Palestra parte 1- Palestra de Ética no mundo corporativo PDF

Title Palestra parte 1- Palestra de Ética no mundo corporativo
Course Ética Profissional (EAD)
Institution Universidade do Vale do Paraíba
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Primeiras notas da palestra de etica no mundo corporativo, Ministrada por Mário Sérgio Cortella. As notas estão dividas em 04 partes ...


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Palestra parte 1- Palestra de Ética no mundo corporativo- Ministrada por Mário Sérgio Cortella Notas de palestra de 26-08;19 Ética no mundo Corporativo Além das disciplinas que vocês já tiveram conhecimento, também há a inserção de algumas palestras, não só relacionadas diretamente aos temas das disciplinas, mas também relacionadas a temas que emergem no cotidiano de nossa empresa. É o caso da palestra de hoje sobre ética. E a gente deve considerar esse tema ética numa perspectiva bastante ampla a da responsabilidade social corporativa e até numa dimensão maior da sustentabilidade. E é dessa forma que nós, hoje, propusemos este tema porque ele abrange um compromisso muito sério da nossa empresa com princípios éticos, né, que estão muito além do oferecimento de produtos, de serviços com qualidade, com regularidade ou até na obtenção de resultados. Vai muito além disso. Esse compromisso está arraigado na nossa empresa na atuação de todos os empregados e por isso, então, trouxemos hoje esta apresentação para que a gente tenha uma noção mais ampla, abrangente, mais inspiradora com o professor Mario Sergio Cortella sobre a ética corporativa e também para que a gente possa apresentar a vocês as práticas da nossa empresa neste segmento. Então, estamos falando de uma série de práticas que condensam esses princípios éticos. É a manutenção de um canal de denúncias, é a ouvidoria, serviço de atendimento ao cliente, comitê de ética, enfim, são uma série de práticas que amarram então a perpetuação desses princípios na nossa empresa. Então, como eu disse, hoje a gente vai ter a a presença do professor Mario Sergio Cortella, que muitos de vocês devem conhecer e que sempre nos traz bons insumos para a reflexão, e na sequência nós contaremos com a presença do Marcelo Fridori, superintendente de auditoria da nossa empresa. É possível que no decorrer a gente talvez tenha presença também de alguns outros representantes da nossa empresa, e aí a gente é apresenta pra vocês. O professor Mário Sergio Cortella é filósofo, escritor, mestre e doutor em educação, é professor titular da PUC há 32 anos... 36 anos. Docência e pesquisa na pós-graduação em educação e no departamento de teologia e ciências da religião. Também é professor convidado da Fundação Dom Cabral, já foi Secretário Municipal de Educação de São Paulo. Entre outras obras, é autor de "Liderança em foco", com Eugenio Mussak, "A escola e o conhecimento e "Nos labirintos da moral", com Yves de La Taille, "Não espere pelo epitáfio: provocações filosóficas", "Vida e carreira: um

equilíbrio possível?", com Pedro Mandelli, "Qual é a tua Obra? Inquietações Propositivas sobre Gestão, Liderança e Ética", e muitas outras. Então, sem mais me alongar, passo a palavra ao professor Mario Sergio. Muito bem. Satisfação imensa, numa manhã como hoje, cada um e cada uma dentro de uma companhia que eu não só admiro mas como eu sou também cliente. E sendo cliente, evidentemente, o tema da ética, da capacidade, do cuidado, da responsabilidade social, ela me interessa de perto. Seja como cliente, seja como cidadão do Estado de São Paulo, embora tenha nascido em londrina, eu moro em são paulo há 45 anos e, portanto, a minha presença desta sociedade ela se dá pelo exercício da minha capacidade como vocês de querer uma vida coletiva que seja boa para todas e todos e, portanto, seja marcada por algo que está no campo da ética, que é a decência. E eu fico feliz, também, de estar hoje na Fundap, uma instituição na qual por muito tempo, isso há quase 30 anos, várias vezes tive a ocasião de dar aulas e mais ainda dentro da Sabesp, com quem eu tenho vínculo seja em São Paulo onde eu moro, seja na Ilhabela, onde eu também moro, em ambas eu tenho a capacidade ser por vocês atendidos. Ademais, na minha família tem alguns sabespeianos. Um deles, o Osvaldo Cortella Filho, que está em Santa Cruz do Rio Pardo, que é uma cidade onde toda a minha família é daquela região. Eu sou paranaense, mas boa parte da família está na região Santa Cruz do Rio Pardo, Ourinhos, Bauru, etc. E me agrada, imensamente, e eu vou fazer uma fala que antecede, né, o intervalo. Portanto, eu tenho uma tarefa que é adiar o teu intervalo. Como a Marcia lembrou aqui, eu sou da área de filosofia e de maneira geral as pessoas acham que filósofo alguém que não trabalha, né. Tanto que você nunca ouviu falar de greve de filósofo ou do sindicato de filósofo. É uma área que se a gente parar de trabalhar você nem percebe que a gente tinha começado. Além de filósofo, tenho uma outra atividade que não é considerada trabalho, sou professor. Quem dá aula aqui, né, Marcelo, já ouviu a pergunta várias vezes: "professor, o senhor não trabalha, só dá aula?". Então eu não trabalho, eu sou professor e filósofo. Sou professor da PUC São Paulo há 36 anos, sou professor da Dom Cabral, dei aula na GV, portanto eu não trabalho em vários lugares. Nos intervalos eu escrevo livros, faço conferência, palestra, consultoria e faço atividades de rádio e TV, eu sou comentarista da rádio CBN, entro todo dia às 6:32. Hoje lá estava eu às 6:32. Amanhã estarei também, entro em rede nacional e também entro às terças e quintas, aí você não ouve, às 10:15 da manhã, mas aí você está trabalhando. Aí às 10:15 é só para a capital paulista, mas às 6:32 para o Brasil todo num programa chamado

Academia CBN, que vale a pena, gostoso. Hoje eu pensava, para quem estava de manhã vindo pra cá, se você estava ouvindo, eu falava sobre a questão do canhoto dentro da formação na educação. Parece uma coisa fora, mas ao contrário tem a ver com ética porque o respeito à diversidade não é apenas uma questão de ser tolerante, mas é uma questão de inteligência, porque aquele que não é como nós nos faz melhor. Aquele que não pensa como eu me renova, me inova, contribui de uma outra maneira se, claro, positivamente for. E eu tenho uma tarefa que é, para o teu desespero, nós vamos juntos até às 9:45, então se você olhar no relógio tem um tempo intenso de sofrimento e eu vou falar até às 9:30 e das 9:30 às 9:45 a gente abre, pois às vezes você tem alguma dúvida, reflexão, ódio, trauma curiosidade, e aí se traz à tona. Aí sim, a gente faz uma parada, né, tem aquilo que em português a gente chama de coffee break e depois do coffee break o professor Marcelo entra também, né, com as atividades aí de sequência. Quando a gente pensa em ética, e eu me lembrei um pouco que ontem, ontem 28 de agosto, foi aniversário de morte de Santo Agostinho. Agostinho, nascido no norte da áfrica e lá morreu também, morreu naquilo que hoje é a Argélia. Agostinho morreu no dia 28 de agosto do ano 430. E é uma coisa interessante porque Agostinho, um homem especial na história do pensamento, ele tem uma frase, que toda vez que se fala em ética e responsabilidade social, me lembro dela. Agostinho dizia: "não sacia a fome quem lambe pão pintado". "Não sacia a fome quem lambe pão pintado", isto é, você não sacia a fome por lamber a pintura de um pão. Em outras palavras, não se contente com as aparências, a aparência não basta. E quando se pensa em ética e responsabilidade social, tem muita gente no mundo corporativo que apresenta apenas pão pintado, isto é, esquece algo decisivo, que ética não é cosmética. Ética não é cosmética e o campo da ética e da responsabilidade do mundo corporativo é um terreno propício para algo, que eu tenho certeza que a Sabesp não deseja, que é uma atitude cínica. Tem muita gente hoje que esquece que falar em ética não é apenas um valor negocial, ele é também, mas ele não pode ser só isso. Afinal de contas, empresas, companhias, são feitas de pessoas e as pessoas sem dúvida querem que seu trabalho, sua vida, sua atividade, tenham um significado que não torne mundo a tua trajetória, né, que não torne indecente aquilo que você faz. O cinismo na área corporativa, em relação à ética, é tão forte - quado se fala em especialmente responsabilidade socioambiental - que, se bobear, em breve nós vamos da empresa anunciando "nossas motosserras", "nós somos sustentáveis", "nossas motosserras são feitas de material reciclável". Por que eu estou dizendo isso? Porque o tema, hoje, da ética e da responsabilidade socioambiental, e ele é muito propício ao cinismo,isto é, a um discurso que não se encarna, a uma fala que não se realiza, a um propósito que apenas propagandístico.

Eu não sou contrário à idria de que uma companhia, uma empresa, faça propaganda quando atende requisitos de decência na convivência coletiva, mas fazer disso só isso, é pouco. E aqui é uma grande vantagem porque a Sabesp, há décadas antes até de existir a palavra sustentabilidade, já tinha essa preocupação. Primeiro, pelo óbvio pelo negócio com o copo atua, isto é, seja área de fornecimento, abastecimento de água, seja no campo de saneamento. Portanto, a própria noção de saneamento, de sanitas, tá ligado à ideia de saudabilidade, de saúde. Portanto da capacidade de nos manter íntegros. Você sabe que a palavra "íntegro" significa "aquilo que não apodrece", "aquilo que não se esvai", "aquilo que não perde vitalidade". Por isso, eu fico agradado quando hoje fui convidado para fazer aqui essa reflexão sobre ética, seja porque nós estamos no dia subsequente ao dia de Santo Agostinho parênteses, não sei se sabe, o dia de um santo é sempre o dia da morte dele. Todos os santos que você ouvir falar o dia do santo, é o dia da morte. Então, foi ontem Agostinho porque é o dia que ele morreu; anteontem, por curiosidade, foi a mãe dele, Santa Mônica, e Santa Mônica que é considerada santa porque tirou Santo Agostinho de um pântano ético sério. Agostinho com 14 anos de idade já era pai. Gastou quase todo o dinheiro da família com prostituição, jogo, bebida alcoólica, isso no início da vida e é um dos homens que mais construiu uma ciência ética no campo da religião com muita força. E é claro, como Mônicas sua mãe, conseguiu impedir que o filho degenerasse de vez, isto é, que ele perdesse a integridade de vez. Ela foi santificada dentro do mundo anglicano e católico, então ela é chamada de santa pelos católicos e pelos anglicanos. Olha quanta coisa inútil você não sabe... é que você trabalha, se você não trabalhasse como eu, você só ia ficar olhando essas coisas. Olha que coisa boa, eu tenho um livro, a Márcia lembrou o título dele, que traz até esta reflexão que eu vou fazer aqui hoje. Esta aula está num livro, que ela mencionou, chamado "Qual é a tua obra?", um livro sobre gestão, liderança e ética. Pelo nome às vezes parece livro de engenharia, né, "Qual é a tua obra?", mas é uma questão um pouco mais densa. A grande pergunta no livro é "qual é a tua obra?". Quando você se for, o que é que vai ficar? Qual é o teu legado? Qual é a tua herança? O que você e eu vamos deixar que não estrague, não apodreça e não seja objeto de disputa odiosa - porque muita gente deixa coisas que geram fratricídio -? Qual é a tua herança? Qual é o teu legado? Insisto na ideia. Quando você e eu nos formos, o que é que ficará? Esse livro tem uma frase e é em cima dessa frase que eu quero partir. Há um grande pensador britânico do século 19, chamado Benjamin Disraeli, ele aliás foi primeiroministro da rainha Vitória e Benjamin Disraeli diz "a vida é muito curta para ser pequena." "A vida é muito curta para ser pequena." Já basta que a vida curta seja para que você e eu consigamos apequená-la de algum modo. O que o que é uma vida pequena? É uma vida banal, fútil, inútil, indecente. Olha que coisa interessante, a ideia de ética está ligado à ideia de decência. Muita gente

talvez não saiba, mas a palavra "decente" tem um prefixo indo-europeu, que o latino usou, que é "dec". D-E-C. Quem é professor como nós, e alguns outros o são, sabe que existe docência. "Doc" em latim significa "levar", por isso tem um duto, um aqueduto, um oleoduto. "Doc" é "levar". D-O-C é o prefixo para "levar". "Disc", de onde vem discípulo, discência. "Disc" significa "ser levado", por isso "docente", "discente". Mas existe um terceiro prefixo que é muito importante, que é "dec" de "decência" e tem a ver com a área de auditoria. Olha que coisa, porque a tarefa da auditoria é cuidar do cuidado. Você e eu temos que de cuidar para que a Sabesp continua íntegra na sua atuação social, na capacidade competitividade, lucratividade e rentabilidade e sustentabilidade. Para que ela fique íntegra, isto é, ela não apodreça a condição de existência, é preciso que a gente fique o tempo todo cuidando dela e alguém tem que cuidar do cuidado. Quem é que cuida do cuidado? A auditoria, o comitê de ética cuida do cuidado. Os grupos que se interessam cuidam do cuidado. A capacidade de cuidar é a capacidade ética, mas quando se cuida do cuidado, porque nós nos distraímos às vezes em relação ao cuidado, você e eu, e nós vamos falar disso em breve, Olha que interessante esse prefixo "dec", D-E-C, ele significa "enfeitar", "embelezar", de onde vem "decorar", quando você decora um ambiente, decora uma sala. Daí vem a palavra "decoro", uma coisa decorosa ou decorada é aquela que está enfeitada, embelezada; uma coisa indecorosa é uma coisa feia. Lembro quando tua vó dizia: "Que coisa feia, menino. Que coisa feia, menina." Claro que ela não tava falando do ponto de vista estético. O feio ali não era estético, era ético. "Que coisa feia, menino. Que coisa feia, menina". Por isso "dec" significa "enfeitar", embelezar. Você e eu queremos uma vida, uma carreira, uma história, um negócio, que seja decente, afinal de contas, vale pensar, nem todo o sucesso é honroso, nem toda vitória é decente, nem todo o lucro é higiênico. Parênteses, quero até lembrar o que você já sabe, a palavra "lucrum" em latim, L-U-C-R-U-M, lucrum, em latim significa "engano". Na origem, "lucrum" é "engano": enganar alguém e lograr alguém. Quando você logra alguém, você o engana. Em espanhol tem outro sentido. Isso, em espanhol, lograr tem o sentido exatamente do lucro, no sentido de obtenção de sucesso. Nos últimos 500 anos, a palavra "lucrum" foi ressignificada, requalificada, e em vez de significar "engano", nos últimos 500 anos lucrum passou a significar a remuneração justa por um serviço vendido, por um trabalho prestado, por uma consultoria oferecida. No entanto, vez ou outra, algumas empresas ou companhias, elas retomam o sentido original de lucrum, isto é, de engano. Sabe quando ela faz isso? Quando ela faz algo, que eu tenho certeza que a Sabesp não quer, é quando ela coloca uma ideia que é "fazemos qualquer negócio. Fazemos qualquer negócio." Quando você e eu, em nome da lucratividade, competitividade, da

rentabilidade e da produtividade, implantamos a ideia do "fazemos qualquer negócio" porque há negócios que não podem ser feitos e eles não podem ser feitos porque enfeiam a nossa trajetória, eles imundam a nossa carreira, eles mancham aquilo que é a função de uma companhia, de uma empresa, especialmente quando conectada também com a área coletiva de vida pública. Olha que coisa. Agora, "dec" que é "enfeitar", "embelezar", tem um terceiro sentido. Além de enfeitar e embelezar, "dec" tem um sentido que só quem é caipira entende direito; quem for caipira aqui vai entender com clareza, porque "dec" em latim também significa "ornar, ornar", de onde vem ornamento, quando você ornamento um ambiente, uma mesa. E aí vou dizer, tem coisas na vida que orna e tem coisa que não orna. Eu estou usando de propósito sotaque do paraná pra gente pensar melhor nisso. Tem coisa que orna e tem coisa que não orna. O que é que aquilo que orna? Orna é aquilo que combina, é aquilo que está dentro dos conformes, isso orna; orna na família, orna na cidade, orna no negócio, orna no governo e tem coisa que não orna: por exemplo, se eu tivesse com a gravata alaranjada, agora, dependendo do teu gosto talvez não onaria; um terno verde e uma gravata laranjada, já imaginou? À la Mangueira. Vou ficar um Coringa, já pensou? Já pensou? Tem gente que tem uma atividade que orna e tem gente que não orna; tem gente que é, por exemplo, membro dirigente de uma religião mas não orna; tem gente que está no governo e o que ele faz não orna. Eu fui secretário de educação na capital paulista, como a Márcia lembrou, e eu tinha que ter uma grande preocupação o tempo todo, que a minha atitude, a minha prática e o meu discurso ornassem. Ornassem com o quê? Com o modo de não deixar indecente aquilo que eu tinha que fazer na minha atividade, isto é, ornar o comportamento, ornar a conduta. Por isso, quando a gente pensa em ética, nós esamos pensando naquilo que orna e naquilo que não orna, isto é, naquilo que enfeia uma vida, um negócio, uma carreira e naquilo que embeleza. Falar em ética é falar em saúde, em sanitas, em saneamento. Mas em que sentido? Na noção de uma vida e do ponto de vista físico e espiritual, intelectual, que ela fique embelezada em vez de se enfeiar. Vou dizer uma coisa pra você, que eu falava agora e vou retomar, a vida é muito curta para ser pequena. E uma das maneiras de diminuir uma vida que já é curta, é exatamente não ornar aquilo que se faz. Aqui tem uma encrenca muito séria: falar em ética é falar uma coisa que é exclusividade de seres humanos, porque como a ética é a tua capacidade de decidir, escolher, e julgar como é que você se conduz, como é que você se movimenta, como é que a tua conduta social. Ética é algo exclusivamente humano. Agora tem uma coisa que é triste: nós humanos somos capazes de belezas e de horrores. Cada um de nós é capaz da coisa mais bela, que acolher alguém quando ele está sofrendo, e também com outra pessoa fazer com que ela sofra. Nós mesmos, cada um e cada uma de nós, é um ser capaz da beleza e do horror daquilo que orna e daquilo que

suja, claro. Eu tenho um genro que é alemão, aí ele está no Brasil há quatro anos casado com uma das minhas filhas, que aliás, é quem faz o prefácio do livro "Qual é a tua obra?", ela é advogada criminalista. Na minha família que faz os prefácios dos meus livros é sempre os filhos; não quero ninguém que fale mal de mim, então eles que fazem. E a Ana Carolina, a Carol, era casada com um alemão e o Michael tá no brasil há quatro anos e ele é, atenção, ele é a segunda geração de alemães depois da segunda guerra mundial. A primeira geração é o pai dele, o Helmut, e ele é a segunda. Qualé a grande encrenca na cabeça do Michael? Como é que um povo que gerou arte, ciência, literatura, religião, como o povo alemão, um povo que gerou Kant, Hegel, que gerou a música de Beethoven, que gerou a obra musical de Johann Sebastian Bach, o que seria de Deus sem Bach? A religião seria menos sem Bach. Um povo que foi capaz de gerar Goethe na literatura, que fez coisas no campo da ciência inacreditáveis, como é que esse povo fez o horror nazista? O horror nazista, aliás, composto de gente como nós, engenheiro, administrador logística, psicólogo, filósofo, gente que se organizou para montar uma máquina de homicídio... e ganhando a vida com aquilo. Claro, é um horror. Você e eu somos capazes de belezas e horrores. Nós somos capazes, por exemplo, de quando crianças ir até à escola e brigar com alguém porque ele bateu no irmão mais novo da gente; mas somos capazes, também, quando esse mesmo irmão estava passando correndo corredor, colocar o pé de leve para ele tropeçar. Você é capaz de repartir a maçã que você está comendo com a tua irmã, mas é capaz, também, de contar para seu pai, quando era criança, alguma coisa que ela não fez só para que ela pudesse se ferrar, para não usar o verbo latino. Olha só, você e eu somos capazes de amar alguém, acolher essa pessoa com quem a gente é casado ou casada e torturá-la também Você sabe o que falar para muxicar alguém com quem você convive; você sabe. o que dizer pra que ela se eleve; você e eu somos capazes de dores e delícias, isso significa que nós somos um ser livre para o bem e para o mal. Por isso, atenção, nós temos que tomar muito cuidado conosco. A pessoa mais inteligente que eu já vi em relação ao ser humano no campo da ética é um ex-prefeito de São Borja, vocês sabem, quem aqui com o Rio Grande do Sul, São Borja é uma cidade de fronteira, e no Brasil, durante as ditaduras, os prefeitos das capitais das áreas de proteção ambiental ou de fronteira sempre foram nomeados pela ditadura. Então, por exemplo, na ditadura militar aqui em São Paulo, a capital, era prefeito nomeado Águas de Lindóia, Santos, tudo que era a preservação, tudo nomeado. Na ditadura Vargas, de 1937 até 1945, também a mesma coisa acont...


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