Análise do filme \"Desmundo\" de Alain Fresnot PDF

Title Análise do filme \"Desmundo\" de Alain Fresnot
Author Anna Teixa
Course História do Brasil Império
Institution Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
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Summary

O trabalho aqui feito possui como objetivo a análise dos assuntos abordados na cadeira de História do Brasil que foram observados no filme “Desmundo”. Esse longa-metragem foi gravado em 2003 no Brasil pelo diretor Alain Fresnot, com um roteiro adaptado do livro “Desmundo” (1996) de Ana Miranda. ...


Description

“DESMUNDO” - ABORDAGEM DO BRASIL COLONIAL EM DIFERENTES ASPECTOS

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO-------------------------------------------------------------------------------------------- 02 2 DAS QUESTÕES INICIAIS DE MÃO DE OBRA E SUA RELAÇÃO COM A ECONOMIA E RELIGIÃO NA AMÉRICA PORTUGUESA--------------------------------------------------------- 04 3 DO QUE SE REFERE À ORGANIZAÇÃO E SISTEMATIZAÇÃO SOCIOPOLÍTICA DA AMÉRICA PORTUGUESA EM MEADOS DE 1570------------------------------------------------ 07 4 DA EXPANSÃO DA AMÉRICA PORTUGUESA PARA OS SERTÕES COM O GADO--------------------------------------------------------------------------------------------------------- 09 5 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA---------------------------------------------------------------------10

1 1 INTRODUÇÃO O trabalho aqui feito possui como objetivo a análise dos assuntos abordados na cadeira de História do Brasil Colônia que foram observados no filme “Desmundo”. Esse longa-metragem foi gravado em 2003 no Brasil pelo diretor Alain Fresnot, com um roteiro adaptado do livro “Desmundo” (1996) de Ana Miranda. O filme trata do primeiro século da colonização portuguesa no Brasil, mais especificamente por volta de 1570, construindo uma história sobre um grupo de jovens órfãs trazidas da metrópole Lisboa para se casarem com os colonizadores para que estes parassem de “pecar” ao se relacionarem com as “negras da terra” (índias). Oribela de Covilhã é uma das órfãs oriundas de convento, que casa forçadamente com Francisco de Albuquerque. A partir disso, a trama é composta por tentativas de fuga e revolta de Oribela contra a violência e assédio de Francisco. O tema destaque do longa é justamente a violência contra a mulher na colônia, o que claramente não deve ser ignorado; porém, para melhor completar os escritos aqui feitos, é necessário perceber outras temáticas que aparecem, mesmo que implicitamente, como a escravização indígena, a organização sociopolítica da colônia, a influência jesuítica e a inserção do gado na economia colonial. Antes de ser iniciada a análise dos assuntos que o filme contém, é necessário mostrar como foi que Portugal chegou às terras americanas. Durante o semestre, foi-se estudado o processo inicial de colonização da América portuguesa assim como sua crise no fim da Era Moderna. A Europa dos séculos XV e XVI passava por uma mudança de mentalidades, com a formação dos Estados nacionais, as reformas religiosas e o Renascimento. Os países ibéricos (Portugal; e Castela, posteriormente Espanha) foram os pioneiros nas Grandes Navegações, optando por uma série de investimentos nas ciências náuticas e na aquisição de embarcações e navegadores; além das próprias condições naturais e geográficas de proximidade com o hemisfério ocidental. Com a perspectiva de chegar às índias, os dois países se lançaram ao mar no século XV fazendo pequenas incursões na costa africana e colonizando algumas ilhas do Atlântico. Com as mudanças de perspectivas da geopolítica europeia, em 22 de abril de 1500, Pedro Álvares Cabral

“acha” o que são hoje as terras do Brasil. Começa-se então uma exploração indireta por meio de concessões a particulares do pau-brasil. Somente em 1530 é que os primeiros colonizadores portugueses chegam, iniciando a produção do açúcar com a fundação dos engenhos e vilas. É ainda nesse contexto inicial de ocupação que “Desmundo” se passa e no qual irá ser feita a abordagem desse trabalho. 2

Desmundo – 2003. Imagem da capa do DVD. Fonte:

3 2 DAS QUESTÕES INICIAIS DE MÃO DE OBRA E SUA RELAÇÃO COM A ECONOMIA E RELIGIÃO NA AMÉRICA PORTUGUESA Desde o início da década de 1500 que a Coroa portuguesa utilizava da mão de obra indígena para estabelecer um lucrativo comércio de pau-brasil. Entretanto, os nativos que faziam o trabalho de explorar a madeira e carregá-la até as feitorias o executavam pela aquisição de outros artefatos no escambo. Não havia ainda a escravização indígena, que só aparecerá com o início efetivo da colonização em 1530. Ora, o comércio com as índias já estava em decadência e logo o Estado português voltou-se para sua colônia americana, se é que se podia dar-lhe o nome de “colônia”, em vista de que pouquíssima ou nenhuma ocupação permanente havia. Com a fundação de São Vicente, e posteriormente de outros vilarejos na costa brasileira, os primeiros engenhos foram sendo construídos e a escolha do produto que deveria ser exportado tomada: o açúcar. Esse sistema econômico tinha como inspiração as já colonizadas ilhas dos Açores e da Madeira, nas quais a cultura açucareira latifundiária voltada para a exportação fora primeiramente estabelecida. Enquanto nessas ilhas usava-se sobretudo a mão de obra escrava ou servil negra trazida das Canárias ou da costa da África, no Brasil colonial não havia logística humana, nem embarcações e comerciantes que pudessem abastecer as lavouras americanas massivamente com escravos negros, uma mercadoria tão custosa e de difícil aquisição. Assim, os “gentios”, como eram chamados os indígenas, desde cedo começaram a ser capturados para trabalhar nas lavouras e nos demais serviços dos engenhos. Além da captura, muitos portugueses negociavam com tribos que estavam em guerra, vendendo-lhes armas e pólvora em troca de prisioneiros das

tribos. Com o “boom” econômico do açúcar na década de 1570, especialmente na capitania de Pernambuco, os indígenas foram cada vez mais requisitados. Expedições ao sertão eram organizadas tanto para a exploração do território como para a captura de cativos para trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar. Isso se deu mais fortemente em São Paulo, que tardou a utilizar a mão de obra negra, mas não deixou de ocorrer no norte e nordeste da colônia.

4 Entretanto, posteriormente haverá um declínio dessa mão de obra, em virtude da alta taxa de mortalidade (doenças como varíola devastaram populações gigantescas), da sua indisponibilidade metabólica para o trabalho compulsório da lavoura, bem como as aversões culturais, por parte dos nativos masculinos, no que se diz respeito à atividade agrícola (o plantio da mandioca e do milho eram atividades femininas no meio nativo). Observa-se também um conflito entre jesuítas e colonos, sendo aqueles defensores dos índios enquanto estes lutavam para capturar os gentios e escravizá-los. Foi igualmente um dos motivos que ocasionou o declínio dessa mão de obra, visto que a Coroa portuguesa permanecia indecisa quanto à escravização de possíveis cristãos. O Estado português tinha relativamente uma preocupação em respeitar as ordens vindas da Companhia de Jesus, ao mesmo tempo que procurava manter uma aliança com a Igreja Católica. Contudo, os indígenas eram extremamente vitais para o crescimento da economia açucareira, e Portugal reconhecia de certo modo isso, procurando mediar as brigas entre os senhores de engenho e os catequizadores. Mas o projeto jesuítico ia muito mais além da cristianização dos ameríndios: era uma verdadeira aculturação, com o ensinamento de práticas, vestes e costumes ocidentais, não obstante o lecionar da língua portuguesa.

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Desmundo – 2003. Cena de filmagem. Destaque para os indígenas na vila. Fonte:

6 3

DO

QUE

SE

REFERE

À

ORGANIZAÇÃO

E

SISTEMATIZAÇÃO

SOCIOPOLÍTICA DA AMÉRICA PORTUGUESA EM MEADOS DE 1570 Em 1532 é fundada a primeira vila do Brasil, São Vicente, que irá abrigar também a primeira comunidade política e administrativa da colônia. À medida que outros povoados são elevados à categoria de vila ou cidade, e as câmaras vão se instalando, esses centros urbanos vão se formando como sedes de poder. Em 1534 é estabelecido o regime das capitanias hereditárias, no qual a Coroa portuguesa fez concessões a particulares para que estes pudessem desenvolver as terras coloniais. Em momento posterior, com um certo fracasso dessa “iniciativa privada”, o Estado português decide manter as capitanias, mas torná-las subordinadas a um governo central. Esse sistema pode estar bem relacionado ao Antigo Regime vigente na Europa Moderna, no qual a centralização política dava lugar ao feudalismo descentralizado. Isso mostra a flexibilidade do projeto colonial português, que atendia a diferentes demandas e possibilidades, como é visto também em outras colônias do Império: Estado da Índia, Angola, Açores, etc. Entretanto, o que se vê algumas vezes é o desmando e a autocracia de senhores de engenho mais localizados ao interior, que lutavam constantemente contra os índios e jesuítas na busca de mais escravizados e terra. Os centros urbanos era relativamente pequenos, mas abrigavam um conjunto de sedes administrativas e de controle social importantes, como as câmaras, as misericórdias e as instituições religiosas e da Companhia de Jesus. Tudo isso fazia parte do controle a nível local do Estado português sobre a sua

colônia americana: enquanto os “homens de bem” legislavam, tarifavam e administravam nas câmaras, as misericórdias prestavam socorro e amparo a quem era mais necessitado; e por fim, a Igreja Católica se firmava por meio de um controle social legalizado pela Coroa, seja pela própria Santa Sé como pela Companhia de Jesus que visava converter os nativos para a religião cristã. Era um verdadeiro projeto de expansão da fé católica, em virtude de suas recentes perdas com a Reforma de Lutero e o domínio dos otomanos nos Bálcãs. Além desse papel dos jesuítas, há uma certa perseguição por parte da Inquisição aos cristãos-novos ou judeus convertidos à fé cristã, que muitas vezes continuavam a praticar seus ritos judaicos em segredo no Brasil. Até 1590, eles praticamente continuavam a fazer seus ritos, porém, a partir dessa década, visitações da Inquisição ocorreram no Brasil colonial, com o objetivo principal de julgar aqueles cristãos-novos que não estavam seguindo a fé católica. 7

Desmundo – 2003. Cena de filmagem. Destaque para o padre jesuíta. Fonte:

8 4 DA EXPANSÃO DA AMÉRICA PORTUGUESA PARA OS SERTÕES COM O GADO Os primeiros engenhos de açúcar das colônias americanas de Portugal eram movidos à força hidráulica, pondo essas unidades fabris a mercê do achamento de novas fontes de água corrente. Logo nos meados de Quinhentos começaram a chegar as primeiras levas de gado, com o objetivo de prover os habitantes de carne e couro e servir como opção de transporte de mercadorias e pessoas. Além disso, iniciou-se sua utilização como força motriz das moendas no preparo do açúcar. O senhor de engenho era o dono das cabeças de gado, e muitas vezes eram usadas como moeda de troca por utensílios e escravos, não obstante sendo utilizadas em dotes de casamento. Porém, com um certo tempo, o gado mostrar-se-á um obstáculo ao desenvolvimento da economia açucareira, fazendo com que muitos senhores de engenho o banam de suas terras. Assim, o gado finalmente entrará no interior da colônia, por meio das doações de terras, que muitos as queriam como prestígio e status. Esses donos de gado contratavam para si muitos trabalhadores semi-livres, os chamados vaqueiros, que cuidavam da boiada. Entretanto, é valido ressaltar que a escravidão ainda era uma mão de obra importante para a expansão do gado pelos sertões adentro. Ora, os nativos do interior eram abundantes e serviam como

mão de obra farta para os currais, especialmente no que hoje é o Sul e Nordeste. Interessante notar que muitas vezes os vaqueiros recebiam como pagamento alguns bezerros, e com isso iam se tornando arrendatários de terras, tomando-as para si e iniciando uma certa modalidade de minifúndio. Enquanto em Pernambuco e na Bahia o gado espalhava-se pelo rio São Francisco, nas regiões centrais da colônia a busca pelo ouro fomentou as expedições interioranas. Nos próximos dois séculos à colonização do Brasil, foi-se construindo uma economia interna, interligando o norte e sul da colônia: o gado provia as áreas mineradoras de alimentos e vestes, na medida em que comunicava diferentes regiões do Brasil. Fora realmente uma atividade essencial na construção da América portuguesa, pois o gado necessitava de muito espaço e pouca gente, além de ter introduzido novas modalidades de trabalho na colônia, criando também um mercado voltado para a economia interna, quebrando a exclusividade da plantation açucareira. 9 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA -MOTA, Carlos Guilherme. Viagem incompleta – A experiência brasileira (15002000) Formação: histórias. 2ª edição. São Paulo: SENAC/1999. Pg. 60-100. -DESMUNDO. Direção: Alain Fresnot. Brasil, 2003. Em cores. 101 min. -FRAGOSO, João. GOUVÊA, Fátima de. O Brasil Colonial 1443-1580 (Volume 1). 1ª edição. Rio de Janeiro: CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA/2014. Pg. 521-548. -CYTRYNOWICZ, Roney.

História

dos

Judeus

no

Brasil. Disponível

em:

. Acesso em: 05 jul. 2016. -ARAÚJO, Emanuel. Tão vasto, tão ermo, tão longe: o sertão e o sertanejo nos tempos coloniais. In: DEL PRIORE, Mary. (org.). Revisão do paraíso: os brasileiros e o estado do Brasil em 500 anos. São Paulo: Campus, 2000, p.45-91.

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