Plano de aula - Rock e poesia PDF

Title Plano de aula - Rock e poesia
Author Carlos Serpa
Course Poesia e Música Popular Brasileira.
Institution Universidade Federal de São João Del Rei
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Summary

Plano de aula relacionando o rock brasileiro e o ensino de poesia. Necessita do arquivo "Cartões para a aula Rock e poesia.docx". ...


Description

PLANO DE AULA- POESIA, POP E ROCK Escola de implementação: Público-alvo: 3º ano do Ensino Médio. Discentes: Carlos Serpa, Gabriela Rizzuti, Lincoln Cardoso, Natália Buzzati. Tempo estimado: 2 (duas) aulas de 50 minutos cada. OBJETIVOS: O seguinte plano de aula tem como objetivo fazer com que os alunos compreendam o percurso histórico do pop e, sobretudo, do rock, da segunda metade do século XX até os dias atuais; bem como todos os enlaces políticos, sociais e culturais relacionados à música e poesia. MATERIAIS NECESSÁRIOS: Textos impressos (letra versão da cantora Pitty da música “Cálice”, de Chico Buarque), aparelhos de multimídia e materiais para dinâmica (copos descartáveis, suco de uva, marcador permanente e cartões impressos). DESENVOLVIMENTO: 1º aula: Primeiro Momento: (cerca de 20 minutos em nossa aula simulada). Nesse primeiro momento da aula será apresentado aos alunos um breve percurso histórico acerca do desenvolvimento da música brasileira — sobretudo do pop e do rock — e o seu papel na redemocratização do cenário político, social e cultural; citando, inclusive, exemplos dos principais expoentes desses gêneros musicais. O texto detalhado com o percurso histórico do rock e do pop consta no anexo I. Segundo Momento: (cerca de 15 minutos em nossa aula simulada). A segunda parte da aula apresentará a proposta “Pelo que o rock lutava?”, que consiste em uma discussão, juntamente com os alunos, sobre os principais temas das músicas do pop e do rock nacional das décadas de 70 e 80. Em seguida, serão exibidos trechos de algumas músicas de cantores e bandas que abarcavam, em suas composições, os temas discutidos, sendo

reservado, ainda, após a apresentação das músicas, um momento para uma rápida análise acerca da poética e da sua função social. 2º aula: Primeiro momento: (cerca de 10 minutos em nossa aula simulada). A segunda aula se iniciará com a apresentação da música “Cálice”, na versão da cantora Pitty, sendo realizada a distribuição da letra impressa da música aos alunos, após uma primeira experienciação exclusivamente auditiva, para uma análise coletiva. Escolhemos realizar a análise da letra em grupos, pois acreditamos que o diálogo entre os alunos e o compartilhamento de saberes constitui-se como uma prática bastante válida no ambiente escolar, se explorada adequadamente. Nessa análise, priorizaremos tanto a estrutura da música “Cálice”, quanto a sua poética, ritmo e sonoridade, relacionando, ainda, a influência de seu tema no contexto social, político e cultural de um Brasil em regime ditatorial. Segundo momento: (cerca de 5 minutos em nossa aula simulada). Nesse segundo momento da aula será feito uma dinâmica que terá como cerne as discussões sobre as músicas apresentadas, em especial a da música “Cálice”. A dinâmica consistirá em distribuir cartões impressos contendo signos como “opressão”, “violência”, “medo” etc. para que os alunos escolham. Uma vez que os cartões sejam escolhidos, distribuiremos copos descartáveis (com uma tira de papel colada) e serviremos suco de uva para os alunos. Esses, por sua vez, terão que escrever o signo contido nos cartões selecionados na tira de papel de seu copo, exibindo e explicando para os colegas o motivo de eles beberem esses “cálices”. Mais do que afastar os signos da violência, da opressão, do preconceito, dentre outros iremos, no sentido antropofágico — conceito estudado no terceiro ano do Ensino Médio —, incorporá-los ao nosso ser a fim de melhor compreendê-los e reconhece-los, para depois sermos capazes de regurgitá-los de nossa sociedade.

ANEXO I:

Uma breve história do rock nacional enquanto elemento redemocratizador O rock no Brasil, com seu auge nos anos 80, teve um longo e árduo percurso até se tornar um estilo musical capaz de representar a luta pela igualdade e pela democracia na sociedade brasileira. Considerado uma coqueluche, uma doença passageira, o rock foi por muito tempo associado ao estereótipo da anarquia, da revolta e da desobediência; sendo mal visto tanto pela esquerda — que atribuía ao rock, com suas guitarras elétricas, o papel de semear o imperialismo estadunidense em solos latino-americanos — quanto pela direita, que lutava pela manutenção de uma “ordem” mascarada de Regime Militar. Historicamente, a música brasileira começou a romper com a tradição da Bossa Nova e a ganhar características do que hoje se conhece como rock nacional em meados de 1965, com o programa de televisão Jovem Guarda; apesar de Cauby Peixoto já ter gravado em 1957, sob influência do Rockabilly, o que veio a ser considerado o primeiro rock genuinamente brasileiro. A Jovem Guarda começou a dar destaque a um estilo de música mais jovem — o Iê-iêiê — aproveitando o alarmante sucesso mundial dos britânicos do “The Beatles”. Composto principalmente por Erasmo Carlos, Wanderleia e Roberto Carlos (que, na época, era considerado um músico a frente do seu tempo por gravar músicas experimentais, como a africana), a Jovem Guarda acabou se transformando em um importante movimento cultural brasileiro. Com a ascensão da Tropicália, em 1967, um movimento misto de vanguarda que influenciou a música, a moda, a filosofia e a sociedade como um todo, o rock nacional ganhou ainda mais força e espaço dentro da sociedade brasileira. Entretanto, apesar de se distanciar da MPB pelo seu caráter progressivo, o rock nacional ainda não condizia com a realidade política e social do Brasil, em plena Ditadura Militar. A década de 70 foi, por sua vez, foi um período de transição entre o rock progressivo e o que viria a ser o seu age, democraticamente falando, nos anos 80. Importantes cantores e bandas como “Raul Seixas” (que já inseria em músicas como “Ouro de Tolo” [73] e “Sociedade Alternativa” [74] críticas econômicas e comportamentais ao Estado), “Os mutantes” e “Secos & Molhados” contribuíram para a aceitação desse novo estilo musical, ainda não muito bem delineado, que se formava no Brasil.

Foi majoritariamente graças ao Punk Rock inglês, com sua ferrenha crítica social e estética “desleixada”, que o rock se efetivou enquanto gênero musical no final da década de 70. Com a ideologia do Do it yourself, tocar e cantar era uma tarefa secundária e propositalmente mal executada, uma vez que o foco era transmitir mensagens marcadas pela militância e pela resistência em uma sociedade inflexível, autoritária e maculada pela censura. Nesse cenário de revolução surgiu, entre a segunda metade dos anos 70 e início dos anos 80, bandas como “Aborto Elétrico” (que futuramente se dividiria em “Legião Urbana” e “Capital Inicial”), “Blitz”, “Ultraje a Rigor”, “Inocentes”, “Detrito Federal” etc., todas marcadas pela tentativa de redemocratizar o país através de letras e sonoridades que rompiam com o conservadorismo comportamental e social. Perpetuando a ideologia do Nós contra Eles, bandas como “Legião Urbana” e “Titãs” se consagram como um dos precursores do rock enquanto estilo de resistência política e social, ao mesmo tempo que Cazuza, com sua irreverência, falava em público sobre a AIDS em um país extremamente preconceituoso e conservador. Consumido majoritariamente pela classe média, o rock logo se tornou um estilo extremamente rentável que lutava não só pelo fim da Ditadura e pela redemocratização do país, mas também pela arte, diversidade sexual e de gênero, ecologia, igualdade social e por condições mínimas de sobrevivência. Músicas como “Perfeição” — um samba enredo antiexaltação do país que desconstruía a tentativa forçosa de se criar uma identidade nacional que tornasse a população alheia à situação do país — e “Alagados” (que denunciava as péssimas condições de sobrevivência dos moradores da favela da Maré, no Rio de Janeiro), da “Legião Urbana” e dos “Paralamas do Sucesso”, respectivamente, ditavam tendências artísticas enquanto reforçavam (não no sentido de MPB!) o teor social da nova música popular brasileira. Com o fim da Ditadura Militar em 1985, o rock nacional, vitorioso, começa a repensar o seu papel enquanto agente redemocratizador. Sem um inimigo comum para combater, o rock migra para outras temáticas, perdendo um pouco do seu cunho político e social. Mesmo após o fim da censura prévia, em 1988, o rock nacional continua se valendo de subterfúgios em suas letras, seja com versões alternativas e polidas ou com uso de artifícios linguísticos, não expondo de forma explícita e agressiva, diferentemente do Punk Rock inglês, os problemas sociais. Apesar da redemocratização, o conservadorismo no Brasil permanece: as rádios preferiam tocar “Filha daquilo”, a versão “família” da música do “Ultraje a Rigor”, à sua versão mais polêmica.

Monopolizando a indústria fonográfica brasileira por mais alguns anos, o rock nacional suprimiu, de certa forma, músicos de outros gêneros musicais que tentavam se lançar no mercado, como a gaúcha Adriana Calcanhotto, que só conseguiu debutar em 1990 — ainda sim regravando clássicos dos “Titãs” e de Roberto Carlos. Com a eleição de Fernando Collor de Mello, também em 1990, o rock nacional perde ainda mais espaço no cenário fonográfico para outros estilos musicais, sobretudo para o sertanejo, fato que se deu, principalmente, devido ao perfil dos eleitores de Collor que, de certa forma, constituíam o cerne econômico — e consequentemente sociocultural — do Brasil. Apesar da aparente estabilidade que reinava no Brasil nos anos 90, o rock, que voltava a ser um estilo underground, se reinventava enquanto influenciava politicamente outros estilos musicais como o funk e o rap, que passaram a levantar a bandeira da resistência e da militância. Grupos como “O Rappa”, “Racionais MC’s”, e “MC Bob Rum” constataram, através de músicas como “Catequeses do medo”, “Pânico na Zona Sul” e “Rap do Silva”, que o inimigo — agora mais difícil de ser derrotado — era nós mesmos, nós que fazemos parte da classe média, que temos acesso à universidade, saneamento básico, educação, lazer e que muitas vezes perpetuamos o preconceito contra aqueles à margem da sociedade. Por fim, cabe postular que o rock nacional não findou, mas se reinventou em outros subgêneros musicais e se adequou ao status quo vigente. Seu legado enquanto agente (re)democratizador, no entanto, não será esquecido facilmente. Cada época tem aquilo que necessita, e, felizmente, é sempre possível voltar-se para o passado em busca de inspiração ou de qual caminho trilhar em face de novos desafios....


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