Fundamentos II - análise do episódio Rachel, Jack e Ashley Too PDF

Title Fundamentos II - análise do episódio Rachel, Jack e Ashley Too
Author Laura Camargo de Moraes
Course Fundamentos Históricos e Epistemológicos II
Institution Universidade Franciscana
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Análise do episódio Rachel, Jack e Ashley Too de Black Mirror para a disciplina de Fundamentos Históricos e Epistemológicos II do curso de Psicologia da Universidade Franciscana. ...


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UNIVERSIDADE FRANCISCANA CURSO DE PSICOLOGIA DISCIPLINA DE FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E EPISTEMOLÓGICOS II Laura Camargo Luiza Moura Marciele Fragoso Nícolas Limberger Sintoma pós-moderno: A cultura de massa e a busca por identidade no episódio “Rachel, Jack and Ashley Too” de Black Mirror. Na virada do século, as sociedades ocidentais vivenciaram uma ampliação nas ofertas de conteúdo midiático a partir da popularização da Internet e do desenvolvimento de smartphones e gadgets móveis, que possibilitaram o acesso a materiais multimídia para os usuários a todo instante. Estas novidades tecnológicas, consideradas revolucionárias, trouxeram um novo objeto de estudo para as ciências humanas e sociais: a relação do ser humano com o mundo digital. A influência destes meios passou a ser pauta nos estudos sobre comunicação, netnografia, sociologia, psicologia etc. Em tratando-se de psicanálise, pode-se discutir sobre como o consumo de massa se insere em uma equação de economia libidinal. É cada vez mais recorrente e sintomático o uso compulsivo de redes sociais e a incapacidade de alguns indivíduos de se furtarem deste manuseio desenfreado, sentindo-se deslocado da “realidade” e mergulhado em angústia. Saber lidar com a angústia e principalmente respeitar a sua manifestação é de suma importância para a constituição do sujeito. Ele deve saber lidar com o tédio, com o niilismo de sua própria existência e confrontar-se com seus devaneios. Entretanto, com a massificação das redes sociais, o ócio sucumbe ao excesso de demanda, fazendo com que o usuário sinta uma necessidade contínua de estar conectado e em sincronia com o “resto do mundo”. Mas, além do tempo em tela, outro questionamento importante a se fazer é: o que se está consumindo? Padrões cada vez mais inalcançáveis de vida são constantemente sugeridos ao público. Cada vez mais é estranho ao indivíduo sentimento de tristeza, decepções e frustrações. Vivemos em uma sociedade obsessivamente antidepressiva e que não permite às pessoas estes sentimentos, tratando-os como sintomas de um desequilíbrio meramente químico e que pode ser solucionado com medicamentos, negligenciando os seus aspectos psicodinâmicos e sociais. O episódio “Rachel, Jack and Ashley Too” é o responsável por fechar o quinto ano da série Black Mirror. A trama acompanha Rachel (Angourie Rice) que passa dificuldades em casa após a morte de sua mãe, mudança de residência e uma relação conflituosa com sua irmã mais velha Jack (Madison Davenport). Para lidar com tudo isso ela busca inspiração na diva pop Ashley O (Miley Cyrus), cujas letras falam sobre autoconfiança, esperança e resistência. Após a ídola entrar em

um estranho coma, Rachel volta-se para Ashley Too, uma boneca robótica inspirada na artista. Mas é através dessa relação com a boneca que Rachel nota que a vida de sua ídola não é tão simples quanto parece. É preciso ressaltar que o episódio traz uma busca por identidade vinda das três personagens principais. Esse fenômeno é algo comum para o homem pós-moderno, pois com a inserção no mercado global, o sujeito passa a perder sua identidade cultural, de forma que não se permite um “Eu” individual, somente a coletividade de identidades. É como se os indivíduos sentissem que perderam um referencial e, a partir disso, estivessem em constante transição entre dois polos distintos: seu eu interior, aquele que procura saber quem ele é e seu eu exterior, que procura entender a sociedade a qual pertence. Vemos isso muito presente na personagem Rachel que busca, durante todo o episódio, ser inserida nessa cultura de massa globalizada protagonizada por Ashley O. Ao mesmo tempo em que vemos a desumanização da diva pop e uma ascensão da inteligência artificial da boneca Ashley Too, que aparenta suplantar tudo aquilo que é caracteristicamente humano, como o pensamento complexo e abstrato e a capacidade de sentir empatia e afeto, questões bastante presentes nas narrativas fílmicas e literárias que se relacionam com o pós-modernismo. É preciso entender o pós-modernismo como uma linha de pensamento que vê o mundo como contingente, gratuito, diverso, instável, imprevisível, um conjunto de culturas ou interpretações desunificadas gerando um certo grau de ceticismo em relação à objetividade da verdade, da história e das normas, em relação às idiossincrasias e a coerência de identidades (EAGLETON, 1998). “(...) mundo efêmero e descentralizado da tecnologia, do consumismo e da indústria cultural, na qual a indústria de serviços, finanças e informação triunfam sobre a produção tradicional, e a política de classes cede terreno a uma série difusa de ‘políticas de identidade’”. (EAGLETON, 1998, p.7)

E é diante da necessidade de dar sentido à vida e, através da falsa premissa de uma identificação própria, que a cultura de massa nos coloca de encontro à Black Mirror. Tanto no episódio “Rachel, Jack and Ashley Too”, quanto nos demais, há uma perspectiva existencialista, da qual a maior parte dos personagens se vê diante de um conformismo diário ou em busca de algo, como uma tecnologia revolucionária que irá diferir suas vidas. Dentro dessa análise do eu em uma sociedade utópica, em que a maioria dos personagens da série necessita de algo a mais para suas vidas, o pós-estruturalismo ressalta na série um modo de vida consumista e segmentado na condição do indivíduo pós-moderno perdido na sua noção do que a base da tecnologia possibilitou e o que ela desconstruiu. A desconstrução do indivíduo, a qual é uma das principais características do pósestruturalismo, fez-se presente na série e, em específico, no episódio Rachel, Jack and Ashley Too, onde há uma óptica visada nos ídolos e na sua plastificação em massa na visão de seus fãs. É visto que elas não exercem uma visão real sobre a cantora, e sim a de uma boneca fabricada com falas e com o seu modo de agir. Existem diversos casos cotidianos em que o fã precisa mostrar seu amor incondicional ao

seu ídolo, que se mostra religiosamente, quanto na criação de fã-clubes, fanfics e atitudes adversas, como tatuagens, cirurgias plásticas para se parecer com o ídolo e ficar dias seguidos na fila de show, dentre outras. Na pesquisa, os cientistas afirmam que existem três dimensões no relacionamento que as pessoas têm com as celebridades que admiram: a de entretenimento, em que os indivíduos se divertem e acompanham o trabalho dos artistas; a intensa e pessoal, na qual os indivíduos têm sentimentos compulsivos relacionados a alguém; e a quase patológica, em que demonstram comportamentos e fantasias incontroláveis relacionados a uma celebridade Existem algumas razões diferentes para isso”, afirma Kruger. “Uma é que assim você pode aprender o que as pessoas de alto status fazem, e se tornar uma. Dois, é basicamente político. Saber o que acontece nesse grupo facilita a navegação social”. Stuart Fischoff foi um famoso professor de psicologia midiática da Universidade da Califórnia que dedicou boa parte de sua vida a estudar o culto a celebridades. Fischoff defendia que a necessidade de encontrar um ídolo e segui-los é parte da nossa constituição genética. “Em nosso DNA, como um animal social, está o interesse em olhar para aqueles que são importantes em nosso grupo. Até mesmo políticos são mais propensos a prestar atenção em um problema quando uma celebridade está se manifestando sobre esse problema”, disse em entrevista à FoxNews. É como se estivéssemos sociologicamente programados para “seguir o líder”." Mesmo alguns dos fãs obcecados conseguem um espaço social que não conseguiriam de outra maneira. Para aqueles muitos tímidos, gostar de uma celebridade age como uma “prótese psicológica”. “Se eles não interagem com as pessoas, isso pelo menos funciona como uma relação social que eles não possuíam”, comenta Fischoff. “Então isso é fazer o melhor do pior, psicologicamente”. Mas existem limites. Houran e colegas descobriram que é muito simplista dividir os fãs entre casuais, saudáveis e obcecados. Na verdade, a adoração é um processo. “A má notícia é que existe um fã em todos nós”, afirma. Quando a adoração vai além do aceitável, geralmente começa como algo bom, comenta Houran. As pessoas gostam do escapismo das fofocas e unem-se em torno de um mesmo ídolo. A celebridade começa a estar na cabeça constantemente, da família aos amigos. Então o comportamento obcecado e compulsivo começa. Finalmente, algumas pessoas atingem o ponto “patológico”, onde acreditam ter uma relação próxima com a celebridade e tomam essa crença seriamente. Quando questionadas se fariam algo ilegal pela celebridade, elas dizem “sim”. A idolatria se configura como a adoração exagerada de uma determinada imagem, objeto ou indivíduo. Quando designada a celebridades, a idolatria pode ser dividida em 3 dimensões sendo essas de entretenimento, mais intensas e pessoais ou obsessivas e patológicas. A raiz dessa admiração pode se encontrar quando o sujeito busca estar à mercê desse desejo a partir do processo de identificação com esse objeto. Esse processo de identificação está entrelaçado com a cultura de massa e o pósmodernismo, que tem influenciado o sujeito a atitudes extremas de suprir esse vazio, terceirizando a sua subjetividade.

REFERÊNCIAS DA SILVA, S.S. Identidades Culturais na pós-modernidade. Um estudo da cultura de massa através do grupo Casaca. Disponível em: >http://www.bocc.ubi.pt/pag/silva-sergio-salustianoidentidades-culturais.html...


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