Trabalho Poesia Concreta PDF

Title Trabalho Poesia Concreta
Author grazyele lopes pereira
Course Literatura Brasileira Ii
Institution Universidade Federal de São Paulo
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Os efeitos de sentido na poesia concreta de Augusto de Campos - Prof. Dr. Leandro Pasini...


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Os efeitos de sentido na poesia concreta de Augusto de Campos

Grazyele Lopes Pereira Matrícula 87557 Literatura Brasileira III Professor Doutor Leandro Pasini

O que é poesia concreta? No estado de São Paulo, por volta de 1950, um grupo de jovens poetas (Décio Pignatari e os irmãos Haroldo e Augusto de Campos) reuniu-se com o intuito de levar adiante o pensamento revolucionário que nasceu com os poetas modernistas em 22. Inspirados pelas realizações da literatura internacional do século XX e no desenvolvimento da música e das artes plásticas foram levados à criação de uma nova forma de poesia: a poesia concreta, que se tratava da abolição do verso, a utilização e aproveitamento do espaço em branco, fazendo com que o poema não fosse apenas palavras escritas e dispostas como de costume, mas fazia uma relação de som, forma e sentido. A isso se atribui o nome de estrutura verbivocovisual: sendo “verbal” pela presença da palavra como significação; “vocal” pela valorização rigorosa do som da palavra e “visual” pela estética da poesia no papel em branco. Este modo de poesia é inaugurado primeiramente pelo poeta simbolista francês Stéphane Mallarmé, em que pela primeira vez, o espaço em branco da folha possuia valor relevante, no poema “Um lance de dados” de 1897. Já aqui no Brasil, pode-se dizer que a poesia concreta foi vista pela primeira vez em “Poetamenos” de Augusto de Campos em 1953. A poesia concreta apresentou duas fases, em que a primeira os poemas concretos ainda apresentavam linguagem próxima do modelo discursivo. Esta fase chama-se orgânica. A segunda fase inicia em tono de 1956 e já apresentava uma estrutura abstrata, chamada geométrica e a organização das palavras é mais ríspida, pois é um reflexo da rigorosidade social. O grupo Noigrandes Os poetas Décio Pignatari e os Irmãos Haroldo e Augusto de Campos formaram o grupo Noigrandes, da qual José Lino Grünewald e Ronaldo Azeredo vieram a fazer parte. Este grupo inspirou outros poetas, tanto os que ainda estavam por vir, como os poetas da geração antiga. A repercussão da poesia concreta foi tão grande que chegou aos Estados Unidos, Europa e Japão, então se pode dizer que a poesia concreta foi o primeiro movimento literário de trânsito internacional nascido no Brasil. Após o fim do concretismo como movimento vanguardista, os poetas do Grupo Noigrandes tomaram diferentes rumos, ainda dentro da poesia concretista, porém buscavam

novas formas de fazê-la. Augusto de Campos buscava uma fusão minimalista na página em branco e na espacialização visual do poema. A poesia de Augusto de Campos De acordo com Bakthin (2003), todas as atividades humanas se ligam à utilização da língua. Qualquer tipo de comunicação, seja falada ou escrita, é feita pelos gêneros do discurso, que derivam de enunciados. É a partir destes enunciados que é possível discriminar, baseado em elementos como conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção nos recursos da língua – recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais – e a construção composicional. Ele divide os gêneros em primários e secundários. Os primários representam as situações comunicacionais cotidianas, que são informais. Exemplo disso são as conversas, em que os indivíduos se comunicam dependendo do que o outro responde. Os secundários, por sua vez, exigem uma elaboração maior e são, portanto, mais complexos. O romance, os textos científicos e o teatro são bons exemplos. Os dois tipos de gêneros se diferem pela complexidade, já que são compostos por enunciados verbais. KOCH (2011) expõe que os tipos textuais se constituem como sequências definidas por propriedades linguísticas intrínsecas, relacionadas a aspectos lexicais, sintáticos, etc. Esses constituintes teóricos abrangem um número limitado de categorias: narração, descrição, argumentação, exposição e injunção; ao passo que os gêneros se configuram como a realização concreta de textos que cumprem uma função comunicativa específica e abrangem um conjunto incomensurável de categorias. A autora ainda defende que todo texto é hipertextual, pois já carrega em si a possibilidade de realizar leituras múltiplas e de gerar uma compreensão de forma não-linear, uma vez que, as informações do texto não são explícitas , mas mobilizam uma série de conhecimentos partilhados e prévios dos leitores, fornecendo pistas para o desvendamento dos sentidos do texto. Com base nas teorias acima descritas, é possível compreender que a poesia concreta pode ser categorizada como gênero secundário, pois demanda maior elaboração e seu texto é hipertextual, pois podemos fazer diferentes leituras da mesma poesia e também utiliza a experiência prévia do autor (frame) para construir o poema e o leitor o lê com base no seu conhecimento do mundo.

“Se, no entender de Sartre, a poesia se distingue da prosa pelo fato de que para esta as palavras são signos enquanto para aquela são coisas, aqui essas distinções de ordem genérica se transporta a um estágio mais agudo e literal, eis que os poemas concretos caracterizar-se-iam por uma estruturação óticosonora irreversível e funcional e, por assim dizer, geradora da ideia, criando uma entidade toda-dinâmica, “verbivocovisual” – é o termo de Joyce – de palavras dúcteis, moldáveis, amalgamáveis, à disposição do poema. ” 1

O poeta concretista utiliza de todos os elementos que pode para dar vida à sua poesia e dar o efeito pretendido para o leitor. Alguns dos poemas de Augusto de Campus utilizam diferentes cores em sua composição e o efeito quando se lê com mais de uma pessoa é diferente de quando uma única pessoa faz a leitura. Logo, as cores são um importante elemento para a compreensão do poema e através delas podemos fazer outra interpretação do poema. Analisemos “Bomba” de Augusto de Campos:

A palavra Bomba é lida em forma de espiral, – artifício muito utilizado por Augusto de Campos em suas poesias - partindo de sentido horário e o tamanho da fonte diminui conforme chega ao centro do papel. No primeiro contato com o poema é possível verificar que o autor distribui as letras por o espaço do papel para a construção do poema, como uma bomba que ao 1 CAMPOS, Augusto de; PIGNATARI, Décio; CAMPOS, Haroldo de. Teoria da poesia concreta: textos críticos e manifestos. 1950-1960. São Paulo: Ateliê Editorial, 2006. (p.55-56)

explodir, tem um largo alcance de distância. Ao analisar o nome do poema e olhar a imagem, intuímos o efeito visual criado pelo autor, como se uma bomba tivesse explodido e causado o emaranhado de letras soltas. No sentido horário temos a palavra BOMBA formada em primeiro plano e se nos atentarmos aos detalhes, encontramos a palavra POEMA escrita a partir das mesmas letras do nome da poesia, uma vez que o autor aproveita a ortografia do português brasileiro para criar tal efeito.2 O poema também tem efeito de profundidade causado pelas letras que estão em tamanhos diferentes, ficando maiores a medida

Sol de Maiakovski. 3 No poema acima, notamos o efeito das cores que lembram o sol irradiando luz para todo o espaço do poema. A palavra “farol” utilizada pelo autor consegue o efeito de assimilação com a imagem do sol, que apesar de ser o nome do poema, é colocado como a última palavra do poema, porém, assim que pousamos os olhos sobre a obra, mesmo sem ler uma palavra, já nos é remetida a imagem do sol, pelos tons crescentes de cores quentes, que nos remete ao verão. A palavra “tudo” é a única que está no centro e dentro da cor mais clara da paleta de 2 Para uma análise mais profunda da transição entre Bomba e Poema, ver página 273 de Gonzalo Aguiar. 3 “Intradução de Augusto de Campos. Os versos de Maiakovski combinam-se aqui com os versos de canções de Caetano Veloso (“gente é pra brilhar”) e de Roberto Carlos (“que tudo mais vá pro inferno”).” p.283 de Gonzalo Aguilar

cores escolhida pelo autor, e podemos depreender a partir deste detalhe, que tudo pode e deve brilhar, mas também que este “tudo vá para o inferno”. E finaliza dizendo que este é o seu slogan e o do sol também, que tudo e toda gente deve brilhar, mas que tudo mais, além disso, vá para o inferno, talvez em uma alusão ao egoísmo pessoal do ser humano, que por muitas vezes não se preocupa com o próximo. O toque de humor fica no fato de dizer que o sol e ele partilham do mesmo slogan: apesar do sol estar no céu, o que é considerado desde os tempos mais primórdios que o céu é onde o Paraíso se encontra o sol também deseja que tudo mais vá para o inferno, pois o sol tem temperaturas elevadíssimas para qualquer ser humano, o que pode ser considerado como o Inferno, pois a concepção que se tem deste lugar é que ele arde em chamas. Há ainda o fato do sol nunca parar de brilhar durante todos os dias do ano, em hipótese alguma o sol deixa de cintilar, nem mesmo em dias de chuva, durante o inverno ou com o céu cheio de nuvens: em algum lugar do mundo, ele sempre estará lá. Logo, entende-se como um conselho do autor, de que independente de tudo o que aconteça, é importante que a pessoa não seja um personagem coadjuvante em sua vida e que a todo momento ela “esteja presente em sua própria vida”. Abaixo algumas poesias de Augusto de Campos em que podemos notar a eliminação do verso, efeito sonoro e linguístico das palavras, formas geométricas formadas pelas disposições das palavras na página, as cores que trabalham para dar efeito de sentido e a utilização total do espaço em branco:

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4 Lixo/Luxo: Disponível em Acesso 03/11/2014 13:14

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5 Eis os amantes: Disponível em Acesso 03/11/2014> 13:15 6 Tensão: Disponível em Acesso 03/11/2014 13:15

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Conclusão: Quando pensamos em poemas e poesias, temos em mente uma estrutura específica que é utilizada para a composição destes. Com a criação de uma nova forma de poesia, a primeira coisa que se nota é a abolição do verso como o leitor está habituado. É impossível olhar uma poesia concreta sem que um conjunto de sensações tome conta de seus pensamentos: não só as palavras trabalham com o poema, como a disposição delas em formas geométricas trazem significado ou alteram o sentido do poema quando se leva em consideração a sua forma; as cores também têm relevância para o sentido do poema, como nos que são lidos por vozes masculinas e femininas. Notamos diferença no poema a partir do ângulo que é lido, como se nota em Bomba, e a dupla significação do poema Lixo/Luxo, que forma uma palavra a partir da outra, explorando o aspecto sonoro e visual que as palavras tem em semelhança. Referências Bibliográficas 7 Ovo/Novelo Disponível em http://www.lplc.cefetmg.br/images/Ovonovelo1.gif> Acesso 03/11/2014 13:17

AGUILAR, Gonzalo. Augusto de Campos: Rumo a uma poesia mínima. In: Poesia Concreta Brasileira. São Paulo – Sp: Edusp, 2005. p. 270-306. BAKTHIN, M. Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2003 [1951-1953], p. 261-306. CAMPOS, Augusto de. Lixo/Luxo. Disponível em: Acesso em 03/11/2014 09:54 CAMPOS, Augusto de. Bomba. Disponível em: http://www.jayrus.art.br/arquivox/orfeuspam_3/arquivox_concretismo.html> Acesso em: 03/11/2014 09:56 CAMPOS, Augusto de. Sol de Maiakovski. Disponível em: Acesso em 03/11/2014 09:58 CAMPOS, Augusto de; PIGNATARI, Décio; CAMPOS, Haroldo de. Teoria da poesia concreta: textos críticos e manifestos. 1950-1960. São Paulo: Ateliê Editorial, 2006. KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça, 1993- Desvendando os segredos do texto / Ingedore Grunfeld Villaça – 7. ed. – São Paulo: Cortez. p. 93-94...


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