Aula-4-Resumo - Aula 4 – Marshall Sahlins “Cultura e Razão Prática: La Pensée Bourgeoise – a PDF

Title Aula-4-Resumo - Aula 4 – Marshall Sahlins “Cultura e Razão Prática: La Pensée Bourgeoise – a
Author Ana Yin
Course Cultura Material e Museologia
Institution Universidade de Coimbra
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Aula 4 – Marshall Sahlins
“Cultura e Razão Prática: La Pensée Bourgeoise – a sociedade ocidental enquanto cultura”...


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Aula 4 – Marshall Sahlins “Cultura e Razão Prática: La Pensée Bourgeoise – a sociedade ocidental enquanto cultura”

A primeira metade do século XX é marcada pela crítica ao paradigma evolucionista. Malinowski defendia, de forma oposta ao evolucionismo, que os objetos e o mundo materiais não são indicadores de estágios culturais evolutivos pré-estabelecidos, e que estes deveriam ser estudados na especificidade do seu contexto social, cultural e histórico. Enquanto, o evolucionismo olhava os objetos como um testemunho da evolução, o funcionalismo (estrutural) via os objetos como um testemunho social e cultural. Para os evolucionistas, os objetos e as realidades materiais refletem uma história de evolução social e cultural que culmina na civilização do observador. Os objetos serviam, desta forma, para testemunhar a existência de estágios evolutivos préestabelecidos e a posterior comparação de objetos e técnicas de diferentes estágios evolutivos permitiria extrair leis gerais. Por sua vez, os funcionalistas acreditavam que os objetos e as realidades materiais não poderiam ser separados das relações sociais e valores culturais. Na sua perspetiva, os objetos servem para testemunhar a singularidade e a coerência das culturas que os produzem e que deles fazem uso, e no seio das quais desempenham uma função ou papel estrutural específico. Além disso, todas as sociedades devem ser analisadas de forma sincrônica, considerando a integração funcional dos seus elementos. Cada costume, artigo de cultura material, ideia ou crença está associada uma necessidade básica no contexto de um todo funcional. As culturas, sob o olhar deste paradigma, eram vistas como organismos cujo funcionamento requer uma condição estável de equilíbrio. Bronislaw Malinowski e Radcliffe-Brown foram dois defensores do funcionalismo. O primeiro enfoca o seu trabalho nas funções sociais e psicológicas de atividade e processos culturais fundamentais para a reprodução tanto da sociedade como dos indivíduos. O segundo privilegia a forma como as estruturas e os sistemas coletivos de relações socias mantêm uma sociedade estável e integrada. A revolução estruturalista acarreta consigo a critica do materialismo e utilitarismo, que acredita que os fenómenos sociais e culturais não são o produto de necessidade básicas e não podem ser explicadas pela sua função numa totalidade orgânica. A propriedade analítica passa, após esta, ser dada à capacidade simbólica, onde os fenómenos sociais e culturais fazem parte de

estruturas simbólicas mais amplas que são o produto de histórias particulares, mas que refletem a existência de oposições e categorias lógicas básicas com alcance universal. Lévi-Strauss é considerado o fundador do estruturalismo, e na sua abordagem defendia que as estruturas não são realidades empíricas, mas sistemas simbólicos invisíveis, sendo que, os sujeitos vivem dentro destas estruturas simbólicas invisíveis que moldam as suas escolhas. As estruturas simbólicas, segundo ele, variam de cultura para cultura, mas partilham traços comuns que refletem a existência de estruturas mentais universais. Para Lévi-Strauss a análise de um texto, mito ou artefacto revela a existência de uma relação estrutural profunda que orienta a manifestação exterior desses produtos culturais e instituições (REPRESENTAÇÕES PROFUNDAS) e a complexidade das estruturas pode ser reduzida e representada em elementos binários (REDUÇÃO BINÁRIA). Na verdade, o Homem tem uma propensão para a classificação. É notório que todas as sociedades humanas têm sistemas de classificação simbólica de extrema complexidade como, por exemplo, a classificação de animais e plantas, mitologia ou magia. Estes sistemas de classificação desempenharam um papel importante no desenvolvimento das sociedades humanas antes da emergência da ciência moderna. Lévi-Strauss, na sua obra “O Pensamento Selvagem” compara o pensamento selvagem com o pensamento cientifico moderno. Lévi-Strauss quando refere pensamento selvagem, fala de uma forma de pensar não-domesticada que se baseia em elementos extraídos do mundo visível. O pensamento selvagem é baseado em preceitos e signos, e elabora estruturas organizando os factos ou os resíduos dos factos. Por sua vez, o pensamento cientifico moderno (domesticado) cria os seus resultados sob a forma de factos, devido às estruturas que fabrica e que são, simultaneamente, as suas hipóteses e teorias. O autor argumenta que não se trata de dois estágios ou duas fases de evolução do saber. Ambos são válidos, pois ambos utilizam os mesmos mecanismos cognitivos, apenas operam a diferentes níveis: o pensamento selvagem opera ao nível das propriedades sensíveis e o pensamento cientifico opera, por sua vez, ao nível das propriedades abstratas. Assim sendo, os itens de cultura material são “bons para pensar”, pois a cultura material oferece um ponto de entrada a estruturas simbólicas invisíveis mais amplas. Essas estruturas são o produto de processos históricos e culturais complexos, contudo

estas construções particulares são moldadas, em última instancia, por estruturas mentais universais. Também a obra “Critica da Razão Utilitária”, de Sahlins, representa uma critica antropológica da ideia de que as culturas humanas são formuladas a partir da atividade prática e, mais fundamentalmente ainda, a partir do interesse utilitário. Neste livro, o autor defende que o significado é a propriedade específica do objeto antropológico. Na sua perspetiva, as culturas são ordens de significado de pessoas e de coisas. E, uma vez que, essas ordens são sistemáticas, elas não podem ser livres da invenção do espírito. A antropologia deve, assim, analisar as ordens de significado e abandonar a ideia de que os costumes são simplesmente utilidades fetichizadas. Segundo Sahlins, o materialismo histórico é importante para que a sociade burguesa entenda o seu funcionamento. Ele pretende mostrar que é um equivoco tratar a produção como processo pragmático e natural da satisfação de necessidades, o qual seria o senso comum da economia ocidental. Os objetos são produzidos de maneiras especificas, para grupos específicos, o que está relacionado com toda a ordem social de maneira especifica. A noção de utilidade, necessidade, ideias centrais do ponto de vista do pragmatismo da dinâmica da oferta e procura, é baseada na significação de certas qualidades. O autor aponta o simbolismo e a arbitrariedade tanto no valor de uso quanto no valor-mercadoria. Neste sentido, a produção é uma intenção cultural e não o contrário. “Nenhum objeto, nenhuma coisa é ou tem movimento na sociedade humana, exceto pela significação que os homens lhe atribuem”. De seguida, apresenta os exemplos com os quais irá comprovar a sua teoria, começando +ela questão do consumo de carne, onde quer sugerir a presença de uma razão cultural nos hábitos alimentares, os quais, por sua vez, também influenciam toda a dinâmica da produção dos EUA e o seu relacionamento com os outros países. A forma como a sociedade ocidental lida com bois, porcos, cavalos e cães é peculiar, e organizase a partir de critérios de comestibilidade: bois e porcos são mais comestíveis que cavalos e cães. Esta lógica, por sua vez, está relacionada com a perceção destes animais como mais próximos dos humanos, mais “agentivos” ou mais passivos e distantes – quanto mais perto dos humanos, mais se trata de uma metáfora ao canibalismo. Estes dois elementos, juntos, é que organizam a distribuição das carnes. As pessoas mais ricas têm acesso a carnes mais caras, o que contraste com as pessoas mais pobres (geralmente negras no contexto racial dos EUA). Sahlins acredita que esta “cultura alimentar” pode ser explicada

através da análise do totemismo feita por Lévi-Strauss e, desta forma, propõe um “totemismo burguês”. O totemismo clássico de (pensée sauvage) usa as diferenças entre espécies naturais para diferenciar grupos sociais e culturais e o totemismo burguês (pensée bourgeoise) substitui as espécies naturais por bens de consumo, os quais como categorias totêmicas têm o poder de fazer, mesmo da demarcação dos seus proprietários individuais, um procedimento de classificação social. O que se mantém é a capacidade de articular diferenças sociais (neste caso, classe e raça) com a componente natural (carnes), com o facto adicional, de que a manufatura permite a produção de diferenças a serem articuladas. A produção é, portanto, a objetificação da cultura, a reprodução da cultura num sistema de objetos. No seu totemismo burguês, o consumo é visto como um diálogo, uma troca de significados. Os bens de consumo tornam-se um “código-objeto” para a significação e avaliação de pessoas e ocasiões, funções e situações. Desta forma, os objetos-testemunho do funcionalismo (estrutural), dão lugar aos objetos-signos da antropologia simbólica proposta por Clifford Geertz. Os objetos possuem um significado próprio e pode ser lido. Estes são visto como um texto ou símbolo. Contudo, esta virada simbólica apresenta algumas limitações. Muitos pensadores defendem que esta está baseada numa marginalização da materialidade da cultura material. Eles creem que os objetos não são apenas signos e, consequentemente, não são apenas “bons para pensar”. Além disso, esta nova virada também não explica as mudanças que ocorrem, nem tem em conta a política e o conflito....


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