Fichamento de capítulos do livro Os Excluídos da História - Michelle Perrot PDF

Title Fichamento de capítulos do livro Os Excluídos da História - Michelle Perrot
Course História Econômica Geral
Institution Universidade Federal de Uberlândia
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Fichamento de capítulos do livro Os Excluídos da História de Michelle Perrot...


Description

- Referência Bibliográfica PERROT, Michelle. “A mulher popular rebelde” e “A dona-de-casa no espaço parisiense no século XIX”. In: Os Excluídos da História: operários, mulheres e prisioneiros. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988, pp. 185-231. Michelle Perrot (França – 1928) é uma das principais historiadoras contemporâneas, que possui como principal objeto de estudo a vida das mulheres. Professora emérita da Universidade de Paris VII, ela nem sempre seguiu essa mesma linha de estudos. Apesar de sempre focar seus estudos na história dos excluídos, Michelle iniciou sua trajetória intelectual no estudo de questões sociais, tal como a análise da classe do operariado e suas lutas e greves. Entretanto, em 1962, quando Michelle foi nomeada professora assistente na Sorbonne (onde trabalhou até o fim dos anos 1970, quando passou a lecionar na universidade em que se encontra até hoje), sua situação como única mulher no departamento de história fez com que ela se engajasse no movimento feminista, o que acabou modificando o enfoque de seus estudos. Entre suas principais obras, é possível destacar “A História das Mulheres no Ocidente”, coleção organizado por Michelle Perrot e Georges Duby, importante obra por trazer diversos aspectos relacionados à atuação das mulheres na sociedade. Já o livro “Os excluídos da História: operários, mulheres e prisioneiros” trata-se de uma coleção de artigos escritos pela historiadora entre os anos 1970 e 1980 e reunidos nesta obra, cuja publicação data em 1988. Como é possível perceber pela trajetória da autora, esta obra pretende demonstrar a importância de indivíduos que permaneceram esquecidos pela história durante muito. Inclusive, o intuito do livro já explica seu próprio título. Dos dois capítulos analisados, é possível explicar o título do primeiro, “A mulher popular rebelde”, como a abordagem da historiadora de abordar o papel da mulher do “povo” e seu caráter revolucionário e rebelde, ao liderar manifestações contra o aumento de preços, por exemplo. Já o segundo capítulo, denominado “A dona-de-casa no espaço parisiense no século XIX” pretende analisar principalmente a transformação que aconteceu com relação ao espaço ocupado pela mulher na cidade de Paris no século XIX. Michelle pretende abordar o papel histórico que as mulheres possuem na história e desmistificar o senso comum de que elas são meras “coadjuvantes” e, para tanto, apresenta diversos fatos e evidências demonstrando a atividade feminina ao longo do século XIX, principalmente. Para tanto, a historiadora utiliza como material de estudo diversos autores, como Le Play e Balzac, além de fatos e memórias históricas. Um dos primeiros pontos abordados pela historiadora para o início de sua análise é a necessidade de abstrair os conceitos existentes que formatam e limitam a mulher a determinadas características. (p. 188) A partir daí, Michelle parte para a análise do papel da mulher como dona-de-casa repleta de funções, que vão desde às funções domésticas até a trabalhos complementares da renda familiar. Entretanto, apesar disso a mulher ainda vive à “margem do assalariamento” sendo, assim, dependente do salário que o marido ganha. Este salário, entretanto, é responsabilidade da dona-de-casa, que têm a função de administrá-lo para bancar todas as despesas e manter o sustento de toda família. (pp.190-191) Exatamente devido a essa função fundamental de administração do salário, a donade-casa, apesar de não manter um orçamento propriamente dito de seus gastos, está

sempre atenta ao preços das mercadorias e, a qualquer aumento expressivo dos preços, intervêm através de motins por alimentos. Coletivamente, as mulheres protestam contra o aumento dos preços dos alimentos; suas principais armas são as vozes, evitando armas e saques. Entretanto, com o aumento da produção e de avanços técnicos, a escassez de alimentos desaparece, juntamente com uma das áreas de maior atuação feminina; o conflito volta-se então para as greves que, por estarem diretamente relacionadas ao assalariamento, onde a mulher possui um papel secundário, como a própria autora aponta. (p. 193-195) A mulher também foi um expoente importante nas lutas e motins organizados contra a mecanização dos processos de produção, tanto por visualizar nas máquinas uma inimiga contra o emprego de seus maridos e também de suas próprias atividades manuais que complementavam o orçamento da família. Além disso, as mulheres lutavam por outras frentes também, mas seu papel nesses motins mudaram, passando de iniciadoras a auxiliares. Isso porque a mulher não conseguia se identificar apropriadamente quando se tratava da luta de classes, mas era possível notar expressiva participação quando se tratava de assuntos “do povo”. (p. 198-200) Michelle chama a atenção para os lavadouros que, segundo ela, possui um papel de extrema importância por se mostrar uma forma de organização original, já que nestes locais as mulheres podiam socializar, trocar informações e até mesmo disponibilizarem ajuda. Os lavadouros deram origem a associações que chegaram até mesmo a oferecer ajuda para militares que haviam fugido das prisões; tal comportamento despertou a irritação do poder, que começou a regulamentar e restringir os espaços, até que, por fim, “o lavadouro não é mais o que era”. Contraposto a isso, os lavadouros também podem ser entendidos como uma tentativa de disciplinar e racionalizar um dos principais serviços domésticos exercidos pela mulher. (pp. 202204, p. 229) Ainda, Michelle frisa para a separação dos sexos nos espaços urbanos. Ela parte do ponto em que homens e mulheres habitavam os mesmos espaços, exemplificando com os bailes das tavernas, em que todos dançavam e bebiam juntos. Entretanto, a separação tem início ao privar o acesso feminino (e também do operariado) à política e, com isso, definindo os espaços públicos como espaços políticos a qual apenas os homens têm acesso. Aliás, o corpo dos operários, que também eram excluídos dessa esfera, acabavam excluindo também as mulheres quando lutavam por mudanças. Tal quadro chega ao ponto em que, para que uma mulher possa tomar a palavra, ela necessite pedir o intermédio de algum familiar. Entretanto, apesar de tamanha exclusão, é possível notar a idealização e ampliação crescente da figura feminina, sempre expressa em quadros e fotografias. (p. 209, p. 211, pp. 218-219) Assim, Michelle conclui sua exposição afirmando que, apesar de não estar fielmente representada e quase sempre ser negligenciada pela História, a mulher sempre esteve presente. Em uma das melhores frases de todo o excerto, a historiadora afirma que “as mulheres não são passivas nem submissas. A miséria, a opressão, a dominação, por reais que sejam, não bastam para contar a sua história. Elas estão presentes aqui e além. Elas são diferentes. Elas se afirmam por outras palavras, outros gestos. Na cidade, na própria fábrica, elas têm outras práticas cotidianas, formas concretas de resistência - à hierarquia, à disciplina - que derrotam a racionalidade do poder, enxertadas sobre seu uso próprio do tempo e do espaço. Elas traçam um caminho que é preciso reencontrar. Uma história outra. Uma outra história." (p. 212)

Michelle Perrot apresenta um estilo de escrita incrivelmente envolvente e didático, o que torna a leitura ainda mais interessante do que já é. O tema, por sua vez, sempre foi motivo de curiosidade pessoal, o que fez com que eu achasse a leitura ainda mais agradável. É importante a leitura de textos com essa temática, porque desconstrói a ideia criada de que as mulheres, assim como outros grupos sociais, pouco ou nada contribuíram durante esse grande período de transformações sociais....


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