Prefiro rosas meu amor - ricardo reis PDF

Title Prefiro rosas meu amor - ricardo reis
Course Português
Institution Ensino Secundário (Portugal)
Pages 3
File Size 98.8 KB
File Type PDF
Total Downloads 101
Total Views 126

Summary

ricardo reis...


Description

Prefiro rosas, meu amor, à Pátria Prefiro rosas, meu amor, à pátria, E antes magnólias amo Que a glória e a virtude, Logo que a vida não me canse, deixo Que a vida por mim passe Logo que eu fique o mesmo. Que importa àquele a quem já nada importa Que um perca e outro vença, Se a aurora raia sempre, Se cada ano com a Primavera As folhas aparecem E com o Outono cessam? E o resto, as outras coisas que os humanos Acrescentam à vida, Que me aumentam na alma? Nada, salvo o desejo de indif'rença E a confiança mole Na hora fugitiva. Ricardo Reis (1-06-1916) Abordagem do Texto: 1. Explicitação das linhas de força da filosofia de vida presente no poema: . a recusa do esforço (da pátria, . a indiferença; da glória e da virtude); . a aceitação da precariedade da vida. . a demissão da vida, a ataraxia; 2. Referência ao papel desempenhado pela Natureza: o próprio ritmo da Natureza "ensina" o sujeito poético a "olhar" a vida como simples espectador. Segundo Jacinto do Prado Coelho (in Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa), o verso inicial deste poema "(... ) pinta o egoísmo epicurista de Reis, um contemplativo extremamente pobre de calor afectivo, sem amizades que transpareçam na poesia, sem capacidade para o amor autêntico. Reis parece existir apenas em função de um problema, o problema crucial de remediar o sentimento de fraqueza humana e da inutilidade de agir por meio de uma arte de viver que permita chegar à morte de mãos vazias e com um mínimo de sofrimento." 3. Constatação de que também este Poema é um diálogo a uma voz, já que o destinatário (Lídia, antes, e meu amor agora) "ouve", de forma estática, o desabafo do sujeito poético. Teste

1. Classifique a atitude do sujeito poético perante o mundo. 2. Identifique o que se opõe às coisas "que os humanos / acrescentam à vida". 3. Que significado assume a pátria neste poema? 4. Explicite os elementos semânticos que remetem para a efemeridade da vida. 5. Identifique os recursos estilísticos e explicite a sua expressividade nas expressões: "logo que a vida (...)" / "logo que eu fique (...)" (estrofe 2) "a aurora raia sempre" (v. 9) " confiança mole" (v. 17) 6. Explicite a intenção da mensagem que o sujeito poético dirige ao seu "amor". II O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. (...) F. Pessoa, Autopsicografia

Diga o que Pessoa ortónimo pretende justificar e se é possível alguma ligação à existência da poesia de Ricardo Reis (e dos heterónimos). Tópicos de resposta 1. Reis segue o ideal ético da apatia que permite a ausência da paixão. Por isso fala da indiferença e da necessidade de gozar o momento presente. Procura a calma e recusa o esforço que a glória ou a virtude podem exigir. 2. O que se opõe às coisas "que os humanos / acrescentam à vida" é a própria Natureza com os seus ciclos. Em cada ano há Primavera e Outono, as "folhas aparecem" e "cessam", a "aurora raia sempre" e a vida é efémera. 3. A Pátria surge como imagem do esforço, da "glória e da virtude". Opõe-se ao que é natural como as rosas ou as magnólias. 4. A efemeridade da vida encontra-se traduzida em expressões como "a vida por mim passe", "a aurora raia sempre", "cada ano com a Primavera / As folhas aparecem / E com o Outono cessam", "hora fugitiva". 5. . "logo que a vida (...)" / "logo que eu fique (...)" (estrofe 2) - epanalepse (repetição da mesma palavra em pontos próximos no contexto) com um sentido conclusivo e explicativo. . "a aurora raia sempre" (v. 9) - pleonasmo e aliteração do /r/ que permitem reforçar o sentido do resplandecer do dia que se renova continuamente. . "confiança mole" (v. 17) - hipálage ao atribuir a "confiança" uma qualidade que pertence ao sujeito que se encontra indolente e indiferente. 6. A intenção desta mensagem é mostrar ao seu "amor" que tudo é efémero e só interessa aproveitar a vida em cada dia (carpe diem). Reis é um epicurista que propõe uma filosofia moral que defende que a felicidade, fim último do homem, consiste no prazer. Este traduz-se na ausência de dor, na calma tranquila, conseguida pela ataraxia, ou seja, pela tranquilidade

ou equilíbrio da alma. Diz ao seu "amor" que é necessário buscar a felicidade com tranquilidade (ataraxia); não ceder ao impulso dos instintos; procurar a calma ou, pelo menos, a sua ilusão. Grupo II . Pessoa procura mostrar que a produção poética é um acto de fingimento, ou seja, uma elaboração mental a partir de uma realidade. . Esta elaboração permite representar os nossos sentimentos e emoções. . Representar exige captar a realidade e transformá-la numa nova realidade. Há um processo de mistificação ou de jogo que permite ao poeta criar, de forma consciente, a partir de uma realidade. . A heteronímia é também uma forma de representação ou jogo para criar e apresentar novas personalidades que queremos transmitir. . Ricardo Reis e os outros heterónimos são personalidades ou, se quisermos, formas de arte que permitem pelo acto de fingimento representar sentimentos e emoções próprias....


Similar Free PDFs