TCC Teologia - Indicativos Bíblicos teológicos para a capelania carcerária PDF

Title TCC Teologia - Indicativos Bíblicos teológicos para a capelania carcerária
Author Gabriel Kuck Hoffmann
Course Trabalho De Conclusão De Curso Em Teologia - Tcc I
Institution Universidade Luterana do Brasil
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Summary

Trabalho de Conclusão do Curso de Teologia. O presente trabalho de conclusão teve por objetivo expor e analisar os principais indicativos, bíblicos e teológicos, para a visitação carcerária....


Description

UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL CURSO DE TEOLOGIA

GABRIEL KUCK HOFFMANN

INDICATIVOS BÍBLICO-TEOLÓGICOS PARA A VISITAÇÃO PASTORAL CARCERÁRIA CRISTÃ

CANOAS 2013

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GABRIEL KUCK HOFFMANN

INDICATIVOS BÍBLICO-TEOLÓGICOS PARA A VISITAÇÃO PASTORAL CARCERÁRIA CRISTÃ

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Teologia da Universidade Luterana do Brasil, como requisito necessário à obtenção do grau de Bacharel em Teologia.

Orientador: Prof. Paulo Proske Weirich.

CANOAS 2013

A presente monografia INDICATIVOS BÍBLICO-TEOLÓGICOS PARA A VISITAÇÃO PASTORAL CARCERÁRIA CRISTÃ, redigida pelo acadêmico GABRIEL KUCK HOFFMANN, foi examinada, julgada e aprovada pela Banca Examinadora em cumprimento ao Trabalho de Conclusão do Curso de Bacharelado em Teologia, na Universidade Luterana do Brasil, Canoas, RS.

Professor Orientador: Prof. Paulo Proske Weirich

______________________________ Prof. Paulo Proske Weirich

Examinador: Rev. Mario Sonntag

______________________________ Rev. Mario Sonntag

Canoas, Junho de 2013

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DEDICATÓRIA Aos meus pais, Geovani Hoffmann e Maria Helena Kuck Hoffmann, e aos demais familiares, que em todos os momentos apoiaram e incentivaram meus estudos com muito carinho e amor.

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AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus pela vida, pela justificação em Cristo Jesus e pela oportunidade de servi-lo. Aos meus pais, Geovani e Maria Helena, pelo amor incondicional, incentivo, paciência e ensino da Palavra. Por terem feito o possível e o impossível para me oferecerem a oportunidade de estudar, acreditando e respeitando minhas decisões e nunca deixando que as dificuldades acabassem com os meus sonhos. Aos amigos Heitor, Jônatas, Luan e Timóteo pela companhia e incentivo durante todo o período de elaboração deste trabalho. Que compartilharam dos mesmos sentimentos de ansiedade e ao mesmo tempo partilharam comigo café e boas risadas todos os dias, levantando meu animo para seguir em frente. À minha amiga Aline Gedrat por ouvir minhas reclamações e angústias, tendo sempre paciência e carinho para respondê-las, e por estar sempre ao meu lado quando precisei. Ao meu orientador Paulo P. Weirich, pelo empenho, paciência e auxílio, obrigado por tudo. A todos os familiares, tios, tias e primos que torceram e acreditaram na conclusão deste curso, fico muito grato. Aos amigos da turma pelas agradáveis lembranças que serão eternamente guardadas no coração, muito obrigado.

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“Falai ao coração de Jerusalém, bradailhe que já é findo o tempo da sua milícia, que a sua iniquidade está perdoada e que já recebeu em dobro das mãos do Senhor por todos os seus pecados.” (Isaías 40.2)

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RESUMO

Este trabalho procura esclarecer a perspectiva bíblica sobre a maldade humana e o descumprimento das leis. Além de enfatizar que todos os homens estão sujeitos a maldade, por causa de sua corrupção e inclinação para o mal que vem desde a queda em pecado no Éden. E também, que Deus age punindo sob a lei no regime secular, mas, resgatando e perdoando sob o Evangelho no regime espiritual. A partir disso, busca-se comprovar a importância e necessidade de lembrar-se dos encarcerados, por meio de visitas, levando-os o consolo do Evangelho e anunciando-lhes perdão, vida e salvação em Cristo Jesus para todos que nele creem. Palavras-chave: Crimes; Encarcerados; Jesus; Maldade; Perdão; Salvação.

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ABSTRACT

This research seeks to clarify the biblical perspective on human wickedness and regulatory noncompliance. Besides emphasizing that all men are subject to wickedness because of his corruption and to evil inclination, which comes since fall into sin in Eden. And also, that God acts punished under the law in the secular regime, but redeeming and forgiving under the gospel in spiritual regime. From this, seeks to demonstrate the importance and necessity of remembering the prisoners, through visits, leading them the consolation of the Gospel and announcing to them forgiveness, life and salvation in Jesus Christ to all who believe in him. Key-words: Crimes; Incarcerated; Jesus; forgiveness; salvation.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ARA LC

Almeida Revista e Atualizada Livro de Concórdia. Tradução e notas de Arnaldo Schüler. 5. ed.

LW

São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre, Concórdia: 1997. Luther’s Works (Obras de Lutero), 55 volumes, Saint Louis e

NICNT OSel

Philadelphia: Concordia e Fortress, 1958-1986. New International Commentary on the New Testament Obras Selecionadas de Martinho Lutero, 10 volumes. São Leopoldo

DS

e Porto Alegre: Sinodal e Concórdia, 1987-2010. Declaração Sólida - Fórmula de Concórdia (1577)

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO....................................................................................................................10 1.

A ORIGEM DA INCLINAÇÃO DO HOMEM PARA A MALDADE......................11 1.1.

VISÃO BÍBLICA DA MALDADE HUMANA.....................................................17

1.2.1. A visão bíblica na perspectiva secular..................................................19 1.2.2. A visão bíblica na perspectiva espiritual..............................................20 2.

CASOS PARA ESTUDO DA MALDADE HUMANA NUMA PERSPECTIVA

BÍBLICA..............................................................................................................................23

3.

2.1.

CAIM E ABEL.....................................................................................................24

2.2.

ACABE, JEZABEL E NABOTE.........................................................................27

LEMBRAI-VOS DOS ENCARCERADOS COMO SE PRESO COM ELES (HB

13.3).....................................................................................................................................33 3.1 A OPINIÃO PÚBLICA DIANTE DO CRIMINOSO................................................33 3.2 O CRISTÃO DIANTE DO CRIMINOSO................................................................35 3.3 METODOLOGIAS DE VISITAÇÃO........................................................................39 CONCLUSÃO.....................................................................................................................42 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................43

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INTRODUÇÃO

É evidente no Brasil o descaso com o sistema penitenciário. Injustiças, superlotação, degradação das prisões, e condições de vida desumanas dos detentos. Além disso, o preconceito e o abandono da sociedade para com aqueles que padecem em prisões por causa de seus erros aparece em diversas situações. Muitas vezes, mesmo depois de ter sua pena cumprida, aquele que passou pela prisão não volta como um cidadão para as ruas, mas, como um “ex-detento”. A sociedade enxerga o detento como causador do mal e da violência e merecedor de retaliação e punição unicamente. Mas a Bíblia expõe crimes e criminosos sob outra perspectiva. Apresenta aquele que foi contra a lei como merecedor da punição e, ao mesmo tempo, alvo do perdão e amor de Deus. E na carta aos Hebreus nos faz uma exortação “Lembrai-vos dos encarcerados, como se preso com eles”. Este contexto conturbado em que vivemos em nosso país foi um dos motivos para escrever sobre o assunto. Entretanto, existem outras duas motivações por trás deste trabalho. Uma delas está no desenvolvimento de um grupo de capelania carcerária que, ao longo do ano de 2012 acompanhados pelo padre Edward Benya, realizou visitas ao Presídio Estadual de São Leopoldo, o qual me trouxe inúmeras experiências e mudanças de visão. Outra motivação está no fato de que existe uma pequena quantidade de livros, artigos ou trabalhos envolvendo este assunto específico dentro da IELB, os que existem são antigos e breves. A partir disto, construí o meu trabalho baseado em algumas doutrinas, exemplos bíblicos e a experiência de um ano de visitas ao presídio. No primeiro Capítulo foram abordadas aquelas doutrinas que se fazem necessárias para a compreensão da natureza do ser humano e a ação de Deus para com o mesmo. No segundo capítulo foram expostos alguns exemplos bíblicos de crimes e criminosos e como Deus reagiu frente aos seus atos. Por fim, no último e principal capitulo, baseado na experiência da capelania carcerária e no texto de Hebreus 13.3, foi apresentada a nova perspectiva de como olhar para os detentos e a importância de ir até eles com o conforto do Evangelho.

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1. A ORIGEM DA INCLINAÇÃO DO HOMEM PARA A MALDADE

O cárcere, crimes, criminosos, punições, entre outros, são assuntos muito pertinentes e vivos no dia-a-dia do ser humano. É muito comum assistir a casos de violência, roubo, corrupção, etc. e sair discutindo penas, punições e medidas a serem tomadas para com aquelas pessoas envolvidas. Entretanto, o cárcere não é um assunto tão falado dentro da Igreja. Será porque a Bíblia não traz muito sobre este assunto? Ou porque é um assunto difícil de lidar? Na verdade a Bíblia fala bastante sobre este assunto. No decorrer da Bíblia encontramos diversas histórias de crimes e de punições, alguns casos que parecem pequenos e comuns aos nossos olhos, outros que nos causam nojo e raiva. E é possível levantar a questão, porque tantas histórias de crimes registradas na Bíblia? Por que os crimes acontecem tão frequentemente no decorrer da Bíblia e ainda nos dias de hoje? E Qual é o propósito de Deus ao permitir que estas histórias sejam conhecidas por todos nós? Em cada crime narrado nós podemos perceber a ação de Deus direta ou indiretamente, e isso, além de outras, pode significar uma coisa: que Deus não fica indiferente aos crimes cometidos, que ele quer a justiça e acima de tudo o bem da humanidade. Cada crime narrado na Bíblia está ali para mostrar o quão justo e, ao mesmo tempo, compassivo Deus é e, no fundo, cada um dos crimes citados na Bíblia nos remete a um primeiro caso, um caso que custou aos homens o paraíso e que plantou no mundo a injustiça, a criminalidade, a maldade e o sofrimento: a queda em pecado. Além disso, é claro na Bíblia a vontade de Deus para que não nos esqueçamos daqueles que estão presos, apesar de que, é da vontade de Deus sim que o mal seja punido e controlado aqui neste mundo. Entretanto, espiritualmente ele deseja o perdão e a salvação de todos. Como entender isso? A partir de outra doutrina que é necessária ser abordada: “A doutrina dos dois Reinos”. Por isso, neste primeiro capítulo vamos de forma rápida e resumida, colocar duas doutrinas como pano de fundo – do pecado e dos dois reinos - para entendermos o propósito final deste trabalho. “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou;” (Gn 1.27). Deus criou o homem perfeito, à sua semelhança, e deu a liberdade para que

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vivessem livres e em harmonia consigo. O homem não era apenas tão bom quanto os animas que haviam sido criados, mas era superior do que eles, visto que, Deus o criou a partir de um plano especial e à sua semelhança. Ele criou o homem à sua semelhança para que o homem o conhecesse e vivesse em conformidade com Sua vontade, além de, desfrutar da feliz comunhão consigo. Também para governar todas as outras criaturas.1 Essa imagem de Deus consistia na mais perfeita criação espiritual e física, conforme Lutero: Portanto, a imagem de Deus, segundo a qual Adão foi criado, foi algo muito mais distinto e excelente, uma vez que, obviamente, Sem a lepra do pecado aderida ou à sua razão ou a sua vontade. Tanto seu interior como suas sensações exteriores eram todas do tipo mais puro. Seu intelecto era o mais claro, sua memória foi a melhor, e sua vontade era a mais simples, tudo na mais bela tranquilidade de espírito, sem medo da morte e sem qualquer ansiedade. Além destas qualidades interiores da carne também as qualidades mais belas e uma soberba do corpo e de todos os membros, qualidades em que superou todas as criaturas vivas remanescentes. Estou plenamente convencido de que antes do pecado de Adão, seus olhos eram tão nítidos e claros que eles superaram as do lince e da águia. Ele era mais forte do que os leões e os ursos, cuja força é muito grande, e ele lidou com eles da forma como lidamos com filhotes. Tanto a beleza e a qualidade dos frutos que ele usou como alimentos também eram muito superiores ao que são agora. (Tradução nossa)2

Essa era a qualidade da semelhança com Deus. Ele não apenas estava em harmonia com Deus e com todo planeta, mas ele vivia uma vida que era totalmente divina. Não igual a Deus eu com todos os seus atributos, mas, com muitos atributos semelhantes a Deus, mesmo que limitados.3 Não tinha medo da morte ou de qualquer outro perigo, não tinha maus desejos, ansiedades, inveja, sofrimento, etc. 4 E, trazendo para dentro do nosso assunto, não existia qualquer crime ou inclinação para tal.

1 PIEPER, Franz. Christian dogmatics. Saint Louis: Concordia Publishing House, 1950. p. 521-522. v. 1. 2 LW 1:62 (Lectures on Genesis). Texto original: “Therefore the image of God, according to which Adam was created, was something far more distinguished and excellent, since obviously no leprosy of sin adhered either to his reason or to his will. Both his inner and his outer sensations were all of the purest kind. His intellect was the clearest, his memory was the best, and his will was the most straightforward—all in the most beautiful tranquility of mind, without any fear of death and without any anxiety. To these inner qualities carne also those most beautiful and superb qualities of body and of all the limbs, qualities in which he surpassed all the remaining living creatures. I am fully convinced that before Adam’s sin his eyes were so sharp and clear that they surpassed those of the lynx and eagle. He was stronger than the lions and the bears, whose strength is very great; and he handled them the way we handle puppies. Both the loveliness and the quality of the fruits he used as food were also far superior to what they are now.” 3 PIEPER, op. cit., p. 515. 4 LW 1:62.

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Entretanto, Deus havia dado uma ordem “...De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás”(Gn 2.16b-17), uma simples ordem, apenas uma ação que não podia ser praticada, um único item do paraíso que não devia ser desfrutado. Porém, o diabo entrou no paraíso e persuadiu a mulher para que comesse justamente daquela árvore proibida, fazendo-a desobedecer a vontade de Deus, e poderíamos dizer, cometendo assim o primeiro crime da Bíblia, um pequeno crime com consequências tão penosas. “Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu” (Gn 3.6), um simples ato e tudo estava perdido! É claro que não foi a simples mordida de uma fruta que fez com que o homem perdesse a sua imagem divina e que o pecado entrasse no mundo. A mordida da fruta não foi a razão. O grande problema consiste na desobediência a Deus e a sua Palavra, que havia sido clara tanto para Adão quanto para Eva. Eva, que possuía a mesma semelhança de Deus, foi enganada pelo diabo e pecou. E a partir deste ato, a semelhança com Deus foi desfeita. Percebe-se isso claramente a partir dos versículos que seguem a narrativa da queda. A vergonha, o medo, a desconfiança, etc. logo começam a aparecer e, estes eram apenas os primeiros sinais da “lepra” do pecado. 5 Com este acontecimento, a corrupção hereditária passou a fazer parte de todos os seres humanos naturalmente nascidos, como é claramente expressado no segundo artigo da Confissão de Augsburgo: Ensina-se, outrossim, entre nós que depois da queda de Adão todos os homens naturalmente nascidos são concebidos e nascidos em pecado, isto é, que desde o ventre materno todos estão plenos de concupiscência e inclinação más, e por natureza não podem ter verdadeiro temor de Deus e verdadeira fé em Deus. Também, que esta inata pestilência e pecado hereditário verdadeiramente é pecado e condena à eterna ira de Deus a quantos não nascem pelo batismo e pelo Espírito Santo.6

Sobre esta questão da corrupção hereditária não existe muita dúvida, até a razão humana consegue perceber algo semelhante. Alguns escritores pagãos, como Horácio e Cícero, descrevem uma inclinação natural do homem para o mal. Mas o conhecimento pleno de quão profunda e grave é esta corrupção e que a sua origem 5 LW 1:162. 6 CA II, 1.

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vem desde a queda de Adão e Eva, somente pode ser adquirido através da revelação da Escritura Sagrada.7 A Escritura torna claro também, ao contrário do que muitos suportam, que todos os seres humanos são concebidos em pecado, como pode ser visto no Salmo 51.5: “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe”. A queda em pecado e a corrupção hereditária trazem consequências terríveis para toda a humanidade nos aspectos espirituais e morais. Em relação as coisas divinas, descreve a Fórmula de Concórdia sobre o estado deplorável do homem natural: ...Pela queda de nossos primeiros pais o homem foi corrompido de tal maneira, que em coisas divinas, que dizem respeito à nossa conversão e à salvação de nossas almas, é por natureza cego, e que, quando a palavra de Deus é pregada, não a entende, nem pode entendê-la, porém a considera loucura. Também, que de si mesmo não se aproxima de Deus, mas permanece inimigo de Deus até ser convertido, tornar-se crente, ser renascido e renovado com o poder do Espírito Santo pela palavra pregada e ouvida, por mera graça, sem qualquer cooperação de sua parte.8

Assim, fica claro que o homem após a queda perdeu toda a capacidade de buscar a Deus e de agrada-lo através de suas próprias forças. Paulo deixa claro que “não há quem entenda, não há quem busque a Deus”(Rm 3.11) e também Lutero, quando explica que a verdadeira condição do homem era de justiça, de amar a Deus, buscar a Ele, amá-lo, conhecê-lo, etc. Estas coisas eram tão naturais para Adão, como é natural para os olhos receber a luz9, mas depois da queda, o homem não só deixou de amar completamente a Deus, mas foge Dele, o odeia e quer viver sem Ele. Esta é a verdadeira situação espiritual do homem caído.10 Mas a corrupção hereditária trás consequências também para a vontade do ser humano, e aqui está o foco principal neste capitulo. Após a queda, a vontade do ser humano não permanece a mesma, a qual, antes era de fazer o bem, obedecer a Deus, cuidar da natureza e do próximo e etc. Agora, a vontade é totalmente oposta a tudo isso e, não apenas tem sua vontade oposta a vontade de Deus, mas não pode mudar sozinho sua condição. Pieper expressa isso com a seguinte afirmação: “non potest non peccare”.11 E Lutero explica que com a queda adquirirmos ignorância de Deus, presunção, ódio, desobediência e outras faltas graves e que estes estão tão 7 PIEPER, op. cit., p. 541. 8 DS, II, 5. 9 LW 1:165. 10 LW 1:165. 11 PIEPER, op. cit. p. 544.

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profundamente implantados em nossa carne, corpo, músculos, sangue, através dos ossos e da medula, na vontade no intelecto e na razão, que não apenas são impossíveis de serem removidos pela vontade e esforço humano, mas, também, não são sequer reconhecidos como pecados.12 Há outro ponto que precisa ser enfatizado. Mesmo as ações do homem natural, que exteriormente parecem ser boas, no seu íntimo procedem de uma compaixão natural ou de uma justiça civil. Estas ações estão ligadas ao falso entendimento do ser humano, que naturalmente busca a justificação pelas boas obras ou, ainda, tem origem na sua vanglória. Por isso, até mesmo aquelas ações que exteriormente parecem ser boas, não derivam do verdadeiro amor a Deus. Tudo isto não é mera...


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