[resumo] Aprender antropologia - François Laplantine PDF

Title [resumo] Aprender antropologia - François Laplantine
Author VICTOR HUGO STREIT VIEIRA
Course Antropologia Jurídica
Institution Universidade Federal do Paraná
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Summary

Disciplina ministrada no período noturno, no ano de 2018, pelo professor Ricardo Prestes Pazello.

Resumo da primeira parte do livro Aprender antropologia - François Laplantine....


Description

LAPLANTINE, François. APRENDER ANTROPOLOGIA 1- A PRÉ-HISTÓRIA DA ANTROPOLOGIA: A DESCOBERTA DAS DIFERENÇAS PELOS VIAJANTES DO SÉCULO XVI E A DUPLA RESPOSTA IDEOLÓGICA DADA DAQUELA ÉPOCA ATÉ OS NOSSOS DIAS. Nessa parte do texto, introdutoriamente, o autor deixa claro que a ideia de antropologia surge juntamente com o período das descobertas no Novo Mundo. Isso porque o Renascimento surge como uma nova forma de pensar o ser humano e o mundo que o cerca. O primeiro questionamento feito na época seria se esses povos então descobertos seriam ou não parte da humanidade, dada a falta de critérios por menores discutidos, adotou-se primeiramente o critério religioso. Questionava-se se os selvagens teriam alma ou então se seriam julgados pelos mesmos pecados que os europeus. Esse questionamento se inicia no século XIV e só é solucionada dois séculos depois. Com a questão do descobrimento surgem duas ideologias: a recusa do estranho e a fascinação pelo estranho. A partir disso, vários teóricos declaram:

Las Casas: Diz que os povos selvagens seriam como os colonizadores ou até superariam esses, não sendo inferiores a nenhum deles.

Sepulvera: Acreditava que os mais prudentes e racionais, ainda que inferiores em força física deveriam naturalmente, ser os senhores enquanto que aqueles que superam em força física e ignorem os outros preceitos, naturalmente sejam os servos. Esse naturalmente diz respeito, para ele a determinação divina. Sepulvera acreditava que a determinação natural da submissão estava pautada no direito natural e tornaria esses povos mais conformados e cultos distanciando-os da barbárie, ainda assim, em caso de recusa desses povos, a guerra seria justa se preciso fosse impor-lhes essa nova cultura.

Mesmo hoje, depois de quatro séculos ainda podemos encontrar resquícios dessas teorias no pensamento vigente.

A FIGURA DO MAU SELVAGEM E DO BOM CIVILIZADO É necessário lembrar que a diversidade das sociedades nunca foi encarada como um mero fato, e sim como uma aberração, algo que não possuía entendimento. Na antiguidade, tudo aquilo que não fazia parte da cultura grega era tido como bárbaro. Na época do Renascimento, esses bárbaros eram tratados como naturais ou selvagens opostos à humanidade. A denominação de primitivos, já é fruto do século XIX e, atualmente, são tidos como subdesenvolvidos. A ideia da exclusão como lembra Lévi-Strauss é ainda mais comum do que se pensa e mais características dos selvagens. Outros critérios também foram utilizados juntamente ao religioso para atribuir ou não humanidade aos selvagens: a aparência física – diziam que eles não usavam roupas; o comportamento alimentar – pois os selvagens, diferentemente dos europeus comiam carne crua; o fato de eles falarem uma língua que não era entendida pelos europeus. Todos esses detalhes (o leque das ausências) juntamente com a falta de alma e religião justificavam a ideia de bestialização que os europeus tinham dos selvagens. DePauwem sua obra Americanos ou Relatos Interessantes para servir à Historia da Espécie Humana (1774), declara a cerca dos índios da América do Norte que o estado degenerado desses seres deve ser devido à natureza – ao clima de extrema umidade. Parecem mais animais que vegetais. A insensibilidade neles é uma característica comum, assim como a preguiça, tudo isso seria irremediavelmente imutável. Compactuando com essa ideia surge no fim do século XVIII uma teoria advinda da enciclopédia, a qual efetua dois traços no globo um longitudinal que passa por Londres e Paris e outro longitudinal separando o que se encontra ao norte e ao sul do Equador. Para Buffon, essas linhas separariam a humanidade da estupidez. Para Pauw, os indígenasamericanos vivem num embrutecimento geral. Hegel, por sua vez, em sua obra Introdução à Filosofia da História, expõe o horror que ele ressente frente ao estado de natureza em relação a esses povos que jamais ascenderão à história e à consciência de si. Desse texto, também retiramos

que a América do Sul encontra-se na concepção do autor, num patamar inferior à América do Norte, que também está tão ruim quanto a Ásia, mas não pior do que a África, em que tudo remete à falta absoluta – eles não têm mora, religião, ou Estado, isso separa a História Universal da humanidade. O negro para ele não é nem mesmo um vegetal, é um ser inferior, uma coisa, um objeto sem valor.

A FIGURA DO BOM SELVAGEM E DO MAU CIVILIZADO Diversos relatos como os de Colombo e de Vespúcio, surgem em contraposição à ideia que alguns tinham dos povos colonizados. Entretanto essa ideia só se consolida dois séculos após o Renascimento e no Romantismo. Para cada povo surge um estereótipo. Nessa visão, observa-se como hoje, os ausentes benefícios do progresso e vislumbra-se a felicidade no paraíso daqueles que se encontram nos trópicos se deleitando com a falta de tecnologia. Ainda assim, a ideia que o ocidental fez da alteridade não parou de oscilar entre os polos de um verdadeiro movimento pendular. O interessante é observar que, em todos os casos, o outro não é considerado para si mesmo. Mas se olha para ele. Olha-se a si mesmo nele. Voltando ao Renascimento, demonstra-se que é inútil e anacrônico descobrir no outro o pensamento etnológico. A “selvageria” não é superior nem inferior, é diferente. Montaigne acredita numa constituição progressiva de um saber préantropológico.

2. O SÉCULO XVIII: A INVENÇÃO DO CONCEITO DE HOMEM Somente no século XVIII é que surge um conceito mais especulativo a cerca do qual se funda a ciência do homem ou o seu projeto. O projeto antropológico supõe: 1- A construção de um certo número de conceitos 2- A constituição de um saber que não seja apenas de reflexão, e sim de observação. 3- Uma problemática essencial: a da diferença. 4- Um método de observação e analise: o método indutivo.

Esse projeto de um conhecimento positivo sobre o homem constituiu um evento considerável na humanidade, ocorreu no século XVIII, com o objetivo de avaliar melhor a natureza da revolução do pensamento, instaurando uma ruptura tanto com o “humanismo” do renascimento, quanto com o “racionalismo” da época clássica. 1- Primeiramente, trata a cerca da natureza dos objetos observados – anteriormente apenas observava-se com mais ênfase a natureza e quando se observava o homem, dava-se mais ênfase ao homem físico. 2- O destaque é deslocado do objeto de estudo para a atividade epistemológica, que se torna cada vez mais organizada, pois os viajantes dos séculos XVI e XVII passam a coletavam curiosidades. Em 1789, Chavane passa a denominar essa atividade de etnologia. Acredita-se a partir daí que se é necessário observar, é preciso que a observação seja esclarecida, forma-se então a Sociedade dos Observadores do Homem (1799-1805), formada pelos ideólogos multidisciplinares e que passam a definir o campo dessa nova área do saber. No fim do século XVII elaborou-se os fundamentos de uma ciência humana, entretanto, o advento de uma antropologia cientifica passou por dois obstáculos principais: a) A distinção entre saber científico e saber filosófico que pela primeira vez colocam as diretrizes para um novo saber sobre o homem. Isso pois, o conceito de homem utilizado no Iluminismo é ainda bastante abstrato e filosófico. O objeto não é um“homem” e sim indivíduos contemporâneos igualmente, o observador pertence a uma época e possui uma cultura própria. b) O discurso antropológico do século XVIII é inseparável do discurso histórico dessa época.

3. O TEMPO DOS PIONEIROS: OS PESQUISADORES DO SÉCULO XIX É no século XIX que surge a primeira tentativa de unificação dos pensamentos filosóficos, buscando um maior entendimento e a cientificização a cerca do estudo do homem. Com a revolução industrial inglesa e a revolução política francesa, percebe-se

que a sociedade mudou e nunca mais voltará a ser o que era, há, portanto, duas respostas a essa situação: - A resposta que confia nas vantagens da civilização - A resposta preocupada, pautada na nostalgia do antigo que existe em outro lugar: a felicidade do homem está junto à natureza, enquanto que a felicidade está junto com a civilização. No século XIX, se inicia o período da conquista colonial, que resultará na assinatura do tratado de Berlim e na divisão da Africa entre as potencias. É nesse momento que se constitui a antropologia moderna. Nessa época o novo mundo passa a ser povoa do por inúmeros imigrantes europeus, que seriam administradores. Daí o surgimento de novas obras de antropologia pautadas na reflexão a cerca do pensamento antigo, da época do Iluminismo e na busca por um verdadeiro corpus etnográfico da humanidade, o indígena não á mais tratado como selvagem e sim como primitivo, ou seja, o ancestral do civilizado. Com essa mudança, a antropologia atrela o pensamento do primitivo à nossa própria ancestralidade e às formas mais simples de organização. A partir daí, a antropologia se qualifica de evolucionista. E o evolucionismo será exposto na obra de Morgan, em AncientySociety, que será um documento de referência para os antropólogos do século XIX. Para ele, a ontogênese produz a filogênese -o indivíduo atravessa as mesmas fazes que a historia das espécies. Disso decorre a identificação entre os povos primitivos aos vestígios da infância da humanidade, distingue ao todo três estágios de evolução da humanidade – selvageria, barbárie, civilização – de acordo com o critério tecnológico. Essa antropologia também pretende ser científica e dá considerável atenção às populações mais arcaicas, ao estudo do parentesco e ao da religião. Daí temos: 1) A Austrália ocupa um lugar de primeira importância pois é lá que se pode aprender a cerca da origem das nossas instituições. 2) No estudo dos sistemas de parentesco procura-se evidenciar a anterioridade histórica. 3) A área dos mitos, da magia e da religião terá mais atenção. O pensamento evolucionista aparece como sendo o mais simples e ao mesmo tempo o mais suspeito, as objeções que foram seu objeto podem se organizar em torno de duas séries de críticas:

1) Mede-se o atraso em relação ao Ocidente, entretanto, considera-se o arcaísmo como menos fase da História que a vertente simétrica e inversa da modernidade do Ocidente; isso também define o acesso entusiasmante à civilização em função dos valores da época como produção econômica, propriedade privada, religião monoteísta, família monogâmica, moral vitoriana; 2) O evolucionismo surge como uma justificativa teórica para a prática do colonialismo. Há, portanto uma preocupação forte com o saber cumulativo, com o fim de demonstrar a veracidade da tese, mais do que verificar hipóteses, os exemplos etnográficos foram sendo usados para demonstrar o processo que conduz as sociedades primitivas a se tornarem sociedades civilizadas. Os evolucionistas consideram os fenômenos recolhidos como costumes que servem para exemplificar cada estágio e quando faltam documentos alguns o fazem por intuição e reconstituição dos elos ausentes, diferentemente da etnografia contemporânea que busca analisar a partir de minúsculos fatos a significação das redes sociais. O que importa nessa época é a tentativa de compreensão mais extensa possível no tempo e no espaço, de todas as culturas, em especial das mais longínquas e mais desconhecidas. Faz-se necessário lembrar que os pesquisadores dessa época não tinham nenhuma formação antropológica, mas seu trabalho tinha como bases a intensidade e a curiosidade. O problema maior da antropologia, era portanto, explicar a universalidade e a diversidade das técnicas, das instituições e das crenças e comparar as práticas sociais das populações distantes tanto no espaço quanto no tempo. Uma das principais características do evolucionismo é o anti-racismo.

Com Morgan, o objeto da

antropologia passa a ser a análise dos processos de evolução que são os das ligações entre as relações sociais. A novidade da sociedade arcaica é dupla: 1) O conhecimento da história passa a ser posto sobre bases diferentes das do idealismo filosófico. 2) Os elementos de análise comparativa não são mais, costumes considerados bizarros, e sim redes de interação formando “sistemas”, termo que o antropólogo americano utiliza para as relações de parentesco. 4-OS PAIS FUNDADORES DA ETNOGRAFIA

A etnografia só passa a surgir quando se começa a dar mais importância para o processo de pesquisa por parte do observador. O observador aprende a viver entre os observados e a viver como os observados. A antropologia se torna pela primeira vez uma atividade de campo. Esse trabalho de campo é visto como a própria fonte de pesquisa. BOAS (1858 – 1942) Boas era antes de tudo um homem de campo. No campo, para Boas, tudo deve ser anotado, desde os materiais constitutivos das casas até as notas das melodias cantadas pelos esquimós, tudo detalhadamente. Tudo deve ser objeto da descrição mais fiel e meticulosa. Ele mostra que um costume só tem significação se for relacionado ao contexto particular no qual se inscreve. Pela primeira vez o teórico e o observador estão reunidos. Boas anuncia a constituição das etnociências, e diz que as tradições que se estuda devem ser feitas na língua de origem, não devem ser traduzidas. Boas nunca escreveu nenhum texto erudito e nunca formulou uma verdadeira teoria. MALINOWSKI (1884-1942) Foi o primeiro a viver com as populações que estudava e a recolher seus materiais de seus idiomas, procurando romper o máximo de contato com o mundo europeu. Segundo ele, conforme o primeiro exemplo que dá em seu primeiro livro, mostra que a partir de um único costume, ou mesmo um único objeto aparece o perfil de uma sociedade. Malinowski considera que uma sociedade deve ser estudada enquanto uma totalidade, tal como funciona no momento mesmo onde a observamos. Com ele, a antropologia se torna uma ciência da alteridade que vira as costas ao empreendimento evolucionista da reconstituição das origens da civilização e se dedica aos estudos característicos de cada cultura. É Malinowski também quem elabora a teoria conhecida como funcionalismo pela qual o indivíduo sente um certo numero de necessidades, e cada cultura tem a função de satisfazer à sua maneira às necessidades fundamentais. Para ele, uma sociedade funciona como um organismo e as relações biológicas devem ser seu próprio fundamento. Procura reviver nele próprio o sentimento dos outros, fazendo uma espécie de observação participante.

Sua obra, foi talvez a mais controvertida da história da antropologia, por duas razões principais: os antropólogos da época vitoriana se identificavam com a “civilização industrial”. Ainda assim, valorizava a autenticidade dos povos primitivos, dizendo que a aberração está do lado Ocidental. Elabora assim, uma teoria de extrema rigidez que contribui para o descredito do funcionalismo. Nessa visão, as sociedades são estáveis e sem conflitos, visando apenas um equilíbrio. Apesar de tudo, suas teorias ainda são consideradas no sentido de: dar importância à observação participante; se dar conta de todos os fatos sociais, para assim chegar ao homem em todas as suas dimensões; facultar a restituição da existência desses homens que puderam ser reconhecidos apenas através de uma relação e de uma experiência pessoal.

5. OS PRIMEIROS TEÓRICOS DA ANTROPOLOGIA – DURKHEIM E MAUSS Durkheim foi autor da obra As Regras do Método Sociológico (1894), em que busca mostrar que existe uma especificidade social opondo-se às explicações psicológicas do social, confrontando a precisão da história à confusão da etnografia, que vem a ser o objeto de estudo das sociedades, revisando seu julgamento em As formas elementares da vida religiosa (1912). Durkheim baseia sua ideia na noção de fato social, considerava os dados recolhidos pelos etnólogos sob o ângulo exclusivo da sociologia, da qual a antropologia se tornaria ramo. Mauss trabalha, justamente para que a antropologia seja vista como ciência e levanta fortemente o conceito de fenômeno social total, consistindo na integração dos mais diversos aspectos, constitutivos de uma dada realidade social. Foca na observação total e não parcial. Em seu livro, Ensaio sobre o Dom esclarece a elaboração da kula, através da qual ele visualiza o processo e troca simbólica generalizado e extrai a existência de leis de reciprocidade e de comunicação, expressando também preocupações estruturais, buscando assim como os demais autores promover a especificidade e a unidade das ciências do homem....


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