “não me toque” poderia ter origem no medo que tinha do irmão lhe agarrando enquanto doente.

Além disso, Freud concluiu que suas alucinações com animais eram acompanhadas de dores gástricas, enquanto sua falta de apetite vinha de uma memória onde a mãe sempre a forçava a comer uma carne já fria, da qual recusava por birra. Conclui-se então que o caráter dos seus delírios e alucinações, além do seu vasto acervo de memórias quando estava em sonambulismo e suas dores eram de origem histérica e somática, sendo resíduos de excitações que não foram dissipadas e se caracterizaram como traumas: “Na histeria, uma parte considerável dessa “soma de excitação” do trauma é transformada em sintomas puramente somáticos”, afirma Freud. Os sintomas desde caso onde houve pouca conversão foram divididos em alterações de humor, fobias e abulias.

“Os afetos aflitivos vinculados a suas experiências traumáticas tinham ficado indecompostos - por exemplo, sua depressão, sua dor (pela morte do marido), seu ressentimento (por ser perseguida pelos parentes dele), sua repulsa (pelas refeições compulsórias), seu medo (das numerosas experiências assustadoras), e assim por diante. Sua memória exibia uma intensa atividade, que, ora espontaneamente, ora em reação a um estímulo contemporâneo, trazia seus traumas e os afetos concomitantes, pouco a pouco, até sua consciência atual. Minha conduta terapêutica baseou-se nessa atividade de sua memória, e esforcei-me todos os dias para resolver e livrar-me de tudo o que cada dia trazia à tona, até que o acervo acessível de suas lembranças patológicas pareceu estar esgotado.” (FREUD, 2016).

As representações antitéticas trazidas pela paciente sugerem a insegurança que sentiu em poder pôr em prática algumas intenções importantes, como por exemplo quando a paciente tenta fortemente não emitir nenhum barulho para não perturbar o sono da filha enferma e acaba por produzir um tique com a boca. A conclusão obtida por Freud foi que a paciente apresentou os sintomas vinculados a tantos eventos traumáticos que afetou até mesmo a fala da paciente com um tique aparentemente sem significado. Justamente pelo sintoma se alicerçar em diversas memórias e experiências, as tentativas de erradica-los através de sugestões durante a hipnose foram falhas a longo prazo, pois logo que havia a remissão de algum sintoma, ele se manifestava através de outro trauma e as dores mudavam de local. Freud também constatou ao trabalhar neste caso que “uma história incompleta sob hipnose não produz nenhum efeito terapêutico”.

Tais sugestões eram feitas e a paciente, algumas vezes, respondia “Já que o senhor insiste...”, mostrando que a única razão da remissão era de base instável, que acabavam sem êxito. Por fim, pode-se considerar um avanço para a teoria de Freud ter se deparado com um caso de histeria complexo, onde ele mesmo afirma que para que houvesse cura definitiva, haveria de penetrar mais fundo do que em sua tentativa. 4. REFERÊNCIA FREUD, Sigmund. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud: Estudos sobre a Histeria (1983-1985). Vol. 2. Imago Editora, 2016....


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