Antologia de poemas gregos convertido PDF

Title Antologia de poemas gregos convertido
Author Vinícius Maciel
Course Literatura Grega II
Institution Universidade Federal do Rio Grande do Sul
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Summary

Trabalho sobre literatura grega II...


Description

Da poesia grega populares brasileiras: uma perspectiva humana

INTRODUÇÃO Ao longo das décadas o mundo esteve e constante evolução a exemplo disso temos por exemplo a tecnologia que se tornou mais avançada, as práticas medicas melhoram e tornaram-se mais eficientes e as facilidades em nossas vidas que existem atualmente; entretanto, apesar de tantas inovações e criações por um lado, de outro acredito que existem aspectos que não sofreram tantas modificações assim, como no caso das relações humanas e forma de ver a vida. Em razão disso pretendo através desse trabalho fazer uma análise comparativa entre as temáticas abordados na poesia grega arcaica em relação a músicas atuais brasileiras.de forma a ser uma forma de algum estudante iniciante de literatura grega possa ser introduzido a alguns poetas mais conhecidos e possa fazer um comparativo entre as convergências e divergências culturais entre os dois povos analisados.

LITERATURA GREGA ARCAICA

De forma diferente ao que estamos acostumados na poesia clássica, a poesia grega arcaica teve sua criação não para uma leitura individual e silenciosa, mas sim com o objetivo de ser recitada em voz alta em público em certos eventos, predominantemente em simpósios ou festivais1 melódica na ocasião de performance. Embora conhecida como lírica atualmente, nem sempre foi assim, foi somente após o período helenístico - o que consistiu no período de expansão da cultura grega pelo oriente, entre a morte de Alexandre O grande e a anexação da península grega e ilhas por Roma - que passou a ter essa nova denominação. E foi devido à grande busca pela ascensão e a preservação do conhecimento que os gramáticos da biblioteca Alexandrina ao classificar e ordenar as obras para a conservação que recebeu a denominação que predomina até os dias de hoje. Para a escolha dos poemas a serem comparados selecionei os poemas que mais gostei dentre os lidos em aula.

1

O simpósio era uma reunião altamente ritualizada, exclusivamente composta por homens aristocratas de igual estatuto social. Começando depois do banquete, nele privilegiava-se o consumo do vinho e a recitação de discursos e canções que abarcavam desde a esfera política até incursões ao mundo de Eros (Rossi, 1983)

Outrora a poesia grega apresentava subdivisões que consistiam no Jambo, Elegia e Mélica. Cada um desses subgêneros apresentava características e temáticas próprias que serão debatidas de forma separada a seguir. Iniciarei a minha comparação pela poesia jâmbica que apresentava unidades métricas de quatro sílabas longas e breves alternadas. Os poemas desse gênero eram subjetivos com temáticas como culto ao deus Dionísio, retratos da vida cotidiana e apresentavam um certo tom “humorístico” de zombaria podendo conter até mesmo agressões verbais nas suas composições, nas palavras de Roosevelt Rocha: Além da métrica, a poesia jâmbica é muitas vezes identificável pela sua temática relacionada àquilo que os gregos chamavam de psogos, ou seja, o ataque, a injúria, a difamação, mas sempre com um caráter “humorístico‟, que no final das contas tinha uma função no âmbito de certos rituais de caráter apotropaico onde se buscava a fertilidade e a purgação .

Embora seja uma categoria bem frequente dentre as poesias gregas esse não é um gênero de mesma frequência nas músicas atuais. Durante a minha pesquisa não encontrei muitas canções com as mesmas características, porém alguns dos exemplos que encontrei são os textos da tabela adiante: Poemas e músicas sobre a perspectiva jâmbica: Hiponax fr.28 W Traduçao Leonardo Antunes Uma serpente na parede do barco

50 Reais Naiara Azevedo e Maiara e Maraísa

[...]E não precisa se vestir

Que vá desde o esporão até o timoneiro2,

Eu já vi tudo que eu tinha que ver aqui

Pois isso é perigoso - um hórrido augúrio,

Que decepção

Seu filho de um escravo, pro timoneiro

Um a zero pra minha intuição

De que ela venha a lhe morder a canela. Não sei se dou na cara dela ou bato em você Mas eu não vim atrapalhar sua noite de prazer E pra ajudar pagar a dama que lhe

2

Acreditava-se que esse tipo de pintura por toda a extensão do barco trazia mau agouro aos tripulantes.

satisfaz Toma aqui uns 50 reais [...]

Hiponax, fr.128W- Tradução

Uma Arlinda mulher

Rafael Brunhara

Mamonas assassinas

Musa, do Eurimedontida, Caríbidis do Mar

Te encontrei

Faca-na-pança que come sem elegância

Toda remelenta e estronchada num bar

nenhuma conta-me; para que morra mal, de

Entregue às bebida

uma morte má, por voto popular junto às praias

Te cortei os cabelos do suvaco e as unhas

do insone mar'

do pé Te chamei de querida Te ensinei todos os auto-reverse da vida E o movimento de translação que faz a Terra girar Te falei que era importante competir Mas te mato de pancada se você não ganhar [...]

Embora as temáticas não sejam exatamente iguais entre os dois textos, os poemas gregos e as músicas brasileiras, podemos perceber alguma semelhança. No primeiro caso escolhi a música 50 reais para a comparação devido ao tom de zombaria que a letra apresenta e isso lembra um pouco os poemas jâmbicos. Já no segundo texto escolhi pela forma de desprestigio que a mulher é retratada, o que me lembrou os modos de descrição nos poemas. Outra classificação da poesia grega era a Elegia, que assim como no Jambo, os poemas dessa subcategoria eram recitados em ocasião de performance e no caso da elegia havia o acompanhamento do instrumento musical aulo, um instrumento de sopro similar

ao oboé. Sua estrutura métrica era “o dístico elegíaco, formado por um hexâmetro e por um verso elegíaco, geralmente chamado de pentâmetro, que, na verdade, é o resultado da união de dois hemíepes:- uu - uu - - uu - uu -”(Rocha, 2012), era conhecido predominantemente por ter como tópicos de suas composições a tristeza e a melancolia, somando-se o fato de ter uma ter uma simplicidade rítmica acabou conquistando uma vasta popularidade entre os poetas da época. Autores conhecidos por esse tipo de produção são Mimnermo, Arquíloco, Calímaco e Propércio Poemas e músicas: Teognideia, versos 1327-1334

Lei do retorno Mc Don Juan

Ó menino, enquanto tiveres queixo imberbe, nunca

Eu te amava no tempo da escola

deixarei

Mas você não me dava atenção

de cortejar-te, inda que morrer seja o meu destino.

Pedi uma chance, até duas

Ainda te é belo dar amor, e ainda não me é torpe pedi-lo.

Mas você só me disse não

Então suplico pelos meus pais, ó menino, respeita-me, (...), dá-me teu favor, e se um dia tiveres

Mas você só me disse não

a dádiva da Ciprogênia de coroa violácea

Mas você só me disse não

e com desejo buscares outro, que o nume te conceda

Mas com o tempo eu parei e fiz essa canção

encontrar a mesma resposta que me dás! Vou marcar de te ver e não ir Vou te comer e abandonar Essa é a lei do retorno E não adianta chorar [...] E não adianta chorar Vou marcar de te ver e não ir Vou te comer e abandonar Essa é a lei do retorno E não adianta chorar Essa é a lei do retorno E não adianta chorar Então pode ligar, me implorar

Sei que a Meiota vai te atiçar [...]

Homero, Iliada, Canto 6, versos 146-149

Semana que vem

Traduçao Haroldo de Campos

Pitty

Poupas a virgindade. P’ra quê? Quando ao Hades

[...]

Chegares não acharás quem te ame, menina.

No mês que vem tudo vai melhorar

Entre os vivos os prazeres da Cípris. La no

Só mais alguns anos e o mundo vai mudar

Anacronte,

Ainda temos tempo até tudo explodir

Com ossos e conzas, donzela, jazeremos.

Quem sabe quanto vai durar Não deixe nada pra depois, não deixe o tempo passar Não deixe nada pra semana que vem Porque semana que vem pode nem chegar Pra depois, o tempo passar Não deixe nada pra semana que vem Porque semana que vem pode nem chegar [...] Esse pode ser o último dia de nossas vidas última chance de fazer tudo ter valido a pena Diga sempre tudo que precisa dizer Arrisque mais, pra não se arrepender Nós não temos todo o tempo do mundo [...]

Assim como no caso dos poemas jâmbicos, a aproximação entre os dois tipos de texto não se deu de forma prefeita; entretanto no caso da elegia encontrei tópicos muito mais aproximados entre as duas culturas. No primeiro comparativo como podemos ver tanto um grego que viveu em 25 d.C. quando um brasileiro que vive em 2017 apresenta a mesma temática sobre o ressentimento por amores não correspondidos. Assim como

no caso da segunda comparação que aborda a temática da efemeridade da vida humana, nos dois textos retratam o fato de que a vida deve ser aproveitada, pois é breve e a morte chega sem aviso.

Por fim temos a Mélica, que é a conhecida como a lírica propriamente, assim como os subgêneros vistos anteriormente, também era apresentada apenas em ocasião de performance, e apresentava uma grande variedade de temas para as suas composições entre eles temos temáticas como cotidiano, cantos fúnebres, canções de sedução para jovens meninos, canções para casamentos, para celebração a vitórias de competições e campeonatos. Podia ser entoada em coral ou de forma monódica, canto em solo. Poemas e músicas: “Canção sobre a velhice”

Tempo perdido

Tradução Giuliana Ragusa

Legião urbana

...(das Musas) de colo violáceo, os belos dons,

Todos os dias quando acordo

crianças,

Não tenho mais o tempo que passou

...e os cabelos de negros se tornaram brancos.

Mas tenho muito tempo

...a lira melodiosa, amante do canto;

Temos todo o tempo do mundo

Outrora tenra (a pele), agora a velhice... ...e os cabelos de negros se tornaram brancos. Pesado se me fez o peito, e os joelhos não me suportamos que foram ágeis no dançar , como os da corça. Estas coisas lamento sem cansar, mas o que posso fazer? Não é possível, sendo homem, ser desprovido da velhice. Por certa vez, dizem os Eos, a Aurorade róseos braços,

Todos os dias antes de dormir Lembro e esqueço como foi o dia Sempre em frente Não temos tempo a perder [...] Temos nosso próprio tempo Temos nosso próprio tempo Temos nosso próprio tempo [..]

Com paixão... carregando Títono aos confins da terra, Belo e jovem que era ele; mas mesmo a ele alcançou similarmente A velhice grisalha em tempo-ele tinha por esposa uma imortal...

Fragmento 31V “Phainetai moi...”

Sinônimos

Tradução Giuliana Ragusa

Zé Ramalho

Parece-me ser par dos deuses ele, o homem, que oposto a ti

Quanto tempo o coração leva pra saber

senta e de perto tua doce

Que o sinônimo de amar é sofrer?

fala escuta,

No aroma de amores pode haver espinhos É como ter mulheres e milhões e ser sozinho

e tua risada atraente. Isso, certo,

Na solidão de casa descansar

no peito atordoa meu coração;

O sentido da vida encontrar

pois quando te vejo por um instante, então

Ninguém pode dizer onde a felicidade está?

falar não posso mais, O amor é feito de paixões mas se quebra minha língua, e ligeiro

E quando perde a razão

fogo de pronto corre sob minha pele,

Não sabe quem vai machucar

e nada veem meus olhos, e

Quem ama nunca sente medo

zumbem meus ouvidos,

De contar o seu segredo Sinônimo de amor é amar

e água escorre de mim, e um tremor de todo me toma, e mais verde que a relva

Quem revelará o mistério

estou, e bem perto de estar morta

Que tenha a fé

é o que parece .

E quantos segredos traz O coração de uma mulher? Como é triste a tristeza Mendigando um sorriso

Um cego procurando a luz Na imensidão do paraíso Quem tem amor na vida,tem sorte Quem na fraqueza sabe Ser bem mais forte Ninguém sabe dizer onde a felicidade está [...]

Alceu, fr. 346 L-P

Bebendo mais que Opala

Tradução. Haroldo de Campos

Antony e Gabriel

bebamos!

Eu te prometo que hoje eu não vou beber

não fazem falta lâmpadas! basta um dedo de dia para as grandes copas multiadornadas

vamos

ergue-as! O filho de sêmele e zeus diôniso nos deu aos homens vinho

Que essa noite só vai dar eu e você Um jantarzinho e um filme na netflix Pra mim você é a única mulher que existe Essa história que eu conto pra ela Todo santo dia Mas depois que ela cai no sono Eu entro nas moda, limão, sal e pinga

lassidão contra a dor - olvido: a cada parte de água duas

Hoje eu tô bebendo mais que opala

só de vinho assim

No som do carro só toca moda rasgada

plenas até a borda

Chega botina, bebe pinga, aumenta o som

bebamos –

No meu pendrive com mais de 400 modão

uma após a outra - copas

[...]

e mais copas! Da mesma forma que o caso anterior, não foi difícil de encontrar textos com temas similares entre os dois tempos analisados. No primeiro caso os dois textos falam sobre a passagem do tempo e de como isso pode ser ruim, um assunto do cotidiano. No segundo procurei observar como o amor é retratado ao longo dos anos e de acordo com o gênero textual, achei que os dois textos se deram de modo similar. Por último observei com

relação ao culto a bebida, outro elemento cotidiano, mesmo sendo bem diferentes em relação a forma escrita, os dois textos apresentam a mesma temática. CONCLUSÃO Existem muitas diversos elementos e percepções que foram mudando e evoluindo com o passar dos séculos; entretanto, na questão relações e vivencias humanas pouca coisa tem se alterado e foi isso que tentei apresentar ao longo do trabalho através da comparação dos textos poético com as músicas contemporâneas. Apesar dos itens comparados serem elementos de culturas distintas e temporalmente distantes ainda encontramos elementos que de certa forma os tornam similares. Essas relações acabaram por revelar que de certa forma as relações e o cotidiano humano seguem arquétipos que nem percebemos e talvez seja isso que nos torne humanos.

REFERÊNCIAS REFERÊNCIAS: RAGUSA. G.F. Imagens de Afrodite: variações sobre a deusa na mélica grega arcaica. São Paulo, 2008. RAGUSA.G.F. Lira Grega Antologia de poesia arcaica. São Paulo. Herda, 2013. RAGUSA. G.F. BRUNHARA. R.C. Paideia na ‘lírica’ grega arcaica: a poesia elegíaca e mélica. Campinas, SP: Filosofia e Educação [RFE], 2017. ROCHA.R. Lírica Grega Arcaica e Lírica Moderna: Uma Comparação. Porto Alegre: Philia&Filia, 2012....


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