Fichamento Cuche - A noçâo de cultura nas ciências sociais PDF

Title Fichamento Cuche - A noçâo de cultura nas ciências sociais
Author Martina Pozzebon
Course Sociologia Da Comunicação
Institution Universidade Federal de Santa Maria
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Summary

Fichamento do capítulo 5 (Hierarquias Sociais e Hierarquias Culturais) do livro de Cuche para a disciplina de Sociologia da Comunicação....


Description

CUCHE, Denys. A Noção de Cultura nas Ciências Sociais. Bauru: EDUSC, 1999. Capítulo 5 – Hierarquias Sociais e Hierarquias Culturais

O capítulo cinco do livro A noção de cultura nas Ciências Sociais de Denys Cuche introduz a cultura como uma produção das relações entre grupos sociais ao longo da história. Citando Balandier (1955), Cuche utiliza do argumento de que “para analisar um sistema cultural, é então necessário analisar a situação sócio-histórica que o produz como ele é”. (Cuche, 1999, p. 143). Segundo Cuche, historicamente, o contato vem em primeiro lugar e, em seguida, acontece o jogo de distinções que produz as diferenças sociais. Essas diferenças sociais resultam em relações socialmente desiguais. Por isso, existe uma hierarquia social, que resulta em uma hierarquia cultural, tendo em vista que as culturas existem de formas dependentes, se relacionando umas com as outras. “Se todas as culturas merecem a mesma atenção e o mesmo interesse por parte do pesquisador, isto não leva à conclusão de que todas elas são socialmente reconhecidas como de mesmo valor.” (p. 144) O autor utiliza o termo “análise polemológica” (estudo das guerras como fenômeno social) para descrever como as culturas se desenvolvem através de conflitos. Porém ressalta que ao contrário das guerras, em que o mais fraco vencerá o mais forte, apesar da hierarquia existente, na cultura “mesmo o mais fraco não se encontra jamais totalmente desarmado no jogo cultural”. (Cuche, 1999, p. 144)

1. Cultura Dominante e Cultura Dominada No primeiro tópico do capítulo o autor aborda a ideia de que a cultura dominada não é alienada, pois possui a capacidade de reinterpretar as produções culturais impostas e assim resistir a essa imposição, e que, apesar de a cultura da classe dominante ser sempre a cultura dominante (Karl Marx e Max Weber, p. 145), a cultura dominante não é “naturalmente superior”, se encontra em dominação devido às relações desiguais e hierárquicas e “(...) sofrer a dominação não significa necessariamente aceitá-la.” (Cuche, 1999, p. 146)

2. As Culturas Populares

No tópico seguinte, a questão das culturas populares é discutida e apresentada como uma cultura dominada. São apontadas duas teses a serem evitadas nas ciências sociais: a primeira define a cultura popular apenas como uma derivação da cultura dominante. “(...) a única ‘verdadeira cultura’ seria a cultura das elites sociais, e as culturas populares seriam apenas seus subprodutos inacabados.” (p. 148) A segunda tese enxerga a cultura popular como uma cultura totalmente autônoma. “A maioria deles afirmam que nenhuma hierarquia entre culturas, popular e ‘letrada’ poderia ser estabelecida”. (Cuche, 1999, p. 148) O autor sugere que seria mais correto “considerar a cultura popular como um conjunto de ‘maneiras de viver com’ essa dominação (...)”. Para isso, é preciso observar o uso que as pessoas fazem da produção em massa. Usando da analogia de Michel de Certeau: (...) se uma cultura popular é obrigada a funcionar, ao menos em parte, como cultura dominada, no sentido em que os indivíduos dominados devem sempre “viver com” o que os dominantes lhe impõem ou lhe recusam, isto não impede que ela seja uma cultura inteira, baseada em valores e práticas originais que dão sentido à sua existência. (Cuche, 1999, p. 152)

Abordando a metáfora da bricolagem (p. 152 – 155) e como ela foi utilizada para “caracterizar o modo de criatividade próprio das culturas populares.” (Cuche, 1999, p. 154) Alguns sociólogos analisaram a bricolagem como um prolongamento da alienação do trabalho (p. 155), enquanto outros a definem como uma criação livre e a define como lazer (p. 156). Devido a correr o risco de minimizar a cultura popular por serem culturas de grupos dominados, o autor toma a ideia de que a cultura popular é mais independente da cultura dominante em seus momentos de isolamento: “O isolamento, mesmo quando ele representa marginalização, pode ser fonte de autonomia (relativa) e de criatividade cultural.” (Cuche, 1999, p. 157)

3. A Noção de “cultura de massa” No tópico “A noção de ‘cultura e massas” verifica-se que as palavras centrais da oração: “cultura” e “massa” formam uma “(...) imprecisão semântica e a associação paradoxal (...)” (Cuche, 1999, p.157) segundo a tradição humana. Sendo a primeira (cultura) destinada apenas às elites, e a segunda abrangendo o oposto de generalização. Edgar Morin (1962), foca nos métodos que originam a cultura e desta forma constata que essa pode ser considerada como uma mercadoria, a qual “(...) obedece aos esquemas da produção industrial de massa”. (Cuche, 1999, p.157)

Outra análise de estudo dessa ideologia é a do consumo da cultura oriundo do Mass Media, a qual afirma que há uma homogeneização cultural fruto dos meios de comunicação massivos. Dessa forma, possuem como consequência a alienação cultural popular, ou seja, “uma aniquilação de qualquer capacidade criativa do indivíduo, que, por sua vez não teria meios de escapar à influência da mensagem transmitida”. (Cuche, 1999, p.158) Contudo, há estudos sociológicos que negam parte dessa teoria, pois afirmam que quanto mais alta a classe econômica, maior é o poder de influência da mídia, refutando assim a ideia de que exista uma recepção uniformizada por parte das pessoas. Ainda a respeito da recepção de conteúdo por parte dos indivíduos, destaca-se que sua análise deve ser feita de maneira profunda, levando em conta como os mesmos utilizam a mensagem que consomem e quais características dessa terá mais significância perante a realidade na qual o indivíduo se encontra.

4. As Culturas de Classe Perante os conflitos de ideais citados acima, passou-se a adotar um olhar mais empírico acerca do conceito de cultura. O qual se demostra presente nas atitudes mais simples do cotidiano como, por exemplo, na alimentação, referente à existência de distinção de carnes e legumes considerados mais “nobres” e os mais “populares” imitando a hierarquia social de acordo com Claude e Christiane Grignon.

5. Max Weber e o aparecimento da classe dos empresários capitalistas Nesta análise, o autor destaca a obra “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo” (1905) de Weber, em que o mesmo estuda a formação da cultura de uma nova classe de empresários. A “classe dos empresários capitalistas” surgiu primeiramente no Ocidente, o que se deve, para Weber, a uma série de mudanças culturais ligadas ao nascimento do Protestantismo. Constituído por uma classe média burguesa, o capitalismo moderno adota um novo estilo de vida (“ethos”). O ethos capitalista implica uma ética da valorização do trabalho, sendo que este “dá sentido à vida”, ou seja, o trabalho torna-se o valor mais importante e, sendo assim, deve-se dedicar todos toda energia e tempo a ele. (p. 163) Ao analisar isso, percebe-se que a nova ideologia vai de encontro com a ética protestante. “A Reforma, e sobretudo o Calvinismo, lançaram a ideia que a ‘vocação’ do cristão se realiza no melhor exercício

cotidiano de sua profissão do que na vida monástica. Através de seu trabalho, o homem contribui para manifestar a glória de Deus.” (Cuche, 1999, p. 164) Portanto, “(...) o projeto de Weber não era explicar o capitalismo pelo protestantismo. Ele pretendia somente observar e compreender a ‘afinidade eletiva’ entre a ética puritana e o espírito do capitalismo” (Cuche 1999, p. 166) e assim, explica o porquê de serem as pessoas marcadas pelo Protestantismo que iniciaram a nova classe de empresários.

6. A Cultura Operária Esse segmento do texto menciona destaca pesquisas da França sobre as culturas de classe que abordam, em sua maioria, a cultura operária. Destaca-se Maurice Halbwachs, que, após analisar orçamentos de famílias operárias, percebeu que a forma de consumo de cultura pelos operários tem a ver com a natureza de seu trabalho. A pesquisa mais detalhada sobre o tema é de Richard Hoggart; seu livro (“A cultura do pobre; Estudo sobre o estilo de vida das classes populares na Inglaterra”) analisa a relação da cultura burguesa com a operária e o sentimento que faz com que os operários vejam o mundo com a divisão “eles e nós”. O sentimento frequente de vinculação a uma comunidade de vida e de destino provoca uma bipartição fundamental do mundo social entre ‘eles’ e ‘nós’. Esta bipartição se traduz por um grande conformismo cultural e, de maneira muito concreta, pelas escolhas orçamentárias que dão prioridade aos bens que se prestam a uma utilização coletiva e, por isso mesmo, ao reforço da solidariedade familiar. (Cuche, 1999, p.167)

Diante disso, constata-se que, nos dias atuais, não existem mais comunidades operárias na forma comum, com vizinhanças próximas e festas coletivas com esses vizinhos. Já as linguagens, casas, roupas específicas, agora se tornaram menos visíveis, porém ainda existem. A vida entrou em um modo “privatizado”, fazendo com que os lugares privados sejam um concorrente forte aos sociais, sendo este espaço privado ainda possuidor de normas específicas, como a divisão sexual dos papéis. (p. 168) 7. A Cultura Burguesa Quanto aos estudos direcionados a cultura burguesa, constata-se que são mais recentes. Diferente da classe operária, a burguesia produz inúmeras representações de si mesma, no entanto, para conservar o domínio da própria representação, ela se defende cuidadosamente das pesquisas e suas análises. (p. 168 e 169)

Umas das principais características dos burgueses é o fato de eles mesmos não se reconhecerem como tais. A cultura burguesa é raramente uma cultura que as pessoas reivindicam e da qual se orgulham. (p. 169) Beatriz Le Wita analisou colégios particulares católicos e as mulheres saídas destas instituições. Para analisar a cultura burguesa ela toma alguns elementos fundamentais: 1) detalhe vestimentar; 2) controle de si mesmo (que vem do ascetismo e é considerado por Weber uma propriedade da burguesia capitalista; 3) ritualização das práticas cotidianas; 4) manutenção e uso constante da memória familiar, profunda e precisa. Esta pesquisa serviu para evidenciar a função primordial das instituições privadas.

8. Bordieu e a noção de “habitus” Bordieu utiliza em suas análises o termo “cultura” de maneira mais restrita e clássica, referindo-se às “obras culturais”, ou seja, produtos simbólicos socialmente valorizados ligados ao domínio das artes. (pag. 170 e 171) Bordieu se dedica a explicar os mecanismos sociais que dão origem à criação artística e dos que explicam o consumo da cultura. Para ele, as práticas culturais estão estreitamente ligadas à estratificação social. (p.171) Para o autor, os habitus são sistemas de disposições duráveis e transponíveis, estruturas predispostas a funcionar como princípios geradores e organizadores de práticas e de representações. Ou seja, o habitus é o que caracteriza uma classe ou um grupo social em relação aos outros que não partilham das mesmas condições sociais. O habitus é profundamente interiorizado nos indivíduos e não necessita da consciência para ser eficaz. Ele explica porque os membros de uma determinada classe agem de maneira semelhante sem precisar entrar em um acordo para isso, é também a incorporação da memória coletiva. (p.171 e 172)...


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