Historiografia Greco- Romana PDF

Title Historiografia Greco- Romana
Author Mónica Alexandra da António
Course Teorias e Correntes Historiográficas
Institution Universidade Aberta
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Summary

historiografia greco-romano. Foco em HERÓDOTO, TUCÍDEDES, CÍCERO...


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HISTORIOGRAFIA GRECO-ROMANA

A partir do século V a.C., emerge, na Grécia, a figura da História, e se reformula socialmente o papel do árbitro da verdade, o histor. Esse indivíduo, como bem lembrou o crítico cultural Michel Foucault, em A verdade e as formas jurídicas, não tinha o papel e o poder de julgar nada, mas representava a materialização social do estatuto da verdade e do testemunho como figuras claras e necessárias ao convívio social. Era o histor que dava legitimidade a contendas no mundo grego da pólis; em outras palavras, a testemunha e aquele que via e presenciava determinado evento, guardando a sua memória e expondo-a a partir de uma narrativa. A história não deixava de ser, nesse sentido, o que realmente significava a partir do conceito antigo: uma investigação. No passado e no presente dos estudos históricos, há consenso sobre a figura de Heródoto de Halicarnasso (ou de Túrio), como historiador proeminente do período clássico grego, seguido de Tucídides. Se há consenso sobre Heródoto como o primeiro historiador, há também muito debate na atualidade e na própria época da sua escrita, sobre os critérios por ele adotados para tecer sua narrativa, sobre sua concepção de história, de verdade, de testemunho, de documento, entre outros aspectos. Histórias (investigações) são de fato a reunião de nove livros que levam o nome das nove musas, onde Heródoto escreveu um texto marcado pela descrição de fatos e pessoas próximas de sua época, com base em testemunhos, no ouvir contar , no ouvir dizer , incorporando religiosidade, tentando relatar a experiência humana de gregos e bárbaros na totalidade, tecendo julgamentos e explicações pessoais sobre eles e deixando o leitor concluir por si só a respeito das coisas narradas. Heródoto, nesse sentido, rompia com tradições narrativas baseadas no gênero literário, advogando a busca de uma verdade, rompendo com a figura do poeta contador de lendas, substituindo a imaginação livre pela investigação. François Dosse (2003) afirma que a história emergiu, assim, como modo de discurso específico, com a tarefa de retardar o desaparecimento dos traços das atividades dos homens. (DOSSE, 2003). Segundo Dosse (2003, p. 13), Heródoto de Halicarnaso apresenta aqui os resultados de sua investigação, para que o tempo não apague os trabalhos dos homens e para que as grandes façanhas, realizadas ou pelos gregos ou pelos bárbaros, não caiam no esquecimento , apropriando-se, claro, de parte introdutória da obra História, do próprio Heródoto. A partir da proposição que Heródoto elaborou, ou seja, da ideia de descrever os feitos, as façanhas dos homens gregos e bárbaros para a posteridade; a partir desse momento é que o conhecimento histórico passou a ter o status de conhecimento específico, abrindo a brecha para a construção social de uma nova necessidade: a de se entender e se registrar o passado em forma narrativa. Essa necessidade pode ser considerada socialmente

existente e inerente à sociedade antiga, especialmente quando consideramos as críticas que foram realizadas sobre a obra de Heródoto na sua época. É possível dizer, em certa medida, que Heródoto lançaria o debate futuro sobre a própria representação do passado, e que, a partir disso é que se desenharia a preocupação da sociedade grega, depois romana, acerca das ideias de legado, ensinamento moral por meio da história, registro de fatos e personagens para a posteridade; preocupações todas ligadas à construção, na esfera pública, de um repertório de intenções e atividades humanas que poderiam ser consideradas importantes na época e no futuro. Sonila Morelo (2000), ao estudar o Heródoto historiador, retomou o debate em torno do tipo, da forma e do conteúdo da história produzida por aquele autor da antiguidade. De acordo com Morelo (2000, p. 10), a escrita da história de Heródoto tinha a ver com uma ideia específica de verdade ligada diretamente ao nómos, ou seja, aos costumes sociais nos quais se misturam indistintamente práticas políticas, culturais e econômicas . Essa forma de construção da ideia de verdade também tinha a ver com a exposição de uma opinião (doxa) fosse daquele que dizia ou escutava; e, finalmente, uma verdade relativa a um posicionamento político do historiador. (MORELO, 2000). Morelo (2000, p. 20) descreveu a obra de Heródoto a partir das seguintes qualidades:

aspecto caleidoscópico, devido a sua capacidade de

abordar assuntos diversificados e de alcance quase enciclopédico;

marginalidade em relação às co-

munidades sobre as quais o autor expõe sua narrativa. O autor é sempre um viajante que narra do ponto de vista externo, sem referencial fixo; crença na liberdade e no respeito pelos costumes e pelas leis adotadas nas diferentes sociedades. Liberdade a partir de um referencial sempre político, da autonomia de uma cidade em relação à outra, mas também liberdade de opinião e expressão em condição de igualdade entre os cidadãos;

não pretende nunca construir uma síntese para o leitor. Isso

significa que a palavra escrita é sempre um diálogo com o leitor, fundamental para compreender o contexto social da Grécia clássica, pois expõe uma ampliação do espaço público à participação do cidadão, que permite a coexistência de razões de caráter mítico-religiosas e científicas;

o tratamen-

to dispensado às fontes orais é fator determinante da relativização da verdade pelo historiador, ou seja, reproduz buscando ser fiel à fala do entrevistado, mesmo se lhe pareça absurda e, finalmente, analisa buscando conclusões aceitáveis. Esses aspectos, fundamentalmente, favoreceram o deslocamento de uma narrativa de base mitológica e lendária para outra vinculada à investigação, embora isso não signifique que Heródoto estivesse preocupado com a sistematização, a objetivação e a ortodoxia da construção do conhecimento que ele pretendia difundir. Sua obra era repleta de lendas, de costumes não verificados, de relatos orais coletados nos mais diversos espaços que o autor percorreu. Sem dúvida eram esses elementos, também, que serviram para que Heródoto fosse simultaneamente desacreditado. Tucídides, o historiador ateniense, apontava sua desconfiança em relação à

presença da influência da tradição oral na obra Histórias, e afirmava sua disposição em implementar um método onde o rigor no tratamento das fontes e a objetividade ao relatar os acontecimentos ficassem evidentes . (MORELO, 2000, p. 13). Outros autores na antiguidade, tais como Cícero, também ponderavam a respeito de Heródoto e sua visão de História. Em De Legibus, Cícero, ao mesmo tempo em que chama Heródoto de pater historiae, adverte sobre a presença de inúmeras fantasias . (MORELO, 2000, p. 13). Morelo (2000), ao historiar as perspectivas sobre Heródoto, lembra que, já na antiguidade ele fora acusado de ser antitebano, pró-bárbaro ou mentiroso e, em tempos modernos, rotulado de pró e antiateniense, antibelicista, apologista do império ateniense ou simplesmente, um equivocado . (2000, p. 13). O debate em torno de Heródoto continua, mas a contribuição fundamental do autor para a história da História foi, especialmente, a de que a verdade é sempre relativa à opinião daquele que a diz; é um descobrimento do diferente como uma busca constante da própria identidade perdida, ou melhor, negada. (MORELO, 2000). Outro historiador importante na Grécia, e que foi referendado como o grande historiador na segunda metade do século XIX, foi Tucídides, de Atenas, que escreveu a História da Guerra do Peloponeso (V a.C.). Morelo enfatiza que a metodologia daquele historiador, considerada objetiva pelo rigor no tratamento das fontes, imprimiu uma imagem de maior cientificidade, fundamentada, prioritariamente, no logos (ciência ou palavra escrita) em detrimento do mythos (presente na tradição oral). (MORELO, 2000). Tucídides descartava todo relato que não considerava confiável. Ele transcrevia dados escritos, tais como cartas, inscrições, tratados, e os utilizava como fonte para a sua pesquisa, porém era dada maior importância aos dados orais. Tucídides é importante pelo rigor que imprime na sua escrita da História. A partir da História escrita por Tucídides um grande rigor é instaurado na historiografia antiga; seu método de trabalho contribui decisivamente para a construção de uma ética ligada à escrita da História. O rigor de Tucídides contribuirá para a seleção de testemunhos e pela imparcialidade que pretende introduzir na narrativa. Esse aspecto favorece a historiografia romana, principalmente na figura de Tito Lívio e Tácito, principais historiadores romanos. Ao compararmos Heródoto e Tucídides, afirma Morelo (2000), amparada em outros pesquisadores, os estudiosos do século XIX, perseguindo a noção de história científica, acreditaram ter achado essa forma adequada de história em Tucídides, que parecia subscrever uma interpretação própria dos eventos com base nos fatos analisados . (MORELO, 2000, p. 17). E acrescenta que, em contraste, Heródoto parecia ser vítima das tradições que seguira tão de perto, e seu trabalho foi considerado uma coleção de histórias confusas e não muito dignas de crédito . (MORELO, 2000, p. 18). É necessário dizer, contudo, que a reabilitação de Heródoto para a história contemporânea já ocorria no início do século XX, inclusive se pensarmos que muitas das afirmações daquele autor puderam ser referendadas por estu-

dos arqueológicos. A virada antropológica e cultural que atingiu a História nas últimas décadas do século XX continuou a reforçar a importância de Heródoto, especialmente em razão de sua narrativa detalhada de hábitos, de manifestações religiosas, de costumes e peculiaridades locais. Além de Heródoto e Tucídides, a historiografia grega antiga contou com outros historiadores importantes, tais como Xenofonte, Ctéseia, Teopompo, Filisto, Timeu, Políbio, Dionísio de Halicarnaso e Posidônio. Todos eles priorizavam a escrita de uma história do presente, não sendo possível imprimir a eles a leitura sobre passado mais remoto (ao contrário dos autores chineses antigos). O ato de ver e a sua importância para os historiadores gregos, a coleta de testemunhos dos que viram ou participaram de algo era essencial para a construção narrativa de grande parte das histórias contadas pelos gregos. De um ponto de vista teórico-metodológico, François Dosse (2003, p. 14), afirmou que: A historiografia grega inova efetuando vários deslocamentos decisivos, que permitem a emergência do gênero histórico. Na verdade, celebra-se não mais a lembrança das grandes façanhas, mas procurase a conservação na memória daquilo que os homens realizaram, glorificando não mais os grandes heróis, mas os valores do coletivo dos homens, no quadro das cidades. Sonila Morelo (2000), ao discutir a noção de verdade e história em Heródoto, também trabalhou no sentido de apresentar a discussão já consolidada sobre o tema da historiografia grega antiga. A seguir, apresentamos um extrato da leitura comparativa de Herótodo e Tucídides na historiografia grega antiga, apresentado por Morelo (2000, p. 20). De fato, a abertura da história para outras áreas de pesquisa como a etnografia, a sociologia, dentre outras, possibilitou uma releitura da obra de Heródoto. A abordagem de aspectos religiosos, geográficos e culturais abundantemente presente nas histórias fez desse historiador o precursor da antropologia cultural segundo Harmatta, assim como também merecedor de destaque entre os fundadores da história das religiões, como afirma Burkert. Entretanto, a grande aceitação de sua obra e dos princípios de pesquisa desenvolvidos por Heródoto não implicou o esgotamento das críticas em relação à sua metodologia e, principalmente, à veracidade de seus relatos. Sua obra suscita, ainda, polêmicas. Para Hartog, a questão que se coloca hoje não é se Heródoto diz a verdade, mas como ele a diz. Na conceituada obra Paideia publicada em 1936, Jaeger destaca que a grande contribuição de Heródoto foi a de ter dado ao homem lugar central na sua investigação, mas aponta sua falta de crítica e sua complacência no tratamento das fontes. Chatelet considera que não se pode dizer que em Heródoto exista uma noção de inteligibilidade do tempo dos homens pautada na ideia de causalidade, essa noção se desenhará de forma completa somente em Tucídides. Para Valéria Silva, estudiosos como Jaeger e Chatelet, as críticas elaboradas por Veyne ao historiador de Halicarnasso seguem um traçado semelhante às de Jaeger, ao afirmar que: Heródoto compraz-se a relatar as diferentes tradições que conseguiu colher. Na perspectiva de Veyne, o saber para Heró-

doto significa, apenas, estar informado, não requer elaboração de um critério de verdade. Entretanto, tendo em consideração o significado atribuído pelos gregos à palavra critério, nota-se que o que Heródoto realiza em sua narrativa é exatamente um julgamento, uma opinião particular sobre os relatos recolhidos em sua investigação. Norma Thompson aponta para o fato de Heródoto e Tucídides serem vistos como uma dupla, não uma dupla que se complementa, mas mais ao estilo de Watson e Sherlock Holmes - o primeiro, reconhecido em seu campo profissional, mas, graças à sua ineficácia e imprecisão, apagado pelo brilho do segundo, que é preciso, organizado, lógico, ou seja, modelo do investigador moderno que sabe lidar com as evidências e é o que alcança a verdade. Com relação a Roma, a historiografia assume diferentes regimes, levando em conta a multiplicidade política, territorial e intelectual ao longo da história daquela cidade, mais tarde transformada em república, império e que alastrou seu domínio para a Europa, a Ásia e a África. Podemos pensar a historiografia romana por meio de historiadores que, num primeiro momento, detiveram-se a escrever crônicas (historiadores cronistas), depois os historiadores analistas, e outros historiadores que efetivamente construíram cuidados teórico-metodológicos aproximando história e filosofia. Em todas as suas formas, a historiografia romana assume um forte apelo moral e nacional , pois prioriza a política, os indivíduos, e cria uma narrativa que tem como principal objetivo fazer a apologia das personalidades importantes da política romana e das realizações da cidade, da república, do império, das suas instituições. Diferente dos gregos, a historiografia romana trabalhará teoricamente com a concepção de tempo, para, a partir daí, inscrever a importância da História no cotidiano das pessoas. De acordo com Dalpian, Cícero (3 jan. 106 a.C.

7 dez. 43 a.C.) é o primeiro, dentre os gregos e romanos, a

formular uma efetiva teoria da história congregando passado e presente, trazendo não apenas os fatos, mas também a interpretação. Segundo o autor, "interpretar significa avaliar o planejamento, a execução e os resultados, conforme princípios de causalidade, modalidade e finalidade. Nessa dialética da subjetividade e objetividade, o autor de história vale-se de seus conhecimentos e experiências. Dessa forma o fato particular é inserido no contexto universal, do humano, e é tratado filosoficamente. quem leva a efeito essa proposta, em Roma, é Caio Salústio Crispo". (DALPIAN, 2000, p. 201). Caio Salústio Crispo (86 a.C. - 35 a.C.) foi historiador, narrador de acontecimentos políticos do último período republicano de Roma e considerado o introdutor da história filosófica na historiografia latina. Seu primeiro cargo político foi como tribuno do povo (52 a.C.), porém expulso do Senado (50 a.C.) ficou sob a proteção de César e participou como comandante de uma das legiões na guerra civil contra Pompeu. (WIKIPEDIA, 2006). Suas obras mais conhecidas são Bellum Catilinae ou De conjuratione Catilinae (43-42 a.C.), Bellum Jugurthinum (41-40 a.C.) e Historiarum libri quinque (39 a.C.), narrativas históricas de fatos acontecidos em Roma (78-67 a.C.). Outro historia-

dor romano de importância foi Tito Lívio (59 a.C. - 17 d.C), autor de Ab urbe condita (Desde a fundação da cidade), que narrava a história de Roma desde a sua fundação tradicionalmente localizada em 753 a.C., até o século I d.C. Embora parte de seu trabalho esteja perdida, há razões para acreditar-se que Ab Urbe Condita foi escrita como uma história oficial da época de Augusto, e que a moralidade está explícita na obra como valor importante para Lívio e para o imperador. No prefácio da obra, Lívio direciona o leitor a ler sua história como exemplos para imitação de conduta: O que faz o estudo a história benéfico e frutífero é que você carrega as lições de cada tipo de experiência como um famoso monumento; deles, você pode escolher por conta própria o que imitar, e evitar o que considera vergonhoso . Flávio Josefo (ou Joseph Bem Matthias) foi um historiador romano-judeu do século I que escreveu, entre outras obras, História da Guerra Judia (75-79) e Antiguidades dos Judeus (93), que inclui referências a um homem chamado Jesus. Josefo nasceu de uma família aristocrata de Jerusalém, e em 64 d.C. foi enviado para Roma para negociar prisioneiros judeus. Tácito foi outro historiador importante do século I. Sua obra, Agrícola, escrito por volta de 98 d.C., foi descrita como semibiográfica, e como apologética da moral de um personagem, neste caso, seu padrinho. No processo de escrita, Tácito foi o primeiro romano a escrever uma história sobre a Bretanha. No rol dos escritores do período, Plutarco é outro historiador e biógrafo de importância, conhecido, especialmente pela obra Vida de Antonio, que foi amplamente utilizada por Shakespeare ao escrever a sua obra Antonio e Cleópatra. Um dos principais expoentes da historiografia romana, subsequente a Tácito e Plutarco foi Suetônio, que escreveu A vida dos Césares. Suetônio nasceu por volta de 70 d.C. e foi secretário do palácio de Trajano e Adriano, tendo acesso aos arquivos oficiais. Na linha do tempo de historiadores greco-romanos, temos o deslocamento de uma história ainda sem sistematização e baseada em fontes orais, para uma outra, romana, caracterizada pela narrativa mais objetiva e presa a convenções que auxiliaram, também, na construção da ideia de passado, de transição e de sentido na História. Vejamos a linha do tempo com os principais autores do mundo grecoromano: Heródoto (480-425 a.C.) Tucídides (460-? a.C.) Xenofonte (?-355 a.C.) Políbio (200-118 a.C.) Cornélio Nepos (100-35 a.C.) Caio Salustio Crispo (86-35 a.C.) Strabo (63 a.C.-?) Diodorus Siculus (60-30 a.C.)

Tito Lívio (59 a.C.-17 d.C.) Velleius Paterculus (19 a.C.-30 d.C.) Flavio Josefo (37 d.C.-100 d.C.) Tacito (54-119 d.C.) Plutarco (45-125 d.C.) Suetônio (71-135 d.C.) Dio Cassius (150-235 d.C.) Ammianus Marcellinus (século IV) Eutropio (320-390 d.C.) Eunápio (349-414 d.C.) Sozimo (século V) Prisco (V-VI) Se é possível compreender a historiografia grega sob o viés da polarização de posições entre Herótodo e Tucídides, o mesmo não pode ser dito para o caso romano. A historiografia romana é muito mais volumosa e preponderantemente voltada ao campo do político, a partir de documentação existente em arquivos oficiais. Não podemos considerar que ela, por essas razões, fosse melhor ou pior; apenas diferente, levando-se em consideração o papel da história, do peso da transmissão de exemplos morais e de eventos políticos, que tanto a república, quanto o império demandariam em longo prazo. A polêmica em torno da construção da historiografia na antiguidade clássica ainda permanece acesa. Vejamos o texto a seguir, sobre o papel de Tucídides para a construção da história.

TUCÍDIDES OU O CULTO DO VERDADEIRO A desqualificação da obra de Heródoto, Tucídides conta como, criança, teve oportunidade de ouvir Heródoto contar suas Histórias na Olímpia. Seu encantamento foi tal, que ele chorou de emoção. Apesar desse encantamento, apenas com uma geração de distância, o filho mata o pai e Heródoto sofre uma desqualificação quase que imediata da parte de seu discípulo Tucídides, que lhe reprova ficar muito perto da lenda e muito longe das restritas regras de estabelecimento da verdade. Heródoto passa então por um efabulador, propenso à invenção para preencher as lacunas documentais. Pai da história, torna-se também pai das mentiras. Essa aproximação pode parecer paradoxal, a figura do oxímoro: o mentiroso

verdadeiro e o historiador. François Hartog ressalta como essa f...


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