O significado de Virtú e Fortuna em Maquiavel PDF

Title O significado de Virtú e Fortuna em Maquiavel
Course História das Ideais Políticas e Sociais
Institution Universidade Federal de Minas Gerais
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Contém uma análise dos conceitos de Virtú e Fortuna em Maquiavel....


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Universidade Federal de Minas Gerais Departamento de História O significado de Virtú e Fortuna em Maquiavel

Apesar de usar um estilo literário muito comum em seu tempo, espelhos dos príncipes, Nicolau Maquiavel foi revolucionário, no mínimo inovador, ao quebrar com a tradição que aconselha que os príncipes tivessem as virtudes cristãs para fazer um bom governo. Maquiavel vai além disso e faz um verdadeiro manual político do seu tempo, colocando suas experiências e racionalidade no livro que não tem como principal exemplo um príncipe virtuoso, mas sim um governante como César Bórgia, que usou de práticas controversas para manter o poder. Fortuna e Virtú são dois conceitos no livro do Maquiavel que permeiam toda sua obra, que na verdade se trata de dois pólos que em certa medida determina o sucesso e o insucesso das ações humanas. Virtú não pode ser traduzida para virtude já que é um conceito muito especifico, ela pode ser entendida como a habilidade de lidar com situações variadas tendo como objetivo ganhar ou manter o poder. Maquiavel escrevia para um príncipe, por isso ele vai falar tanto em manter e ganhar o poder, mas a Virtú também pode ser entendida, segundo Bignotto, como a capacidade de adequação ao tempo. Maquiavel não se preocupa em dar a definição dos seus conceitos, mas a separação da virtú e virtude cristã ficam clara no capítulo VIII, quando o autor cita o exemplo de Agátocles. No conceito de Fortuna, Maquiavel se inspira na Deusa romana da roda, que no pólo contrario da virtú é o elemento que o príncipe não pode controlar, está sujeito ao tempo e as mudanças de conjuntura. Dessa forma apesar de Maquiavel acreditar que a natureza humana se mantem e que é possível aprender com exemplos históricos, existem situações particulares que a Fortuna age a muda as conjunturas. Por não se conhecer o caminho da Fortuna, não se pode dizer que ela será favorável ou desfavorável, só restando ao príncipe ter Virtú para lidar com ela ou andar junto, como no caso do César Bórgia.

Maquiavel foi muito mal lido durante muito tempo e muito mal compreendido em sua época, dando até origem a o adjetivo maquiavélico que tem um cunho pejorativo. Apesar disso Maquiavel nunca foi maquiavélico, só usou do seu conhecimento para quebrar com uma tradição e racionalizar as ações dos governantes. Virtú e Fortuna são conceitos tão amplos que podem ser enxergados em vários lugares, como na música popular brasileira que dá conta de ser ampla e complexa. Acredito ser possível enxergar Maquiavel em várias músicas, mas “Ponteio” de Edu Lobo e Capinam me chama a atenção por sua peculiaridade de combinar elementos e também pela sua importância na época. Segue a letra:

Ponteio Edu Lobo e Capinam Era um, era dois, era cem, era o mundo chegando e ninguém, que soubesse que sou violeiro, Que me desse um amor ou dinheiro. Era um, era dois, era cem, vieram prá me perguntar: Ô você, de onde vai, de onde vem, diga logo o que tem prá contar Parado no meio do mundo, senti chegar meu momento Olhei pro mundo e nem via, nem sombra, nem sol, nem vento Quem me dera agora eu tivesse a viola prá cantar, ponteio Quem me dera agora eu tivesse a viola prá cantar, ponteio Quem me dera agora eu tivesse a viola prá cantar, ponteio Quem me dera agora, eu tivesse a viola prá cantar, prá cantar Era um dia, era claro, quase meio, era um canto calado, sem ponteio Violência, viola, violeiro, era morte em redor, mundo inteiro Era um dia, era claro, quase meio, tinha um que jurou me quebrar Mas não lembro de dor nem receio, só sabia das ondas do mar Jogaram a viola no mundo, mas fui lá no fundo buscar Se eu tomo e viola, ponteio,

meu canto não posso parar, não Quem me dera agora, eu tivesse a viola Quem me dera agora, eu tivesse a viola Quem me dera agora, eu tivesse a viola mundo pontear Quem me dera agora, eu tivesse a viola

prá cantar, ponteio prá cantar, ponteio prá cantar, ponteio, ponteio, todo prá cantar, pontear

Era um, era dois, era cem, era um dia, era claro, quase meio Encerrar meu cantar já convém, prometendo um novo ponteio Certo dia que sei por inteiro, eu espero, não vai demorar Esse dia estou certo que vem, diga logo que vim prá buscar Correndo no meio do mundo, não deixo a viola de lado, Vou ver o tempo mudado, e um novo lugar prá cantar Quem me dera agora, eu tivesse a viola prá cantar, ponteio Quem me dera agora, eu tivesse a viola prá cantar, ponteio Quem me dera agora..

A campeã do Festival de Musica Popular da Record de 1967 tem muito a dizer, tanto em seu tempo histórico de inicio da Ditadura Militar, que estava se fechando e no ano seguinte implementaria o controverso AI 5, quanto nos dias atuais. A música usa elementos populares tanto no seu ritmo que se inspira nas modas de violas, quanto na letra que usa da linguagem coloquial, também não deixa de fazer uma crítica ao regime vigente. O que interessa aqui é enxergar Maquiavel e seus conceitos no “Ponteio”, eu acredito ser possível ver a Fortuna e a Virtur quando os autores usam “mundo” e “viola”. No trecho: “Parado no meio do mundo, /senti chegar meu momento/Olhei pro mundo e nem via, /nem sombra, nem sol, nem vento” os autores estão descrevendo o momento em que a Fortuna está passando e apesar de ele sentir, ele não consegue ver. No refrão da música, a “viola” pode ser vista com a Virtú e o “cantar” a ação da Virtú, o eu lírico deseja ter a virtú para agir.

Existem momentos que “mundo” e “viola” aparecem juntos como no trecho: “Jogaram a viola no mundo, /mas fui lá no fundo buscar/Se eu tomo e viola, ponteio, /meu canto não posso parar, não” a Virtú sendo a “viola” foi superada ou substituída pela Fortuna que aparece na música como “mundo”, o eu lírico tenta ir contra a Fortuna usando sua Virtú. Na última estrofe mais uma vez Fortuna e Virtú aparecem na forma de “mundo” e “viola”, nesse caso o eu lírico esta sendo guiado pela Fortuna, mas não abandona a virtú enquanto espera uma mudança, essa esperança de mudança pode ser vista uma crítica ao Regime Militar. É claro que é difícil saber se de fato os autores estavam pensando em Maquiavel quando escreveram a música, mas ao expô-la os artistas abriram espaço para diferentes interpretações, como acontece com qualquer obra de arte, e acredito sim ser possível fazer essa leitura da música que tão rica.

Bibliografia Bignotto, Newton. Maquialvel. Jorge Zahar Edito. Rio de Janeiro. 2003 Maquiavel, Nicolau. O Principe. Martin Claret. São Paulo. 2009...


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