Sociologia brasileira PDF

Title Sociologia brasileira
Author Humberto Calixto da Silva Neto
Course Sociologia
Institution Ensino Médio Regular (Brasil)
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Summary

Anotações e exercícios do conteúdo de sociologia brasileira....


Description

SOCIOLOGIA BRASILEIRA Gilberto de Mello Freyre, pernambucano de família antiga, entroncada com a própria história do Brasil na região, viveu entre 1900 e 1987. De infância um tanto problemática – até os 8 anos não tinha aprendido a escrever –, passa a uma juventude exuberante – é conferencista de sucesso já aos 16 anos, discorrendo sobre o complexo tema da educação à luz do evolucionista britânico Herbert Spencer – e daí a uma carreira intelectual decisiva no debate sociológico e antropológico. Aqui e no exterior. Não é bairrismo: Gilberto Freyre foi um dos mais importantes intelectuais da primeira metade do século 20, no mundo das ciências sociais, não apenas em nosso país. Sua mais conhecida obra, lançada em 1933, Casa-grande & Senzala, foi responsável por uma pequena mas significativa revolução: era a primeira vez que se dizia que a mestiçagem não era um problema, nem o mulato era menos inteligente do que os indivíduos tidos como “puros”. Para Freyre, isso tudo era uma espécie de vantagem da civilização brasileira. Estava armada uma polêmica, ainda hoje viva e interessante.

A obra-prima Casa-grande & Senzala, publicado em 1933, traz no nome a oposição entre a casa grande, moradia dos brancos, e a senzala, dos negros, tudo isso no engenho produtor de açúcar. O sucesso é imediato e estrondoso. O livro escrito em linguagem tão livre, voluptuosa, e com concepção tão ousada, relatava os tempos coloniais do Brasil para demonstrar que nem o trópico nem a mestiçagem eram um problema, mas uma vantagem civilizatória. O nascimento do livro é uma história à parte. Freyre estava no exílio, em Portugal, vivendo precariamente. Usava seu tempo para pesquisar sobre a colonização brasileira. Lá germinaram as idéias iniciais do livro. Abraça então um projeto ousado: interpretar a formação daquilo que nos definiria como singulares em relação a outros povos. Em Casa-grande & Senzala Freyre conta como os negros, índios e brancos conseguiram, na estrutura da fazenda açucareira, viver em relativa harmonia. Isso baseado por um lado no temperamento moldável do português, que já tinha, mesmo em seu país, longa convivência e mestiçagem com outros povos. Por outro, havia a necessidade natural dos homens portugueses de fazer sexo – como não havia brancas suficientes, teriam decidido acasalar com negras e índias. E estas os aceitavam, formando o fenômeno único, segundo Freyre, da mestiçagem em alto grau e profunda significação. Freyre relata que, para entender o valor positivo da mestiçagem, precisou ultrapassar preconceitos com os quais fora criado intelectualmente. É provável que tenha sido o contato com Franz Boas o responsável por essa conversão. Pois foi acontecer essa mudança e Gilberto Freyre partir com tudo para explicar o Brasil dos trópicos. Ali, onde

os deterministas diziam não ser possível haver civilização, ele detectou a mestiçagem como fenômeno positivo de aclimatação e construção social. Ali o sexo tinha papel fundamental na organização das relações. O resultado é que em Casa-grande & Senzala a vida sexual é contada de forma muito aberta, sem pudores moralistas. Para dar cores a esse novo Brasil, Freyre utilizou documentos até então negligenciados: consultou e citou diários, cartas, receitas de cozinha, livros de viagem, confissões à Inquisição, livros de modinhas e de poesias, jornais. Não admira que seus livros tenham ganhado novo sentido de leitura dos anos 80 para cá, com a perspectiva da história das mentalidades, da história do cotidiano, da micro-história. Na época da publicação de Casa-grande & Senzala Gilberto Freyre vai lecionar em Stanford, na Califórnia, Estados Unidos. De lá, ele atravessa o país e conhece o Novo México e o Arizona, que lhe lembraram a paisagem sertaneja, e o antigo sul dos EUA – Louisiana, Alabama, Mississípi, a Virgínia –, região monocultora e escravista como o seu Nordeste natal. Por comparação e contraste, as peças do quebra-cabeça formativo brasileiro começavam a se arrumar. A tese da mestiçagem como fundamento do Brasil teve inegável ousadia em 1933. Mas em seguida, no contexto do governo de Getúlio Vargas, ela ganhou fôlego. Houve uma total sintonia entre o desejo de Vargas de centralizar o poder e derrotar as oligarquias regionais, com vistas a modernizar o Brasil, e a interpretação de Freyre para a mistura cultural brasileira – os dois estavam, de certa forma, em busca de sínteses unificadoras. Casa-grande & Senzala ainda tinha mais: ao dar sentido positivo à mestiçagem, abria caminho para outras misturas – já nos anos 30 o governo brasileiro oficialmente elimina símbolos estaduais e regionais, reprime os espaços culturais estrangeiros no Brasil e eleva o samba ao posto de ritmo oficial do país.

CAIO PRADO JÚNIOR Em seu trabalho mais célebre, “Formação do Brasil contemporâneo” (1942), o historiador Caio Prado Júnior investigou as dinâmicas sociais e econômicas do Brasil colonial para iluminar as origens da condição periférica do país no mundo. O livro é considerado até hoje um marco na interpretação da realidade nacional, ao lado de outros clássicos da época, como “Raízes do Brasil” (1936), de Sérgio Buarque de Holanda, e “Casa Grande & Senzala” (1933), de Gilberto Freyre. Caio Prado Júnior pode ser colocado ao lado de nomes como Buarque e Freyre, mas também de outros “intérpretes” que faziam parte da tradição marxista, como Octavio Brandão, Leôncio Basbaum e Nelson Werneck Sodré. Ou seja, pode ser visto como importante integrante do cânone interpretativo da História do Brasil junto a personagens consagrados, mas também como parte de uma cultura política e historiográfica muito particular, daqueles que se dedicaram ao materialismo histórico no país. Caio, neste sentido, verá o Brasil dentro de suas particularidades (com um desenvolvimento desigual e combinado), mas inserido dentro de um sistema colonial que transitará para a esfera do imperialismo. Sendo assim, desígnios forâneos, ligados a interesses de

grupos internos, acabarão por direcionar o quadro econômico brasileiro. Ainda assim, Caio dará a devida importância para os setores populares e colocará ênfase no papel de grupos sociais menos privilegiados. O historiador paulista utilizará para isso o método dialético. Será um pioneiro do materialismo histórico no país, especialmente considerando que suas obras terão um rigor e uma sofisticação maiores que os de alguns intelectuais marxistas brasileiros de sua época. Ele revelou as relações, os processos e as estruturas sociais, econômicas e políticas que operavam na composição e nas transformações de nossa sociedade, indicando o fator de instabilidade, de falta de continuidade no decurso histórico do país. Ou seja, uma evolução por ciclos, com fases sucessivas de progresso, seguido de decadência, resultando num sistema e num processo econômico em que a produção e o crescimento se subordinavam a contingências extrínsecas. O desenvolvimento significaria a superação do passado colonial e a eliminação do que ainda restava dele. Para isso, ele mostrará a dinâmica das forças sociais internas e das pressões econômicas e políticas internacionais, a partir de temas como o sentido da colonização, o quadro geral do escravismo, a crise do sistema colonial e as forças que constituirão a República Velha. Mas sua preocupação sempre será entender o passado para compreender e atuar politicamente no presente.

QUESTÕES 1. A teoria da democracia racial, derivada a partir da hipótese de pesquisa desenvolvida por Gilberto Freyre, principalmente com sua obra “Casa-Grande e Senzala”, pode ser relacionada à política de cotas e outras ações afirmativas implementadas no Brasil. Dentre as opções abaixo, como podemos interpretar, de forma crítica, os conteúdos do enunciado acima.

A. A teoria desenvolvida por Gilberto Freyre contribui para explicar a diferença entre os níveis de violência racial ocorridos nos EUA e no Brasil, bem como sustenta teoricamente a política de cotas raciais adotada em nosso país. B. A teoria da democracia racial, derivada da obra de Freyre, sustenta uma suposta convivência pacífica e democrática entre os negros, indígenas e brancos europeus, de modo a sustentar a política de cotas raciais. C. A teoria desenvolvida por Freyre atribui uma visão romantizada da realidade, tornando invisíveis várias formas de violência praticadas por brancos europeus em relação aos negros. A política de cotas raciais, nesse sentido, visa validar a teoria de Freyre. D. A teoria da democracia racial, derivada da obra de Freyre, mascara em grande medida a violência praticada por brancos contra negros no Brasil, sustentando

de certo modo parte das críticas atribuídas à adoção de cotas raciais no país. E. A teoria da democracia racial de Freyre tem por princípio desvelar todas as formas de violência de brancos contra negros no Brasil, amparando teoricamente a adoção de cotas raciais como forma de compensação histórica.

2. O livro do intelectual Gilberto Freyre é considerado o maior clássico da sociologia brasileira. Longe de romantizar o colonizador português, o sociólogo exalta a importância da miscigenação e da mistura das três raças que formaram o nosso povo. Casa-grande & senzala é considerado um dos livros fundamentais para se compreender a história e a composição do Brasil. Com relação à obra de Gilberto Freyre Casa-Grande & Senzala, é correto afirmar:

A. A tese que impulsionou a obra foi a de que a colonização realizada pelos holandeses no Nordeste do Brasil foi superior à colonização portuguesa realizada em outras regiões na mesma época. B. Tratou da origem da indolência e do apego excessivo dos brasileiros do século XX ao bacharelismo. C. Tratou, entre outros temas, das características gerais da colonização portuguesa do Brasil, da formação da família, do escravo negro e a vida sexual do brasileiro. D. Foi publicada na primeira década do século XX e seu conteúdo reforçou as teses racistas de Jackson de Figueiredo e Sílvio Romero. E. Demonstrou que houve influências dos escravos negros na alimentação, na indolência e depravação sexual dos brasileiros nos séculos seguintes.

3. Segundo Gilberto Freyre, o elemento que exerceu o papel preponderante na história social brasileira foi:

A. o Estado patrimonialista português e suas ramificações no Brasil colonial. B. a Igreja Católica, sobretudo os jesuítas. C. a família patriarcal em sua forma extensa, abrangendo senhores, escravos e agregados. D. as classes sociais em luta, à época colonial representadas pela aristocracia rural e pelos trabalhadores negros escravizados. E. os movimentos nativistas de luta pela independência nacional, liderados pela burguesia nascente, em oposição à Coroa portuguesa.

4. O marco inaugural nas análises da cultura brasileira seria Casa Grande & Senzala, estampada em 1933. Fecho de um período do pensamento brasileiro, e início de outro, é [...] obra híbrida de tradição e inovação, em muitos pontos nostálgica de um Brasil que chegava ao fim – o de antes de 1930, visto por Gilberto Freyre de forma análoga à douceur de vivre que coloriu certas análises saudosistas do Antigo Regime francês. [Laura de Mello e Souza, Aspectos da historiografia sobre o Brasil colonial. Em Marcos Cezar de Freitas (org.). Historiografia brasileira em perspectiva] Nas suas obras, Gilberto Freyre

A. atribui o atraso econômico e cultural brasileiro ao longo processo de colonização portuguesa, que impôs o catolicismo, religião que pouco contribuiu para o desenvolvimento capitalista. B. reconhece que a fragilidade cultural brasileira é tributária da enorme influência das ordens religiosas, em especial dos jesuítas, que não valorizavam as práticas sociais das sociedades indígenas. C. condena vigorosamente a colonização com o uso da mão de obra escrava africana porque essa condição gerou um povo sem sentimentos de amor à terra natal e que desvaloriza a cultura europeia. D. associa as históricas dificuldades econômicas brasileiras ao formato da administração colonial portuguesa, marcada pela corrupção endêmica e pela atenção excessiva aos interesses do Estado. E. exalta a cultura brasileira, analisa as diferentes funções desempenhadas por cada grupo e vê a mestiçagem como benéfica ao Brasil.

5. A colonização do Brasil tomou o aspecto de uma vasta empresa comercial, destinada a explorar os recursos naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu.

(Caio Prado Júnior. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo: Brasiliense, 1979. p. 31) Uma parte da renda real gerada pela produção da colônia era transferida pelo sistema de colonização para a metrópole e apropriada pela burguesia mercantil. Um dos mais importantes mecanismos que possibilitava a exploração e a apropriação a que os textos fazem referência era o

A. monopólio comercial ou exclusivo, mediante o qual as colônias tornavam-se mercados fechados à concorrência estrangeira.

B. metalismo ou bulionismo, entesouramento baseado na acumulação de moedas derivadas dos metais precisos coloniais. C. crescimento demográfico ou o escravismo com o objetivo de formar um mercado de mão de obra amplo e barato na colônia. D. protecionismo alfandegário ou balança comercial favorável, por meio da qual a colônia exportava mais que importava da metrópole. E. poder colonial diante das eventuais imposições e exigências da metrópole.

GABARITO 1D 2C 3C 4E 5A...


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