Trabalho sobre a Invenção da Infância PDF

Title Trabalho sobre a Invenção da Infância
Course PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO I:INFANCIA
Institution Universidade Estadual do Ceará
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Trabalho que resume e descreve a Invenção da Infância...


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TRABALHO SOBRE A INVENÇAO DA INFÂNCIA Disciplina: Psicologia do Desenvolvimento I - Infância O significado atual de infância como uma fase da vida “sagrada” e o reconhecimento da criança como um sujeito possuidor de direitos e de um lugar na sociedade só se tornou possível a partir de algumas mudanças sociais e econômicas (o saber, a racionalização do homem e a organização do capital) proporcionadas pela passagem do pensamento medieval para o moderno. Antes do século XVII, as crianças eram vistas como seres sem alma, quando morriam, as pessoas as enterravam no jardim, porque elas eram tão insignificantes que não se temia que elas voltassem para importunar os vivos. Essa insignificância era devido a demografia da época, que não oferecia condições para que os pequenos seres sobrevivessem. Tais transformações contribuíram fortemente não só para a construção do sentimento de infância e para o surgimento da preocupação com a criança como também - de forma consequente - para dar impulso às investigações científicas em torno desse pequeno ser. De acordo com Ariès (1973), a noção de infância tal qual conhecemos hoje, inexistia até o século XVI. Antes disso, ela era vista apenas como um período de transição e a arte medieval não se preocupava em representá-la. Os poucos estágios da vida não eram claramente demarcados de modo que a criança acabava sendo vista como uma espécie de “homem em miniatura” e, portanto, incorporada pelo mundo adulto assim que não precisasse mais fisicamente da mãe. Dessa maneira, as vestimentas das crianças não se distinguiam da dos adultos e as atividades sociais eram compartilhadas entre ambos sem que houvesse uma distinção do que era adequado ou não para o público infantil, já que, obviamente, não existia a ideia de infância como uma etapa diferenciada da vida. Ainda, o infanticídio, bastante comum nessa época, sustentava a ideia de que era preciso fazer várias crianças para se conservar apenas algumas de forma que “as pessoas não podiam se apegar muito a algo que era considerado uma perda eventual” (Ariès, 1973, p. 22), o que contribuía para tornar a infância uma fase quase que sem importância. Dessa forma, somente a partir do século XIII que começaram a surgir alguns tipos de crianças mais próximos da imagem moderna. Assim, surgiu o anjo, representando a aparência de um jovem adolescente, o Menino Jesus ou a Nossa Senhora menina e a criança na fase gótica, a criança nua.

Por sua vez, no século XV a imagem da criança começou a ser representada pelos retratos e pelos puttos. Dessa forma, as crianças começaram a sair do anonimato e serem vistas como seres que possuem almas. No entanto, com o nascimento da modernidade, durante os séculos XV e XVI, o homem volta-se para a ciência e passa a se preocupar com a racionalização da educação. A escola, ligada à ideia de trabalho - ou seja, de adaptador do trabalhador ao trabalho - torna-se fundamental para o desenvolvimento da sociedade e tanto a criança como a mulher entram como novos protagonistas desse modelo voltado para o lucro. Assim, com a chegada da Idade Moderna e o aparecimento do pensamento dualista de Descartes, a primeira concepção real de infância começou a emergir nas classes dominantes. A criança surge, assim, no século XVII, como um indivíduo que necessita de atenção e cuidados - bem como de uma rígida disciplina - e a palavra infância passa a ser utilizada para se referir à primeira idade da vida. De acordo com Nascimento, Brancher e Oliveira (2008), a preocupação inicial com essa etapa teve como base a repressão e a submissão da criança através de uma rígida disciplina a fim de controlá-la e ensiná-la as atitudes valorizadas pela sociedade. Contudo, a partir do aparecimento de Rousseau - cujo pensamento revolucionou a pedagogia - e dos ideais da Revolução Francesa - que modificaram a função do Estado - passou-se a se preocupar mais não só com o bem estar das crianças como também com a sua educação. De acordo com Silva e Carvalho (2004), a modernidade, tendo como alvo o progresso e o desenvolvimento, possibilitou o surgimento não só de uma nova ética educacional, mas também de toda uma estrutura de sociedade. As mudanças ocorridas nesse período, as quais resultaram, ainda que para fins econômicos, na universalização da educação básica no final do século XIX, influenciaram o homem e a sua maneira de ver a vida e as relações sociais, resultando em uma reestruturação nas concepções de família e de infância. Em relação à nova ética educacional, os educadores, já no final do século XV, utilizavam do discurso de formação moral e de pureza das crianças a fim de tirar dos currículos escolares livros considerados imorais ou “duvidosos”, pensamento que foi então adotado também entre católicos e protestantes. Em meio a esse contexto de moralidade e religiosidade, a educação é colocada em uma posição de extrema importância no desenvolvimento do indivíduo, impulsando o aumento dos colégios que, apesar de conterem uma rígida disciplina, preocupavam-se em cuidar da criança e proteger a sua inocência. Esse pensamento passa, então, a se ampliar e se diversificar de forma que:

Entre o fim da Idade Média e os séculos XVI e XVII, a criança havia conquistado um lugar junto de seus pais, lugar este a que não poderia ter aspirado no tempo em que o costume mandava que fosse confiada a estranhos. Essa volta das crianças ao lar foi um grande acontecimento: ela deu à família do século XVII sua principal característica, que a distinguiu das famílias medievais. A criança tornou-se um elemento indispensável da vida quotidiana, e os adultos passaram a se preocupar com a sua educação, carreira e futuro. (Ariès, p 189)

No entanto, com as alterações provocadas pelo novo modelo econômico e as novas mentalidades desenvolvidas quanto as concepções de família e infância, o sentimento de infância está desaparecendo. As crianças estão tornando-se “pequenos adultos”. Como vimos no documentário “A invenção da infância”, as crianças das classes alta e média estão com rotinas sempre ocupadas pela escola e pelas atividades extracurriculares, para assim terem melhores oportunidades na vida adulta. As pobres, por sua vez, também possuem uma rotina ocupada, mas pelo trabalho. Em ambos os casos, essas crianças não possuem tempo para brincar, estão sempre exaustas. É como se a infância tivesse se transformado em um período de preparo para a fase adulta, no caso das classes alta e média, ou na própria vida, no caso dos pobres. A mesma modernidade que criou o sentimento de infância está fazendo-o desaparecer. Cabe ressaltar que as relações estabelecidas pelo mercado e pela racionalidade também contribuem para o desaparecimento do sentimento de infância. O “pequeno adulto” torna-se alvo do consumo. Segundo Bauman, na obra Vida Para Consumo, de 2008, na sociedade de consumidores, o consumo é visto como um direito e um dever, não reconhecendo diferenças de idade, nem de gênero, nem de classe. Assim, o mercado permite que as crianças participem da vida adulta por meio do consumo, sendo lançadas no mundo adulto sem que haja nenhum filtro, diluindo assim o sentimento de infância. Se compararmos o panorama atual, principalmente nas cidades interioranas nordestinas, ainda é possível observar situações similares às do documentário, mesmo que a fase da infância já seja reconhecida e que existam leis nacionais que garantem os direitos de crianças e adolescentes. A cena nacional e mundial não seguiram uma homogeneidade, estão em estágios bastante discrepantes em relação a valorização e respeito a esse estágio de vida, portanto, iremos comentar a repercussão dessa nova visão sobre a infância nos estudos europeus sobre a temática. A introdução pioneira de Ariès do termo infância na sociedade como constructo social, inspirou diversos trabalhos e pesquisas sobre o tema, e desencadeou, principalmente na França e Inglaterra, uma série de estudos sobre esse tópico, que seccionam e pesquisaram

diversos de seus aspectos. Sirota e Montandon (2001 apud Nascimento, Brancher e Oliveira, 2008), iniciaram a “sociologia da infância” que buscava transformar essa etapa inicial da vida em objeto de pesquisa, buscando entender os nuances dessa fase e tentando fugir do reducionismo e da generalização sobre esse período. A ideia defendida era a de que a infância não deveria ser tratada como uma só, afirmando que existiam diferenciações dentro da própria infância, segundo Demartini (2001, p.4), “porque não existe uma única, e sim, em mesmos espaços têm-se diferentes infâncias, resultado de realidades que estão em confronto” (apud Nascimento, Brancher e Oliveira, 2008). Os estudiosos sobre o assunto procuraram desconstruir a visão biológica limitada da criança e buscaram evidenciar as diferenças e singularidades com as outras fases do desenvolvimento. Até mesmo Piaget (1967), que ainda escrevia muito em uma perspectiva naturalista, já havia tomado conhecimento da importância dos primeiros anos de vida para o estudo do desenvolvimento humano, em seus estudos sobre a construção cognitiva do pensamento da criança ele ressaltou como as estruturas de pensamento dos adultos não é um processo inato e pontuou a importância de entender o ser humano como um todo a partir dos conhecimentos da construção progressiva da cognição humana, observando seus avanços no decorrer dos anos iniciais do sujeito e a incapacidade fisiológica de crianças muito pequenas de entenderem conceitos vistos como básicos para adultos, como a noção de ir e voltar, que Piaget chama de reversibilidade (Piaget, 1967, p.69-76), ou seja, ainda que as crianças estivessem submetidas ao regime de serem “pequenos adultos” e que a sociologia da infância buscasse fugir dos estereótipos biologicistas, a própria constituição biológica, tanto muscular, quanto cognitiva, ainda não está preparada para exercer as atividades que realizam no vídeo com a competência de um adulto. Levando em conta o documentário juntamente com nossos estudos citados até aqui, acrescentando ainda a divisão em três fases históricas do desenvolvimento do conceito de infância de Frabboni (1998), fica clara a ainda presente negação dessa infância de direitos, citada pelo autor como a estabelecida universalmente na nossa realidade atual, a uma parcela mais desfavorecida da população infantil, parcela essa que parece ainda estar presa ao período de uma infância industrializada ou até mesmo negada, onde essas crianças são obrigadas a se ocupar com atividades manuais, desgastantes e, muitas vezes, até desumanas, para suprir suas necessidades básicas de sobrevivência, dessa forma, essas crianças veem negados direitos tidos como elementares dentro da visão de infância da nossa sociedade atual, como o direito a educação, ao brincar e a uma alimentação adequada. Essa realidade é retratada com bastante clareza no documentário, mas para além disso, é algo que faz parte do nosso cotidiano, essa

cada vez mais crescente fragmentação e segmentação de realidades e de vários tipos de infâncias numa mesma época e, muitas vezes, em uma mesma localidade, o que nos obriga a pensar não mais em um modelo linear de evolução do conceito de infância, mas em um modelo que leve em conta também o contexto social no qual está inserido a criança, já que, como visto no documentário, atualmente, na sociedade de consumo em que vivemos, aqui novamente citando o conceito de Bauman (2008), esse contexto tende a ser mais preponderante do que a época em que essa criança nasceu, o poder aquisitivo e, consequentemente, de consumo, da família na qual está inserida a criança parece definir que tipo de infância ela terá. REFERÊNCIAS ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2° ed. Rio de Janeiro: LTC, 1981. 196 p. BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: A transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. 199p. DEMARTINI, P. Contribuições da sociologia da infância: focando no olhar. Florianópolis: Revista Zero-a-seis. 2001. Disponível em

Acesso em 30/11/2017. FRABBONI, Franco. A escola infantil entre a cultura da infância e a ciência pedagógica e didática. In: ZABALZA, M. Qualidade em educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 1998. cap. 4, p. 63-92 NASCIMENTO, C. T; BRANCHER,V.R; OLIVEIRA,V. F. A construção social do conceito de infância: algumas interlocuções históricas e sociológicas, 2008.17p PIAGET, J. Seis estudos de psicologia. Trad. Maria A.M. D’Amorim; Paulo S.L. Silva. Rio de Janeiro: Forense, 1967. 146p. SILVA, Michelle Pereira da; CARVALHO, Carlos Henrique de. Infância e modernidade: redimensionando o ser criança. Monte Carmelo, 2004. Disponível em: . Acesso em: 30 nov. 2017....


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