Ficha de leitura sobre Hernan Cortés e Francisco Pizarro PDF

Title Ficha de leitura sobre Hernan Cortés e Francisco Pizarro
Author Gabriel Hartmann
Course História da América I
Institution Universidade do Vale do Rio dos Sinos
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Ficha sobre o artigo "HERNÁN CORTÉS E FRANCISCO PIZARRO: História e Memórias", de Ana Raquel Portugal e Marcus Vinícius de Morais....


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HISTÓRIA DA AMÉRICA I NOME: GABRIEL AUGUSTO HARTMANN PROFESSORA: MARIA CRISTINA MARTINS DATA: 10/06/2019

FICHA DE LEITURA – HERNÁN CORTÉS E FRANCISCO PIZARRO: HISTÓRIA E MEMÓRIAS 1. CONQUISTA 1.1. HERNÁN CORTÉS As figuras de Hernán Cortés e Francisco Pizarro foram analisadas em diferentes momentos, de diferentes formas, servindo à diferentes propósitos. Esse é um aspecto fundamental para compreender a história dos conquistadores e da conquista. Através da leitura, somos induzidos a questionar, analisando os fatos de maneira contextualizada, quando cada obra foi escrita, bem como por quem e porquê. As representações dos espanhóis refletem diretamente o ponto de vista pelo qual a história é estudada, bem como a forma através da qual a historiografia lê as narrativas que a ela se relacionam. Por conta de todas essas revisões, existem inúmeras versões diferentes dos mesmos Cortés e Pizarro, sendo que nenhuma delas pode ser tomada como absolutamente verdadeira sem seu devido contexto. Cada um desses retratos dá ao leitor, muitas vezes, mais informações a respeito do período em que foram desenvolvidas e de seu propósito à época do que dos acontecimentos narrados em si. Se forem lidos, por exemplo, apenas os relatos do próprio Cortés sobre a conquista, seria possível encontra-lo descrito como uma figura heroica que lutava a serviço da Igreja e da coroa espanhola, o escolhido de Deus que cumpriria a missão da conquista. Eram narrativas baseados em uma testemunha ocular (ele próprio), escrita sempre em primeira pessoa. De acordo com Restall (2006, p. 135, apud PORTUGAL & MORAIS, 2011, p. 88), as cartas de Cortés seriam relatos que representam acontecimentos analisados de um ponto de vista muito específico que visa, sobretudo, enaltecer o protagonista. Frequentemente são omitidas informações sobre agentes que, assim como ele próprio, desempenharam papel de destaque na conquista, como é o caso da participação de negros e de

diversos povos indígenas que lutaram ao lado dos espanhóis – buscando, geralmente, sua própria independência e vitória sobre um povo rival que lhes era tão estranho quanto os recém chegados. Surge, assim, o mito do conquistador branco. Entretanto sabe-se, hoje, que a conquista de Tenochtitlán só foi possível em função da ajuda prestada pelos indígenas (opostos à capital mexica) às forças de Cortés. Outro fator que raramente é mencionado é a ocorrência de grandes epidemias, especialmente de gripe, que chegaram ao continente nos navios europeus e foram responsáveis por dizimar uma parcela gigantesca da população nativa. Coube a Bernal Díaz “encontrar” e “completar” essas lacunas deixadas por Cortés, que cortava de sua narrativa fatos e personagens que não lhe eram convenientes. Da mesma maneira surge o estereótipo do índio ignorante e inferior, que sucumbia em função de uma “simples gripe”. Esse preconceito foi reforçado por Bartolomé de Las Casas, que, apesar de denunciar a violência exagerada de Cortés em sua obra Brevíssima Relação da Destruição das Índias, ressaltava a superioridade dos europeus e retratava os nativos como fracos e necessitados de ajuda externa. Percebe-se, assim, que os feitos de Hernán Cortés geravam controvérsia já no século XVI. Além desses se destaca, ainda, o mito da conclusão, que afirma que todo o território teria sido conquistado pelos espanhóis de maneira uniforme e simultânea, quando, na verdade, esse processo durou vários anos. Até hoje sua conclusão pode ser questionada, dependendo da perspectiva trabalhada. Isso porque, com a introdução do conquistador europeu à América, é reescrita grande parte da história do continente, visto que ela passa a ser contada pela perspectiva parcial (e duvidosa) dos vencedores, considerada durante séculos como a história oficial. 1.2. FRANCISCO PIZARRO Diferentemente de Cortés, Francisco Pizarro não escrevia seus próprios relatos. Ao invés disso, seus feitos eram geralmente narrados por soldados e companheiros de viagem, o que torna sua história mais difícil de ser estudada. Pizarro teve, também, diversos descendentes que procuraram contar sua história a sua própria maneira. Esses relatos são alguns dos mais importantes acerca da construção de sua imagem, pois retratava a visão que os soldados tinham sobre o líder; as histórias geralmente apresentam um homem heroico, embora inescrupuloso, que era apaixonado pela guerra e temido por seus próprios homens.

Sabe-se, apesar da carência de fontes em alguns momentos, que sua presença foi notável, e que suas ações marcaram especialmente os Incas, tendo sido ele, segundo relatos de Manuel Mendiburu, o responsável pelo assassinato de Atahualpa, que comandava Tahuantinsuyo à época. Pizarro e seus homens teriam participado do funeral e prestado luto, embora fosse apenas uma fachada. Esse feito acarretou em consequências devastadoras, lançando os incas em um período de guerra civil em que dois irmãos lutavam pelo trono. Mesmo envolvidos nesse conflito, os incas não deixaram de resistir aos espanhóis, e a conquista só se deu por completa anos após a morte de Pizarro. Essa lacuna nas fontes – como cartas, diários e outros relatos pessoais – relacionadas a conquista do Peru no século XVI se deve ao fato de que muitos dos conquistadores eram analfabetos (ROSTWOROWSKY, 1994, p. 40). Segundo Raul Porras Barrenechea, as crônicas da conquista teriam sido a primeira história peruana. Sendo relatos dos conquistadores, o ponto de vista era condizente. Entretanto, devido a existência dos quipus narrativos, que, segundo alguns pesquisadores, contém diversas histórias dos Incas e até de civilizações pré-incaicas, pode ser traçada uma história anterior à chegada dos espanhóis. Esses quipus, junto com relatos orais e crônicas de espanhóis que registraram suas vivências no mundo andino do século XVI são fundamentais para compreender o período. As cartas “fornecem dados importantes sobre as conquistas desses homens e diferentemente de outros documentos, estas permitem perceber sentimentos, medos, a luta diária pela sobrevivência” dos conquistadores (PORTUGAL & MORAIS, 2011, p. 102). Dito isso, é importante frisar que a pesquisa de Barrenechea é, hoje, uma das melhores e mais confiáveis fontes históricas sobre a vida e as conquistas de Francisco Pizarro na América andina. Além dele, outro relato de grande relevância e contribuição para composição de sua história é a biografia de sua filha, Francisca, feita por Maria Rostworowsky, onde estão presentes informações sobre a vida do conquistador e sobre a participação de determinadas tribos na disputa com os Incas 2. CONSEQUÊNCIAS E REFLEXÕES Tendo em vista os fatos, é importante ressaltar, novamente, a imprescindibilidade de analisar a fonte e relaciona-la ao período em que foi produzida. A visão de William Prescott, por exemplo, é uma representação que resulta de seu próprio contexto político-social no século XIX. Era o modo como se viam as guerras naquele tempo, marcado por traços imperialistas e

nacionalistas; os conflitos ocorriam em função de conceitos opostos – certo e errado, bom e mau, superior e inferior. A luta contra os astecas se justificava pelo avanço necessário da ciência e pelos argumentos teológicos da época em que o trabalho de Prescott foi escrito. É indubitável que a invasão e conquista espanhola tenham tido grande impacto cultural na história da América, e que sua compreensão se faz necessária para entender o continente como ele se configura hoje. As figuras controversas de Cortés e Pizarro desempenharam um papel vital na formação da identidade nacional dos povos remanescentes. O processo de “aculturação” causado pela chegada dos espanhóis sempre foi um assunto polêmico, o que ficou claro quando o México decidia qual de suas origens seria adotada: a dos povos nativos ou a dos conquistadores. Ocorreram conflitos internos quanto a isso e, por fim, foi decidido que o país seria uma nação mestiça, fruto dessa mistura cultural. Diante disso, a imagem de Cortés passava a ocupar um espaço intermediário na história do México. A conquista espanhola era vista como um momento de dor para os mexicanos, por se tratar de um episódio violento, responsável pela destruição de uma antiga e maravilhosa cultura, a dos astecas, mas ao mesmo tempo essa dor era responsável pelo nascimento do México mestiço [...]. Desse modo, Cortés oscilava entre aquele que era o responsável pela destruição dos indígenas e aquele que era também o ponto de partida para a evolução da nação mexicana. (PORTUGAL; MORAIS, 2011, p. 97)

Na obra Os sete mitos da conquista, de Matthew Restall, o autor também ressalta essa crise de identidade sofrida pelos povos americanos ao desenvolver um senso nacionalista e a si mesmos como nação. O uso de datas que marcavam pontos específicos da conquista e corroboravam com a ideia de conclusão não eram questionados, o que acabava perpetuando o ponto de vista dos conquistadores: Um elemento, entretanto, permaneceu constante todo esse tempo [do século XVI ao XX] – elemento que, apesar de ter raízes no século XVI, ainda mostra extraordinária vitalidade: a premissa de que 1521 assinalou uma monumental reviravolta na história mexicana, o fim de uma era e o início de outra. (RESTALL, 2006, p. 136)

O autor conclui esse ponto afirmando que ao mesmo tempo em que 1521 representou o fim da guerra de dois anos contra o Império Asteca, assinalou também o princípio das guerras de conquista da maior parte do México e Mesoamérica de modo geral, conflitos que adentrariam o século XX. (RESTALL, 2006, p. 137)

É possível notar, através dessa leitura, como os mitos da conquista se enraizaram e difundiram na história da América. Pode ser realizada, entretanto, uma proposta de análise sobre outros países da América Latina em que os conquistadores são vistos de outra maneira, por vezes de modo menos desfavorável; diferentemente do México, na Colômbia, Equador, Paraguai e no Chile existem estátuas em homenagem à Hernán Cortés, embora também sejam representações polêmicas nesses locais. Mesmo onde sua ação foi mais branda e a história é menos assombrosa, essas imagens ainda não ocupam espaços de grande destaque ou prestígio. Outro ponto de destaque é a busca pelo entendimento sobre a participação dos povos indígenas no processo da conquista, uma vez que se sabe que os espanhóis dependeram deles para atingir seus objetivos. Em função desses aspectos, deve ocorrer uma análise da fórmula de construção da história da conquista como ela se apresenta hoje. Para tanto, é fundamental a leitura e compreensão das fontes utilizadas na formação das figuras emblemáticas de Hernán Cortés e Francisco Pizarro em seu próprio contexto, já que, por bem ou por mal, eles representam uma marca para sempre presente na história e na cultura do continente americano e de seus povos.

REFERÊNCIAS CASTILLA, Domingo Martínez. Germen lo que es del germen: enfermidades europeas y destrucción de la civilización andina. Márgenes: Encuentro y debate. Año VI, No. 10-11, SUR, Lima, octubre de 1993. PORTUGAL, Ana Raquel; MORAIS, Marcus Vinícius de. Hernán Cortés e Francisco Pizarro: História e Memórias. Dossiê: Nações e Nacionalismos na América Espanhola. História, sociedade e cultura. Temas e matizes. v. 9, n. 18, 2010, p. 85 – 110 (versão eletrônica). RESTALL, Matthew. Sete mitos da conquista espanhola. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. ROSTWOROWSKY, Maria. Doña Francisca: Una Ilustre Mestiza. Lima: IEP, 1994. PÁRAMO, Omar; NUÑEZ, Myriam. LA CONQUISTA PROVOCÓ LA MUERTE DE CASI EL 90%

DE

LOS

INDÍGENAS.

Disponível

em

. Acesso em: 06 jun. 2019....


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