Resumo do artigo \"A Sociologia da Educação de Pierre Bourdieu: limites e contribuições\" PDF

Title Resumo do artigo \"A Sociologia da Educação de Pierre Bourdieu: limites e contribuições\"
Author Isabela Fiuza
Course Ciências Sociais
Institution Universidade Federal de Uberlândia
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Resumo da obra "A Sociologia da Educação de Pierre Bourdieu: limites e contribuições", de Cláudio Marques Martins Nogueira e Maria Alice Nogueira....


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Isabela Fiuza Martins

NOGUEIRA, C. M. M. & NOGUEIRA. A Sociologia da Educação de Pierre Bourdieu: limites e contribuições. Educação & Sociedade, ano XXIII, no. 78, Abril/2002. Pg. 15 – 36.

O artigo “A Sociologia da Educação de Pierre Bourdieu: limites e contribuições”, escrito por Cláudio Marques Martins Nogueira e Maria Alice Nogueira, analisa as contribuições e limitações da Sociologia da Educação do autor Pierre Bourdieu. Primeiramente, observa-se as reflexões que o autor realizou acerca da herança familiar e da relação desta com o desempenho escolar dos alunos. Em seguida, debate-se sobre as teses do autor acerca do papel da escola no processo de reprodução e legitimação das desigualdades sociais existentes. O texto inicia-se ressaltando o mérito de Bourdieu, a partir dos anos 60, em formular uma teoria original que justificasse - de modo bem fundamentado - a problemática da desigualdade escolar. Destaca-se que até o século XX, tinha-se nas Ciências Sociais e no senso comum em geral, uma ideia de que a escola seria o melhor instrumento existente para superação do atraso econômico observado na sociedade, ou seja, seria por meio dela que aqueles que nasceram desfavorecidos e marginalizados, teriam condições de ascender. Supunha-se, com base nesta lógica citada, que as escolas públicas gratuitas seriam a solução para o acesso à educação, garantindo uma democratização do ensino, logo, uma garantia de oportunidades igualitárias a todos. Cria-se assim, uma conjuntura em que os “meios” - as escolas - estariam dispostas ao uso de todos, igualmente, e a partir disto, os indivíduos competiriam entre si e aqueles que mais destacassem-se no âmbito escolar, por consequência, conseguiriam os melhores cargos no mercado de trabalho, ocupando assim posições superiores na hierarquia social posta. A grande transformação desta tese ocorre na década de 1960, por meio de uma significativa crise desta concepção de escola e do papel que ela possui na sociedade. A visão otimista e meritocrática é “deixada de lado” e assume-se uma postura, um tanto quanto, mais pessimista. Os autores apontam dois movimentos principais que geraram esta mudança no modo de compreender a educação: 1) a partir dos anos 50 uma série de pesquisas, realizadas pelos governos da Inglaterra, Estados Unidos e França, é divulgada; tratam-se de estudos

sobre a relação - e o peso - da origem social e dos destinos escolares dos alunos, algo que abala a crença da igualdade de oportunidades existentes dentro do âmbito escolar. 2) o processo de “massificação do ensino”; este, apontam os autores, gerou um forte sentimento de frustração nos estudantes - principalmente os franceses - que ao entrarem nas universidades, por meio da política de inserção pós-guerra, não “agradaram-se” com o ensino autoritário e tampouco pelo baixo retorno social e econômico que lhes era oferecido pelo mercado de trabalho ainda que tivessem certificados escolares. Bourdieu denomina este grupo de estudantes decepcionados como “geração enganada”, sendo estes um importante vetor para a crítica árdua que foi feita ao sistema educacional da época e que auxiliou em demasia o amplo movimento de contestação social de 1968. A contribuição de Bourdieu, em termos gerais, constitui em propor uma “verdadeira revolução científica”, sendo esta baseada em uma nova interpretação da escola e da educação, capaz de explicar todas as falhas que as teses anteriores provaram-se incapazes. Tem-se como base primordial para esta nova visão que ascendia, os dados que demonstravam a relação entre desempenho escolar e origem social; ressalta-se que a instituição que antes era vista e colocava-se como um instrumento de igualdade e justiça social, passa a ser interpretada como um meio de reprodução e legitimação das desigualdades. A escola torna-se assim, apontam os autores, uma das principais instituições por meio da qual “se mantêm e se legitimam os privilégios sociais”. Destaca-se que a teoria de Bourdieu alcançou um sucesso alastrante, sendo ainda hoje - na atualidade - um dos mais importantes paradigmas da interpretação sociológica da educação. Entretanto, o objetivo do presente artigo analisado não é ressaltar os méritos do autor e sua teoria, mas sim, suas limitações, realizando assim uma análise mais equilibrada de sua obra. Assim sendo, trata-se, primeiramente, das reflexões de Bourdieu acerca da constituição dos autores de acordo com suas origens sociais e o modo como esta reflete-se nos comportamentos escolares dos mesmos. Ressalta-se, neste ponto, que uma das teses centrais da Sociologia da Educação de Bourdieu, é a ideia de que os alunos não são - e não podem ser compreendidos - como indivíduos abstratos que uma vez dentro da escola, automaticamente, torna-se iguais. Os mesmo são, na verdade, atores socialmente constituídos que trazem em si um conhecimento social e cultural que baseia-se, em grande medida, nas suas origens. Nota-se que este conhecimento pode ser mais ou menos valorizado pelo “mercado escolar”, logo, o “grau de sucesso” que será alcançado por cada estudante - dentro

da escola - decorre diretamente dos conhecimentos prévios que ele possui, ou seja, da sua origem social. Ao ter-se “internalizado” saberes valorizados pela escola, automaticamente, tem-se uma condição de melhor desempenho escolar. Na sequência os autores irão ressaltar as análises de Bourdieu sobre a escola e o modo como esta reproduz as desigualdades sociais. O autor observa o modo como as instituições escolares não é neutra no processo de “seleção” dos alunos mais talentosos, pelo contrário, o conhecimento exigido por ela é extremamente selecionado e referente, basicamente, aos gostos, crenças, posturas e valores dos grupos sociais dominantes, algo que é apresentado e cobrado de forma mascarada, sob a falsa ideia de que este conjunto de conhecimentos e hábitos cobrados fossem uma “cultura universal”. Compreende-se, portanto, que a escola teria uma função ativa, ao definir todo seu modo de funcionamento (currículo, método de ensino e formas de avaliação), no processo social de reprodução das desigualdades sociais existentes em todos os demais âmbitos. Mas, para além disto, esta instituição seria responsável por legitimar tais desigualdades, criando um ideal comum de que estas são “naturais” e as invisibilizando sob o manto meritocrático e igualitário. No tópico “A herança familiar e suas implicações escolares”, demonstra-se a preocupação de Bourdieu em superar um clássico dilema do pensamento sociológico: o subjetivismo e o objetivismo; algo que é feito apontando erros - e alguns poucos acertos - de ambos os movimentos. Ao analisá-los, o autor evita - ao realizar suas análises - utilizar tanto um, quanto o outro. Segundo ele, o indivíduo que deve ser estudado pela Sociologia da Educação que se está construindo, não é nem isolado ou individualista, nem determinado totalmente pelas condições objetivas de onde encontra-se inserido. Cada sujeito torna-se caracterizado por uma “bagagem socialmente herdada”. Esta bagagem seria composta por aspectos individuais - bagagem transmitida pela família, a denominada “cultura geral” - e externos, tal qual: o capital econômico, social e o cultural institucionalizado. O “capital cultural”, um dentre os elementos incorporados à bagagem graças ao âmbito familiar, seria o mais relevante para o destino escolar de um estudante. Bourdieu afirmar que é este capital o responsável por favorecer o desempenho de um aluno, visto que, na escola o mesmo apenas estaria revendo e conhecendo mais sobre conteúdos que já havia tido contato anteriormente. “A educação escolar, no caso das crianças oriundas de meios culturalmente favorecidos, seria uma espécie de continuação da educação familiar, enquanto para as outras crianças significaria algo estranho, distante, ou mesmo ameaçador.” (p.21).

Outro ponto tratado pelos autores acerca da teoria de Bourdieu é a noção de “habitus ”. Esta seria, de modo amplo, o resultado de um acúmulo de histórico de experiências - de sucesso e fracasso - que cada grupo social teria e que iria desenvolvendo-se com o tempo de modo a construir um conhecimento prático e geral daquilo que seria ou não possível para os membros de determinada classe social. Deste modo, têm-se uma “consciência coletiva” dentro dos diferentes grupos sociais que cria uma ideia geral daquilo em que se deve ou não investir esforços. Ao aplicar isto na educação, Bourdieu irá afirmar que este raciocínio permite-nos explicar o porque alguns grupos sociais investem mais esforços que outros nos estudos: porque as experiências prévias, passadas por membros de grupos semelhantes, provaram-se mais ou menos exitosas. Destaca-se que o investimento feito nos estudos, por exemplo, dos filhos, nas diferentes classes sociais variam por diferentes motivações. O autor destaca ainda a importância de se compreender que mesmo entre classes iguais, há variações; deste modo, não pode-se analisar as práticas escolares de determinado estudante observando somente a classe a que ele pertence, pois o contexto familiar dele com o de outro colega da mesma classe pode diferenciar, e o “habitu s” de classe não é capaz de englobar todos os “habitus ” familiares que o compõe, afinal, cada família é composta por indivíduos diversos, produtos de múltiplas escolhas e influências sociais. O segundo e último tópico, “A escola e o processo de reprodução das desigualdades sociais”, ressalta a interpretação feita por Bourdieu sobre a relação da instituição escolar com as relações de classe - e suas desigualdades - no âmbito social. Para o autor, a escola somente pode ser compreendida, assim como suas práticas pedagógicas, se relacionadas com o sistema de classes. Conforme apontado anteriormente, o autor defende com veemência a tese de que o universo escolar não é livre de imparcialidades, pelo contrário, trata-se de uma instituição que reproduz e legitima a dominação executada pelos dominantes, naturalizando-a. Esta visão, apontam os autores do artigo, parte da noção de que nenhuma cultura pode ser compreendida como superior a outra. Entretanto, de modo geral, é isto que a cultura escolar afirma sobre si mesma, que é maior que as demais, mais válida. Ao se refletir sobre isto, depara-se com um pensamento “lógico”: o conhecimento escolar é o mais válido; o conhecimento escolar baseia-se na lógica de mundo burguesa; logo, o conhecimento válido é o burguês. Entretanto, este silogismo não é apresentado. A escola assume um papel de neutralidade, pois somente assim pode obter legitimidade para oferecer ensino para as mais

diferentes pessoas. Ao enquadrar-se nesta posição, a mesma é reconhecida como legítima e assim, segundo Bourdieu, torna-se livre de qualquer suspeita. Compreende-se assim que a pedagogia implementada, ainda que esconda-se sobre um véu de igualdade, explicando o mesmo conteúdo para todos os alunos, não é realmente “para todos”. Os alunos provindos de famílias que tratam - desde sempre - das temáticas analisadas na escolas, recebem o que esta lhes sendo passado como códigos já familiares, mas reorganizados; em contrapartidas, aqueles que não possuem qualquer familiaridade com o que está sendo ali tratado, ouvirá apenas códigos que não conseguem decodificar. Conforme exposto pelos autores: “Para os alunos da classes dominantes, a cultura escolar seria a sua própria cultura, reelaborada e sistematizada. Para os demais, seria uma cultura ‘estrangeira.” (o.30). Tem-se como argumento central, então, que ao não assumir que a cultura por ela implementada é a cultura da classe dominante, esconde-se também - por consequência - que é este fator que determina o sucesso ou fracasso escolar, criando um meio aparentemente meritocrático, quando, na realidade, é totalmente influenciado por fatores vários além do mérito individual de cada aluno. Deste modo, a legitimação da desigualdade social se daria no processo da negação do privilégio cultural que é oferecido aos alunos provindos das classes dominantes. Ressalta-se ainda, quanto aos estudantes das camadas dominadas, que o maior efeito da violência simbólica feita pelas escolas não é a perda da sua própria cultura familiar, mas a imposição de que estes reconheçam a cultura dominante como superior que a sua. Em suma, Bourdieu buscou demonstrar que ainda que o acesso à educação seja democratizado - principalmente por meio das escolas públicas - a hierarquia social permanece sendo expressa dentro das escolas e utilizada como legitimação para que a desigualdade exista. Feito todo este processo de análise, os autores reconhecem os méritos da teoria de Bourdieu, mas ressaltam a importância de se fazer algumas ressalvas. Primeiramente, critica-se o modo como o autor utiliza o conceito de “classe social”. Na teoria bourdiana a escola aparece somente como uma instituição subordinada aos interesses das classes dominantes, algo que foi contradito por uma série de autores, que defendem que grande parte dos conhecimentos veiculados pela escola deve sim ser passado aos estudantes, sendo importante conhecê-los. Estes defendem ainda que não é por as classes dominantes terem maior domínio sobre determinados conhecimentos que estes são pertencentes à esta. Há, inclusive, aquele que defendem uma tese contrária: é justamente por determinados

conhecimentos serem superiores, que os mesmo foram apropriados pelas classes dominantes. Uma segunda crítica apontada pelo artigo refere-se à diversidade interna do sistema educacional. Ressalta-se neste ponto a existência de diversas escolas e professores, sendo estes, diferentes; assume-se que há um modo de organização escolar “tradicional”, mas que este é variável. Assim sendo, seria “injusto” julgar todas as escolas como se fosse uma. Por fim, nas “considerações finais”, os autores retomam aquilo que foi tratado anteriormente, ressaltando - novamente - a grande contribuição feita por Bourdieu por meio da Sociologia da Educação, e o modo como seus escritos foram cruciais para que se rompesse barreiras com a ideologia meritocrática que manteve-se soberana por tanto tempo. Reconhece-se que após a obra bourdiana tornou-se impossível não voltar os olhos para as desigualdades escolares e considerar, no sistema que “mede” o sucesso escolar, as diferenças naturais de cada estudante. Destaca-se, finalmente, que ainda que haja tal grandiosidade nos textos do autor, estes devem ser aperfeiçoados e carecem, em alguns pontos, de mais detalhes....


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