Fichamento e Resumo do livro \"A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo\" PDF

Title Fichamento e Resumo do livro \"A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo\"
Author Wesley Villar Adam
Course Sociologia II
Institution Universidade Federal do Paraná
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Fichamento e resumo da obra de Max Weber....


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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SOCIOLOGIA PARADIGMA WEBERIANO Prof. Simone Meucci Graduando: Wesley Villar Adam

FICHAMENTO PRIMEIRA PARTE “A ÉTICA PROTESTANTE E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO”:

1 - CONFISSÃO RELIGIOSA E ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL O objetivo de Weber neste capítulo é principalmente apresentar o problema que vai dar gênese a sua tese. Como ponto preponderante atesta-se que os protestantes possuem atividades mais voltadas a indústrias e profissões comerciais, consequentemente, se faz uma comparação com os católicos que têm como suas atividades principais o pensamento filosófico e teológico, essencialmente focalizada na indiferença dos bens deste mundo..

Está claro que a participação dos protestantes na propriedade do capital, na direção e nos postos de trabalho mais elevados das grandes empresas modernas industriais e comerciais, é relativamente mais forte, ou seja, superior à sua porcentagem na população total, e isso se deve em parte a razões históricas que remontam a um passado distante em que a pertença a uma confissão religiosa não aparece como causa de fenômenos econômicos, mas antes, até certo ponto, como consequência deles (WEBER, 2004, p. 29-30).

O protestante possuía um viés de negar esse mundo através do próprio mundo, e Weber tem como objetivo expôr a problemática de como o protestantismo - principalmente a vertente calvinista - tornou-se o “viveiro em que floresceu a economia capitalista”, e a partir de traços religiosos encontrar uma intimidade entre a ética protestante e a cultura capitalista moderna. A justificativa que levou Weber a abordar essa relação entre o protestantismo e a cultura capitalista tem como função elucidar de forma metodológica o que era um pressuposto do senso comum, e que, era pauta de debate nas rodas de conversas cotidianas: o fato dos protestantes obterem mais sucesso financeiro do que os católicos. O autor explicita que a propensão do calvinismo para se dedicar

aos trabalhos atrelados ao comércio e as indústrias está incluso na ideia de que há uma inclinação ao racionalismo econômico e ao trabalho como meio de demonstrar ser possuidor da “graça” - expressa pela ética puritana - para outras pessoas que convivem neste mesmo grupo social que o indivíduo calvinista. Nesse sentido, torna-se o argumento central de que esse modo de vida dos religiosos propiciou uma condição favorável para a cultura capitalista moderna se alastrar, pois, ambos possuem uma característica de controle total sob as vidas dos indivíduos.

[...] o “espírito do trabalho”, de “progresso” ou como se queira chamá-lo, cujo despertar somos tentados a atribuir ao protestantismo, não pode ser entendido, como hoje sói acontecer, [como se fosse “alegria com o mundo” ou de qualquer outro modo] em sentido “iluminista”. O antigo protestantismo de Lutero, Calvino, Knox, Voët, ligava pouquíssimo para o que hoje se chama “progresso”. Era inimigo declarado de aspectos inteiros da vida moderna, dos quais, atualmente, já não podem prescindir os seguidores mais extremados dessas confissões. Se é para encontrar um parentesco íntimo entre o antigo espírito protestante e a cultura capitalista moderna, não é em sua pretensa “alegria com o mundo” mais ou menos “materialista” ou em todo caso antiascética que devemos procurá-lo, mas sim, queiramos ou não, em seus traços puramente religiosos - Montesquieu diz dos ingleses [...] que “foi o povo do mundo que melhor soube se prevalecer dessas três grandes coisas: a religião, o comércio e a liberdade. Terá havido porventura uma conexão entre sua superioridade no campo dos negócios [...] e esse recorde de devoção que Montesquieu reconhece neles (WEBER, 2004, p. 38-9).

Weber utiliza várias fontes em sua análise, como por exemplo os dados estatísticos da cidade de Baden na Alemanha referenciando a renda por religião e taxas de frequência do ensino médio e superior por católicos e protestantes. Além disso, traz a tona outros autores como os economistas Eberhard Gothein e Sir William Petty e o uso de dados das universidades da época. A partir disso, Weber conclui com maestria expressando que se faz necessário uma análise embasada sobre o tema expondo a problemática da ética protestante como influência direta no capitalismo moderno. Sua abordagem neste primeiro capítulo implica-se em levantar questões e transpôr um olhar metodológico a estas questões que anteriormente eram assuntos de especulação do senso comum. Sendo assim, o autor cumpre seu objetivo, pois, traz ao debate um ponto de análise novo para compreender a modernidade: a correlação entre a religião e a

construção de uma cultura capitalista, objetivos que são melhores aprofundados nos capítulos conseguintes.

Toda uma gama de relações possíveis se ergue perante nós, ainda obscuras, tão logo levantamos a questão nesses termos. A missão há de ser, então, a de formular, com a máxima nitidez possível em meio à inesgotável multiplicidade que se aloja em cada fenômeno histórico, o que aqui vislumbramos assim, sem nitidez. Mas para chegar a tanto teremos que necessariamente abandonar o terreno das vagas representações gerais com que operamos até aqui e tentar penetrar a peculiaridade característica e as diferenças desses vastos mundos de pensamento religioso que se oferecem a nós, historicamente, nas diversas manifestações da religião cristã (WEBER, 2004, p. 39).

2 - O “ESPÍRITO” DO CAPITALISMO Weber neste capítulo tem como objetivo definir o que ele chama de “espírito do capitalismo”, que seria um conjunto de componentes enquadrados na noção de trabalho como uma vocação e como um valor extremamente grandioso, dando a noção de que a pobreza e a ociosidade seriam pecados, desse modo, o enfoque da vida seria ganhar dinheiro e investi-lo para que sua riqueza se multiplique. Nesse aspecto, o “espírito do capitalismo” não seria apenas uma ética peculiar, mas sim, um conjunto de traços de comportamentos que moldam uma cultura social de modo total, e, através deste conceito, liga-se ao fenômeno da ética protestante produzindo a correlação principal que guia o livro. Ao propor essa correlação, Weber justifica, sob essa perspectiva, a extrema relevância de entender o modo do pensamento do capitalista moderno para que isso sirva de ferramenta analítica para o autor expôr de maneira sintática sua metodologia. Para caracterizar o sentido de “espírito do capitalismo”, Weber utiliza um texto do ex-embaixador estadunidense Benjamin Franklin - que também era protestante - como representação do tipo ideal desse “espírito”. Nesse sentido, o autor explora os excertos e faz uma análise argumentativa demonstrando que o texto de Franklin representa o caráter do capitalista moderno com suas características utilitaristas, racionalistas e de valoração do trabalho.

[...] aqui não se prega simplesmente uma técnica de vida, mas uma “ética” peculiar cuja violação não é tratada apenas como desatino, mas como uma espécie de falta com o dever: isso, antes de tudo, é a essência da coisa. O que se ensina aqui não é apenas “perspicácia nos negócios” - algo que de resto se encontra com bastante frequência -, mas é um ethos que se expressa, e é precisamente nesta qualidade que ele nos interessa (WEBER, 2004, p. 45).

Admite-se também que as virtudes estão altamente atreladas ao espectro financeiro e em como as atitudes do indivíduo devem voltar a multiplicar-se seus ganhos, atributos fundamentais da representação do “espírito do capitalismo” que engloba todas as instâncias da vida humana.

No fundo todas as advertências morais de Franklin são de cunho utilitário: a honestidade é útil porque traz crédito, e o mesmo se diga da pontualidade, da presteza, da frugalidade também, e é por isso que são virtudes: donde se conclui, por exemplo, entre outras coisas, que se a aparência de honestidade faz o mesmo serviço, é o quanto basta, e um excesso desnecessário de virtude haveria de parecer, aos olhos de Franklin, um desperdício improdutivo condenável. [...] necessariamente há de concluir que essas, como todas as virtudes aliás, só são virtudes para Franklin na medida em que forem, in concreto, úteis ao indivíduo, e basta o expediente da simples aparência, desde que preste o mesmo serviço: uma coerência efetivamente inescapável para o utilitarismo estrito (WEBER, 2004, p.45-6).

Como fontes de análise do capítulo II, Weber utiliza principalmente trechos de Benjamin Franklin como exemplificação máxima do “espírito do capitalismo”. E ainda, como outras fontes cita-se o livro de Provérbios da Bíblia traduzidos por Lutero, Sátiras de Ferdinand Kürneberger e os sociólogos alemães Georg Simmel, Paul Honigsheim e Werner Sombart. O autor demonstra que o “espírito do capitalismo” foi moldado a partir de uma ética calvinista que demonstrava grande afetividade ao trabalho e a valoração dos bens. Para entender o processo capitalista moderno e suas complexidades é necessário antes entender como se constitui o “espírito capitalista” e em como isso influencia de maneira determinante à conduta humana, que, transferiu a consciência dos indivíduos a um racionalismo econômico voltado ao alto desempenho e, consequentemente, a alta produtividade do trabalho. Weber escreve o capítulo II com extrema eficácia em definir e explicar os conceitos fundamentais de seu livro

que é o “espírito do capitalismo”. Nesse aspecto, o autor cumpre seu objetivo e nos apresenta uma teoria vanguardista de análise da Modernidade.

Já se afirmou - e assim o fez Sombart em argumentas tantas vezes felizes e eficazes - que o motivo fundamental da economia moderna como um todo é o “racionalismo econômico”. E com todo o direito, se entendermos por essa expressão o aumento da produtividade do trabalho que, pela estruturação do processo produtivo a partir de pontos de vista científicos, eliminou sua dependência dos limites “fisiológicos” da pessoa humana impostos pela natureza. Ora, esse processo de racionalização no plano da técnica e da economia sem dúvida condiciona também uma parcela importante dos “ideais de vida” da moderna sociedade burguesa: o trabalho com o objetivo de dar forma racional ao provimento dos bens materiais necessários à humanidade é também, não há dúvida, um dos sonhos dos representantes do “espírito capitalista”, uma das balizas orientadoras de seu trabalho na vida. [...] Pareceria, pois, que o desenvolvimento do “espírito capitalista seria mais fácil de compreender como fenômeno parcial no desenvolvimento do racionalismo como um todo e deveria ser inferido da posição de princípio referente aos problemas últimos da vida. Assim sendo, o protestantismo só entraria historicamente em linha de consideração na medida em que teria desempenhado o papel, digamos assim, de “fruto prematuro” de concepções de vida puramente racionalistas (WEBER, 2004, p. 67-8).

3 - O CONCEITO DE VOCAÇÃO EM LUTERO E O OBJETO DA PESQUISA

Weber sintetiza neste capítulo a ideia de que a partir da Reforma Protestante de 1517 passa-se a dar mais importância para a vida mundana, diferente do que era expresso pela Igreja Católica, que dava mais valor a vida no outro mundo. Nesse aspecto, apresenta-se o conceito de “vocação” que determinaria a partir de desígnios divinos uma missão dada por Deus na terra. Esse conceito é de extrema relevância na ética protestante, pois, o trabalho é uma espécie de vocação e os seres humanos estão sujeitos a exercer esse destino como uma valorização do cumprimento do dever, dando, portanto, uma significação religiosa ao trabalho.

Uma coisa antes de mais nada era absolutamente nova: a valorização do cumprimento do dever no seio das profissões mundanas como o mais excelso conteúdo que a auto-realização moral é capaz de assumir. Isso teve por consequência inevitável a representação de uma significação religiosa do trabalho mundano de todo dia. [...] O único meio de viver que agrada Deus não está em suplantar a moralidade intramundana pela ascese monástica, mas sim, exclusivamente, em cumprir com os deveres intramundanos, tal como decorrem da posição

do indivíduo na vida, a qual por isso mesmo se torna a sua “vocação profissional” (WEBER, 2004. p. 72).

Como o conceito de trabalho é muito importante para se entender o significado de “espírito do capitalismo”, é necessário compreender como esse conceito foi moldado a partir - primeiramente - de Lutero e posteriormente com outros pensadores da Reforma Protestante como Calvino e Melanchthon, que dariam uma ideia de “vocação divina” ao trabalho terreno. O autor argumenta que a ideia Protestante é uma ideia nova e com ela surge a significação do conceito de “vocação de Deus” - sob a perspectiva de uma ordem divina - demonstrando a necessidade do exercício do trabalho terreno. Desse modo, o trabalho passa a ser instrumentalizado pela religião constituindo-se assim o “espírito do capitalismo”.

Assim foi que em Lutero o conceito de vocação profissional permaneceu com amarras tradicionalistas. A vocação é aquilo que o ser humano tem de aceitar com o desígnio divino, ao qual tem de “se dobrar” - essa nuance eclipsa a outra ideia também presente de que o trabalho profissional seria uma missão, ou melhor, a missão dada por Deus (WEBER, 2004. p. 77).

Weber utiliza novamente a Bíblia como fonte, além do filósofo escolástico São Tomás de Aquino e um excerto extraído da “Divina Comédia” de Dante Aligheri. Mas, principalmente, utiliza de trechos do líder da Reforma Protestante: Martin Lutero. O autor expressa que não era a intenção dos reformadores constituir o “espírito do capitalismo”.

Seus objetivos éticos e os efeitos práticos de sua doutrina estavam ancorados aqui e eram, tão só, consequências de motivos puramente religiosos. Por isso temos que admitir que os efeitos culturais da Reforma foram em boa parte [...] consequências imprevistas e mesmo indesejadas do trabalho dos reformadores (WEBER, 2004, p. 81).

Através disso, sua conclusão pretende descrever o “efeito, que, em virtude de tais afinidades coletivas, o movimento exerceu sobre o desenvolvimento da cultura material” (2004, p. 83), consequentemente, que participaram da construção do “espírito”. Max Weber cumpre o objetivo em suscitar a originalidade da Reforma

Protestante e o uso do capítulo como um apanhado histórico para exemplificar o que seria um esboço primordial do pensamento capitalista moderno através da mudança da conceitualização de trabalho efetuado a partir do protestantismo.

Trata-se apenas de averiguar se, e até que ponto, influxos religiosos contribuíram para a cunhagem qualitativa e a expansão quantitativa desse “espírito” mundo afora, e quais são os aspectos concretos da cultura assentada em bases capitalistas que remontam àqueles influxos. Em face da enorme barafunda de influxos recíprocos entre as bases materiais, as formas de organização social e política e o conteúdo espiritual das épocas culturais da Reforma, procederemos tão-só de modo a examinar de perto se, e em quais pontos, podemos reconhecer determinadas “afetividades eletivas” entre certas formas de fé religiosa e certas formas a ética profissional. Por esse meio e de uma vez só serão elucidados, na medida do possível, o modo e a direção geral do efeito que, em virtude de tais afinidades eletivas, o movimento religioso exerceu sobre o desenvolvimento da cultura material (WEBER, 2004, p. 83).

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo . São Paulo: Companhia das Letras, 2004....


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