Resenha - A Ind. do Holocausto PDF

Title Resenha - A Ind. do Holocausto
Author Milena Antunes
Course Formação Histórica Do Mundo Contemporâneo
Institution Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
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Resenha do livro...


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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO Instituto de Ciências Humanas e Sociais Disciplina: Formação História do Mundo Contemporâneo Docente: Muniz Ferreira Discente: Milena Antunes da Silva

Resenha Capítulo 2 – “Impostores, trapaceiros e História” de A Indústria do Holocausto, por Norman G. Finkelstein (2000)

“A mim parece que o Holocausto está sendo vendido — não ensinado.” Rabino Arnold Jacob Wolf, Diretor de Hillel, Universidade de Yale

O livro “A Indústria do Holocausto — Reflexões Sobre a Exploração do Sofrimento dos Judeus” (Editora Record, 156 páginas) é da autoria de Norman G. Finkelstein (2000), professor da Universidade de Nova York e doutor por Princeton. O autor tornou-se conhecido por seus discursos sobre o conflito entre Israel e a Palestina, por criticar a indústria do Holocausto no texto que aqui abordaremos, e por denunciar as generalizações

e

as

acusações

de antissemitismo proferidas

por

determinadas

organizações judaicas contra os que se opõem à política do Estado de Israel. A obra é dividida entre uma introdução, três capítulos e uma conclusão, sendo o capítulo dois, “Impostores, trapaceiros e História”, o que aqui será resenhado. A obra teórica de Finkelstein (2000) foi baseada em seu interesse pessoal de questionar a Indústria do Holocausto, construída, segundo ele, sobre uma fraudulenta desapropriação da história com motivações ideológicas. Seu interesse específico em abordar o tema se deu desde que seus pais foram sobreviventes do Gueto de Varsóvia e dos campos de concentração nazistas. Com exceção apenas do pai e da mãe do autor, todos os membros de sua família foram assassinados pelos nazistas. O capítulo está inserido no contexto histórico do Holocausto, em outras palavras, o maior genocídio do século XX através de um programa de extermínio nazista durante a Segunda Guerra Mundial (1939–1945). Vale lembrar que as investidas foram lideradas por Adolf Hitler e pelo Partido Nazista e ocorreram em todo o Terceiro Reich e nos territórios ocupados pelos alemães durante a guerra.

A princípio, Finkelstein (2000) explica que trabalhará com dois termos para se referir ao tema abordado, onde “holocausto nazista” significa o fato histórico real, e “O Holocausto”, sua representação ideológica. Isso se dá, segundo o autor, por uma desapropriação do fato histórico com interesses mercantis e ideológicos, onde o holocausto nazista tornou-se O Holocausto. Ele afirma que há dois dogmas principais que sustentam a estrutura do Holocausto, onde o primeiro marca um acontecimento único, singular e o segundo marca o clímax do ódio dos não-judeus pelos judeus. O capítulo traz esclarecimentos sobre a infinidade de recursos públicos, bem como privados que têm sido investidos para manter a memória do genocídio sempre atual, partindo da premissa de que este é um episódio com o valor mais singular em toda a história. Dos escritores cujos trabalhos são citados pelo autor, raros são os que concordam que O Holocausto é único e ao mesmo tempo explicam o porquê dessa unicidade. Quando poucos, defendem lógicas falhas como “um acontecimento histórico contendo um aspecto distinto é um acontecimento histórico distinto”. Mas segundo Finkelstein (2000) isso “só provaria que O Holocausto contém um caráter distinto. O contrário seria uma surpresa” (FINKELSTEIN, 2000, p. 30). Para escritores ainda mais radicais, como Elie Wiesel, fortemente ironizado e rebatido por Finkelstein (2000) durante todo o texto, o Holocausto não pode sequer ser comparado com outro fato ocorrido, caso contrário seria uma traição total da história judaica. Wiesel é tão criticado no texto, que Finkelstein (2000), por hora revoltado personifica o autor no próprio Holocausto “Elie Wiesel é O Holocausto” (FINKELSTEIN, 2000, p. 37). Afinal, se todos os acontecimentos históricos dispõem de detalhes únicos, o que faria do Holocausto um acontecimento mais único ou especial? Desta forma, Finkelstein (2000) garante sem medo que “o debate sobre o caráter único do Holocausto é estéril.”. Por conseguinte, o autor se preocupa em alertar para o fato dos tributos do Holocausto serem estritamente para o engrandecimento judeu e não ao seu sofrimento. Finkelstein (2000) relembra, inclusive, que o holocausto nazista não se trata apenas da triste história do povo judeu, uma vez que o acontecimento tirou a vida de mais de 11 milhões de pessoas (judeus e não-judeus). Entretanto, documentos oficiais, livros e museus destacam sempre a estatística da morte dos 6 milhões de judeus, desmerecendo, fazendo pouco caso e, por vezes, omitindo os outros grupos exterminados durante a perseguição. Para isso, o autor relembra que não foram os judeus, mas os comunistas as primeiras vítimas políticas, e os deficientes físicos e mentais as primeiras vítimas do genocídio nazista.

Além disso, Finkelstein (2000) cita diversos autores tais como Jacob Neusner, Edward Alexander, Boas Evron e Peter Baldwin para defender que esse caráter único dado ao Holocausto, não só separa os judeus de todos, mas dá a eles autoridade sobre os outros, já que, desse modo, recebem “o direito de se considerarem especialmente ameaçados e especialmente merecedores de todos os esforços necessários à sua sobrevivência” (Peter Baldwin apud Finkelstein, 2000, p. 32). Um típico exemplo desse abuso, ressaltado pelo próprio autor, é que todas as justificativas de Israel para desenvolvimento de armas nucleares tornam presente a lembrança do Holocausto. “Como se Israel, de qualquer modo, não partisse para o poder nuclear” (FINKELSTEIN, 2000, p. 32). Ou seja, qualquer que seja o método de defesa usado por Israel, seja este agressão, tortura ou outro, se justifica por legítima defesa. Para Finkelstein há nada mais depreciável do que usar o sofrimento e o martírio judeus para tentar justificar a violência, a brutalidade e a demolição de lares que Israel comete diariamente contra os palestinos. À luz da teoria de Boas Evron (apud Finkelstein) esta lógica “perdoa por antecipação qualquer tratamento desumano aos não-judeus, prevalecendo o mito de que todo mundo colaborou com os nazistas na destruição do povo judaico, portanto tudo é permitido aos judeus em suas relações com os outros povos”. O segundo dogma que sustenta O Holocausto, como aponta Finkelstein (2000), é o ódio dos não-judeus pelos judeus. De acordo com essa linha de pensamento, os judeus foram exterminados porque todos os não-judeus, sejam eles os assassinos ativos ou passivos, contribuíram para a sua morte. Ou seja, todos os seres humanos de qualquer natureza estão envolvidos no genocídio nazista. Wiesel (apud Finkelstein) aponta que “houve os matadores — os assassinos — e os que permaneceram em silêncio”. Esse dogma também contribuiu para todo o complexo processo de formação do estado israelense, sempre em conflito com os palestinos, argumenta o autor. Também favoreceu o discurso de Israel de que como os não-judeus estão sempre ansiando acabar com os judeus, eles — os judeus — têm o direito de se proteger a todo e qualquer ataque, mesmo o menor deles. Dessa forma, Finkelstein denuncia justificativas políticas criminosas do Estado de Israel e o apoio americano a essas políticas. De fato, o campo de pesquisa sobre O Holocausto está repleto de falhas e brechas que escapam a lógica, quando não nutrido de fraudes. Para Finkelstein, a literatura é o meio cultural que mais ajudou a propagar essa carência de precisão, e destaca três obras que, segundo ele, são “embustes sobre o Holocausto”. A primeira delas foi “The Painted Bird”, do polonês emigrado Jerzy Kosinski (1965), cujo tema é a tortura sexual e sádica pelos camponeses da Polônia. Finkelstein aponta que Kosinski

inventou quase todos os episódios patológicos narrados, inclusive retratando os poloneses com quem conviveu como anti-semitas violentos e com bárbaros discursos de ódio. O autor faz saber, no entanto, que os camponeses poloneses, na verdade, acolheram Kosinski e família, apesar de estarem cientes dos riscos e trágicas consequências caso fossem descobertos. A segunda obra ‘denunciada’ pelo autor é “Fragments”, de Binjamin Wilkomirski (1996), que se concentra no sadismo alemão durante o Holocausto. O livro retrata o autor enquanto jovem judeu e seu sofrimento não apenas durante, como também após o Holocausto, uma vez que quando adotado por uma família suíça, todos diziam a ele que nada do que sofreu tinha de fato acontecido e que tudo não passava de um sonho. “Mais do que uma homenagem ao dogma do Holocausto, Fragments é uma bomba de efeito moral: mesmo na Suíça — na Suíça neutra — todos os não-judeus querem matar os judeus.” (FINKELSTEIN, 2000, p. 40). Mais tarde, no entanto, foi descoberto que “Fragments” nada mais era que uma fraude, e Wilkomirski sequer era judeu. O escritor havia nascido na Suíça e chamado Bruno Doessekker. “Hittler’s Wiling Exectutioners”, de Jonah Goldhagen é a terceira obra citada pelo autor. Finkelstein (2000) se refere ao livro como “o mais recente exagero sobre o Holocausto” e diz que “não passa de um compêndio de violência sádica”. O autor salienta que a obra é repleta de fraudes e proposições que se contradizem, “é uma obra destituída de valor acadêmico.” (FINKELSTEIN, 2000, p. 43). Finkelstein também conta que foi altamente criticado por diversos autores, instituições e jornais antes mesmo da publicação do seu livro. O “Forward” julgou-o como um “notório opositor ideológico do Estado de Israel”. Nessa ocasião, Finkelstein foi acusado de aclamar o Holocausto, apesar de sua descendência judaica. Assim também foi com Ruth Bettina Birn, que colaborou com o autor no livro e, por ser nascida na Alemanha, foi praticamente comparada à nazistas. Assim, ele denuncia que mesmo os autores que fazem “o método comparativo normal de pesquisa precisam primeiro enfrentar mil e uma ameaças para afastar a acusação de estarem ‘banalizando O Holocausto’” (FINKELSTEIN, 2000, p. 31). A dinâmica do texto se dá de maneira satisfatória. Finkelstein apoia-se em argumentos de autores que criticam a indústria do Holocausto para rebater autores que exploram o Holocausto enquanto acontecimento único na história e tributam ao engrandecimento judeu e não ao seu sofrimento. Para isso, o autor faz uso de elementos que ordenam e valorizam as citações selecionadas, tal como o uso de variedade autoral em quem põe os autores para “conversar”, criando diálogos e confrontos entre eles. Além

dos autores que cooperam com a indústria do Holocausto, Finkelstein também cita autores do outro extremo oposto, isto é, aqueles que negam o Holocausto. Ele, no entanto, não está se posicionando de maneira a negar o fato histórico. Em momento nenhum, Finkelstein nega o Holocausto – mesmo porque sua família inteira foi vítima nessa ocasião – mas critica a colocação de autores que ajudaram a criar a indústria do Holocausto, em outras palavras, uma espetacularização ou propaganda do fato histórico. “Considerem, finalmente, o padrão: Wiesel e Gutman apoiaram Goldhagen; Wiesel apoiou Kosinski; Gutman e Goldhagen apoiaram Wilkomirski. Conectem os participantes: esta é a literatura do Holocausto.” (FINKELSTEIN, 2000, p. 45). O destemor discursivo do autor durante a obra é de se bendizer. Finkelstein não tem papas na língua e não se intimida ao criticar grandes nomes aclamados que vão de encontro à sua ideologia. O desempenho da narrativa, entretanto, deixa a desejar pelo grande número de notas e referências, que acaba proporcionando a quebra do raciocínio e dificulta a dinâmica no que diz respeito a fluidez da leitura. Seria mais agradável, talvez, se tais itens fossem apresentados no final do livro para consulta e pesquisa. A obra, no geral, traz uma perspectiva diferente de se pensar o fato histórico do Holocausto. Particularmente, foi uma angulação inovadora que me expandiu novos horizontes. A leitura me concebeu debates diferenciados e me fez pensar criticamente em detalhes jamais refletidos por mim. Sobretudo quando o próprio autor dispõe de descendência judaica e resolver questionar a ‘muralha’ de defesa construída para o engrandecimento de seu povo. Finkelstein consegue estourar a bolha judaica na qual ele foi inserido – mesmo de dentro dela –, e os destroços deixados revelam uma bomba ideológica, que me foi sinceramente prazeroso analisar junto com o autor no decorrer da obra. “Diante dos sofrimentos de afro-americanos, vietnamitas e palestinos, o credo de minha mãe sempre foi: Somos todos vítimas do holocausto” (FIKENLSTEIN, 2000)...


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