Problematica II - Elikia Mbokolo Paul Lovejoy Claude Meillassoux PDF

Title Problematica II - Elikia Mbokolo Paul Lovejoy Claude Meillassoux
Course História da África I
Institution Universidade do Estado de Santa Catarina
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Elikia Mbokolo Paul Lovejoy Claude Meillassoux...


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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO – FAED DISCIPLINA: HISTÓRIA DA ÁFRICA I DOCENTE: ANA LUÍZA MELLO SANTIADO DE ANDRADE DISCENTE: MARIANI CASANOVA DA SILVA

PROBLEMÁTICA II Um grande problema que existe acerca da escravidão é sua associação imediata com o continente africano como seu local de surgimento, o debate vai além, afim de discutir se a escravidão é um fenômeno endógeno ou exógeno ao continente. O objetivo dessa dissertação é demonstrar argumentos que sustentem a ideia de que a escravidão é um fenômeno exógeno ao continente africano. Antes de discutir essa questão, porém, é preciso definir o conceito de escravo. Segundo Claude Meillassoux 1, antropólogo africanista que se encaixa na perspectiva dos Novos Estudos Africanos, a definição de escravo é muito mais abrangente do que normalmente é interpretada, podendo se referir a qualquer relação de subjugação, dependência, servidão a um parente mais velho, um líder, esse termo também pode referir-se a ‘’discípulo’’. Para o autor, a escravidão que ocorria nas sociedades domésticas é presente em qualquer sociedade e diferencia-se da escravidão como instituição. Já Paul Lovejoy, historiador estadunidense inserido na mesma perspectiva de Meillassoux, descreve a escravidão como uma forma de exploração, e os escravos como ‘’bens móveis’’ 2, propriedades de seus senhores e

seres alienados. Meillassoux questiona a condição de

alienabilidade dos escravizados, já que, segundo ele, o escravo não pode ser comparado a um objeto ou a um animal, pois havia em suas tarefas, o apelo à sua inteligência. Ambos os autores defendem que a escravidão como instituição é exógena ao continente africano, Meillassoux contrapõe os argumentos propostos pelos autores Igor Kopitoff e Suzanne Miers, os quais afirmam que a escravidão é endógena ao continente africano por ser uma modificação de um 1 MEILLASSOUX (1995), p. 9. 2 LOVEJOY (2002), p. 30.

fenômeno já existente no local, a escravidão de parentesco. Meillassoux afirma que nas sociedades domésticas, não existia um valor intrínseco, já que as trocas eram feitas entre iguais (uma mulher púbere por outra mulher púbere) 3, e que na escravidão sistemática as trocas eram ‘’deisguais’’, e por isso, eram diferentes. Segundo o mesmo autor, a escravidão em África estava diretamente ligada ao parentesco, esse último não ligado à ideia de consanguineidade, mas a de ‘’nascer e crescer junto’’, nesse caso, o escravo era o estranho. 4 Antes da colonização e instauração da escravidão no continente, povos árabes islâmicos já faziam parte de um ‘’mercado escravista’’, a diferença crucial entre essas duas formas de escravidão era que para os muçulmanos, a subjugação do outro não era por questões raciais como para os europeus, e sim por questões religiosas, muçulmanos não se escravizavam entre si, independendo da cor da pele. Lovejoy aponta a influencia da abertura do Atlântico ao comércio, que foi bastante importante, pois a partir desse desenvolve-se uma forma nãomuçulmana de escravidão na região e são exportados milhões de escravos afim de obter-se mão de obra para o campo e para as minas. A citação abaixo ilustra o que é exposto pelo autor: A evolução da escravidão da África se deu graças ao tráfico atlântico de escravos. A atração do mercado atlântico tinha o efeito de afastar ainda mais as formas locais de escravidão de uma estrutura social na qual o escravismo era apenas uma entre outras fontes de dependência

pessoal,

para

um sistema

no

qual

os

cativos

desempenhavam um papel cada vez mais importante na economia. 5

Elikia M’Bokolo, historiador nascido na República Democrática do Congo, se insere no perspectiva dos Novos Estudos Africanos e tem traços pan-africanistas. Quando escreve sobre os estados sudaneses discorre sobre a população do local, que há muito já estabelecia comércio com os povos árabes. O Islã participou ativamente na construção e modificação dos impérios nessa região, isso é ilustrado na série The Book of the Negroes, a população dyula, incluindo Aminata, já tinham contato com o Islã (a leitura que lhe é ensinada por seu pai e a reza). Assim como mostrado na série, no texto de Elikia é mostrado que a chegada dos europeus modifica violentamente o modo 3 MEILLASSOUX (1995), p.12 4 MEILLASSOUX (1995), p.19 5 LOVEJOY (2002), p. 51.

de vida dessas populações, que muitas vezes eram dizimadas. A inserção do continente no comércio transatlântico de escravos altera também o comércio na região, pois este se torna muito maior do que o já existente com os árabes. Com essa lógica de comércio de escravos, chegam também guerras cujos objetivos eram a captura de cativos para que fossem vendidos. Essas guerras são retratadas na série, quando africanos capturavam outros africanos para serem levados e escravizados. Como mostrado através do personagem Chekura, um fula, as condições desses africanos eram instáveis (ele captura Aminata e depois é levado no navio assim como ela, para ser vendido). Um grande problema em igualar a escravidão existente nas sociedades domésticas ao tráfico atlântico é que isso acarreta na culpabilização dos próprios africanos pelo processo de escravidão, e na própria consolidação dos estereotipos negativos acerca do continente e de seus habitantes. A escravidão não pode, portanto, ser considerada endógena ao continente africano, já que o tráfico atlântico não corresponde a uma simples modificação de um sistema de escravidão já existente no local, bem pelo contrário, a escravidão só se torna sistemática com a interferência dos europeus.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MEILLASSOUX, Claude. Antropologia da Escravidão: o ventre de ferro e dinheiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995. LOVEJOY,

Paul.

A

escravidão

na

África:

uma

história

de

suas

transformações. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. M’BOKOLO, Elikia. África Negra, História e Civilização. EDUFBA / Casa das Áfricas / 2009....


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