Resumo Dicionário temático do Ocidente Medieval. Vol. I PDF

Title Resumo Dicionário temático do Ocidente Medieval. Vol. I
Course História Medieval Ii
Institution Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
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Summary

O resumo a seguir descreve como o autor Alain Guerreau lê o período medievo, sua análise de como o iluminismo explicou e utilizou erroneamente a "Idade Média" e como a leitura iluminista irá perpetuar até hoje. A análise de Guerreau irá levar até a leitura dele sobre o que é o feudalismo e a dupla f...


Description

GUERREAU, Alain. Feudalismo. In: LE GOFF, Jacques e SCHMITT, JeanClaude. Dicionário temático do Ocidente Medieval. Vol. I. Bauru/São Paulo : EDUSC/Imprensa Oficial. 2002, p. 437-455. Muito se questiona sobre a nossa visão sobre o passado. Historiadores se empenham todos os dias para investigar cada vez mais setores das sociedades durante a história, e o com o período medieval não foi diferente. O Volume I do “Dicionário Temático do Ocidente Medieval” é referência na historiografia sobre o tema e é no verbete “Feudalismo”, produzido por Alain Guerreau que vamos ser apresentados ao conceito de “dupla fratura conceitual”, conceito que norteia seus estudos e nos apresenta uma nova visão do período medieval e da estruturação da sociedade em questão. Antes de mais nada, é necessário que entendamos onde surgiu e quem criou nossa imagem ocidental do medievo. E, logo nas primeiras páginas do verbete, Guerreau nos mostra que foi à partir do séc. XVIII que essa imagem passa a ser criada, no movimento liberal conhecido como Iluminismo. Uma tendência desse movimento foi a ideia de “liberdade”, utilizada em diversos trabalhos de intelectuais e filósofos do movimento. É nesse caminho que o conceito de “religião”, atrelado à ideia de liberdade de consciência, vai, segundo o autor, se contrapor à ideia de eclesia existente no período medieval de acordo com ele. Para Guerreau, esta foi a primeira fratura conceitual produzida pelo Iluminismo, onde a primeira carregava consigo uma noção de escolha, e a segunda estava entrelaçada à sociedade medieval como um todo, não possibilitando a sociedade de participar ou não deste processo. Vai ser nesse momento que a “providência divina” deixaria de reger as relações sociais, dando lugar à ciência e o racionalismo. Toda essa noção, foi criada à posteriori para jogar um obscurantismo em cima de uma época que deveria ser superada, assim como o absolutismo, esse último carregando consigo muitas características do primeiro, situação completamente reprovada pelos intelectuais iluministas. Todo esse esforço intelectual para superar os períodos anteriores é motivo de crítica por Guerreau, uma vez que para fazê-lo, os estudiosos do Iluminismo se utilizaram de um quadro teórico/conceitual que não se enquadrava na sociedade medieval. A ideia de eclesia, era ignorada e substituída pela ideia de religião, causando então um anacronismo. Se no campo religioso o autor aponta para a primeira fratura, a segunda se refere ao campo econômico. O processo de transição de uma realidade feudal para uma outra liberal tem como característica a liberdade material do homem, do homem feudal dependente de seus senhores, para um homem livre para girar o que se conceitua, também no Iluminismo, o que chamamos e reconhecemos como economia. As relações materiais, objeto de estudo de Adam Smith, se davam no medievo de forma a atrapalhar uma ideia evolucionista das sociedades. A historiografia tradicional sempre nos aponta para uma ideia teleológica da história, onde o surgimento das cidades e o comércio foram peças fundamentais para a crise e consequente fim do sistema feudal, historiografia essa que tem origem no século XVIII junto com a ideia de liberalismo. Circunstâncias chave para o funcionamento do sistema feudal são utilizadas para a promoção e legitimidade da ideia liberal alavancada nesse movimento. Portanto, Guerreau vai entender que essa segunda fratura se dá na dualidade economia X dominium. A forma na qual as relações pessoais se davam no medievo seriam um entrave ao curso natural das coisas, onde no melhor dos mundos, uma sociedade independente e desprotegida seria mais facilmente explorada. A

luta iluminista tinha um objetivo: derrubar um sistema que social atrelado ao domínio e à exploração, porém preso à terra a aos seus senhores, onde o comércio ocupava um papel coadjuvante na equação geral, e alavancar um sistema que lançava mão da liberdade econômica. Essas duas fraturas conceituais foram fundamentais para uma leitura malfeita do medievo e serão recebidas por intelectuais posteriores de formas diversas. As consequências são perceptíveis nos séculos seguintes e se tornam um problema à luz da análise de Guerreau. Sobre a forma como o autor enxerga a estrutura feudal, o mesmo lança mão de entender a eclesia como perpetuadora de uma lógica de dominação existente. A relação entre eclesia e dominium se dava de forma orgânica. Uma dominação desigual e assimétrica, exercida de cima pra baixo, por uma aristocracia eclesiástica. A eclesia, que estava presente em todos os âmbitos sociais, garantia a fluidez dessa dominação, um maniqueísmo que girava em torno da ideia de “bem” e “mal”, Deus e Satã, espírito e carne que fixava o homem ao solo sem a necessidade da utilização de medidas coercitivas....


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