O Baronato e o Café - De Taubaté para o Vale do Paraíba PDF

Title O Baronato e o Café - De Taubaté para o Vale do Paraíba
Author Leonardo Francisco
Course História Regional
Institution Universidade de Taubaté
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Summary

Trabalho de Pesquisa...


Description

Introdução Este trabalho tem como objetivo analisar alguns artigos e obras referentes ao Ciclo do Café em Taubaté e no Vale do Paraíba. Como um dos principais polos cafeeiros da região, com um padrão de produção seguido pelos demais municípios, busca-se neste trabalho, ir além da obra analisada1, fazendo uma transposição, de um cenário microhistórico para um cenário macro-histórico, da importância do café para o Vale do Paraíba, tendo como ponto de partida a cidade de Taubaté. Procuramos analisar também a importância e o significado do baronato na sociedade brasileira da época, com tal nobiliarquia umbilicalmente ligada a essa produção monocultora e escravista. O principal documento analisado para a produção deste trabalho foi o livro “Taubaté – Cidade, Educação, Cultura e Ciência”, disponível na Biblioteca Municipal de São Luís do Paraitinga, dentre outras fontes acadêmicas e virtuais.

Os Barões do Café 1 O principal documento utilizado para a produção deste trabalho não tem como objetivo uma análise da economia cafeeira em toda a região do Vale do Paraíba, mas especificamente na cidade de Taubaté, tratando propriamente deste tema em um de seus capítulos. A transposição da economia e produção de Taubaté para o restante da região foi proposta pelos autores deste trabalho.

1. O Baronato no Brasil Barão: Súdito fiel do rei, em geral homem rico, que prometia lealdade e serviços em troca de pequenas fazendas ou sítios, que seriam herdados por seus descendentes. A palavra, de origem germânica, quer dizer “homem livre”. É na França de Luís XIV que o “ser nobre” se desenvolveu em sua plenitude. Os antigos barões feudais se transformam agora na sociedade da corte2 de Suas Majestades. Essa nobreza, apesar de semelhante, apresenta diferentes faces de acordo com a corte que compõe, o monarca que adorna e o país ao qual pertence. Em Portugal, inicialmente, a nobreza era ligada ao valor militar do titulado. Em meados do século XVIII, os títulos são ampliados, contemplando não só militares, mas também artesãos, banqueiros, artistas, escritores, entre outros ilustres. Com uma titulação rigidamente controlada pelo rei português, Dom João VI, no início do século XIX, encontra a forma de banir a hereditariedade da nobreza, agora em um império colonial vasto e disperso como o Brasil. Em seus 13 anos no Brasil, o rei fará 254 nobres3. Essa nova titulação em terras tropicais era extremamente importante para os cofres públicos, pois não era ligada exatamente a privilégios, mas sim às benesses dadas pelo Estado em tempos de crise. E esse modelo foi seguido à risca pelos monarcas do Brasil pós-independência. É nesse cenário que se cria a titulação mais baixa do Império Brasileiro: o baronato sem grandeza, fartamente distribuído aos chamados “barões do café”, grandes proprietários do Vale do Paraíba e do Rio de Janeiro.

2. A Classe dos Barões 2 Sociedade da corte, termo utilizado pelo sociólogo alemão na obra “O Processo Civilizatório”, publicada pela primeira vez em 1939. 3 Números de Lilia Moritz Schwarcz.

Oficialmente, a nobreza era o nível mais alto da sociedade. Porém, essa titulação, como vimos acima, era muitas vezes ligada às crises financeiras e políticas do Estado. E como a economia do império girava em torno da produção cafeeira, os grandes fazendeiros e cafeicultores do Vale do Paraíba, assim como os de outras regiões, entrariam no centro da vida política do país. Os brasões usados pela nobreza diziam muito sobre seu caráter nobiliárquico. Essa série de motivos, citando L. M. Schwarcz, podia ser classificada em seis tipos: 

EU SOU: No seu nome se explica.



EU SEI: Doutores e seus saberes.



EU FAÇO: Os que fazem a guerra, a pátria.



EU TENHO PORQUE FAÇO: Os que trabalham duro.



EU ME UFANO: Os que expõem o exótico império tropical.



EU TENHO: Os que têm a terra, o dinheiro e o poder.

Os barões do café se enquadravam nesse último tipo. Tinham. “Numa realeza isolada, cercada de repúblicas, num Império escravocrata, que disfarçava as marcas dessa instituição, a jovem nobreza brasileira tentava apagar as pistas de seu caráter recente e improvisado.” (Schwarz, 1998) Os barões do café – comuns como titulares da baixa nobiliarquia – eram o maior reflexo dessa nobreza jovem e improvisada. Essa elite rural, que lutava por “civilizar-se”, altamente ligada à vida pública do país, era a verdadeira detentora do poder no Império Brasileiro. Se o imperador dava o tom da vida cultural da corte, era nas mãos dos barões que estavam as esferas política e econômica desse império sul-americano.

3. Os Titulares de Taubaté

Taubaté, um dos principais produtores de café da região do Vale do Paraíba, contou com grandes titulares ligados a essa produção. 

Barão de Taubaté (Taubaté, 1815 - Pindamonhangaba, 1905)

Antônio Vieira de Oliveira Neves foi um político e proprietário rural brasileiro. Militando no Partido Liberal, foi vereador em Pindamonhangaba e aderiu à Revolução de 1842. Era proprietário da Fazenda Santa Leopoldina, em Roseira, e da Fazenda Bonfim, em Pindamonhangaba. Comendador da Imperial Ordem da Rosa, foi agraciado pela Princesa Imperial Regente, D. Isabel, com o título de Barão de Taubaté, no dia 18 de julho de 1877, e em 8 de outubro de 1889, foi agraciado pelo Imperador Dom Pedro II com a Comenda da Ordem de Cristo.



Visconde de Tremembé (Taubaté, 1830 – Taubaté, 1911)

José Francisco Monteiro, primeiro e único Barão e Visconde de Tremembé, foi um fazendeiro, empresário e político brasileiro.

Cafeicultor,

grande

capitalista

e

proprietário, foi coronel-comandante da Guarda Nacional no município de Taubaté. Fundou em sociedade com seu irmão José Félix Monteiro, Visconde de Mossoró, uma

casa bancária, denominada José Francisco Monteiro & Irmão, entre outros empreendimentos. Acionista e colaborador do Teatro São João, na iluminação pública da cidade em 1867, da Companhia de Bondes a Vapor entre Taubaté e Tremembé para o transporte de passageiros e xisto betuminoso e proprietário da Companhia de Gás e Óleos Minerais de Taubaté. Colaborou para a formação do Ginásio Taubateano, da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Taubaté, além da comissão encarregada de angariar dinheiro e recrutar voluntários para a Guerra do Paraguai. Foi proprietário da Chácara do Visconde, em Taubaté, construída em 1850 e imortalizada na obra Sítio do Pica-pau Amarelo, tendo sido tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, tornando-se sede do Museu Histórico e Pedagógico Monteiro Lobato. Era também proprietário da Fazenda São José do Buquira, herdada pelo neto, Monteiro Lobato. Está sepultado na Capela dos Monteiros, no Cemitério da Venerável Ordem Terceira de São Francisco, em Taubaté.



Visconde do Mossoró (Taubaté, 1838 – 1892)

José Félix Monteiro4, barão e visconde de Mossoró, foi um fazendeiro, empresário e político brasileiro. Era proprietário da Fazenda Paraíso, no bairro do Piracuama, com mais de 1.000 alqueires de terras, 300.000 pés de café e 400 trabalhadores, escravos e colonos portugueses, além da fazenda Independência, no bairro do Paiolinho, em Redenção da Serra. Relativamente progressista, procurou dotar o município de Taubaté com escolas públicas, auxiliou o patrimônio do Hospital Santa Isabel, a reconstrução da 4 Irmão de José Francisco Monteiro, Visconde de Tremembé, com o qual tinha sociedade em diversos empreendimentos.

Igreja Matriz, a conclusão da Igreja do Rosário, a fundação do Colégio do Bom Conselho, a construção do Teatro São João, e ainda o estabelecimento de uma fábrica de gás e óleos minerais.



Barão da Pedra Negra (1821 – 1902)

Manuel

Gomes

Vieira,

primeiro

e

um nobre brasileiro, tenente-coronel da Guarda

único barão

de

Nacional,

Pedra além

Negra foi de

abastado fazendeiro em São Paulo. Casou-se com Mariana de Camargo e foi agraciado barão em 20 de agosto de 1889. Presidiu a última Câmara Municipal do Império e a primeira Câmara republicana. Foi provedor da Irmandade de Misericórdia do Hospital de Santa Isabel em Taubaté por 23 anos.

3.1.

Outros Titulares da Região

  

Davi Lopes da Silva Ramos, barão de Jambeiro (1833 – 1896). José de Sousa Brandão, primeiro e único Barão de Aparecida (1823 – 1883). Francisco de Assis e Oliveira Borges, primeiro e único barão e visconde de Guaratinguetá (1806 – 1879).



Bento Lúcio de Machado, primeiro barão com grandeza de Jacareí (1790 – 1857).



Licínio Lopes Chaves, o 2º Barão de Jacareí (1840 – 1909).

 Estêvão Ribeiro de Resende, primeiro e único barão com grandeza de Lorena (1813 – 1878).



Custódio Gomes Varela Lessa, barão de Paraibuna ( - 1855).



Manuel Jacinto Domingues de Castro, barão de Paraitinga (1810 –

1887).



Manuel

Marcondes

de

Oliveira

e

Melo,

primeiro barão

de

barão e

único visconde

de

Pindamonhangaba (1780 – 1863). 

Francisco

Marcondes

de

Melo, 2.º

Pindamonhangaba (1804 – 1881)5.

5 Lista retirada do website Wikipédia.

O Café 1. O café no Brasil É consenso entre os historiadores que a origem do café se encontra na antiga Abissínia, atual Etiópia, mais especificamente na região de Kaffa, daí o nome. De lá, a bebida escura, feita de grãos moídos e torrados, chega até parte da Arábia, de onde se expande pela costa do Mediterrâneo. Na Europa, a bebida tem um status de nobreza, principalmente nas cortes da Holanda e da França. O café só vai se popularizar entre a população mais pobre e trabalhadora a partir da Revolução Industrial, como bebida estimulante. Contudo, são esses dois países europeus, sobretudo a França, que vão desenvolver a produção cafeeira em terras coloniais americanas. Os franceses levaram o cultivo de sua planta para Martinica, e em seguida os holandeses para o Suriname. Mais tarde, possuindo também sua Guiana na América do Sul, os franceses vão contrabandear a planta direto de seu vizinho holandês. E é essa mesma tática que será usada para disseminar o café em terras brasileiras. O governo colonial português, em expedição à Guiana Francesa, consegue contrabandear um número considerável da planta, que inicia sua produção em Belém do Pará.

2. O Café em Taubaté Partindo de outras regiões do Brasil para o Rio de Janeiro, capital do império, a indústria cafeeira vai encontrar no Vale do Paraíba um cenário forte e favorável para seu florescimento como a base da economia do recente Estado brasileiro, especialmente na cidade de Taubaté, onde as propriedades monocultoras chegavam à 80, e sua produção

cafeeira em 1854 alcançava a safra de 354.730 arrobas 6, alçando Taubaté e toda a região para o destaque no cenário econômico nacional. Grandes foram os homens que impulsionaram a economia cafeeira em Taubaté, dentre eles o já citado Barão da Pedra Negra, cuja qualidade do café produzido em suas fazendas7 foi premiada na Exposição Internacional de Nice, na França, em 1885. Outra personalidade ilustre também já citada neste trabalho é o Visconde de Tremembé. Além de grande cafeicultor, o visconde, entre outros empreendimentos e benfeitorias, foi sócio da firma comissária de café “Miranda & Tremembé”.

2.1.

O Convênio de Taubaté

Casarão do período cafeeiro que sediou o Convênio de Taubaté.

Apesar deste trabalho ter como foco o período imperial do país e da região, pois trata especificamente da importância do café e da atuação dos barões nessa produção, não poderíamos deixar de mencionar o Convênio de Taubaté, evento de extrema importância para a economia nacional da época – já republicana – e para a cidade de Taubaté.

6 Números apresentados pelo documento analisado. 7 Fazendas Fortaleza, Quilombo, Santa Maria, Independência, Ermo e o Sítio da Boa Esperança.

No ano de 1906, a produção cafeeira passava por uma crise mundial. Desde a crise de 1893, que atingiu principalmente os Estados Unidos, principal consumidor do café brasileiro, o preço desse produto veio caindo sensivelmente. Foi então que os governadores de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, os estados com a maior produção no país, se reuniram na cidade de Taubaté para encontrarem uma solução para a crise cafeeira, ainda no início do século XX o produto de maior relevância para a economia nacional. Jorge Tibiriça, Francisco Salles e Nilo Peçanha, com total apoio do governo federal, se reuniram em um antigo casarão8 do século XIX, pertencente à Maria Leopoldina Marcondes Varella, para discutirem sobre a criação de uma “Caixa de Conversão”. O plano visava valorizar os preços do café em tempos de crise. Desse plano de valorização constavam: 

Controle da produção



Taxação de preços para o mercado interno



Taxação de preços para exportação



Apoio financeiro aos produtores

Taubaté foi escolhida por, ainda em 1906, ser a cidade de maior projeção do Vale do Paraíba, e uma das maiores produtoras nacionais. Como marco desse importante acontecimento, a praça em frente à Capela do Pilar foi nomeada Praça do Convênio. O antigo casarão, sede da reunião, mais tarde, deu lugar ao prédio público sede da agência da Caixa Econômica Estadual.

2.2.

O Escravo em Taubaté

Entre os séculos XVII e XVIII, mais especificamente no período de 1690 a 1715, Taubaté e todo o Vale do Paraíba tornaram-se grandes centros fornecedores de alimentos para a região das Minas Gerais. Com a descoberta de ouro naquela região, muitas pessoas transferiram-se para lá, principalmente mão-de-obra masculina, o que aumentou consideravelmente a população de escravos negros nas lavouras taubateanas e vizinhas.

8 O casarão, demolido em 1939, ficava localizado na esquina das ruas Visconde do Rio Branco com Bispo Rodovalho, paralelo à Capela do Pilar.

No século XIX, por volta de 1825, essa mão-de-obra escrava aumenta intensamente, graças ao desenvolvimento da lavoura cafeeira. No final do século XIX, às vésperas do fim da monarquia, Taubaté se destaca entre as poucas cidades brasileiras que aboliram a escravidão antes da assinatura da Lei Áurea, ao lado da vizinha Redenção da Serra e da cearense Redenção. Graças ao trabalho de grandes homens e estadistas nascidos na cidade, como o conselheiro Antônio Moreira de Barros, e o advogado Dr. Francisco de Paula Toledo, grandes militantes da causa abolicionista que integraram a Comissão Pró-Libertação em Taubaté, foi possível acabar com a escravidão local em exatos 69 dias antes da “libertação” nacional.

3. A Importância do Café para Taubaté e Região Como conclusão deste trabalho, podemos observar a importância da produção cafeeira para Taubaté e o Vale do Paraíba, e a atuação crucial dos chamados barões do café para o desenvolvimento dessa região. O café foi introduzido no país através de nossos vizinhos e, passando pelo Rio de Janeiro, chegou ao Vale do Paraíba paulista, onde floresceu intensamente no século XIX. Não só Taubaté ganhou destaque na região, mas cidades como Bananal também conseguiram seu lugar de importância na economia nacional, produzindo, em 1854, por volta de 500.0009 arrobas de café. Nesse período, poderiam ser encontrados na cidade mais de 8.200 escravos nessas lavouras. Em Taubaté, podem ser observados, nesse mesmo período, a metade desse número de cativos, em meio a 16.700 homens livres. Mesmo após a Proclamação da República, e o fim da atuação de grandes titulados do império na região, a produção cafeeira continuou a ser uma importante atividade econômica para o Vale do Paraíba e seus municípios. Após o fim da escravidão, e consequentemente da monarquia, Taubaté e região continuaram a ser foco para a produção do café, tanto em âmbito nacional, como no Convênio de Taubaté, quanto para a chegada de imigrantes. 9 Números apresentados pelo documento A PROPRIEDADE ESCRAVA NO VALE DO PARAÍBA PAULISTA DURANTE A DÉCADA DE 1870, Renato Leite Marcondes, Professor da FEA/USP, campus Ribeirão Preto.

Referências Bibliográficas PRADO, José Benedito. Taubaté – Cidade, Educação, Cultura e Ciência, Biblioteca Municipal de São Luís do Paraitinga, Noovha America, São Paulo, 2005. p. 56-61. SCWARCZ, Lilia Moritz. As Barbas do Imperador, São Paulo, 1998. MARCONDES, Renato Leite. A PROPRIEDADE ESCRAVA NO VALE DO PARAÍBA PAULISTA DURANTE A DÉCADA DE 1870, FEA/USP, Ribeirão Preto, 2001. FamilySearch - José Félix Monteiro - Barão e Visconde de Mossoró. Disponível em: https://familysearch.org/photos/artifacts/9667416. Acesso em 17/10/2016. RICCI, Fabio. A economia cafeeira e as bases do desenvolvimento no Vale do Paraíba paulista. Disponível em: http://www.ufjf.br/heera/files/2009/11/artigo02.pdf. Acesso em 16/10/2016. SOUZA, Anderson Barboza. A cafeicultura no vale do Paraíba, século XIX: algumas notas.

UFSM.

Disponível

em:

http://w3.ufsm.br/gpet/engrup/iengrup/Pdf/artigo_anderson.pdf. Acesso em 17/10/2016. Brasil.gov - Casarão onde foi assinado o Convênio de Taubaté. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/old/copy_of_imagens/linha-do-tempo/linha-do-tempohistoria/casarao-onde-foi-assinado-o-convenio-de-taubate/image_view_fullscreen. Acesso em 17/10/2016. Wikipédia - Lista de baronatos do Império do Brasil. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_baronatos_do_Imp%C3%A9rio_do_Brasil#P. Acesso em 16/10/2016....


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