Resenha crítica- Pedagogia da Indgnação PDF

Title Resenha crítica- Pedagogia da Indgnação
Author Walber Cardoso
Course Jornalismo e Cidadania
Institution Universidade Federal do Tocantins
Pages 8
File Size 113.8 KB
File Type PDF
Total Downloads 28
Total Views 149

Summary

Resenha...


Description

Resenha crítica – Livro: Pedagogia da Indignação, Paulo Freire. Acadêmicos: Maria Francisca Alcântara, Sthefany Araujo Simão e Walber Cardoso Professor: Wolfgang Teske. Disciplina: Jornalismo e Cidadania

O livro Pedagogia da Indignação de Paulo Freire foi um manuscrito em cartas, com 29 páginas que ele mesmo escreveu pouco tempo antes da sua morte em 1997. As cartas pedagógicas, como o próprio Paulo Freire chamava, foram lidas por sua mulher Nita Freire aproximadamente um ano depois da sua morte. As cartas são palavras, ideias, emoções e preocupações que Paulo Freire tinha em relação ao contexto que ele vivia na sua época e parece não ser diferente da que vivemos hoje. O Prefácio do livro foi feito por um amigo de Paulo Freire, Balduino Andreola, que recebeu as cartas enviadas por Nita. Para responder a altura, o grande amigo de Paulo repostou por meio de cartas, pois como o próprio afirmou, “Pessoalmente, Paulo, penso que cartas recebidas de amigos devem também ser respondidas por carta.” É uma belíssima e emocionante introdução, pois parece que Balduino está sentado de frente com Paulo Freire conversando, olhando nos seus olhos e apreciando um bom café. A primeira parte do livro é uma carta que se parece mais com um diálogo, percebe-se uma curiosidade no autor com o que escreve, estando sempre aberto a dúvidas e a criticas. Tratando da tirania da liberdade e reforçando que a crítica produz um “saber tão fundamental, quanto obvio”. Já a segunda carta é impulsionadora, pois toca na responsabilidade que o cidadão tem de mudar o Brasil, e a frase que Paulo Freire mais repete nesses escritos é, “mudar é difícil, mas é possível”.

Cada parte do livro abre nossas memórias, para refletirmos sobre a liberdade que nós temos, sobre como mudar o ambiente tornando-o melhor, como usar a crítica de forma inteligente e libertadora. A terceira carta trata sobre o caso do assassinato de Galdino Jesus dos Santos, o índio pataxó, vemos claramente a indignação do autor, sobre como, crianças, jovens e adultos convivem com a liberdade, sufocando os fracos e discriminando o índio, o negro e a mulher. É uma fragmentação na humanidade que precisa ser trabalhada. A Segunda parte fala dos Outros escritos de Paulo, é uma volta ao passado, trazendo duras críticas ao sistema de alfabetização e a miséria. O autor rememora também os desafios da educação de adultos com o surgimento da tecnologia. E apresenta uma esperança a educação e finaliza apontando problemáticas sobre sonhos, utopias, violência e ética.

Primeira carta: Do espírito deste livro A fragmentação da cultura, e os “processos” que ocorreram durante os anos em que Paulo viveu, foi suficiente para depreender as críticas por ele feitas, sobre a forma que nos portamos diante da cultura, como a observamos e como ela evolui. “Estamos no mundo para transformá-lo”, como afirma o autor. A nossa presença por mais que tentamos ser neutros irá fazer diferença em algum aspecto da cultura, assumindo de forma crítica uma “politicidade”. Reavaliar e assumir os limites, diante do mundo, faz parte de uma transformação autocrítica; Pode fazer tudo? Existe limite? Trabalhamos a autonomia? “A mim me dá pena e preocupação quando convivo com famílias que experimentam a “tirania da liberdade” em que as crianças podem tudo: gritam, riscam as paredes, ameaçam as visitas em face da autoridade complacente dos pais que se pensam ainda campeões da liberdade”. (pg. 16)

É diante das inquietações de Paulo Freire que construímos um momento de consciência crítica, somos responsáveis para não interferir na liberdade do próximo; É notar que o homem livre escolhe se aprisionar em uma gaiola para ter conforto e prazer. O individuo troca à liberdade que se conquista para viver em meio a um sistema corrupto, que massageia o ego de quem o aceita. Recordamos de Étienne de La Boétie quando fala sobre o discurso da servidão voluntária, a servidão se torna algo confortável e prazeroso para muitos, pois ela oferece uma sensação de falsa liberdade; Essa falsa sensação provoca no homem um conforto existencial que gera comodidade, andando em um caminho retrógado a ação, reflexão e informação.

Segundo Paulo Freire, a liberdade que se aprende desde cedo pode dar possibilidades que decorrem da assunção lúcida, ética, dos limites e não da obediência medrosa e cega a eles (P. 18). A ditadura militar que durou 21 anos, prendeu, matou e continua se reproduzindo em pleno século XXI. Os escritos de Paulo Freire foram escritos por ele há aproximadamente duas décadas e se fazem presente até hoje no Brasil:

“Uma das primordiais tarefas da pedagogia crítica radical libertadora é trabalhar a legitimidade do sonho éticopolítico da superação da realidade injusta. É trabalhar a genuinidade desta luta e a possibilidade de mudar, vale dizer, é trabalhar contra a força da ideologia fatalista dominante, que estimula a imobilidade dos oprimidos e sua acomodação à realidade injusta, necessária ao movimento dos dominadores. É defender uma prática docente em que o ensino rigoroso dos conteúdos jamais se faça de forma fria, mecânica e mentirosamente neutra.” As cartas pedagógicas expressam um momento de luta de Paulo Freire, como educador, portanto, como político também, com raiva, com amor, com esperança, em favor do sonho de um Brasil mais justo.

Do direito e do dever de mudar o mundo A segunda carta reforça o papel de educador libertador que está intrínseco a Paulo Freire. De acordo com ele, “mudar implica saber que fazê-lo é possível”. Não são argumentos vazios, são propostas de mudanças complexas que dependem de cada um, tanto do educador e do educando, pois na vida todo ser humano que tem relacionamentos é um eterno aprendiz. Mudar o mundo, não é uma mera utopia ou sonho, para Paulo Freire os sonhos são projetos pelos quais se lutam. O autor também cita uma parte do sofrimento dos sonhadores, que de alguma maneira queriam apenas transformar o mundo em lugar melhor e mais justo: “Neste sentido é tão atual o ímpeto de rebeldia contra a agressiva injustiça que caracteriza a posse da terra entre nós, de maneira eloquente encarnado pelo movimento dos trabalhadores sem-terra quanto a reação indecorosa dos latifundistas, muito mais amparados, obviamente, por uma legislação a serviço preponderantemente de seus interesses, a qualquer reforma agrária, por mais tímida que seja. A luta pela reforma agrária representa o avanço necessário a que se opõe o atraso imobilizador do conservadorismo”. (pg. 26)

Segundo Freire, “O Futuro não nos faz. Nós é que nos refazemos na luta para fazê-lo.” Para o autor a desproblematização do futuro numa compreensão mecânica da história, de direita ou de esquerda leva necessariamente a morte de um sonho, de uma esperança. Assim como é possível se refazer no futuro, o passado se repete. Paulo Freire relembra que o Movimento dos Sem-Terra é tão ético e pedagógico e não começou agora, nem há dez ou quinze, ou vinte anos. Suas raízes mais remotas se acham na rebeldia dos quilombos e, mais

recentemente, na bravura de seus companheiros das Ligas Camponesas que há quarenta anos foram esmagados pelas mesmas forças retrógradas do imobilismo reacionário, colonial e perverso. É uma luta constante, são raízes presentes de árvores frondosas que até hoje lutam por seus diretos e rebatem as críticas feitas por políticos insensatos, que enxerga o negro apenas como mercadoria, vinda de uma história sofrida. Quando trabalhamos a nossa consciência conseguimos fazer links com a situação atual do Brasil, notando que mais uma vez a história tem se repetido, apenas em épocas diferentes, com grande parte dos políticos tiranos.

Do assassinato de Galdino Jesus dos Santos – índio pataxó Essa parte do livro é reflexiva e confronta o leitor a se reavaliar como um ser humano crítico em sua história. “Que coisa estranha, brincar de matar índio, de matar gente.” Os adolescentes que fizeram isso desceram a ladeira da vergonha humana, tratando o índio como um objeto fácil de ser destruído. Eles não mataram apenas outra gente, assassinou uma cultura, uma história, uma vida. Os princípios éticos são desconhecidos pela humanidade, pois até hoje a história é reproduzida com a mulher, com o negro e homossexual. Paulo Freire dizia. “Não creio na amorosidade entre mulheres e homens, entre os seres humanos, se não nos tornamos capazes de amar o mundo.” (P 31). Para Freire a ação progressista está a favor da vida e não da morte, da equidade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio, da convivência com o diferente e não de sua negação, não temos outro caminho senão viver plenamente a nossa opção. (P. 31) Outros escritos O Pseud. nome descobrimento da América, entende-se mais como uma conquista, pois encará-la como descobrimento é atribuir mais uma vez poder

ao colonizador que explorou não só a terra, mais as pessoas. Paulo Freire deixa claro seu sentimento em relação ao “descobrimento da américa”: Minha posição hoje, decorridos 500 anos da conquista, não sendo a de quem se deixe possuir pelo ódio aos europeus, é a de quem não se acomoda diante da malvadeza intrínseca a qualquer forma de colonialismo, de invasão, de espoliação. É a de quem recusa encontrar positividades em um processo por natureza perverso. ( P 34)

Sobre a miséria e a alfabetização Paulo Freire e seu amigo Danilson Pinto tropeçavam em seus questionamentos, a cerca do que fazer como educadores diante do contexto que se encontravam. E remomerando0 a frase “mudar é difícil, mais é possível”. Atuar com intuito de despertar a população para ser crítica diante dos políticos era um dos focos dos dois amigos, tentar tirar aquela visão, de que o “político rouba, mais faz”; é também destronar a política assistencialista que anestesia o consciente do povo. Compartilhar experiências com outras pessoas sem querer sobressair, ou humilhar, pode proporcionar um ambiente de fala e construção social. Pois segundo Freire “a experiência que possibilita o discurso novo é social”. É como a alfabetização, numa área de miséria só se ganha sentido na dimensão humana, realizando uma espécie de psico-análise histórico-político-social que vá resultando a extrojeção da culpa indevida, ressalta o autor. Quanto aos desafios da educação de adultos ante a nova reestruturação tecnológica, Paulo Freire compartilha que é na inserção do mundo e não na adaptação a ele que nos tornamos seres históricos e éticos, capazes de optar, de decidir e de romper.

De acordo com Freire, “a postura crítica da consciência é tão importante na luta política em defesa da seriedade no trato da coisa pública quanto na apreensão da substantividade do objeto no processo de conhecer. Não se aprende o objeto se não se apreende sua razão de ser.” A palavra de ordem é “agir”, e não se acomodar no mundo. Como educador Paulo Freire foi crítico, motivador e um progressista educador, muito além da sua época. No ultimo tópico, a alfabetização em televisão, o autor compartilha uma história, de um padre francês, antropólogo que trabalhava de forma amável no Nordeste brasileiro. Ele passou muitos anos calado, camuflado, até que a comunidade percebeu que ele tinha conhecimentos diferentes. E depois de duas reuniões feitas a comunidade olhou para o seu redor de maneira crítica e encontrou demandas para reivindicar, como melhorias para a comunidade local. De acordo com Freire, não há para ele, a diferença ou a “distância” entre a ingenuidade e a criticidade, entre o saber de pura experiência feito e o que resulta dos procedimentos metodicamente rigorosos. Não é uma ruptura, mas uma superação. Analisar a grande mídia de maneira crítica é colher informações manipuladas e até mesmo distorcidas.

Tornar-se passível diante dos

conteúdos veiculados, nos aproxima da grande massa de telespectadores que repetem informações equivocadas e vazias.

Uma leitura de mundo crítica implica o exercício da curiosidade e o seu desafio para que se saiba defender das armadilhas, por exemplo, que lhe põem no caminho as ideologias. As ideologias veiculadas de forma sutil pelos instrumentos chamados de comunicação. Minha briga, por isso mesmo, é pelo aumento de criticidade com

que nos podemos defender desta força alienante. Esta continua sendo uma tarefa fundamental de prática educativo-democrática. ( P. 48)

Se comportar de maneira cômoda diante do sistema social que não incluiu a todos é ironicamente uma utopia fadada ao fracasso. O que Paulo deixa de motivação é que a esperança que temos na educação pode começar com um ser humano, que tenha não apenas força e fome de lutar, mais que tenha argumentos embasados e inteligentes. O educador progressista não tem apenas o discurso bonito, ele viveu o que discursou em toda a sua vida. Os educandos se atem não só as belas palavras, mais as atitudes que as acompanha a vida do seu mestre. Precisamos nos despir do nosso olhar etnocêntrico ao observar o outro. Precisamos lutar não contra o ser humano, mais contra ideologias, falsas e tolas que destroem a esperança que Paulo Freire semeou nas suas cartas....


Similar Free PDFs