N2 - TC I PDF

Title N2 - TC I
Course Teorias Da Comunicação I
Institution Fundação Armando Alvares Penteado
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N2 - TC I(Docs) - O Quarto de Jack
Nota: 10...


Description

OBJETIVO O seguinte trabalho tem como objetivo relacionar o longa-metragem “O quarto de Jack” (2015) com sua narrativa com os temas abordando temas semióticos e teóricos intrinsecamente apresentados na obra, como o conceito de código convencional e código não convencional; similaridade e signo; comunicação e memória; discurso e diálogo; primeiridade, secundidade, terceiridade; função emotiva. SINOPSE Baseada na obra “Room” de Emma Donoghue, dirigido pelo diretor Lenny Abrahamson, com elenco formado principalmente por Brie Larson (Joy “Ma” Newsome); Jacob Tremblay (Jack Newsome); o longa proporcionou diversos prêmios principalmente para a Brie Larson, sendo alguns deles como: Oscar de Melhor Atriz 2016; Globo de Ouro de Melhor Atriz de 2016; BAFTA de Melhor Atriz 2016; Critics Choice Awards de Melhor Atriz e Melhor Jovem Ator/Atriz de 2016. No longa-metragem, “O Quarto de Jack”, Joy é uma jovem mulher que foi sequestrada, estuprada e deu à luz ao Jack. Mantidos em cativeiro pelo Velho Nick e com quem é o único contato que ambos têm com o mundo exterior é a visita periódica do próprio, Joy tenta fazer com que seu filho Jack leve uma vida mais normal possível, mas não vê a hora de fugir para retornar à realidade e por isso que quando o menino completa os seus 5 anos, Joy planeja uma fuga, elaborando um plano e contanto com a ajuda do seu pequeno. E é nesse cenário que juntos, Joy limpa, cozinha, educa Jack e juntos, praticam exercícios físicos. Todas as noites, Joy recebe o seu sequestrador, de quem depende para sobreviver, já que somente o velho Nick tem acesso ao quarto e fornece comida e medicamentos quando necessário. Enquanto o menino não tem amigos, brinquedos e muito menos animais de estimação, e vai ser através dos monólogos do garoto que ao decorrer da trama explicam as coisas sobre o seu ponto de vista.

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ANÁLISE Enquanto Jack e Joy são mantidos em cativeiro, num quarto, Joy tenta criar o menino da forma mais normal possível, e por isso que Jack humaniza todas as coisas, desde a cadeira que tem dentro do quarto até as cascas de ovos que Joy os aproveitou para fazer uma espécie de brinquedo para o menino. Como o quarto não tem sequer uma janela e a porta fica fechada a maior parte do tempo, é através da claraboia que Joy e Jack conseguem manter uma mínima noção das condições climáticas do dia e também saber quando é dia e noite. O fenômeno da similaridade no longa pode ser identificado quando o Jack chama as cascas de ovos com uma linha no meio, a qual os dá segmento de cobrinha, uma vez que similaridade é a associação mais complexa que atua por comparação, encontrando semelhanças e aproximações entre objetos e situações originalmente distantes. Além disso, ela consiste em certas ideias que se evocam devido à semelhança, ou seja, são dois signos que acabam transferindo o seu significado um para o outro. Desse modo, sabe-se que signos são tudo aquilo que atribuem sentido à algo, e por sua vez, os códigos são quem ordenam os signos e os organizam para que uma linguagem seja emitida. O filme, como obra artística, possui uma linguagem e que, de um modo ou de outro, se comunica com o espectador. Tal fenômeno, dentro do contexto narrativo do longa, se aplica à como o Quarto é a forma como o garoto percebe o mundo. Para ele, tudo o que existe ou existiu, se compacta naquele lugar e, objetos que a princípio não possuem um significado aparente, para ele é algo a mais. Após ele e a mãe conseguirem a liberdade, o menino pede para revisitar o local e comenta com a mãe que "O Quarto não é o Quarto com a porta aberta", já que pela perspectiva do menino até então, era essa sua percepção, mesmo depois de ter passado os seus cinco anos mantido junto com a sua mãe em cativeiro. Jack, ao sair, se sente ameaçado por diversas coisas que não conhece, ou seja, Joy humanizou tanto os objetos que tinha no quarto ao ponto do menino crescer e possuir uma interpretação diferente do mundo. Este, foi condicionado a pensar que não existia mundo exterior, e este gesto, cujo nome vem de criar, é justamente feito por sua mãe para a proteção do menino.

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Além disso, após conquistar a liberdade, Joy convive com o seu trauma, achando que qualquer pessoa vai fazer mal ao Jack. Joy aprendeu a ser protetora desde que o menino nasceu, pois o proibia de ter contato com o Velho Nick, mas foi com a liberdade que ela sentia muito mais medo das pessoas, tanto é que ela é internada para tratar esse trauma. Tal fato é retratado ainda quando eles estão no cativeiro, pois a mãe falava para Jack que o quarto era todo o planeta que os deixava a salvo do lado de fora e as imagens da TV eram de outros planetas ou apenas fantasia. Existe um conceito na física que diz que tudo o que existe tende a se equilibrar. A entropia, permite acreditar que tudo o que existe um dia será morto ou esquecido. A comunicação humana surge justamente desse anseio do homem por

ser

lembrado,

caçadores-coletores

e até

isso

pode

ser

observado

desde

os

primeiros

uma criança que acredita viver em um mundo

extremamente pequeno. Inconscientemente, ele atribui significados aos objetos e situações dentro do Quarto. Jack cria uma segunda natureza de sentidos e significados que permitem a ele suportar viver naquele mundo, mesmo desconhecendo a existência de um outro. Ele se comunica com sua mãe, com quem tem um laço afetivo. Flusser diz que somos dependentes de outros para comunicação e sobrevivência, somos fadados e medrosos com relação ao esquecimento e somos paranoicos em guardar nosso legado. Tudo isso vai contra a entropia e isso é o que permite Jack sobreviver. Em um determinado momento, Jack vê o desenho de uma árvore. Aquilo, para nós, que conhecemos o mundo, é um ícone, uma imagem que representa uma árvore que existe no nosso mundo. O teórico Charles Peirce dá a esse fenômeno de primeiridade , que seriam signos que renunciam a existência de um objeto, pois representam este objeto. Para Jack, aquilo é mais que uma iconografia, é o que se existe por árvore. Pode-se perceber que para ele, a primeiridade é o que existe e o que forma seu mundo e seu modo de pensar. Os outros conceitos de Peirce, secundidade, ou seja, signos que indicam a existência de um outro objeto, se mostra pelas nuvens, sol, lua, na claraboia, que indicam o tempo e hora do dia. Já a terceiridade, ou seja, signos convencionalizados por meios de regras, não existe, pois Jack não vive e não sabe o que é viver em sociedade. Mesmo o Homem sendo um ser político e social, incapaz de viver sozinho, ele desconhece o conceito de sociedade e suas normas.

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Ao final do longa, Joy e Jack finalmente conseguem liberdade e, enquanto o menino vai descobrir um novo mundo, Joy vai sofrer com o divórcio dos seus pais, a imprensa atormentando e querendo a todo momento fazer coletivas. No entanto, a personagem também vai relembrar através de fotos de como era a sua vida antes de ser sequestrada, estuprada e ter dado a luz ao menino. Joy se emociona ao ver cada foto, uma vez que na época que foi sequestrada, ainda frequentava a escola,o que indica que Joy tinha muitos

momentos registrados ao lado de suas duas

melhores amigas que sumiram quando ela foi sequestrada. O fato de Joy mostrar fotos para o seu filho Jack, contando de como era a sua vida antes do sequestro, é possível relacionarmos o conceito de comunicação e memória, já que a comunicação é uma garantia para os seres humanos de que eles serão lembrados, pois a memória dos outros é o que os manterão vivos após a morte. Isso está até mesmo nos fundamentos do ser humano, pois, por sermos seres que estão sempre carentes, isto é, necessitamos de relacionamentos, somos necessitados de lembranças. Tal fato é demonstrado pela própria personagem quando ela se emociona falando que na época era feliz, que tinha suas duas melhores amigas, que frequentava a escola e mesmo depois de reconquistar sua liberdade, Joy nunca mais reencontrou suas amigas e muito menos seus colegas de escola. Esse era um dos motivos pelo qual a personagem passa por depressão e traumas, pois se sente sozinha no mundo. Seria como se ela estivesse presa no tempo, congelada, enquanto o mundo seguiu seu caminho natural. Enquanto a imprensa e terceiras pessoas enxergam o Quarto como um cativeiro, como os próprios conceitos de signo, código convencional e código não convencional mesmos dizem, cada um entende uma palavra a partir do seu ponto de vista, mas também a partir do seu repertório, no caso, somente Joy e seu filho Jack sabem o verdadeiro significado da fala do menino: "O Quarto não é o Quarto de porta aberta" ou até mesmo, o que é dar adeus para a mesa, cadeira, cama, armário e entre outros elementos que estavam no quarto quando eles voltaram para revisitar o local. Jack não diz adeus somente para uma cadeira, mas para algo cujo significado transcende o conceito de cadeira. Além disso, cumprimentar os objetos que Jack os personifica, como se fossem seres vivos, é uma experiência que só ele e sua mãe sabem o que realmente significa. Sendo assim, são coisas que só fazem

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sentido para Jack e sua mãe, se tratando assim de um código não convencional diante de terceiras pessoas, uma vez que o código não-convencional é tudo que não tem sentido, ou seja, signos aglomerados sem convenções, sem sintaxe que as relacione. Por outro lado, por fazer sentido para Joy e Jack e o quarto não ser apenas um quarto, trata-se de um código convencional, uma vez que tudo faz sentido, ou seja, signos aglomerados que possuem convenções. Portanto, há sintaxe que as relacione. Em contrapartida, para Jack, o quarto é uma "nave", tanto é que a Joy se referia ao quarto como um planeta que os protegia do mundo externo, onde na verdade cachorros, pessoas, árvores ou qualquer coisa que antes de ter sua liberdade, que Jack nunca tinha visto antes sequer existiam, ou faziam parte do imaginário. A dinâmica de mãe e filho no quarto é criada com a mãe dando ordens e tarefas ao menino, sem que ele tenha oportunidades de contestar. Considerando que discurso é o compartilhamento de informações já existentes, criado com a intenção de preservar as informações, isto é, para que elas “possam resistir melhor ao efeito entrópico da natureza”, Joy emite um discurso que lhe atribui superioridade e um certo grau de respeitabilidade. Trata-se do meio de propagação de informações que muitas vezes faz o uso da imposição, do poder, seja por meio da palavra ou de gestos. Em outras palavras, não acontece a troca de informações nele por ser apenas uma pessoa discursando, apenas um ponto de vista é apresentado. Joy sabe o que está acontecendo, sabe que existe um mundo lá fora, sabe que estão presos e mantidos em cativeiro, e isso lhe dá poder. No longa isso acontece quando a Joy fala o que Jack deve ou não fazer dentro do quarto e o menino não deve contestar, por exemplo, quando a mãe diz que o menino não deve olhar nos olhos do velho Nick e sem muito entender o porquê, Jack deve obedecer a ordem da mãe. Em contrapartida, o diálogo é a troca de diferentes informações disponíveis com a intenção de sintetizar ou produzir uma nova informação, o que significa que ele é um tipo de criação de uma nova informação, em consequência da troca de informações. Em outras palavras, trata-se de um choque de ideias, a contradição de posições opostas, as quais são importantes para o enriquecimento do debate e

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produção de novos sentidos subjetivos, os quais geram um retorno e um conhecimento. A partir deste movimento de troca e contradições, de construção e desconstrução de ideias, que se forma o desenvolvimento humano. No longa, o discurso prevalece sobre o diálogo, mesmo este acontecendo a todo momento, tanto das vezes que Joy dialoga com o Velho Nick pedindo determinadas comidas, quanto das vezes que Joy dialoga com o seu filho Jack ou até mesmo com os seus pais quando a jovem, após reconquista a sua liberdade, vai morar na casa de sua mãe, e principalmente depois de tanto tempo sem ter contato com sua família, Joy conta como foi sua experiência e o que realmente aconteceu no dia que ela sumiu para os seus pais. Além desses momentos, os pais da jovem irão dialogar explicando que o casal está no processo de se divorciar. Inconformada, ela não vai aceitar e depois de muita conversa e diálogo, Joy compreende o ponto de vista tanto de sua mãe, quanto de seu pai. O filme é uma clara demonstração das ideias que Platão postulou ao desenvolver o mito da caverna. Na história original, apresenta ao leitor a teoria platônica sobre o conhecimento da verdade e a necessidade de que o governante da cidade tenha acesso a esse conhecimento. Repentinamente, um dos prisioneiros foi liberto. Andando pela caverna, ele percebe que havia pessoas e uma fogueira projetando as sombras que ele julgava ser a totalidade do mundo. No mito da caverna, Platão procura expressar como a filosofia pode, através da reflexão, nos conduzir à sabedoria. A teoria da Caverna que é contada no livro "A República", no qual Sócrates é o protagonista. A história se passa no fundo de uma caverna, onde há pessoas amarradas voltadas para a parede desta caverna, ou seja, ninguém nunca saiu de lá, tampouco viram a luz do sol. Tudo o que elas conseguem ver são imagens projetadas através da luz da fogueira, uma espécie de imagem cinematográfica, a qual mostra a sombra dos animais, plantas, objetos e pessoas, projetados no exterior da caverna. Os habitantes da caverna ficam fascinados com as imagens e acabam acreditando que as sombras são a realidade e portanto, Sócrates diz que esta é a nossa condição: "assumimos na nossa vida a ilusão por realidade".

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Um prisioneiro consegue se libertar e sai da caverna. Feito isso, ele vê os objetos como os objetos como são, pela luz do sol. No início, dói os olhos, mas depois ele se acostuma, se tornando algo normal. Essa alegoria revela que aquele que sai da caverna e contempla as coisas enquanto tais coisas são iluminadas pela luz do sol é o filósofo, e o Sol é a imagem do bem. A subida ao mundo superior é a ascensão da alma das coisas sensíveis para a realidade inteligível, ou seja, antes o prisioneiro era um indivíduo iludido, mas agora que ele viu o Sol, é capaz de distinguir do que é real e do que é falso. Platão, ao final faz uma suposição que se o prisioneiro voltasse para o fundo da caverna e ele dissesse aos demais que o que eles estavam vendo não fosse a realidade, eles não acreditariam e até o matariam. No longa, acontece o mesmo. Existe uma natureza que é o próprio quarto, e uma segunda que aqueles indivíduos atribuem significado. Existe um mundo fora, um mundo das ideias. A troca de mensagens significadas e codificadas que acontecem entre emissor e receptor, dentro do quarto, é o motor que os permite sobreviver naquele ambiente hostil para Joy, mas receptivo para o menino. Mesmo lugar, dois significados. A exemplo disso, quando o menino diz à mãe que as pessoas são feitas de cores e ela diz que no mundo lá fora, elas são reais, o menino reage com dúvida, mas existem momentos em que a mãe diz que as coisas que ele imagina não existem, ele se revolta, uma vez que as coisas só existem ou são de verdade, quando ele já teve um contato. A Função Emotiva é centrada em torno do emissor, caracterizando assim, um ponto de vista que visa a expressão direta da atitude de quem fala em relação àquilo que está falando. Em outras palavras, a função emotiva tende retratar determinada emoção, seja ela verdadeira ou simulada sobre determinado fenômeno ou situação. O menino só tem contato humano com a mãe e pela falta de relações humanas, Jack personifica os objetos presentes no quarto, que como já foi mencionado anteriormente, de manhã ele cumprimenta a pia, a privada, o tapete, o armário e entre outros. A interação com outros seres humanos é de extrema importância para formação de laços. O homem é um ser social por natureza, ele se reconhece pelo olhar do

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outro. Jack tem a sua mãe, mas em seu mundo só ela é humana, mas o menino tem um cachorro imaginário, da mesma forma que as crianças criam amigos imaginários e Jack por ter vivido os seus cinco anos confinado e personificando todos os objetos, o que de certa forma dava vida ao quarto, chegou um ponto que quando a sua mãe disse que o desenho do cachorro que pro menino era o seu cachorro de verdade não era real, ele se revolta e acaba rejeitando o que a mãe lhe diz. Quando Jack diz "As plantas são de verdade, mas as árvores não" significa que as únicas coisas consideradas reais para Jack, são somente aquelas que ele tem contato ou que ele vê, assim como as pessoas na cabeça do menino só existem na televisão e são feitas de cores. Em outras palavras, Jack fantasiou tanto que atingiu um ponto que não conseguia mais distinguir o que era real e o que era imaginário, tanto é que o menino sente dificuldade depois que junto a sua mãe conquistam a liberdade, pois Jack pergunta o tempo todo à sua mãe se tudo o que eles estão vivendo é real. CONCLUSÃO Portanto é possível concluirmos que o filme se relaciona com pessoas vítimas de esturpro ou sequestro, que a mensagem dialoga com diversos públicos e que uma coisa por mais banal que seja, pode significar ou pode trazer diferentes interpretações e pontos de vista.

BIBLIOGRAFIA

O

Quarto

de

Jack

-

Trailer

Oficial.

Disponível

em:

. Acesso em 20 de Novembro de 2021.

Resenha:

O

Quarto

de

Jack.

Disponível

em:

<

https://pipocanamadrugada.com.br/site/resenha-o-quarto-de-jack/>. Acesso em 20 de Novembro de 2021.

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DANTE, Carolina. Análise | ‘O Quarto de Jack’: a relação alienada de mãe e filho em um

cativeiro.

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em:

. Acesso em 20 de Novembro de 2021. Mito

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Charles

Pierce.

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