Resenha do filme Caçadores de Obras-primas PDF

Title Resenha do filme Caçadores de Obras-primas
Author Milena Antunes
Course Mídia e Discurso
Institution Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
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Resenha do filme enviada como trabalho de P2...


Description

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

Instituto de Ciências Humanas e Sociais Mídia e Discurso Docente: José Ferrão Grupo: Bruna Somma, Camile Cortezini, Milena Antunes e Nathália Barros

Resenha sobre o filme “Caçadores de obras-primas”

O filme “Caçadores de obras-primas” (2014), originalmente “The Monuments Men” (2013) dirigido, produzido, roteirizado e protagonizado por George Clooney, é uma adaptação do livro de mesmo nome de Robert Edsel. Baseado em fatos reais, o longa retrata a história de sete amantes da arte – historiadores, diretores de museus e restauradores – que, no cenário da Segunda Guerra Mundial, seguem em direção à Alemanha para recuperar obras clássicas roubadas pelo exército nazista, e devolvêlas aos seus respectivos donos. Além de George Clooney, no papel de Frank Stokes, o elenco conta com grandes nomes de Hollywood, entre eles Matt Damon, como James Granger, Bill Murray como Richard Campbell, Cate Blanchett como Claire Simone, John Godman como Walter Garfield e Jean Dujardin como Jean-Claude Clermont. A fim de evitar a destruição de 1000 anos de cultura, tais personagens arriscaram suas vidas em meio a uma atmosfera conflitual, sem qualquer experiência. Decerto, sabe-se que narrativa é uma obra de síntese e de caráter seletivo. Seria óbvio retratar essa história focando no nazismo e no âmbito trágico da guerra. No entanto, o enredo desse filme possui centralidade nas obras de arte e no seu valor cultural. Prova disso, é que apesar de haver referências à Hitler durante a produção, o próprio não aparece uma única vez. No caso do nosso objeto de estudo, dentre todas as possiblidades e contexto desse grande evento, o autor e os roteiristas optaram por retratar e atribuir mais atenção às peças roubadas. De fato, antes de se tornar um dos maiores líderes totalitários, Adolf Hitler tinha pretensões de consolidar sua vida como um artista plástico, já tendo alguns quadros como München Strassenbahn (1925), Schloss u. Kirche Perchtoldsdorf (1910), München Siegestor (1913). Contudo, o jovem aspirante a artista foi recusado na Academia de Belas Artes de Schillerplatz. Talvez esse tenha sido um dos maiores motivos para ele ingressar na carreira militar e transformar-se no mais expressivo ditador nazista. Apesar deste rumo, Hitler não abandonou seu cunho artístico, para tal desenvolveu o que seria o maior museu do mundo, o Führer Museum, localizado na cidade natal do militar. Este projeto foi suplantado por uma série de saques e compras forçadas vindas do mundo todo, como por exemplo quadros e outras raridades artísticas, de coleções pessoais. Outra forma seria a intimidação por parte dos

nazistas que coagiam civis a venderem suas preciosidades ou obras primas por valores minoritários. Voltando-se para a teoria, história pode ser definida como configuração de intrigas, é a relação de vários fatos "tecidos" em uma mesma trama, ou seja, a mediação entre múltiplos incidentes e a narrativa unificada, completa, com início, meio e fim. É a discordância concordante. Não é o que verdadeiro ou falso, é o que produz sentido. Desta maneira, podemos citar a hermenêutica, o ato de ler que completa a obra na qual cada pessoa trabalha com sua subjetividade. Podemos exemplificar tais marcas narrativas através do gênero, figurino, fotografia, sonoplastia, que inserem o espectador, já familiarizado, dentro da temática no filme. Clooney poderia ter optado por reproduzir um ambiente com carga dramática, entretanto, preferiu atribuir um ar mais leve e sutil, com resquícios de humor. Por exemplo, há uma cena em que um dos “caçadores”, pensando que as balas de um treinamento eram de festim, passou pelo fogo cruzado, arriscando a própria vida sem saber. A fotografia junto com ao figurino dos personagens em geral aciona uma memória que remete a um universo já cristalizado, como por exemplo, durante as batalhas e nos uniformes dos soldados. Já a trilha sonora acompanha os altos e baixos da narrativa do texto, a maioria das músicas são dinâmicas e mostram seu poder de direcionamento da emoção do público. Além disso, o realismo do filme é dado por meio de efeitos sonoros, como os ruídos, tiros e bombas. No decorrer do filme, fica claro que as obras não se prendem à estética, mas têm uma essência, isto é, carregam as próprias emoções, contam histórias de uma sociedade, uma época e uma cultura. São em si uma narrativa. Sem contar que os atores personificam as obras de arte e se referem a elas de forma muito próxima e pessoal. Ao analisarmos a narrativa deste filme, nos remetemos à perspectiva de Sócrates de que “uma vida não examinada, não vale a pena viver”. E dessa maneira, percebemos que ela também precisa ser contada e não apenas vivida. Esse ponto também é realçado pelo protagonista em questão do longa: “Pode-se dizimar uma geração de pessoas, e queimar suas casas e terras e ainda sim elas voltarão. Mas se forem destruídas suas realizações em história será como se nunca tivessem existido”. Já as ideologias dos caçadores de obras-primas, por sua vez, podem se referir a ideia de Ricouer sobre memória. Para ele as narrativas mantêm a memória viva, pois se as histórias não fossem contadas e repassadas elas deixariam de existir. Ao esconder os objetos artísticos, Hitler estaria destruindo não apenas o arsenal artístico como parte da memória cultural. Para isso, temos por base a fala do próprio

personagem principal: “Esta é a nossa história e ela não será roubada ou destruída. É para ser preservada e admirada”. Ao desenrolar do longa-metragem, é questionado se uma obra de arte valeria mais que a própria vida de um dos adeptos do movimento. A narrativa e os diálogos entre os personagens nos respondem que sim. O espírito heroico se sobressai ao medo da guerra e até mesmo da morte. O objetivo de resgatar a história e o valor cultural de toda uma geração era o que, verdadeiramente, os motivava. Não é à toa que os “caçadores de obras-primas” são tratados como exímios protetores da história. A narrativa é um intercâmbio de experiências e por isso deve ser contada para que seja legitimada. Talvez se estes corajosos homens nunca tivessem a ideia de procurar e resgatar as obras – como, por exemplo, Monet, Picasso, Cézanne e Rodin – saqueadas pelo exército nazista, uma época e todo seu cunho artístico e cultural poderia ser esquecida. A oratória e nossa capacidade de transmitir e compartilhar experiências uns com os outros permitiu que essa história nunca caísse no esquecimento e permanecesse em nossas memórias. A partir da delimitação do tema – roubo de peças de arte – a trama se relaciona as perspectivas de Paul Ricoeur sobre narrativa. Se história for definida como configuração de intrigas, então o evento do roubo das obras de arte é um exemplo, uma história que constitui e ajuda a tecer a história maior da 2ª Guerra Mundial. A película mostra o tempo todo aspectos que nos remetem a Guerra a fim de emitir um sentido, um dos ideais do filósofo. Para ele, a história devia ser vivida. No entanto, a reprodução da história por meio do filme não mantém viva apenas a memória como também se torna prova de que o evento ocorreu de fato. Ora, mesmo que para Ricoeur a memória também é o que se esquece, se a história não fosse repassada, não existiriam provas. Portanto é necessário não apenas viver a história como também contá-la. Assim, se podemos definir narrativa como o ato de contar história, logo às obras de arte são em si narrativas por carregarem consigo suas histórias. Ademais, o filme é de uma produção instigante porque mostra uma parte da 2ª Guerra pouca explorada e de forma bem descontraída, em contraste com outros títulos também no cenário bélico. Além disso, ele apresenta como a arte rompeu seus limites estéticos para assumir uma curiosa dimensão política. É recomendado para o público jovem e adulto, que se interessa por drama mesclado à comédia, e principalmente pela arte clássica e história em geral....


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